terça-feira, 29 de agosto de 2023

A dor que era do outro...

Creio que Martin é o seu nome. O menino é atendido pela Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Bagé. Não sei detalhar os equipamentos que são utilizados para que consiga melhorar sua capacidade motora. Mas, em síntese: com muitas dificuldades, em todos os sentidos, o pequeno teve o apoio de técnicos para alcançar alguns movimentos básicos. Porém, chamou a atenção do familiar (a avó, no caso) que informou: consegue se aprumar, já não tem medo de tentar alguma mobilidade, ganhou mais confiança.


O Banco de Alimentos do Estado lançou o selo “empresas heróis”. Isto significa que os produtos que você encontrar no supermercado e tiverem esta marca destinam parcela dos seus lucros para uma instituição tradicional que trabalha com voluntários e abastece com o básico a mesa de muitas famílias pobres. Responsável pelo evento “corrida pela vida”, deixou sua marca quando, na pandemia, precisou aumentar seus esforços para alcançar o mínimo necessário para sobrevivência da fatia mais pobre da população.

Gosto de acompanhar noticiários ao meio-dia. Especialmente quando trabalham com matérias de cunho humano e motivacionais. Embora, parece, os telejornais estejam dedicando excesso de tempo ao casos de polícia. Esta morbidez é justificada por ser o tipo de informação “que a população gosta”. Confesso que me parece mais o “fácil que está à mão” e não exige grande pesquisa e produção. Mas discutir estas explicações é como tentar definir quem vem antes na história do ovo e da galinha. Quase impossível.

Associações que atendem crianças e jovens com algum transtorno ou deficiência estão permanentemente correndo atrás do prejuízo. Muitos anônimos (familiares, educadores, técnicos, amigos...) doam a vida por uma causa. Com um objetivo: oferecer a quem é atendido o direito de ter um lugar na sociedade. “Manter a cabeça em pé” significa que, de alguma forma, existe um apoio físico ou moral, que, para além das palavras e discursos, está impregnado do “estamos contigo, não desiste, a gente vai conseguir!”

Os bancos de alimentos (aqui ainda lembro o Madre Tereza de Calcutá e o Banco de Alimentos de Pelotas) têm, na luta pela dignidade humana, que inicia sim, pelo direito básico à alimentação, uma batalha difícil. Fazer parcerias é uma das formas de injetar os recursos tão necessários, como, no caso, em que grandes, pequenas e médias empresas dão o seu quinhão por uma causa (confira em heroisbancodealimentos.com.br). Pessoas que estão exercendo um direito e um dever: de alguma forma, fazer alguém feliz!

Do menino que ganha “firmeza para ficar em pé” por mãos de voluntários, aos pobres que recebem cesta básica, atendidos por quem é solidário, está o ganho de confiança, que não permite desistir da esperança. Parece expressão batida. Nos dois casos, dispensa explicações, se transforma em gesto, na maior parte das vezes, sem reconhecimento público. Aprendem que a dor que era do outro não precisava ser apenas dele, mas tornou-se a dor de quem ainda tem sensibilidade e carinho pela pessoa humana...

domingo, 27 de agosto de 2023

Amizade ao envelhecer, sem chorar o passado...

Ouvi com atenção a pessoa que desabafava: “a velhice nos leva quase tudo”. Havia falado a respeito de épocas passadas e o quanto havia perdido com o avanço dos anos, especialmente nos seus relacionamentos. Afora aqueles que já partiram para a Eternidade, ainda se referia aos que se afastaram, muitas vezes, mesmo morando nas proximidades. O tempo fizera com que fossem apoucando ainda mais as amizades que restaram do que se pensou que fossem tempos áureos da infância e da juventude.

Ao telefone, deu-se conta de que, quando se é criança ou jovem, não se precisa contar os amigos. As relações são naturais na vizinhança, no colégio, nas igrejas, ou, até, na rua. Formam-se grupos e, sem qualquer pretensão de se dar uma definição, se cuida, procura, se preocupa. Exercemos a solidariedade sem a necessidade de conhecimento semântico. Sabe-se em quem se pode confiar e com quem se pode contar. Os amigos são contados nos dedos das mãos. Pena é que também estes dedos vão minguando...


Morando sozinho, precisou fazer uma cirurgia. Quase sem parentes na cidade, todos trabalhando ou em outras atividades, programou contratar cuidadores. Foi quando recebeu o telefonema de um velho conhecido de juventude. Morava em Porto Alegre, trabalhava com assistência remota em internet e soube do seu problema. Podia vir tirar alguns dias com ele, ficando na sua casa ou em um hotel. Ficou surpreso, até pensou em recusar, mas a graça era tanta... Esperava que o Santo não se assustasse! Deu tudo certo.

