segunda-feira, 25 de junho de 2012

Paragua, Brasil e uma América em transe

Fiquei surpreso quando me disseram que o que pensamos dos Estados Unidos enquanto colonialistas, os demais países da América do Sul pensam de nós. Em síntese, os Estados Unidos nos consideram como o seu quintal, em todos os sentidos, desde laboratório político até seus dejetos. Pois nossos vizinhos têm a mesma impressão a nosso respeito: jogamos com nossos interesses para aproveitar o melhor deles.
O caso recente do Paraguai é simbólico: tanto Brasil, quanto Argentina, querem dar lição de "democracia" aos hermanos paraguaios, fazendo interpretação de sua constituição e, até, intervenções diretas - negação do Paraguai de participar de eventos no continente - o que, se fosse do hemisfério Norte, seria considerada uma ingerência inconcebível.
A fragilidade da democracia no continente é flagrante. Os grupos - militares ou civis - que controlam o poder, especialmente o econômico, mostraram suas garras no Paraguai, o que deixou muita gente preocupada com o que pode acontecer do lado de cá da fronteira. Ninguém pode garantir que a democracia esteja consolidada em todo o continente, especialmente quando interesses escusos estão sendo protegidos.
O papa João Paulo II afirmou que o conceito de "democracia" servia para encobrir muitos interesses. No caso do Paraguai, o presidente Lugo jogou com o desgosto do povo para se eleger, sem o apoio do Congresso, controlado majoritariamente, pelo Exército e poder econômico. Quando não mais lhes serviu, urdiram o golpe, que já vinha sendo orquestrado há alguns meses, e o desfecho foi que se deu de forma abrupta.
A banca já aceita apostas: quem será o próximo? Não é uma questão de pessimismo, mas, sim, de olhar com frieza para o quadro que temos no continente. Há países consolidados, mas também temos fanfarrões que ocuparam espaços no vácuo do pessimismo em que se encontram populações desiludidas com os políticos. Não me parece que seja um quadro evolutivo: ganhos econômicos em alguns setores nem sempre fecham com um regime que deveria ser amplo, democrático e participativo.

domingo, 24 de junho de 2012

Para além da imaginação


Relembrando artigos já publicados.
Os estudiosos da comunicação começam a contrabalançar o discurso da utilização das tecnologias de ponta (ou novas tecnologias) com a necessidade de um elemento básico: a valorização da imaginação. Imaginação que é uma das características da raça humana, que a distingue e a torna peculiar.
É claro que a imaginação não precisa ser oferecida a partir das tecnologias. A imaginação precisa fazer parte da vida, até porque ela precede a realidade. É uma forma como nós, em nossas carências, temos de lançar mão dos recursos de nosso cérebro, para visualizar o que ainda não é real.
Este é um dos motivos pelos quais temos – jovens, adultos e idosos – dificuldades, hoje, pois não estimulamos a que se valorize a imaginação. Desta forma, impedimos, até, tornar previsível algo que gostaríamos de produzir, ou de viver.
Nesta “revisão”, valorizam-se os “poetas” e os “loucos” (falo com conhecimento de causa porque creio que faço parte dos dois times), como aqueles capazes de, exatamente, exacerbar a imaginação. Ora, por favor, vamos mais devagar. É claro que estas duas categorias têm muito a dar, no sentido de que se humanizem as relações e se lhes empreste aquela sensibilidade que foi descarnada do produto técnico.
Então, o que fazer? Não tenho uma resposta pronta. Sequer acredito que isto seja necessário. Parece que, novamente, colocamo-nos diante de uma encruzilhada. Encruzilhada que não chega a ser algo de novo na história da humanidade, mas que, agora, quer recompor valores (perdidos?) deixados de lado por alguns segmentos que preferiram apostar em que tinham todas as respostas prontas a partir de cálculos precisos e, redundantemente, exatos.
Eu prefiro ficar com meus poetas, meus loucos, meus cronistas, meus articulistas e todos aqueles que entendem que somos apenas seres humanos, limitados naquilo que podemos fazer com nossa condição física, mas ilimitados no que podemos alcançar com nossa imaginação.
Esta soma tem um potencial explosivo: o elemento técnico passa a não existir por si, somente, mas atende a respostas que, como sociedade, esperamos que nos dê. Perigosamente próximos a se verem inseridos efetivamente na realidade, ancorados em fatos que nos desafiam a trabalhar positivamente a técnica no que possa oferecer para alargar horizontes. Para bem além da nossa imaginação.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O crepitar da vida

Frio. O Minuano que corta a cerração da noite.
Andar pela rua, onde o fim é infinito
e a visão alcança apenas o que aquece o coração.

