domingo, 17 de março de 2024

Amanheceres...

 

Inspiração” é meu novo projeto no mês de março, quando completo dois anos de “Sexta com gosto de poesia”. A forma de te enviar um carinho nas manhãs de domingo. Recebe o meu abraço!


sexta-feira, 15 de março de 2024

O medo de cansar na espera...

Esperar.

Difícil compreender

Quando o andar da vida é marcado

Por tempos que, muitas vezes,

Não nos alcançam o sentido.

 


Esperar.

O que se aprende quando, enfim,

Se vislumbra a possibilidade de

Entender uma nesga da existência.

Espelhos pelos quais

Se passa e o tempo mostra

A inquietude da idade e,

Por fim, a placidez dos anos adormecidos...

 

Segue-se o caudal das vivências,

Onde cada reencontro

Sinaliza um até logo.

Então,

É preciso vencer o medo de dizer adeus.

Encontrar

A certeza de que

Toda a despedida está grávida de

Um novo reencontro.

  

Comecei a entender

Quando um olhar silenciou minha voz

E apaziguou meu espírito...

Foi quando sorriste

Que desamarrotei meu riso;

No abraço,

Perdi-me no aconchego do teu peito;

Ao afagar a imaginação,

Partilhando o que sonhaste,

Reacendeu-se o meu próprio sonho!

 

Esperar e aprender,

Quando foge a compreensão

E, mesmo então,

Sempre tiveste paciência

De aguardar pelo meu momento.

Amadureci quando,

Experimentando o arrependimento,

Ao invés de me demorar mais um pouco,

Corri até onde imaginei que estarias...

 

Olhando ao longe, os grandes sonhos,

Se perde o gosto por aquilo que está próximo:

O devaneio

Que vaga na lembrança de uma noite.

Acordar, olhos ainda fechados,

Com o sentimento

De que a distância dói tanto

Que não se cura,

Apenas ameniza com

A aragem do que é expectativa.

 

Me ensina a não cansar na espera...

E não desistir do que pudemos

Construir como nossos sonhos!

terça-feira, 12 de março de 2024

Um livro no meio do caminho...

O Coletivo Autores de Pelotas (CAP) realizou no início do mês de março o projeto “Esqueça um livro”, com um convite: “vamos espalhar literatura pela cidade?” Na manhã de um sábado, autores e interessados se reuniram em frente ao sebo Icária (em Pelotas, nos fundos do Mercado Público), onde fizeram registros e, depois, cada um saiu em busca de um lugar onde pudesse “esquecer um livro”, para acarinhar potenciais leitores. Também havia o pedido de que se levasse uma ou mais obras para doação.

Uma forma delicadeza de colocar um livro no meio do caminho... Ideia que segue a tendência de grupos literários pelo Brasil que se esforçam para incentivar este gosto na população, especialmente entre os mais jovens. É triste constatar que ainda somos um país onde a leitura é bem reduzida. Livrarias e sebos lutam com dificuldades para sobreviver. O mesmo se diz dos escritores, que são os retratistas da alma de um povo e, mesmo assim, não conseguem espaço para concretizarem o acesso a este bem cultural.


O livro pode ser “perigoso” porque contribui para estimular o senso crítico do seu leitor. Quando se fala assim se tem a impressão que é a respeito apenas de política, mas não: toda a área do conhecimento onde se pensam profissionais que não sejam apenas técnicos (“fazedores”), mas conhecedores das realidades sociais, seus problemas, contextualização e que procurem fazer parte das soluções. Publicações em forma de livro, no Brasil, ainda são caras na correspondência com o salário mínimo, por exemplo.

Num valor em que não cabe sequer o atendimento das necessidades básicas, não há mágica. É sonho desejar que atendam também aos bens culturais ou de entretenimento. Pior ainda é que não se tem uma cultura da leitura. Além da realidade financeira, privilegiam-se instrumentos que se tornaram “babás eletrônicas”. Até em função de que este é costume que necessita ser “aprendido”, passado de geração em geração, investir tempo em acompanhar, dispor-se a esclarecimentos, discussões e leitura em conjunto.

Mais fácil, infelizmente, é entregar um “joystick” ou um controle remoto e ter um filho anestesiado pelos meios eletrônicos durante algumas horas... Tentativas de popularizar a leitura até alcançaram alguns segmentos, especialmente o juvenil, como as sagas do Harry Potter, Senhor dos Anéis e Percy Jackson, por exemplo. Personagens que ganharam o gosto popular e que migraram das páginas dos livros para as telas e telinhas. Torna-se um mundo encantado pela magia das palavras e das ilustrações.