Contou também que, em viagem ao Rio de Janeiro, novamente, foi ao Cristo Redentor e, para surpresa, encontrou um daqueles “parceiraços” de todas as horas durante o seu período universitário. Feliz, armou o melhor sorriso e foi cumprimentá-lo. A recepção foi seca do tipo “realmente te conheço?”, sem muita conversa, desanimando qualquer modo de aproximação. Foi quase um abano ao passar. No hotel pensou que havia sido o reencontro mais frio que tivera: o ponto e o contraponto da amizade em pouco tempo...

A mãe envelheceu com a presença de pouco amigos. Morreu lúcida, dentro do possível. Pessoas chegavam e perguntavam: “ela tá bem?” Olhava para ela que, quase sempre, sorria, e eu dizia: “ela tá idosa, mas não tá gagá. Pode conversar com ela!” Queria ter sido mais amigo da minha mãe. Dei-me conta de que tanto ela quanto o pai e meus irmãos sempre formamos um grupo familiar, mas pouco fomos capazes de superar o elemento cultural que apenas dá papeis aos seus integrantes, com poucos laços afetivos.

A amizade é fundamental em qualquer fase da vida. A perda da vida ativa, depois dos 60 anos, é um prato cheio para que um bom número se acomode e passe a reclamar de que não é mais necessário ou querido... Encontrar pessoas, poucas que sejam, revigora o bem-estar emocional e físico. Não adianta chorar a infância e a adolescência passadas, fomos agraciados com novos tempos, novas formas de relacionamento. E, afinal, embora possa parecer, se quer estar longe do dia em que se parta desta para melhor...

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Aportar no destino dos meus sonhos

Tem ocasiões em que o destino

Parece uma brincadeira torturante.

É quando a brisa do mar sussurra palavras

Que inebriam, sem que se alcance o sentido.

É o correr do tempo pelo dorso

De cada uma de nossas mãos calejadas,

Que fazem com que se descubra

Aquilo que é pura expectativa.

 

No arcabouço de verdades e mentiras,

Se precisa proteger os sonhos que restam,

Encontrar lugar para aconchegá-los,

Onde tenham a liberdade de flutuar

Livremente por suas próprias finitudes,

Como a gaivota que grasna e faz companhia...

 

No sacolejar das ondas,

O encantamento das memórias:

Como a música que assobias

Na melodia que faz duo com o teu olhar...

O jeito como deitas o braço sobre a cadeira

E com as mãos apoias a face...

Quando provocas a

Encostar o rosto sobre a mesa,

Fazes o mesmo, sem palavras,

E apenas os olharas se encontram...

 

Entre o mar e a terra, acontece

O desejo de não se precisar de um adeus.

Tu sabes que um até logo dói menos,

É luz que se esquiva pela fresta da janela,

Brinca pelos cantos mais longínquos,

Revelando a preciosidade do carmim

Que aconchega a alvura dos lençóis...

 

O porto onde atracam meus devaneios

Tem o aconchego das águas tranquilas da baia

Onde uma jangada encerra a jornada.

Entre a partida e o retorno, vencendo ventos,

Ondas, tempestades, acontece a vida.

 

Quando se traz cicatrizes que são

Embalsamadas por quem sopra sobre a pele,

Garantindo a cura

E as feridas recebem dedos

Encantados assegurando que

A dor já passou...

Marcas que sucumbem no cais,

Cúmplice na necessidade de aportar

Novamente no desejo de um abraço!

 

Sonhos que concretizam anseios

E diluem sofrimentos.

A chegada é o entardecer da vida,

A possibilidade de encontrar

O lugar de cada uma das minhas aspirações.

 

Quando tudo parece que acaba,

A mochila pesa com as saudades e

A Eternidade é o abrigo que se busca no

Interior de um coração.

No compasso lento do andar,

É preciso afastar-se do porto,

Sentir a falta das marés,

Descobrir os derradeiros rumos das águas,

Aqueles que já singramos em sonhos,

Em que se almeja, apenas, a própria paz...

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Vacina: as lições que já foram esquecidas

Semana passada, ganhou destaque nos noticiários um possível retorno do coronavírus, agora com uma cepa do vírus conhecida por Éris, com seu primeiro caso identificado no Brasil. A paciente estava com o esquema vacinal completo, a melhor forma de evitar a doença e, quando infectado, suavizar os sintomas. Além do que muitos adotam o hábito saudável de, se estiverem em situação de risco ou contaminados por vírus, inclusive o de uma simples gripe, utilizar a máscara para a própria proteção e de quem os cerca.

Infelizmente, no Brasil, se teve um movimento antivacina que tem, sim, fortemente, um componente político, mas também uma longa história por trás. Pesquisador britânico publicou ainda no final do século passado um estudo em revista científica apontando uma possível relação entre a vacina tríplice viral e o desenvolvimento do autismo. Foi o que bastou para que o terrorismo da ignorância, rapidamente, causasse uma queda alarmante nas vacinações, situação que foi acirrada no Brasil pelo viés do partidarismo.