Sentir que o rosto aceita o desafio
e que até a respiração ajuda a névoa que se forma.
E os passos agridem o silêncio e a solidão
dos espaços vazios do trânsito.

Por cada janela, uma luz emanando calor.
Por sobre algumas casas, chaminés que
brincam em colorir a escuridão.

Voltar para casa. O aconchego do primeiro calor.
A vontade de acender a lareira e ficar apenas
curtindo o silêncio e o crepitar das chamas.
Não fazer absolutamente nada a não ser
pensar que viver é uma graça que se vive
em qualquer estação do ano.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Que triste país.

Têm questões relacionando jornalismo e literatura que são bem interessantes. Numa recente discussão, um literato disse que nós, do jornalismo, conseguimos notícias tão chocantes e inusitadas, que nem o maior ficcionista conseguiria criar. A imaginação não atinge aquilo que a realidade do dia a dia registra.
Pois é o caso do juiz Paulo Moreira Lima, que estava à frente de um dos julgamentos do contraventor Carlinhos Cachoeira, que vem tirando do túmulo muitos escândalos envolvendo o governo federal e o Congresso Nacional, por enquanto - outros ainda podem ser envolvidos. O referido foi ameaçado e, sentindo que estava ao alcance das máfias que circundam a capital federal, preferiu se afastar do caso para preservar a própria vida.
Ao menos duas questões se levantam. A primeira, se um juiz que recebe altíssimo salário e tem toda a estrutura da segurança à sua disposição não se sente seguro, quem mais vai se sentir? A segunda é exatamente a sua consequência: os juízes não são pagos - e bem pagos - exatamente para poderem confrontar com este tipo de caso?
Infelizmente, as garras dos grupos criminosos organizados no Brasil tomam corpo e começam a "ocupar" o próprio tecido social. Recentemente, uma reportagem flagrou o financiamento do crime organizado para jovens que, ingressando em diversos cursos superiores de seu interesse, pudessem, num futuro, fazer carreira, inclusive na magistratura!
Nossas instituições apodreceram. Embora tenhamos homens e mulheres querendo fazer da política algo sério e honesto, há muitos e variados dutos que desviam recursos e enriquecem aqueles que estão envolvidos nos três poderes. Recentemente, tive que ouvir calado, que ex-presidentes da ditadura militar e seus ministros tiveram o final de suas vidas em dificuldades financeiras, mas que os "novos políticos", teoricamente mais próximos da sociedade, tinham seus patrimônios aumentados significativamente.
Para que possamos "curar" a sociedade, o primeiro passo é reconhecer que estamos doentes. Indicadores econômicos podem ser muito interessante para economistas. Mas, na prática, no dia a dia, interessa para uma sociedade saudável um maior número de pessoas honestas vendo a máquina do governo funcionando a seu favor. De outra forma, é um triste país o que vivemos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Lula e Maluf

A foto de Lula e Maluf fechando acordo em São Paulo é emblemático de que, em política, hoje, o que se faz não é por ideologia, mas por oportunismo: Lula lançou um candidato tirado do fundo do baú e praticamente com nenhuma chance eleitoral e precisa de um minuto e pouco do Partido Progressista para dar mais visibilidade e ter mais chance na cidade onde seu partido - Trabalhadores - se formou, mas onde vem obtendo reveses contínuos.
O PT abominava o PP. O PP demonizava o PT. Mas... Quando há uma campanha pela frente, tudo é possível. A explicação se dá que o PP está na base de sustentação do governo Dilma, portanto, qual a dúvida de poder haver uma aliança?
No entanto, mesmo os petistas mais descarados ficaram envergonhados de que sua liderança maior tenha ido tão longe, buscando o símbolo maior da corrupção no país para tratar como aliado.
Não estou fazendo defesa de nenhum partido porque, como já disse aqui, aqueles que experimentaram o poder, infelizmente, deixaram-se infectar pelo vírus do oportunismo e, em todos os níveis, fazem alianças por uma eleição e uma suposta governabilidade.
Ainda estamos longe de um estágio em que tenhamos partidos ideologicamente definidos (em tese, alguns até que são), levando à prática o discurso que fazem nos palanques. Enquanto isto, a imagem de Lula e Maluf é emblemática do que se esperava que estivesse sepultado, no passado, mostrando, ainda que estamos longe da democracia sonhada.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Filho da rua

