segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Francisco me representa...

O papa Francisco esteve na Irlanda, no Encontro Mundial das Famílias. Num país de forte tradição católica, gastou boa parte do seu tempo num tema delicado: o abuso sexual de menores por parte de elementos do clero. A forma como tem enfrentado o problema acirrou o ânimo de quem deseja ver o circo pegar fogo. Ou seja: acham o papa lerdo num momento em que preferiam ver fogueiras queimando culpados.
Equilibrando-se sobre o fio de uma navalha, Francisco tem feito a Igreja avançar e ganha a simpatia daqueles que ficaram marginalizados na própria Igreja, mas também de quem está fora e procura uma referência para sua fé e religiosidade. Na maior parte das vezes, quem deseja, até, que o papa renuncie está mais preocupado porque perdeu espaço de poder, de dinheiro e de vaidade.
A Igreja Católica Apostólica Romana está em crise. Assim como as demais religiões cristãs tradicionais. Embora carreguem na História a responsabilidade por muitos ganhos nas causas sociais e de relações humanas, vêem ressaltados seus pecados, cometidos, sempre, por aqueles que se aproveitaram de seus espaços para aventuras em busca de poder, prestígio político, financeiro ou fazer carreira.
A religião é a mediação entre o homem e Deus. O homem oferece a sua fé e Deus, a sua graça. Ninguém é obrigado a aceitar uma religião. E as religiões não tem o poder normativo de definir o comportamento das pessoas. Elas argumentam e tentam convencer. As que fazem proselitismo (conversão à força) equivocam-se, porque, mais cedo ou mais tarde, perderão pretensos seguidores.
Na verdade, as religiões estão se depurando. A História vai mostrar que este é um tempo de tomada de decisão. E o baluarte da Igreja Católica se chama Francisco. Que instruiu: "a vida cristã não se limita à hora de rezar, mas requer um compromisso contínuo e corajoso que nasce da oração". Dentro de um tripé lógico: um homem de fé encontra o lugar para se energizar na religião, mas precisa ser presença no meio social.
A religião Católica cometeu erros. Ainda resta quem deseja fazer dos seus redutos espaços de influência política, econômica ou até para atender vaidades (inclusive intelectual). Mas o reconhecimento dos pecados cometidos é um avanço dos tempos em que praticamente tudo era encoberto. Porém, instituições conservadoras - como as igrejas tradicionais - andam devagar... mas andam!
Francisco me representa... Os tempos atuais pedem uma Igreja menos ritualista e mais solidária, retoma o jeito de ser dos primeiros cristãos, que viam na mensagem do jovem Galileu a proposta de uma sociedade de justiça e de paz. Menos gente, mas fortalecida por uma volta às origens vai perder muito de seus anéis, mas, ao partir do pão, ouvirá a voz Daquele que a desafiou: "não temam, Eu venci o Mundo!".

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Família: um lugar para sonhar