O estudo foi desmentido e classificado de fake, mas o estrago estava feito. O conselho de médicos do Reino Unido desautorizou e desmentiu diversas vezes, mas é a velha teoria do travesseiro de penas que se joga da torre da igreja... depois de lançadas ao vento, não tem mais como recolher todas elas. Imagine, então, se isto acontece em países desenvolvidos, o que sobra para nós, terceiro-mundistas? O que já foi um processo de vacinação bem encaminhado na rede pública, literalmente, travou...

Por aqui, as autoridades da saúde estão de olho em quatro doenças que já foram consideradas extirpadas. Com fortes indícios de que podem retornar, em especial aos grotões, os lugares com menor densidade demográfica, regiões distantes dos grandes centros, onde há a falta do básico para o atendimento de saúde. É o caso do Sarampo, considerado erradicado em 2016, e que, infelizmente, teve seu quadro alterado a partir de 2018, com a Organização Mundial da Saúde apontando um surto no país.

A Poliomielite recebeu alerta do Ministério da Saúde em 312 cidades onde houve diagnóstico. A Difteria, doença bacteriana aguda localizada frequentemente nas amígdalas, laringe e nariz, ameaça voltar. E, por fim, a Rubéola, transmitida por pessoa portadoras ao tossir, falar ou, até, respirar. Para se ter uma ideia, em 2018, a meta de imunização era de 95% mas, na maior parte do Brasil, não chegou a 76%”. A vantagem da vacina tríplice viral é que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola...

Pessoas que deixam de se vacinar ficam expostas: perdem qualidade de saúde, perdem, também, qualidade de vida. Se você, como eu, passou dos 50 anos sabe o quanto se sofreu com as doenças e suas sequelas. Esta vacina foi introduzida no Brasil na década de 90, entre crianças entre 0 e 11 anos. É o motivo pelo qual quem está na casa dos 30 anos não tem ideia do quanto as pessoas já sofreram com as marcas que deixavam... Infelizmente, nossa memória é curta. São as lições da dor que já foram esquecidas!

domingo, 20 de agosto de 2023

A caverna do mito e da “ogrice”...

Meu interesse por comunicação vem desde os tempos em que os meios que se utilizam hoje sequer engatinhavam. Fui criado na cultura do rádio e do cinema. Ainda criança, o transmissor à pilha incentivava a imaginação, com as novelas que depois estariam na televisão; os programas infantis, especialmente contadores de histórias; os shows de calouros em emissoras que tivessem auditório para apresentações públicas; assim como tocar os discos gravados que utilizavam este veículo e o circo para se popularizar.


O cinema era iguaria à parte. Em especial as sessões de fim de semana e as já contadas e cantadas matinés, aos domingos à tarde. A melhor calça curta, melhor camisa, sapatos e meias, cabelo lambidinho e a recomendação de que não se sujasse, tanto na ida, quanto na volta. Reunir os amigos e ir até a porta da casa de espetáculos para, antes, trocar gibis. Em alguns casos eram tantos garotos sedentos por novas leituras que os porteiros tinham que apressar o ingresso e continuar com as negociações depois da sessão.

No início da década de 60 não tinha ideia do que estava por acontecer. De que, neste início de século, a discussão seria em torno da internet, inteligência artificial, robótica e holografia. Tenho que reconhecer que me sinto fascinado pelas possibilidades que se abrem com as transformações e os avanços que a ciência conseguiu. A comunicação se transformou na maior possibilidade e na maior arma já criada pelo homem. Ao ponto de se discutir formas de restringir o seu avanço, em especial na inteligência artificial...

Necessário repetir que toda a forma que amplia a capacidade de utilizar a inteligência humana não existe por si só. É, exatamente, um “meio”, portanto a serviço do homem, utilizado de forma certa ou não. Os meios não são bons ou maus por excelência. São apenas meios, que dependem de uma mente capaz de utilizá-los. Se aproximam ou afastam? Bem, esta é outra história. Em tempos de alta circulação de informações e de dados, nunca tantas pessoas se sentiram tão só, com sintomas de ansiedade e depressão.

Batizei como “síndrome do Ogro” ou “de Shrek”, uma das sensações do nosso tempo. O Paulo Sérgio, vizinho, amigo e dono de uma boa comida, ficou preocupado que eu repita que já estou velho e tem certas coisas que não quero fazer. Enquanto um cantor, creio que o Gilberto Gil, com mais de 80 anos, anda serelepe pelos palcos. Verdade, a “ogrice” se caracteriza, especialmente, pelo desejo de não sair da “caverna”, diante dos recursos que se tem em casa, no intuito de não incomodar e não ser incomodado...