O título já é forte. Mas o que o caderno da Zero Hora deste domingo descreveu é de estarrecer. Felipe foi acompanhado por três anos, desde que deixou a família até tornar-se um menino de rua, um problema para a sociedade e uma ameaça pública.
Embora diversas tentativas de tirá-lo da rua para lhe dar o direito de viver como um menino que realmente é não surte efeito. O brilho das ruas encanta e é como se tocasse uma flauta mágica que o levasse para os pontos onde pede esmola, onde cuida de carros, ou consome drogas.
Os "Felipes" da rua estão em todas as cidades. Vamos encontrá-los nas ruas, em especial nos cruzamentos, ou dormindo em calçadas. A falha da família em trazê-lo de volta não é somente dela, mas também da sociedade que não tem estrutura para oferecer um processo completo de recuperação.
Os analistas são claros: não dê esmolas; converse com elas olho no olho; ajude as instituições - especialmente privadas - que lidam com o problema. Infelizmente, o auxílio que muitas vezes se dá a instituições públicas apenas alimentam a própria máquina, mas não alcançam resultados. Por outro lado, instituições religiosas, sociais, comunitárias, muitas vezes, com valores bem menores fazem autênticos milagres.
Não há como fechar os olhos. Esta é uma realidade que provoca para além da discussão, encontrar alternativas não para esta geração - que precisa de tratamento - mas para as futuras, que precisam de educação. Li no facebook que "pais educam, professores ensinam". Pena é que não estamos dando as condições adequadas para que nenhum dos dois façam a sua parte. Os primeiros correm atrás da subsistência. Os segundos estão perdidos entre o que deveriam fazer e compensar o que os primeiros não fizeram.
Fácil não é, mas deixar que continue assim é como se tivéssemos uma parte de nossos corpos se decompondo e nos contentássemos que o resto ainda está com saúde. Os "Felipes", hoje, já não estão apenas nas ruas, mas dentro de nossas casas, pedindo atenção, carinho e muito amor. Única receita que pode fazê-los sobreviver.

domingo, 17 de junho de 2012

A dignidade de envelhecer


Em muitas áreas do conhecimento humano – sociologia, política, religião – seguidamente se fala em “dignidade humana”. Conceito amplamente difundido é o de que as pessoas têm direito à sua autonomia e o respeito para que exerçam o poder de decisão naquilo que não prejudica a outros. Embora a teoria seja interessante, como em todos os grandes temas, o problema acaba sendo a prática.
Falar em dignidade humana para classes mais abastadas é diferente de falar para pessoas em situação de pobreza. Para os primeiros, há conceitos filosóficos e opções ideológicas decididos em mesas faustas ou ambientes climatizados. Para o segundo grupo, o direito de trabalho, alimento à mesa, ensino, tratamento médico, lugar para viver.
Há dois anos, acompanho meus pais no seu processo de envelhecimento. Meu pai declarou câncer em maio de 2010 e, a partir dali, tomamos lições do quanto a vida pede em troca, quando, sobreviver, não é apenas um ato pessoal, mas precisa ser compartilhado. Depois da partida do pai, o processo continuou com a mãe, na busca por uma vida digna que inclua cuidadores e o direito a fazer opções.
Amigos falam da forma como tratamos os dois casos e ficam claras algumas coisas: quando olho nos seus olhos e explico em detalhes o que estou servindo em seu prato, não estou determinando um cardápio, mas estimulando a que tenham prazer em estar à mesa. Quando dou a mão para que possam andar, não estou direcionando seus passos, mas, sim, que possam tomar seus próprios caminhos e ir mais longe. Quando cobro das pessoas para que não façam as coisas por eles, não é para negar algo, mas sim para que seus pequenos esforços estimulem corpo e mente a superar as próprias limitações.
A dignidade para envelhecer não está apenas em acompanhar um idoso, mas buscar uma cultura onde, num futuro, o mesmo possa acontecer conosco. Cercear liberdade é o mesmo que matar alguém, aos poucos, em vida. Acompanhar pequenas fraquezas e tentar superá-las é usufruir do prazer que a vida dá em sermos interdependentes e de que cada pequeno ato vale a pena quando os passos andam juntos. E na mesma direção.