No dia 30 de agosto participo da Escola de formação do Movimento Familiar Cristão. Tenho pela frente uma série de atividades na esfera da reflexão de temas necessários à atuação de grupos. Especialmente dentro da Igreja Católica, mas também daqueles que desejam aprofundar a sua fé, religiosidade e inserção social.
A família pode ser o lugar de realização dos sonhos… ou onde se vive os mais difíceis pesadelos. Hoje, fala-se de diversos temas - educação, por exemplo - de tal forma desconectados da realidade que parece cortina de fumaça para que se joguem palavras ao vento, sem nenhum interesse real de que problemas sejam resolvidos.
A família é um deles. Este lugar privilegiado, onde se aprende, desde cedo, valores e referências; a vida empurra para o mundo, não prontos, mas capazes de enfrentar dificuldades; é mais forte o sentimento de que se é capaz de amar... e torna-se um porto seguro para se voltar na esperança de curar feridas e, ainda, ganhar um colo!
Infelizmente, seu tamanho diminuiu e restou um núcleo formado por pais e filhos. As novas formas de convívio não têm lugar para tios, primos e até avós... Sem que se tenha aprendido uma lição: afastar-se das pessoas idosas pode ter muitas explicações, mas nenhuma justifica; um ganho da individualidade, mas uma perda na afetividade!
O mês de agosto, para a Igreja Católica, lembra vocações. A família é o lugar onde, por primeiro, se inicia a formação dos quadros que vão atuar na sociedade. Os pais são, por excelência, os primeiros educadores. Pena que, muitas vezes, ou não saibam disto ou se omitem.
Todas as vezes que vi jovens bem encaminhados no processo educacional havia por trás pais que lhes deram e usufruiram muito amor e carinho. Sem abrir mão de que compartilhavam com os demais educadores - professores inclusive - o dever de estabelecer limites e disciplina. Amigos, mas não "cúmplices". Definiram seus papeis e deles não abriram mão por saber o que representavam para o futuro dos filhos.
As mudanças sociais partem do pressuposto de que se precisa reinventar a educação, com investimento na formação de professores, ambientes escolares, ampliação do atendimento individual e social. Insuficiente se não se pensar, também, na formação dos pais para que não percam de vista a sua missão. É na família que se aprende o que signficia colocar no horizonte a capacidade de dar sentido a uma vida, de nunca, em hipótese alguma, deixar morrer um sonho. Alguém já disse: "os sonhos são como castelos no ar... para os quais levamos a vida inteira tentando construir alicerces!"

sábado, 18 de agosto de 2018

Voto planejado

As pesquisas a fim de tirar a temperatura do voto do brasileiro para as eleições de outubro são, no mínimo, assustadoras. Faltando menos de dois meses para o primeiro turno, mais da metade dos entrevistados ainda não decidiu sequer se vai votar ou - não sei se é pior - votar em branco ou anular seu voto. O quadro demonstra uma indiferença preocupante e a falência do nosso sistema de formação de opinião.
Como os meios de comunicação não podem entrar em detalhes, muitas lideranças, apenas, apelam para generalidades: que é necessário conhecer o candidato, sua história, ficha - inclusive na polícia, projeto político ou se é apenas mais um vaidoso em busca de holofotes. Mas, na prática, como estas coisas podem ser "desenhadas" para aqueles que formam a maioria silenciosa?
Por exemplo: seu candidato já é deputado? Agora, próximo das eleições, fica mais em sua cidade ou região do que em Porto Alegre ou Brasília? Então, não o reeleja! Você não trabalha todas as semanas, todos os dias? Porque seu candidato pode se dar "folga" do trabalho (e existem muitos projetos necessitando ser votados e estão engavetados por falta de quórum)? Então, deixe que fique mesmo em casa!
Você votou em alguém para vereador e agora seu candidato quer uma vaga na assembléia ou câmara dos deputados? Não o eleja. Ele já tem um mandato e um compromisso. Que não quer cumprir com quem votou nele. Foi eleito para quatro anos, não para dois e depois querer galgar degraus do poder. Ou tem um projeto político pessoal e interesses para o futuro, ou do partido, fortalecendo bancadas e, assim, aumentando a aquisição de verbas. Em ambos os casos, traiu sua confiança!
Campanhas de conscientização tem que ter um olho no conjunto da sociedade e outro nas decisões pessoais de cada eleitor. Recentemente, num jantar, o pessoal queria discutir em quem votar. Salutar que se faça isto. Precisamos discutir eleições em todos os ambientes possíveis. Ainda vamos ter muita gente decidindo na última hora. E isto significa, na manhã em que atravessar a rua para chegar à urna.
Incentivar a discussão do voto é planejamento, aprontando a "cola" num cartão para não esquecer dos números. São tantos: deputado estadual, federal, senador, governador, presidente... Ufa... cansa só em pensar! O mais fácil é anotar e não ter vergonha de demorar o tempo necessário para exercer o seu direito... e o seu dever! Afinal, em última instância, a responsabilidade é do eleitor, pois não é a "política que faz o candidato virar ladrão. É o seu voto que faz o ladrão virar político!"

