segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um plantador de “acácias”

A estrada que liga a BR 392 a Morro Redondo é privilegiada pela quantidade de pés de acácia ali existentes. Na Primavera, sua flor faz com que se pare e aproveite, por alguns minutos, o aroma. Numa ocasião, pensei que pudesse levar um galho para casa e que o perfume permaneceria. Engano. Em seguida, ele sumiu. Mas, enquanto estava na árvore, atraia abelhas, que produzem um mel de excelente qualidade.
Foi por este caminho que fui a Morro Redondo, conversar com professores do Estado e do Município. Tema: “A Magia da Palavra”, focado na motivação profissional. Sempre pensei que havia diferença entre comunidades que têm predominância rural ou urbana, mas mudei de idéia: a realidade é próxima e é fácil encontrar professores desmotivados, jovens sem perspectivas e a droga. Na converso com professores utilizo um argumento que encontra eco: nossa responsabilidade diante das crianças e jovens é tripla - na maior parte das vezes são nossos familiares; somos cidadãos, com responsabilidade sobre o seu futuro; e somos professores, com a missão de encaminhar o seu processo de aprendizado profissional e de vida.
Nossa maior luta é, enquanto estão neste processo, mantê-los agregados e motivados para que não se sintam atraídos pela rua e seus subterrâneos e esquecer os benefícios que podem usufruir da escola/acácia. Mas também temos que cobrar da família e da sociedade o cumprimento de sua parte. Tem sido confortável para ambas omitirem-se e achar que a escola supre todas as carências. Não suprimos. Vamos ter é a compensação de um processo atrofiado, difícil de ser plenamente revertido.
O certo é que ninguém pretende enriquecer sendo professor. Mas fica a sensação de que, cumprindo a nossa obrigação, deixamos marcas, mesmo nos mais renitentes. E no caso do ensino superior, há uma diferença quando o aluno troca o nome próprio pelo de “professor”. Está formada a cumplicidade entre pessoas que entendem que precisam ter mentes abertas e, com serenidade, crescer na sua realização pessoal e profissional. Pode-se dizer: sou professor, por opção e por missão. Planto “acácias” e pretendo que suas flores tenham o melhor dos perfumes, aquele que transforma o Mundo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O pequeno Einstein

Na semana passada, a mídia destacou o menino Oscar, considerado uma inteligência excepcional, com quociente de inteligência (qi) ao nível do cientista Albert Einstein. As matérias destacam que os pais têm inteligência mediana, mas incentivaram o filho, ainda mais quando ele manifestou, desde cedo, interesse por temas que, em tese, não são próprios da idade. Ele foi entrevistado mostrando ser uma criança bonita e alegre, mas com uma declaração preocupante: “quero amigos, quero outras crianças com quem possa falar”. Contrastando com o pai: “ele é um menino especial, quando ele tiver aproveitado ao máximo a sua inteligência é que vai ser feliz”.
Lembrei uma conversa que tive com a professora Flávia, quando discutimos a respeito de quando é necessário estimular a criança intelectualmente, ou incrementar seu convívio social. Lembrava-me que hoje as crianças são de apartamentos e, na maior parte das vezes, não tem chance de ter um familiar acompanhando, especialmente dos avós, quando os pais têm atividades de trabalho ou mesmo sociais. De meu lado, lembrava o convívio natural de muitas crianças do meu meio sempre interagindo e exigindo a participação de praticamente toda a família, em diferentes momentos. Mas que, hoje, não é assim, pois as crianças acabam indo para as escolinhas com dois, três anos, e obtêm bons resultados já que aumentam o processo de socialização, com reflexos nos seu aprendizado e até na sociabilidade.
Porque a preocupação com o menino Oscar? Fiquei com a nítida impressão de que o fato de ser por demais inteligente transformou-o numa espécie de troféu para os pais. E a felicidade somente vai ser alcançada quando ele atingir o seu auge intelectual. Não é assim. A felicidade deve nos acompanhar ao longo de toda a vida, em todos os momentos. Não é um troféu, é a realização de grandes conquistas, mas também de viver bem e intensamente pequenos momentos. E a frase do pequeno Oscar é emblemática: “quero amigos, quero outras crianças com quem possa falar”. Está certo, pois quer viver estimulando sua inteligência, mas também brincando, convivendo, sendo o que efetivamente é: um menino, com o direito de viver a própria vida.