sábado, 16 de junho de 2012

A carência de um olhar


Relembrando artigos já publicados
Um programa de rádio colocou em pauta a influência que a televisão exerce sobre a formação da criança. Os convidados foram professores da Psicologia e da Comunicação, numa discussão que poderia resultar em diversos outros programas, já que lida com um dos dilemas mais candentes da sociedade, atualmente.
Em quase duas horas, a conversa foi por diversos caminhos, desde a chamada “babá eletrônica”, as condições para a classificação por horários, para restringir o acesso das crianças (a antiga censura, com a dúvida se, deixando para mais tarde, quem, hoje, dorme mais cedo: adultos ou crianças?) e uma questão sempre presente, discutida e que sempre dá muito pano para manga: a violência.
Mas dois elementos chamaram a atenção.
O professor Paulo Luiz lembrou a necessidade que a criança tem de ser estimulada com o “olho no olho”, do qual é privada quando fica em casa entregue a alguma pessoa paga para um serviço, ou quando, simplesmente, fica reclusa em companhia de irmãos.
Duas reportagens vieram à minha memória: um jornal da capital fez duas matérias marcantes. Na primeira, levou para espaços públicos quatro figuras em destaque nos meios esportivos, da comunicação, uma ex-miss Brasil e um músico, para trabalhar na limpeza das ruas. Na outra, um repórter, em Caxias do Sul, vestido de mendigo, percorreu a cidade e passou dois dias dormindo numa praça central (registre-se que esta experiência não é nova: Deogar Soares já fez trabalho semelhante há cerca de 30 anos, em Pelotas). O que mais impressionou a todos: o fato de que as pessoas não os olhavam. Um deles registrou que “era como se não existisse”.
No outro caso, ao final do programa, foi registrado o problema social que é, hoje, nas famílias de baixa renda, com o pai desempregado, muitas mães terem que ir à luta para conseguir meios de subsistência. As crianças ficam em casa, em muitos casos sob os cuidados de um irmão ou irmã mais velha, que faz diversos trabalhos: cuida da casa, dos irmãos e, ainda cozinha (estão para aparecer números confiáveis que nos mostrem quantos acidentes acontecem em casa, fruto desta “mão de obra” desqualificada, mas necessária).
Infelizmente, estamos aumentando nossa dívida social. Uma dívida que não poderá ser paga por diversas gerações, pois necessário reverter um quadro que foi construído ao longo de décadas. Há uma população que migrou para a clandestinidade social, onde o número de crianças é muito elevado e encontra-se carente das mais elementares condições de sobrevivência e, também, de um olhar que lhes garanta uma identidade como ser humano.
Mas, confesso, impressionou-me a questão do olhar. Talvez seja, em muitos momentos, a única forma de carinho que se pode dar, estimular, ou de mostrar compreensão e cumplicidade. Quem sabe, até, todas, ao mesmo tempo.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Arroz, feijão... e massa.

O brasileiro faz diversas misturas, digamos, exóticas na alimentação. Mas, para purgar seus pecados, assiste a programas de televisão que fazem a defesa do politicamente correto para o trato do corpo e da mente. Sim, minha avaliação dos diversos programas que tratam do assunto é exatamente esta: assistimos como uma forma de perdoar nossas consciências, mas, no dia a dia, a realidade é outra.
Regra básica: não misture arroz, massa, batata, por exemplo. Qual é uma das melhores misturas? Exatamente esta, um arroz, com feijão e, ainda, massa. O resto é complemento e enfeite.
O problema, me parece, não está no que se come, mas na forma como gastamos nossas energias. Pessoas sedentárias que consomem estas misturas, com certeza, terão problemas. Mas aqueles que consomem o que gostam, sem exagero, e têm jeito de eliminar as calorias agregadas, estes vão se dar bem: não se privam dos prazeres de uma mesa, nem fazem sacrifícios desnecessários.
Há algum tempo, minha janta é uma "sopa". Falsa, é verdade, porque escoo praticamente todo o caldo, acrescento um queijinho básico, mais orégano e? Amendoim! Alguém me disse que era uma bomba calórica. Pode ser, só que, há três anos, saí de 102 quilos para cerca de 85, que mantenho até hoje. Graças a comer de tudo o que gosto, mas gastando energia no simulador de caminhadas.
São muitos os prazeres que a vida oferece. A boa alimentação é uma delas. Não vale a pena abrir mão, mas, sim, cuidar para que seja contrabalançada com o prazer de fazer uma boa ginástica, andar pelas ruas, curtir os amigos e, até, gastar energia num bom e carinhoso abraço.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A triha sonora de nossas vidas