A ideia do Coletivo de Autores não é boa, é ótima! Encontrar um livro no meio do caminho: num banco de praça, na mureta de um chafariz, na beira da vitrine da loja, receber das mãos de alguém, se transforma numa agradável surpresa. Andar de mão em mão é melhor do que ser esquecido e juntar poeira numa estande. Como antigamente se fazia com os gibis, que eram motivo de troca, aproximando quem compra de quem quer sentir o cheiro e a sensação de folhear páginas e imergir numa boa história, numa aventura, num romance, no instante único de cumplicidade entre o autor e o seu leitor!

sexta-feira, 8 de março de 2024

Avisa, quando puderes voltar para casa...

A espera é sentimento

Com a sensação de que,

Não importa o que aconteça,

Se anseia pela volta.

Quem aguarda

É alcançado pela magia que voa

Pela brisa da saudade.

 

Depois da partida,

Torna-se um tempo de mirar as lembranças:

Coloquei teus chinelos na soleira da porta.

Sentei no degrau da varanda,

Espiei o portão enquanto espero.

 

Dormitei

Encostado ao balanço,

Onde tantas vezes sentamos,

Na certeza de que

O rangido das dobradiças será

A música que anuncia a tua volta...

 

Talvez, antes de abri-lo,

Olhes o entorno, em busca dos

Ruídos e personagens conhecidos:

O alarido das crianças

Na piscina do vizinho,

O ladrar do cãozinho

Próximo da cerca,

A discussão da moradora da frente com os filhos.

Ecos de um passado que te diziam:

Chegaste em casa!

 

Ao retornar,

Restarão silêncios e lembranças:

Da vizinha bisbilhoteira

Que espiava por sobre o muro,

Do vendedor que batia palmas ainda na calçada,

Do entregador de cartas que já não vem mais... 

 

Ao afastar a cortina da varanda

Alongo o olhar e enxergo

A esquina por onde te via voltando.

Mãos nos bolsos, mochila nas costas

E o ar de quem queria apenas sossego.

Caminhavas devagar, sorvendo os últimos raios

De um sol que teimava em se esconder

Em meio às árvores da pracinha.

 

Restam poucas pedras no caminho

Entre o portão e a varanda.

Os verdes e as flores já não existem mais.

Terás dificuldades em abrir a porta...

 

Foi o tempo.

Passou como uma lufada que carrega

Sentimentos e destinos.

No eterno bem-querer das lembranças,

Aguardo. Sinto tua falta.

Só te peço:

Avisa, quando puderes voltar para casa!

terça-feira, 5 de março de 2024

Para degustar entre lágrimas e risos...

Postei em textos meu vício por produções asiáticas que podem ser chamadas de doramas (Japão) ou k-drama (Coréia do Sul). Além dos seriados e filmes coreanos, há uma vasta gama chinesa, da Nova Zelândia, Filipinas, Taiwan e Japão. Deste último, chama a atenção o primor da fotografia, com planos abertos e cenas lentas, bastante diferentes das novelas de ação e romance ocidental, por exemplo. Foi onde encontrei “Restaurant from the Sky”. Daquelas pérolas que se precisa garimpar... E saborear!

Wataru e Kotoe são fazendeiros na zona rural do Japão. A chegada da esposa é sob nevasca, em busca de emprego. Ao receber a primeira xícara de leite quente também recebe a proposta de casamento. Dali em diante, as estações do ano acompanham o casal, especialmente, com o nascimento da filha. O sonho do marido é fazer queijos, mesmo quando os negócios não vão bem. Mas não falta o espírito de que são a primeira célula, parceiros nos trabalhos e no convívio social, especialmente nas feiras da vila.


O ânimo se mantém pela amizade com a comunidade local, que inclui um criador de cabras, um queijeiro e sua esposa, artista e professora; um agricultor que procura por OVNIs; um produtor rural que investe em comida natural e um chef de cozinha em busca novas experiências. Revelam suas fragilidades, mas não permitem que elas os façam desistir da amizade. O chef coloca o horizonte dos amigos de cabeça para baixo ao propor fazer, ali, no fim do mundo, a refeição que emociona e se torna inesquecível!

Os encontros e desencontros são pontuados, como na vida real, pelos pequenos detalhes do dia-a-dia. O queijeiro morre sem dizer ao aprendiz (Wataru) o que este esperava: a excelência da sua produção. Senhor idoso, perguntado: “me ensina a fazer o seu queijo?”, fala com a experiência de vida: “você precisa fazer não o meu queijo, mas o seu queijo”. Um agregador silencioso reconhecido quando se dão conta do que dizia da amizade dos cinco homens: “nos repreendia por agirmos como crianças o tempo todo!”