Meios eletrônicos, hoje, são mais do que meios de comunicação. Transformam onde se está num centro de autossuficiência: se pedem alimentos, remédios, movimenta conta bancária, enfim, o que se precisa chega até a porta. Aumentou a capacidade empática? Não. Ao contrário, vê-se que promessas de conversas, visitas, passeios vão minguando. O sonho da criança do século passado esmaece, como no mito de Platão, no fundo da caverna, por onde sombras apenas parecem com a vida que, de alguma forma, já se foi...

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A imagem das palavras esquecidas

O tempo em que as fotografias desbotam

É o mesmo em que se sentem as marcas

Que definem nossas histórias.

Os retratos que esmaecem

São amores que aos poucos ficam etéreos,

Desejando que não se percam

E, se possível, virem lendas...

 


Não têm e não necessitam de explicação.

O que fica na lembrança 

Precisa ser contado e cantado,

Até que se transforme em memória,

Que, mesmo assim,

Vai se toldando e toma o rumo do esquecimento.

 

Lá vão ficando rostos, corpos, expressões

O sentimento de que amores

Não precisam ser eternos...

Até podem. Mas não precisam,

Pela própria finitude humana.

O que resta são os registros físicos

E precisam, sim, ser intensos!

 

Amor não pode ser confundido com paixão.

Amor atende às necessidades primárias do espírito.

Depois de vividos,

Impregnam cada fibra do corpo.

São receptores de energia

Que transpiram pela sofreguidão da vida.

Ilusão pensar que

Amores se escondem no peito.

Ali apenas renovam-se, voltam a pulsar

E partem quando precisam de espaço,

E suspiram pelo brilho da luz.

 

Emergem,

Como as fotografias que, com o passar do tempo,

Silenciosamente, vão ocupando os móveis.

Tornam-se lembranças,

Que se apropriam das palavras

E se refazem no interior dos pensamentos.

São testemunhas e, ao mesmo tempo, companhias...

 

No entardecer da vida, quando eu as esquecer,

Preciso que me ajudes

A criar novas ou revisitar lembranças.

Rever álbuns onde dormita o meu passado,

No silêncio da noite, quando um relógio tiquetaquear,

Ainda marcando o compasso do coração.

 

Do mesmo jeito que os registros fotográficos,

Algumas coisas são inevitáveis,

Como as palavras que morrem porque são esquecidas.

Fotografias sussurram mistérios e silêncios,

Andam de braços dados com as horas,

Fazem parte de um relógio que eterniza a memória.

Mas que também se esvai,

Como a ampulheta que não mede o próprio tempo,

Sem que suas areias saibam que tornam refém a Eternidade.

Alimentada por presenças que murmuram carinhos

Pelos balcões, cômodas, bidês, estandes,

O agridoce sabor da vida que embala as minhas saudades...

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Família: entre o colo e o abraço...

Sempre achei que datas especiais – como recentemente o dia dos Pais, mas também dia das Mães, do Irmão, dos Avós (tem do cunhado?) – deveria ser pensado como Dia da Família. O dia existe, mas fica estranho olhar para as figuras separadamente num tempo em que a referência maior também é a mais questionada: a família. Os novos tempos afastaram as pessoas não apenas pelo distanciamento físico, mas também, embora pareça contraditório, pelo isolamento que propiciam os instrumentos de comunicação.

A busca por diferentes modelos de relacionamento questionaram os papeis já existentes sem muitas certezas do que se colocaria no lugar. Ouvi recentemente que “pais do século passado não eram bons pais”. Como assim: quem disse que no próximo século se poderá dizer que “pais do século XXI foram bons pais”? Esta virada de século colocou não apenas a instituição família em xeque, mas, especialmente, os papeis que se davam aos componentes deste grupo, em especial o masculino. O pai sendo um deles.


Mães descobriram que, para além de serem genitoras, têm lugar no mercado de trabalho. Em alguns casos, por realização pessoal, em outros por necessidade econômica. Sem que se tenha encontrado solução para a questão do acompanhamento dos filhos, no complexo mundo da educação, especialmente na criação de valores e referências. O questionamento da estrutura familiar não coloca no lugar algo que substitua um pilar da formação da criança, que deveria ser complementado pela escola e o entorno social.

Avós perdem o espaço de ser apoio familiar por estarem distantes ou em casas de repouso. Diferenças de geração não são a explicação para que netos sejam afastados do privilégio de conviverem com os mais idosos. Não é só discurso, mas necessidade tanto para crianças e jovens, quanto para quem está em idade avançada. Quem nunca teve a oportunidade de “ir para a casa dos avós” não tem ideia do quanto uma mudança de visão ajuda, também, aos filhos a entenderem como os próprios pais envelhecem.