Sou movido por música: gosto de escutar enquanto trabalho, em casa; no carro, nos momentos de leitura, quando faço minhas caminhadas (poucas, é verdade). Sei que existe muita música boa, atualmente, mas minha atenção se volta para as décadas de 70 e 80, onde tive bons incentivadores para aproveitar um tempo musical que, até hoje, deixa marcas. Tanto assim que, mesmo hoje, canções são regravadas ou recuperadas.
Da música italiana, lembro do padre Olavo Gasperin fazendo audições ao final da tarde de sábado. Não era somente ouvir, mas ouvir a história de cada uma de quem tinha profundo conhecimento e acompanhava o que se dava na Itália, especialmente, do Festival de SanRemo, de onde vinham os clássicos, inclusive com a participação vitoriosa de Roberto Carlos.
Outro caso clássico - RC - que movimentou muitos de nossos bailinhos, onde a voz sempre aguardada levava a dançar devagar, mais aconchegados, com suspiros que varavam a madrugada. Os clássicos shows de final de ano, onde uma música sempre grudava na pele e nos deixava a sensação de que, para sempre, em algum momento, algumas frases seriam entoadas como um ritual religioso de ligação com o passado.
A Jovem Guarda! Tantos ídolos que, ainda hoje, mesmo estando na casa dos 70 anos, ainda enchem nossas imaginações e, no seu jeito simples de dizer, revolucionaram hábitos e costumes. Olhar e ouvir suas letras é fichinha perto do que se tem hoje em nível de moral.  Mas já nos apontavam novos caminhos e de que o Mundo, depois da metade do século XX, nunca mais seria o mesmo.
Mais recentemente, a música regionalista. Entre muitos e bons compositores, Miro Saldanha encantou-me com sua música gostosa de ser ouvida e de fácil memorização, mas recheadas de mensagens que lembram de valores que não se encontram em outras canções. Mas faz isto sem a petulância de convicções religiosas ou moralistas, mas por coerência com o ser humano.
Em tempos em que as músicas têm valor quando são associadas a novelas, marcando seus personagens, fico com a impressão de que cada um de nós tem a sua própria trilha sonora. Recuperamos suas letras e, possivelmente, damos novas interpretações. Ou apenas servem - o que já é muito - para que balbuciemos quando nos falta outros tipos de arrimo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Andar pela imaginação

Dizem-me que ter noção de espaço é andar nas ruas.
Para mim, andar nas ruas é um tempo perdido
Gasto com a intenção de não ter intenção alguma.

Olhar uma rua com os contornos da noite,
Cheia de mistérios,
De sombras que brincam conforme o vento e a luz.
Olhar a rua cheia de carros,
Com pessoas angustiadas,pensando que se correrem mais vão chegar a lugar nenhum.
olhar as ruas com pessoas com todos os semblantes:
Preocupadas, insatisfeitas, responsáveis, sonhadoras.

Andar na rua pode ser um exercício de prazer,
Ou uma angústia terrível.
Dê-se ao prazer de curtir a rua,
Impregnada de sentidos, odores, cores e luzes.
Viver é andar por ruas por onde nos levam nossos pés.
Ou, apenas, nossa imaginação.

Conviver no meio urbano

Segunda à noite, perto das 22, passei por uma padaria na dom Joaquim, voltando para casa: a avenida que comporta uma trilha para caminhada está plenamente arborizada e as sombras do horário, davam contornos de paz e tranquilidade àquele recanto da cidade.
Não pude deixar de comparar com a atual situação da minha rua que, com as obras na avenida Fernando Osório, transformou-se em parte do escoadouro do tráfego para a zona norte da cidade. Um caos. Na segunda, para sair de casa, fiquei a uma quadra da avenida XXV de Julho. Na terça, foi impossível o acesso por esta avenida. Tive que sair pelo fundo da rua, com quase dois quilômetros a mais para chegar à faculdade.
Como diz o meu amigo Hélio Madruga: "quem viver, verá". Mas também dizem que para melhorar, tem que piorar. Mas, creio, isto faz parte de um processo que passou longe do planejamento e que não teve estratégias de comunicação eficiente para que a população pudesse se organizar.
Algumas pessoas querem que a população se conforme e aceite os benefícios que virão. Quanto à primeira, não concordo, pois ela tem o direito de conhecer plenamente o que está acontecendo. Quanto à segunda, é um direito ter as melhorias que já deveriam ter acontecido há mais tempo.
Conviver em sociedade, tem suas vantagens e seus defeitos. Fiquei chocado quando me contaram que uma senhora integrante de um grupo passou quatro dias sem conversar com alguém. Embora todos os aborrecimentos do trânsito, ainda temos, ao sair à rua, ou receber em casa, alguém com quem conversar. Há males que vêm para o bem.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Vileiro, por opção