domingo, 11 de outubro de 2009

Caminhos e descaminhos

Foi o Régis Rasia (amigo/irmão da igreja Nossa Senhora da Natividade de Ijuí/RS) quem me apresentou à música Pilares, do nativista Miro Saldanha. Régis estava convicto de que ali havia mais do que uma lição religiosa ou moral, necessária a quem pensava em constituir família, que era e é o seu caso. Escutei a música, pela primeira vez, entre Ijuí e Cruz Alta, com a “interpretação” de meu amigo. Depois a ouvi muitas vezes, inclusive quando Miro se apresentou num programa da Televisão Educativa do Estado. E foi sempre emocionante porque é o grito de um pai tentando fazer com que sobrevivam valores que a sociedade sempre teve como referência e que, hoje, são relativizados ou mesmo desprezados.
O refrão diz: “me ajuda, Pai, quero criar meus filhos, do jeito que meu pai criou a mim. Me ensina a vencer tantos empecilhos e acreditar no certo até o fim. E a força da verdade ainda vale, do jeito que valia lá de onde eu vim. Pois temo que meu filho um dia fale: “verdades mudam”. Não é assim.” A interpretação teve garra e emoção na voz e no instrumental, fazendo parar para pensar. Não era nenhum “pregador” a ter esta preocupação, mas a expressão de um pai assustado com o que seu filho pode enfrentar e mesmo vir a pensar ser a verdade. E no caso do Régis, alguém que ainda vai constituir família, ainda vai ter filhos e que já se sente desafiado a olhar para o futuro querendo que ele seja diferente do que diversos setores estão propondo.
Nossas conversas a respeito marcaram e me impediram de perder a esperança. Os valores bradados pela música – pilares - foram passados pelos pais do Régis e agora quer repassar em sua vivência religiosa na pequena e agradável cidade, assim como nas suas relações sociais. Sonho, com certeza, de ver muitos “Régis” por todos os lugares por onde ando, falando exatamente disto: embora haja uma cultura de contra valores, ainda é possível construir um mundo diferente, a partir do momento em que pais se negam a relativizar ou abandonar valores. Sabem que o exemplo é a melhor forma de solidificar valores de fé, ética e moral. Não há outro caminho. Mas, com certeza, existem muitos outros descaminhos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hábitos de vida

A Prefeitura de Porto Alegre lançou campanha que vai repercutir em todo o Estado: o direito da pessoa ter preferência, quando passa a faixa de pedestre. Estendendo o braço, automaticamente, o fluxo de automóveis deveria cessar. Na grande Porto Alegre, uma professora está entre a cruz e os elogios por ter obrigado um aluno a reformar parede recentemente pintada por pais, professores e alunos e que o mesmo pichou.
Em princípio, parece que uma coisa não tem a ver com a outra. Mas não é verdade. Em ambas as questões estão envolvidos princípios, que não são aprendidos nas ruas, mas ali amadurecem, na relação entre as pessoas. Os carros que não param para o pedestre levam motoristas incapazes de um ato de gentileza e respeito à legislação, apostam no poderio da máquina. O garoto que desrespeita um bem público não tem noção de que ali está algo que é de todos, seu também, e que por isto merece ser cuidado e preservado.
É assustador como as pessoas passaram a viver aterrorizadas com o trânsito, porque não sabem o que lhes pode acontecer num simples cruzamento onde há uma faixa de pedestre, ou até onde há uma sinaleira já no amarelo, indo para o vermelho. A imprudência é tanta que, em muitos casos, carros e motos até param, mas em cima da própria faixa.
O garoto não aprendeu que a própria liberdade vai até onde inicia a do outro. Fala-se no fato de que foi “constrangedor”. Não me parece. Está mais para o caso de um menino que não tem noção de limites, porque não aprendeu isto desde mais cedo, especialmente através da família. E isto não acontecendo, mesmo com conselhos, mais tarde, tudo vai ficar mais difícil.
Precisamos aprender uma lição básica: a humanização, humanizar o contato com as pessoas. Esquecer o que temos como extensão para nossas atividades: o carro, o computador, as máquinas, os prédios. Aprender juntos que a primeira realidade à nossa frente não é a de um adversário, mas de alguém que convive conosco. Havendo respeito pelo ser humano, atos gentis serão naturais e não exceções que olhamos com tanta admiração. Podem se tornar hábitos de vida, que nos darão prazer e realização.