Numa destas muitas séries coreanas (Desgraça às suas ordens – pode ser vista pela Netflix. Vale a pena), lá pelas tantas o personagem é amassado pelo cunhadinho que fica feliz por ter alguém que cuida da irmã. Então, diz para um tio com quem estava conversando: “ele vem no pacote?”. Embora todas as piadas sobre cunhados e sogras, ou cunhadas e sogros, existem os “porqueiras”, como diria uma tia, mas muitos daqueles que se tornam irmãos ou irmãs e, de outro lado, pais e mães de coração.

Em muitos destes grupos falta um agregador familiar. Como o pai que reúne filhos, filhas, genros, noras e netos todos os domingos para uma feijoada e arroz com galinha, seguido de uma roda de música, que ninguém é de ferro. Dificilmente, alguém não vai. É a esperança de se encontrar, por menor que seja, o valor de pessoas que, próximas ou não, partilhem o possível. Que acolham e protejam a vida que se desenvolve, deem suporte em momentos de crises e de carências. O que resta da família é alguém que personaliza a acolhida: braços abertos para consolar, colo perfeito para não desistir...

domingo, 13 de agosto de 2023

“Saiu igualzito ao pai!”

 O comercial é mais ou menos assim: o pai diz ao filho: "eu te amo". Reproduzindo o que ouviu, o menino diz ao irmão que está no berço: "eu te amo". E vem a mensagem: “o primeiro influenciador que seu filho vai seguir é você!” É simples assim, quando se trata uma criança com amor e tem no pai uma referência de vida. A velha história de que as pregações são interessantes, mas os exemplos transformam comportamentos. Gosto muito desta temática. Tem mais um elemento: numa sociedade permeada por preconceitos machistas, no discurso e na prática social, expressar sentimento, muitas vezes, mesmo que seja em família, é um grande avanço, especialmente para o homem.


O rapaz chegou em casa e encontrou a esposa com dor de cabeça. Ficou com a filhinha enquanto a mulher descansava. Lá pelas tantas, a neném começou a ficar irritada e um cheiro nada agradável tomou conta da sala... Pensou em chamar a esposa, mas deu-se conta de que era melhor, mesmo com dificuldades, resolver a situação. Todo sem jeito, foi em busca de um tutorial no YouTube. Parecia fácil, mas no vídeo não havia o "perfume" que revoltou o estômago. Quando a companheira retornou, havia um sorriso brincalhão de quem viu o resultado, embora sabendo que precisaria de alguns ajustes...

A outra foi a daquele pai que se irritava cada vez que a esposa lhe dizia que a neném estava com cólicas e por isto o choro contínuo. Numa ocasião, pegou-a no colo e resvalou para debaixo do braço, onde ficou aninhada com o estômago contra seu corpo. Foi um santo remédio. Era só colocá-la assim que controlava a cólica. Brincaram que parecia que ele estava levando uma porquinha. Aceitou a brincadeira e passou a chamá-la de "minha porquinha". Mas era apenas com ele que a pequena aceitava andar assim. Não se importava. Inclusive quando ela mesma passou a pedir: "oinc, oinc, papai!"

Ser pai não é função auxiliar. Não basta, quando for o caso, achar que é suficiente se contentar em ser mantenedor. São vínculos afetivos que vão sendo construídos no dia a dia, em coisas extremamente simples, que, infelizmente, muitas vezes ainda estão carregadas de preconceitos. Como quando se pensa que existem funções de pai ou funções de mãe. "Pai-mãe” ou "mãe-pai", isto não importa. As marcas que os filhos vão levar para a vida envolve a ternura entre dois seres humanos que se necessitam e se descobrem. Um pai influenciador para com o filho está em falta no mercado...

O investimento acaba sendo o tão precioso tempo que é gasto em trabalho, com amigos, em diversão. E que a rotina familiar tem tudo para se tornar difícil e da qual se quer fugir. Superar as dificuldades não é apenas ajudar alguém a se desenvolver, mas ser testemunha do próprio amadurecimento. A fase juvenil do “umbigocentrismo” precisa de um horizonte familiar. Por natureza, crianças são potencialidades que não trazem manual e é natural que se acerte e que se erre no seu processo de conhecer a vida. O que importa é não desistir. E, um dia, quem sabe, poder ouvir: “saiu igualzito ao pai!”

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

As marcas dos teus sonhos em mim

As lembranças encarnam meus sonhos.

Ando à procura da fronteira entre a realidade e a imaginação.

O lugar onde se supera a pobreza do pensar o aqui e agora

Para se atrever por horizontes desconhecidos.

 

Acredita.

Nele, o voo da borboleta acaricia as cores do arco-íris,

Quando o entardecer transluz por suas asas.

É onde o vaga-lume, que constrange o brilho das estrelas,

Não tem vergonha de brincar, salpicando a noite.

As mãos ficam estendidas - como nos sonhos -

Em que se deseja acarinhar

E não se alcança o rosto da pessoa amada.