Andar, pela manhã, por minha rua, é o encontro do passado e do futuro. Pelas calçadas, vou encontrando os antigos moradores e ainda se fala do tempo, de doenças, de vivências comunitárias. Ao mesmo tempo, a antiga estrada da Silveira convive com novos condomínios de casas e apartamentos, sendo necessário todo o cuidado para atravessar as ruas.
Entre o silêncio das noites de poucos anos atrás, hoje há o buliço de veículos que transitam ao longo de todo o dia... E também da noite. Lembro que fiquei chocado quando, pela primeira vez, em Porto Alegre, presenciei um engarrafamento. Já não foi do mesmo jeito quando, recentemente, em algumas avenidas principais de Pelotas o mesmo começou a acontecer em horários de pique. Mas foi hilário ver a tranqueira que começou a acontecer na minha própria rua!
Neste espaço onde sobrevivo e ajudo minha mãe a sobreviver, ainda há um senso de vizinhança que faz a gente almoçar juntos, estranhar que determinados amigos não apareçam durante algum tempo ou sentir falta daqueles que se fazem ausentes.
Embora a geografia e a paisagem não sejam mais as mesmas, há um sentimento de pertencer a um lugar, raízes que se estabelecem não por nascimento, mas por criação e opção de ser vileiro. Lembro de um dos últimos momentos em que encontrei seu Udo, falecido recentemente, em que ele me disse que daqui não sairia, de jeito nenhum. Tinha passado a vida aqui e aqui pretendia terminar.
Brincava com um amigo que, daqui, somente queria como última morada o cemitério. Ele respondeu prontamente: "não seja o problema, faço a tua cremação e, depois, de avião, atiro as cinzas sobre a Silveira".   Boa ideia, mas, afora o Google Earth (onde se pode ver regiões a partir de fotos de satélites), não tive o privilégio de ver minha vila de cima. Quem sabe minhas cinzas a verão.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tem solução para o trânsito?

Entre o domingo e a segunda-feira, aconteceram dois acidentes de proporção, na área urbana de Pelotas, sendo que num deles houve a perda de uma vida. Todos estamos acompanhando os esforços do governo federal para energizar a indústria automobilística nacional, mas não vemos o mesmo empenho em dar qualidade de trânsito para uma frota de veículos que aumentou, assustadoramente, especialmente no que se refere às motos.
Minha experiência do dia a dia me leva a pensar que, cada vez mais, não é suficiente uma direção defensiva: aquela em que você cuida do veículo que dirige, mas também tenta entender o que está acontecendo nas ruas. Há a necessidade de uma sensibilidade criativa, onde se encontrem formas, até, de prevenir o que pode acontecer.
Vejam como exemplo: quando você vai entrar numa rótula e é o terceiro carro na fila. Quando o primeiro passa e há espaço suficiente para outros dois ou três, não basta você olhar para seu lado para ver se ainda é tempo, pois o carro da frente pode não ter passado, por receio ou inexperiência. Outro caso, as faixas de pedestre. Você para quando vê um transeunte buscando seu direito, mas o detrás não. Então, é necessário, por exemplo, acionar o pisca-pisca, tentando alertar o desavisado.
Mas, além de sensibilidade, é preciso ter paciência. O aumento absurdo do número de veículos faz com que dobre o tempo em que, normalmente, você percorreria um determinado espaço. Neste caso, é bom se munir de um bom som e relaxar. Usar e abusar da buzina não vai adiantar nada, a não ser deixar todo mundo mais nervoso.
Solução seria termos um serviço coletivo mais competente. Infelizmente, na atual situação, pouco mudaria, porque você estaria livre da direção, mas demoraria o mesmo ou até mais tempo para cumprir suas tarefas. Discutir mobilidade é essencial, com aperfeiçoamento da malha urbana, mas também com novos hábitos que tornem o conviver nas ruas algo que faça a pena viver em sociedade.

sábado, 9 de junho de 2012

Dá pra pendurar a conta?