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Como a casa dos avós...

Conheci seu Albino depois de uma formatura. Acompanhou a família que celebrava o término do curso pelo neto. Muita gente saia do auditório. Ficamos para trás e se identificou. Depois foi como se o encerramento daquele ciclo transbordasse tudo o que tinham passado. Sabia que o neto não era dos mais brilhantes mas, em alguns momentos, o que passou ajudou a que piorasse a sua autoestima.
Minha lembrança veio a partir do programa exibido no Globo Repórter sobre este tema. Dois depoimentos em especial: mulher negra rejeitada e perseguida desde criança e outra tem na mãe um dedo sobre a ferida de estar acima do peso - e bem acima - e sofre com a chacota que a sociedade faz com as pessoas obesas.
Voltando ao seu Albino. O neto entrou para o ensino superior com muitas deficiências. Vinha do ensino médio sempre acompanhado e "policiado" pelos pais. Achou que já era crescido o suficiente para não precisar mais da tutela. Seus companheiros, mais do que a faculdade, foram os mentores desta nova etapa. Foi iniciado no uso da maconha e, depois... das drogas mais pesadas.
O pai conversou do jeito que achou correto: o filho precisava de "pulso firme". Não deu certo, quebraram os pratos. Quando encontrou o avô, se defendeu atacando: "o senhor também vai me atirar uma pedra?" Não, não queria atirar pedras, apenas dar um abraço no neto, brincar com ele, dizer que sabia que não estava tudo bem, mas que não deixaria de estar ao seu lado. Não entendia plenamente o significado de certas palavras, mas sabia que a autoestima dele chegara perto do zero!
Boa parte dos amigos se afastou do rapaz. A dependência química, para alguns, é doença contagiosa! O neto não queria ajuda: "quando eu quiser, eu paro." Fez seu curso aos altos e baixos. Anos mais tarde me procurou pedindo recomendação para mestrado. Perguntei por seu Albino. Havia morrido. voltei à carga: "tudo bem?" Silêncio: não, ainda não estava bem. Sabia que o avô tinha conversado comigo. No final do curso tentou parar. Não conseguiu. Apelou para uma clínica de reabilitação.
No programa de televisão, uma das atividades atendia filhos de trabalhadores de um condomínio. Um deles disse: "aqui é como a casa da vó..." Porque? Resposta cheia de ternura: "a gente chega e se sente bem!" O neto encontrou refúgio que precisava: longas conversas e, muitas vezes, ficava na casa dos avós, enroscado ao pé do fogão à lenha para curar suas feridas. A avó bordava, o avô no balanço da cadeira e os muitos invernos passando por suas almas. Na esperança de que não demorasse muito para que voltasse a brotar a Primavera!