É o brilho fugidio dos desejos intuídos e não realizados.

 


Transitam pelos momentos especiais que, muitas vezes,

Nos pegam desprevenidos, pela própria singeleza.

No encanto das luzes que oscilam no entardecer,

Próximo à terra, sem a pretensão de ocupar os céus,

Despertando, também, o ciúme da Lua,

Que vê nos pirilampos errantes

O descompromisso da ousadia.

 

Vicejam as muitas e preciosas buscas:

Na beira da floresta,

Onde a água desce da montanha,

Mata a sede e inebria os sentidos;

No cheiro da mata que emana da terra,

Com a certeza de que não há Primavera

Sem que se passe pelo Inverno;

No encanto do desabrochar das flores e

O perfume do pessegueiro,

Que seduz pela pureza que inebria...

 

Tem momentos em não se enxerga o trivial...

A maior parte do que deixa

A nossa vida ainda mais bela.

Assim como as pessoas.

Sua ausência marca

A fronteira dos últimos raios de Sol,

Em que a distância embaraça a visão,

Quando o limiar do que me encanta

Tem a marca dos teus sonhos em mim.

 

Se o caminhar parecer errante é

A busca por outros passos

Que diminui a solidão.

Podes continuar teu caminho.

Porém, me dá um segundo,

Tira um tempo para me contar

Quais são os teus devaneios.

 

Teus passos tornaram-se estigmas em meu corpo...

No início tive medo.

Depois percebi que sempre estiveram ali.

Nãos os vi porque receava pela tua ausência,

Quando os anos embaçariam

As lembranças do que se viveu juntos...

A fronteira mais difícil de ultrapassar

Sempre foi a das despedidas.

Embora tenha sido a oportunidade

Que eu precisava para - sempre - esperar pela tua volta!

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Francisco, um homem de fé

Na vida, vi muitos homens, mulheres e administradores plantarem árvores sabendo que pouco veriam do seu desenvolvimento, mas que deixariam um legado para seus descendentes. Foi do que lembrei quando acompanhei a presença do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude 2023. Lá estava um “pop” sem a pretensão de ser “pop”, com seus 86 anos, mobilizando, como na vigília do último sábado à noite, mais de um milhão e meio de jovens. Sim, jovens que cerravam fileiras em torno do seu líder maior.

Francisco tem consciência da idade avançada, mas é pastor que conhece as artimanhas da política, inclusive da sua Igreja. Pena que parte dela não se espelha nele. Ao contrário, solapa mudanças que podem diminuir o fosso entre povo e as elites religiosas. Sua lucidez impressiona não poupando esforços para viver junto a sua gente em momentos cruciais em que resgata a presença dos jovens. A oportunidade de conclamar os encastelados para, já uma frase batida, mas necessária: “fazer uma Igreja em saída.”

O que se tem hoje, na Igreja Católica, é uma instituição que, com raras exceções, vive um apagamento. Do que já foi capilar na sociedade, hoje anda devagar, conservadora, não apenas no sentido de manter a tradição, mas tendo necrosada a sua presença nas áreas de periferia. Ainda longe de viver o que pregou o Concílio Vaticano II, considerado um sopro do Espírito Santo sobre a sua estrutura, embora alguns já projetem a possibilidade da realização de um Concílio Vaticano III.

O olhar que o papa Francisco tem preocupado com a sua Igreja se estende sobre a sociedade internacional. Foi o que ficou claro quando anunciou a próxima Jornada. “Fui convidado para estar em Lisboa. Agora convido os jovens a estar em Seul”. A mesma preocupação que manifestou ao tornar pública a agenda em que ainda se propõe a visitar países periféricos onde a presença do Cristianismo enfrenta dificuldades. Um papa peregrino, sem medo do calçado roto e da poeira que marcará as suas vestes...

Trabalha com a perspectiva do Sínodo que definirá o futuro da Igreja Católica, em duas etapas: outubro de 2023 e no mesmo mês do ano que vem. Em discussão, grandes temas da atualidade na ótica da “comunhão, participação e missão”. Outro lance do papa que, depois de reformar grande parte da estrutura do Vaticano, inclusive com a definição de novos administradores e cardeais (que escolherão o próximo papa), é ajudar a encontrar, como ele diz, os rumos do “caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio”.

Pode parecer redundância falar que um papa é um homem de fé. Mas é, sim, o caso de Francisco. Do que planta, hoje, pouco vai ver florescer e colher. Mas é o arrima que ajuda a persistir, mesmo com sua debilidade física. Antes de encaminhar os jovens para a jornada em Seul, na Coréia, em 2027, pediu que não se preocupem em “sujar as mãos, para não sujar o coração”. De fato, uma nova religiosidade somente é possível se a chama acessa na Jornada for mantida por homens e mulheres que tenham a humildade de reconhecer que novos tempos pedem novas atitudes... pela própria fé!

domingo, 6 de agosto de 2023

“Pai, canta “pra” mim?”

