sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Milho de pipoca

Texto do mestre Rubem Alves, extraído do livro: O Amor que Acende a Lua.
Enviado pela Elaine Neutzling Bierhals
 
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma
mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de
ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o
emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas
causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com
isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais
quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em
si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não
imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande
transformação acontece: BUM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca
havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a
estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas
acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A
presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino
delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor
branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.

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