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O fundo do poço

O repórter fazia a entrevista e mostrou-se decepcionado quando o médico que trabalhava com a recuperação de jovens dependentes químicos afirmou que cerca de dez por cento dos que usam drogas são plenamente recuperados: “tão poucos!?” E da serenidade de quem aprende lições com a vida vivendo cada dia, recebeu a resposta: “Valeria a pena se apenas um deles pudesse nos dizer que estava há um longo tempo limpo”.
Pois tive esta mesma impressão quando, recentemente, um pai me contou o quanto haviam precisado de cada reserva de suas energias para fazer com que, ao longo de dois penosos anos, vencessem a dependência do filho. Tudo iniciou quando o jovem começou a ter medo de perder o emprego, pois não se julgava preparado para enfrentar os novos desafios que se apresentavam. Depois, foi a vez de se julgar inseguro também na escola; tinha medo de que, sem uma preparação adequada, também não pudesse enfrentar o seu grande desafio: o vestibular. E a saga ficou completa quando recebeu a notícia de que a namorada estava grávida.
A partir dali, tudo desandou. Do álcool passou às drogas leves e destas àquelas mais pesadas. O fundo do poço acabou sendo numa ocasião em que, completamente chapado, conseguiu passar uma mensagem por celular dizendo que estava numa praia e que não tinha condições de retornar para casa. Descreveu-me como “um olhar vazio, num corpo já quase sem vida”. Levaram-no para casa, com muito carinho, sem falar absolutamente nada do problema. E procuraram ajuda. Foram instruídos a tentar ajudá-lo a enfrentar seus traumas, revertendo cada um de seus medos. Sempre com mais ação e menos conselhos, com testemunhos de que, em qualquer circunstância, eles estariam ao seu lado.
Foi o que aconteceu: o jovem, amparado pelos pais, irmãos e amigos, procurou a desintoxicação e depois orientação. Mas, em qualquer etapa, mesmo as mais difíceis, aprendeu que, em momento algum, estava sozinho, e que nunca havia sido sufocado. Creio que foi exatamente o que aconteceu com estes dez por cento que entraram em recuperação: mais do que técnicas, tiveram o amparo, o carinho e o ombro amigo de quem nunca os quis abandonar, nem deixá-los à mercê de seus medos.
Fiquei emocionado ao saber tudo por que tinham passado. Perguntei, então, de onde tiraram tanta força para tornarem o filho um vitorioso e recebi um sorriso: “faria isto quantas vezes fosse necessário. Ele é meu filho!”. Nem precisaria ter feito a pergunta. A causa era bem maior do que o problema.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Vamos falar em eleições...

A Ordem dos Advogados do Brasil lançou campanha pela conscientização do voto. Em 2014, já havia trabalhado este tema, juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, alertando: "voto não tem preço, tem consequência". O voto cidadão é dever/direito de todo brasileiro que estiver habilitado e consciente do que seja viver num sistema representativo.
Uma explicação dada pelos organizadores é a de que, em casa, quando a família faz o seu orçamento - em tempos bicudos, muitas vezes a receita é insuficiente para todas as despesas - é comum designar um membro como administrador, aquele que vai fazer os gastos caberem no somatório da renda familiar.
O voto é parecido: dá-se a uma pessoa a gerência dos recursos (executivo) - mas, de olhos bem abertos - a outra (legislativo) fiscalizar para que cada centavo seja gasto no que é de interesse de todos. Quando não funciona é comum o votante se eximir acusando quem o incentivou a votar, porque "esta gente não tem jeito mesmo!"
O sistema funciona mal quando a população se acomoda e o que se vê são guerras de belezas e figuras sombrias aproveitando-se para ganhar indevidamente e promover a corrupção. A corrupção existe em qualquer país, a diferença é se manter sob controle quando o cidadão fiscaliza e faz valer o ditado: é o olho do dono que "engorda o boi"!
Vamos falar em eleições... Nos mais diversos ambientes, repetidamente! Recentemente, um grande número de pessoas deixou de encaminhar crianças para a vacinação, voltando doenças já extirpadas. Esqueceram e baixaram a guarda. É uma questão de educação: não bastam campanhas de ocasião, mas que formadores repitam frequentemente o quê fazer e porquê fazer de novo... E se for preciso, outra vez!
Meu pai, o seu Manoel, votou até as últimas eleições antes da sua morte. Tivemos dificuldades de levá-lo até a urna, mas ele fazia questão. Já estava com mais de 80 anos e sabia, por experiência, que era a sua "atitude" que fazia a diferença. O voto é uma atitude individual, pessoal, uma decisão que se aprimora com a observação, a informação e a formação. Um direito e - com certeza - um dever.
Fazer brincadeira com o voto, votar em branco, deixar de votar é "jogar pérolas aos porcos". Voto é poder que não sendo utilizado pelo próprio cidadão vai ser utilizado por outros... Do jeito que lhes for mais conveniente... Platão já fazia um alerta para quem abre mão do direito ao voto: “não há nada de errado com quem não gosta de política, simplesmente será governado por quem gosta!”