O Aprendiz chegou na sala do Mestre e sentou num canto em silêncio. Como sempre que estavam sozinhos, pediu:

- Mestre, canta “pra” mim?

Era uma velha canção de ninar da sua vila, que o pequeno o ouvirá cantar, quando pensou que estava sozinho. Era cedo e neste horário o menino sempre chegava turbinado. Recostou na soleira da porta, dormitou e passou a murmurar coisas desconexas. O Mestre se aproximou: a criança tremia, suava e estava encolhida. Tocou a testa e confirmou, estava com febre.

Tomou-o no colo e levou para a enfermaria. Foi avisado de que havia muita gente com sintomas parecidos na vila. Em seguida, o Aprendiz ficaria bem. Não pode deixar de notar que, deitado na cama, a criança parecia ainda menor...


Embora todos os cuidados do monge enfermeiro, passaram-se os dias, os demais tiveram alta, mas o Aprendiz não recuperava a consciência. O Mestre se dividia entre o seu trabalho à frente do Mosteiro e, sempre que possível, ficar ao lado do menino.

Num final de tarde, pediu para o monge enfermeiro que desse especial atenção ao pequeno, pois precisava de um tempo para rezar. Dirigiu-se à fonte do Ser Supremo, no recanto mais afastado do centro do Mosteiro. Somente os monges, os aprendizes mais velhos e algumas pessoas da comunidade tinham acesso.

Quando o Mestre chegou, apenas o trinar dos pássaros quebrava o silêncio. Postou-se em oração. Seu coração estava dolorido por pensar que o Aprendiz estava sofrendo. A febre não baixava. Tudo o que haviam tentado não dera certo. Faltava-lhe as palavras. Apenas disse baixinho:

- Meu Senhor, toma em tuas mãos a vida, a dor e o sofrimento deste menino!

Retornou lentamente, com os ombros arqueados, sem conseguir desfrutar das belezas dos jardins naquele fim de Inverno, quase começo de Primavera. Ao entrar na enfermaria, ficou ainda mais triste ao ver o pequeno magro, pálido, com gotas de suor correndo pelo rosto. Inconsciente, tinha o corpo retesado pela dor. Disse ao monge enfermeiro que passaria a noite ali. Foi longa e cansativa. Na maior parte do tempo ouvindo seu balbucio e secando seu rosto. Nos momentos em que as lágrimas banhavam o rosto do menino também corriam pelo semblante do Mestre...

A manhã já estava raiando quando a febre cedeu e o pequeno dormiu, segurando a sua mão. Levantou para arrumar o lençol sobre o pequeno. Ia abrir a janela quando sentiu que as poucas forças do Aprendiz se concentravam em prender a sua mão. Sussurrou:

- Pai, canta “pra” mim...

Estava tão cansado que não podia ter certeza se realmente ouvira. Cuidara dos meninos do Mosteiro como se fossem seus filhos. E nenhum deles o havia chamado de pai. Mas o Aprendiz sempre fora diferenciado...

Ajeitou o lençol e tentou cantar baixinho a canção de ninar, lutando para que as lágrimas e os soluços não o impedissem. O rosto do menino foi se tranquilizando, até que entrou em sono profundo.

Ainda segurava a mãozinha quando começou o movimento do dia. Iria esperar que acordasse. Afinal, se gerar um filho já era bom, seu peito transbordava de felicidade porque estava aprendendo que ser pai de coração é algo que não tem preço!

Saiu da enfermaria prometendo voltar em seguida. Já era hora da primeira refeição. Mas precisava passar por um lugar... Andou sem sentir que as lágrimas voltavam e se misturavam ao seu sorriso, enquanto caminhava pelos jardins para retornar à fonte do Ser Supremo. Gratidão era a palavra e a sensação que começava a entender, agora que também se sentia como um Pai!

Obrigado, queridos pais: aqueles que geraram e sentem falta dos filhos que partiram... Aqueles que são pais de coração. Aqueles que são pais de corpo e de coração! Deus os abençoe e os guarde sempre!

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Deixa que eu cuide de ti

Permite que a música toque.

Um remédio que o Criador incluiu

Entre as muitas belezas

Quando plasmou o Universo.

Foi ao som de uma onda do mar,

Que um dia iria quedar na praia;

Na carícia da brisa,

Que se esquivou por entre os corpos celestes;

No sonho das campinas verdes e onduladas,

Que estendem o olhar e aquietam o espírito.

 


Peço que me dê a chance de concertar teu coração.

A lágrima que negaste

Vai entranhar a pele e chegar à tua alma,

Afogando sentimentos e toldando o que há de mais puro em ti.

Então, apenas me estende a mão.

Segura a minha de encontro ao peito.