Da série de minhas lembranças de artigos passados.
A cena parecia bastante simples - chegar ao posto de lavagem de carros, perceber que se está sem dinheiro e solicitar: “Estou sem dinheiro. Posso trazê-lo à tarde?” A resposta, com um sorriso: “claro, não tem problema”.
Depois que sai do posto, durante a caminhada pela avenida dom Joaquim, muitas e ternas lembranças vieram da época em que meu pai, seu Manoel, trabalhava em armazém, na Vila Silveira. Naquele tempo, a conta era anotada em caderneta, ou num pedaço de folha, que ficava ao lado da balança. O componente mais importante – tudo era feito na base da confiança: o crédito dado e a certeza de que, com o pagamento da semana, da quinzena ou do mês, seria saldada a dívida.
Mesmo durante o curto espaço de tempo que morei no bairro Santana, em Porto Alegre, pude ver que o mercadinho em frente ao meu prédio – com estrutura de supermercado – tinha as suas cadernetas para a vizinhança.
O dado mais interessante é que a moeda que circulava tinha idêntico nome: confiança. Dos mais antigos, ouvimos falar de tratos feitos “à base do fio do bigode”. Como este, em idos tempos, era sinal de absoluta seriedade, era o demonstrativo de que o negócio era sério. Absolutamente de confiança.
Um sentimento que é flagrado quando se olha com tranquilidade num “olho no olho”. Desde nossas mais tenras relações de família, nos acostumamos a olhar no olho de nossos pais e saber que não há porque mentir. Se mentir, deflagra-se uma cadeia de erros difíceis de recuperar. E, mesmo quando há um pedido de perdão por um erro, o perdão dado não elimina um dos mais terríveis venenos: a dúvida.
Os pais acabam percebendo que, a não se tratar os filhos com absoluto respeito, está semeando ventos. E podendo colher tempestade. Os filhos também se dão conta de que necessitam, muitas vezes, desesperadamente, de um porto seguro onde possam ancorar quando de suas dúvidas e tristezas. Esta construção tem, como elemento fundamental, a confiança.
Do muito que ouço sobre relação de pais e filhos – e do que aprendo a cada dia na Escola de Comunicação, fica sempre a sensação de que precisamos recuperar credibilidade no discurso para podermos ter relacionamentos com bases mais fortes. E nestes dois âmbitos – família e escola – estão colocados os pilares para todos os demais relacionamentos.
O que nos ajuda a sobreviver em tempos difíceis sãos as relações que estabelecemos no âmbito mais próximo de cada um de nós: a comunidade, a vizinhança e a família. Aqui, ainda hoje, é possível perguntar, com muita tranquilidade: “Dá pra pendurar a conta?”.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Próxima eleição, uma mulher para prefeita?

Os prazos legais para a campanha eleitoral para prefeito e vereadores, em outubro, estão se intensificando e deixando alguns cada vez mais nervosos. Muitos setores preparam-se para fazer a mesma coisa: candidatos já conhecidos, com as promessas de sempre e nos levando a viver o que, hoje, estamos vivendo.
No entanto, há uma reação que se levanta silenciosa e tenta ocupar espaços em meio às tradicionais raposas dos meios políticos. Nos últimos tempos, vejo esta manifestação em meio aos jovens e às mulheres.
Em meio aos jovens, o grande número daqueles que participam das redes sociais vai fazer um grande diferencial. Até pouco tempo, entendíamos como "formadores de opinião" os meios de comunicação e aquelas pessoas que, de alguma forma, participavam da vida pública - políticos, educadores, religiosos, etc. No entanto, um fenômeno se levanta com a Internet, onde as informações facilmente são retransmitidas e transformam desconhecidos em pessoas públicas em curto espaço de tempo.
Por outro lado, vemos a entrada de mulheres - algumas guerreiras, preparadas, dispostas a dar uma nova cara à política. Já disse que o homem - ser masculino - é o responsável por tudo aquilo que aconteceu até aqui. E ficamos devendo. É hora de darmos a vez e a voz às mulheres. Quem sabe elas não consertam os nossos desmandos?
Eu creio que sim. Vejo candidaturas sendo apresentadas com chance de serem o novo do próximo pleito eleitoral, que têm escola no passado, mas que, hoje, planejam com uma visão mais ampla do que o futuro nos reserva. Em boa hora, vamos ter agradáveis surpresas, neste momento de grandes mudanças regionais, quem sabe dando uma nova esperança para Pelotas que merece ser tratada de uma forma melhor do que aconteceu até agora.