Vou te dar o abraço da saudade.

Intenso, demorado, pleno de energia.

A força que circula partindo do

Sentimento de que se vive apenas uma vez.

 

Para isto, quero andar contigo,

Quem sabe, pelos lugares onde a gente passava.

É o tempo de pausar a vida,

Diminuir o ritmo,

Acalentar horizontes.

Nas tuas dificuldades de caminhar,

Vou fingir que sou forte.

Desejo ficar contigo quando tiveres algum medo

E se eu errar, me dá uma nova chance.

 

Basta, apenas, que sorrias.

Quando sorris, todo o meu corpo se inebria,

Bebo da doçura que exala das marcas que ficam em teu rosto.

No jeito e trejeito de andares,

Vou te entender melhor,

A própria razão de te amar.

 

Deixa que eu cuide de ti.

Não tem problema se eu não acertar sempre.

Me dá o direito de ficar inseguro.

Se for preciso,

Vou te contar que errei e recomeçar...

 

Vou secar tuas lágrimas, que brilham enquanto caem.

É como ver o entardecer e respirar.

Quando isto acontece,

Sempre perco as palavras.

E ao faltarem as palavras

Me convida para ficarmos juntos ao pôr do sol.

 

Embevecidos, ainda vamos estar no mesmo lugar

Quando a Lua iniciar a sua longa peregrinação pelo Céu.

Encosta, então, tua cabeça em meu ombro

E sintoniza a tua respiração com a minha.

 

Me perdoa por te abraçar só agora.

Vais estar tão perto que encontrarás

Mais um sulco na minha fronte.

Não te preocupa.

São as marcas das minhas experiências.

A certeza de que, hoje e sempre,

Não tenho como - e não posso - pensar em desistir de ti!

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Caridade, voluntariado e o início de tudo...

Conforme aumentam as carências da população, aumentam, também, aqueles que, por voluntariado ou caridade, procuram minimizar os sofrimentos de quem não consegue alcançar o respeito a direitos elementares, em especial, as crianças. Atividades de Organizações Não Governamentais (ONGs), grupos sociais e religiosos, assim como por pessoas físicas. Dos muitos registros que os meios de comunicação fazem todos os dias, há uma dura percepção: a sociedade faz o possível, mas não é o suficiente.

O atendimento a quem está em risco – fome, saúde, desastres naturais ou provocados pelo homem, omissão do processo educativo... – já esteve em mãos de religiosos, em especial do Cristianismo, mas é virtude consagrada por muitos credos. Santa Helena, mãe do imperador Constantino, teve (o que era comum, então) escrava colocada para fora de casa porque fora contaminada por peste. Saiu às ruas procurando e a encontrou atendida numa igreja, onde, desde então, se voluntariou para cuidar de doentes.


O problema não é de quem se coloca à disposição para prestar um gesto de caridade, mas da macroestrutura que, hoje, deveria ser de responsabilidade do estado. Que bom que amigos e companheiros de igrejas ou grupos se mobilizem distribuindo alimentos, auxiliem no recolhimento de material necessário para os lares, assim como a prática de esportes, o lúdico, a arte, a cultura, o reforço escolar... Auxiliam meninos e meninas que poderiam – e deveriam – exercer a cidadania, um direito elementar que lhes é negado.

Do qual o estado é fiador e responsável. Embora desgastada e vulgarizada a expressão "resgatar a cidadania" é uma realidade que se impõe. Numa matéria para televisão, chocou a pergunta: "sabes usar as letrinhas?" para uma criança em idade escolar avançada, que vive a sua miserabilidade cultural, ao não conseguir se apropriar do elemento básico – leitura e escrita – para ter um olhar crítico e entender o Mundo. Sem o que não consegue quebrar as desigualdades e está fadada a viver o seu torpor social...

Repete-se o óbvio quando se diz que a criança precisa ser prioridade absoluta de toda a sociedade. Está lá, na Constituição. Se as carências afetam aos adultos, germinam nos pequenos gerações apáticas pela ausência de atendimento por parte de políticas públicas e pais despreparados e pressionados por necessidades básicas, que encontram nos eletrônicos, por exemplo, “babás” que lhes dão alguns momentos de sossego. Sozinhos ou apenas com o auxílio de voluntariado não se consegue mudar o que é estrutural.

Algumas atividades mostram que existem caminhos. Como a Pastoral da Criança, da Igreja Católica, assim como o programa Primeira infância melhor para famílias em situação de risco e vulnerabilidade social. São acompanhadas para fortalecer a competência de educar e cuidar do desenvolvimento físico, intelectual, social e emocional. Fica claro que a solidariedade está longe de ser dispensada. Pelo contrário. É o início de um processo onde a cidadania deve ser aprendida – e vivida – desde o berço, não como favor ou concessão, mas inerente à própria dignidade humana.