domingo, 3 de junho de 2012

Sincretismo religioso

Na medida em que os restauradores das antigas igrejas, especialmente dos centros históricos de Minas Gerais, avançam em seus trabalhos, defrontam-se com um fenômeno: entre os blocos de pedras das igrejas Católicas, no meio da massa que as une, vão encontrando pequenas imagens das divindades que os negros trouxeram de seu continente.
É a comprovação de que, embora estivessem no templo de seus senhores, reverenciando as divindades dos brancos, não deixava de haver um pouco da religião de seus Orixás, que foram obrigados a deixar, por bem ou por mal.
O fenômeno em que os negros travestem santos de origem Católica - Nossa Senhora de Navegantes, por exemplo, por Iemanjá - é um esforço forte e quase no limite de suas forças, de não negarem as suas origens, de onde foram arrancados à força, transformados em mera massa de trabalho, onde a possível "conversão" era mais um elemento que ajudava a torná-los subservientes.
Este "engano" genial, lembra, de passagem, um outro que também julgo de um humor excepcional: contam que hoje, com as novas iluminações e a capacidade de acesso das lentes fotográficas (além do restauro arquitetônico), leva a que se veja em maiores detalhes as imagens que estavam em lugares onde se vislumbrava a forma, mas não os detalhes. Então era comum que artistas pintassem ou esculpissem seus mecenas - bispos, papas, reis - com o jeito com que se relacionavam: bem tratados, nas feições de anjos; explorados, nos traços de demônios e figuras malignas.
Mas voltando ao sincretismo, ele hoje é presente entre os negros, mas também entre populações que foram mantidas às margens da educação e da cultura. Condená-los ou tentar esclarecê-los é, quase sempre, um esforço inútil. Quando se aproximam das igrejas cristãs, vêm em busca do sagrado, dando uma lição de humildade que muitos de nós, pretensamente religiosos, não aprendemos em muitas e muitas horas de estudos onde sobra a teoria, mas falta a vivência do dia a dia.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Religião, política e vaidade

O texto de ontem, provocado pelo Ivan Duarte, trouxe uma discussão séria a respeito de religião. Lembrei, então, de que num outro texto, disse que "não existem guerras religiosas, ou guerras políticas, existem guerras econômicas". Querendo dizer que por trás dos conflitos ditos "políticos", ou "religiosos", estão interesses econômicos que usam de ambos para encobrir seus interesses.
Tanto na política, quanto na religião, existem aqueles que se dispõem a servir, colocando-se à disposição da comunidade na busca por qualidade de vida e ampliar o acesso a direitos elementares. Mas, por outro lado, existem os carreiristas, que usam o povo para galgar seus interesses. Estes é que são o problema, porque são eles que acabam deixando as piores marcas na História.
O Cristianismo sabe muito bem disto. Tanto Católicos, quanto Evangélicos (igrejas mais tradicionais na História) fizeram parte de uma das mais tristes chagas da Humanidade: a escravidão (veja o caso do Brasil, com o Catolicismo e os Estados Unidos, com os Evangélicos). Foi um momento em que estado e religião praticamente faziam um mesmo papel.
Assim também as questões políticas ligadas a uma suposta "democracia" (de quem? dos políticos, da economia?) onde se acusou países de práticas de guerra que não haviam acontecido e isto justificou invasões e, especialmente, massacre a populações civis.
A questão, por trás, chama-se "poder". Em qualquer área, aqueles que se deslumbram com o poder passam a querer mais, porque ele é insaciável. Neste caso, as disputas se dão nos bastidores, muito mais no incenso das vaidades do que do discurso dito "democrático" que se faz.
A História tem algumas feridas sérias causadas por estes bandos que se entranham em partidos políticos ou em religiões, mas seus interesses estão bem longe dali. Precisamos conhecer a História, mas também como funciona a entranha do poder (e este mal pode estar bem próximo, na própria família, no trabalho, na vizinhança), para buscar a mudança, ou, ao menos, um convívio consciente e crítico que, se não nos livra do mal, ao menos nos mantenha acima do nível da água.