Quando, enfim, concretizam o sonho da “refeição inesquecível”, despertam para o fato de que a vida é ação entre amigos que se cultiva, especialmente ao se degustar o que se ama: “leite é o amor materno. O queijo também é cheio de amor”, diz a personagem. A gastronomia se mistura com a história e a vida de cada um daqueles que se redescobrem capazes de vencer medos e limites apoiados pelo grupo. A suposta “loucura” do chef encontrou, naquela troupe, “loucos” dispostos a vivenciarem uma aventura.

Juntos, num “churrasco” de batatas e frutos do mar, tecem sonhos e se divertem com a inocência do último a chegar ao grupo, o criador de cabras. A pureza transparece num daqueles filmes que brincam com a alma da gente. “Levinho”, a imaginação sente o gosto de uma caneca de leite, um pedaço de queijo, uma mesa com a família, amigos e vizinhos... Para se degustar entre lágrimas e risos, quando a vida propicia os ingredientes não apenas para aprender a fazer, mas a saborear todos os seus prazeres!

sexta-feira, 1 de março de 2024

A palavra que não soube dizer...

Há um lugar sobre o ombro

Em que um rosto se encaixa,

Na combinação perfeita de quem procura

A outra face...

 

Sem que se vejam,

Têm a sintonia dos corações que se afinam,

No que parece ser um pequeno,

Mas se transforma num imenso entalhe!

 


O abraço é a bênção do encontro de corpos,

Na completude das feições que se ajustam,

Quando se testa o pulsar do coração.

O convite para olhar o firmamento

Pelos olhos de quem arrebata os sentidos.

Tempo de entender silêncios,

Suspiros, olhares furtivos,

Que deliciam e parecem estranhos...

 

Queria ter te apresentado às estrelas.

Perdi o tempo,

Tudo mudou rapidamente.

Num dia, caminhávamos juntos,

No outro, seguimos o destino.

Pedi forças para acompanhar teus passos,

Dizer que não podias desistir,

Que acenasse de onde estivesses...

 

Um dia serei apenas o brilho

Que conjura, na bruma do tempo,

O direito de se transformar

Em um corpo celeste.

 

Pois, hoje, é tudo fugaz e etéreo,

Vivendo momentos que,

Pela sua intensidade, é

O bálsamo que ameniza a dor.

 

Dois rostos que não se veem,

O abraço com gosto de

Lembranças e saudades.

A diferença

Quando se acaricia a imaginação.

 

Há palavras que não soube dizer.

E, ao faltarem,

Entendi que se tem

Pouco tempo para amar...

 

Não vale a pena desperdiçá-lo.

No correr do tempo,

Percorrem-se muitos lugares,

Mas se volta

Aonde ficaram as marcas do coração.

 

O portal do paraíso sempre esteve

Nos olhos de quem esperou,

Enquanto se aprendia a amar!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Uma roda de conversa para falar de política

As eleições municipais deste ano entram para a série em que a política partidária se distancia cada vez mais da população. Não é de hoje que os ditos “cidadãos” e “cidadãs” (como se a denominação pudesse ser utilizada pelos politiqueiros como adjetivação) sentem que o que se fala não rima com a realidade do que os eleitos fazem. Ou, concretizam bem menos do que o possível nas áreas básicas, na conservação e cuidados, deixando os espaços públicos desleixados, feios, praticamente abandonados...

Esta é uma disputa “paroquial” travestida de interesses que podem ser, até, nacionais. Como se tem visto o acirramento entre as figuras do atual presidente e do ex-presidente, que jogam seus interesses não naquilo que a população precisa no lugar em que vive, mas armam jogos políticos para as próximas eleições, quando se disputa o real poder e interesses financeiros. Pena que até organismos sérios de representação popular tenham se sujeitado, o que os levou a desaparecer ou entrar em processo de inanição.


Articulações partidárias ramificaram para sindicatos, igrejas, associações. Literalmente, empestando as relações e disseminando a cizânia. Desorientaram os incautos e deram pilha para aqueles que desejavam instituir dentro destes grupos os mesmos interesses de poder que prejudicaram a máquina pública. Os mais “ousados” lançaram candidaturas próprias e se perderam nos meandros do pior que existe na política: não defendem mais os interesses das instituições e sequer se tornaram a raposa que cuida do galinheiro...

Quando sindicatos, igrejas e associações começaram a dizer em quem votar, esqueceram da sua função básica: lugar para que os congregados de todas as matizes ideológicas possam sentar, conversar e exercer o legítimo direito de pressão sobre as autoridades constituídas e representativas. Prostituiram-se as relações. Chegou a se dizer que política, religião e futebol não se discute (embora se lamente). Quem não deseja que se discuta tem interesses escusos no sentido de querer manobrar destinos alheiros.

Ambientes arejados pelo convívio democrático são plurais, onde se trata da realidade presente e se sonha em conjunto a solução dos problemas estruturais. Infelizmente, foram sendo guardados ressentimentos, que hoje, por qualquer razão se vomitam desaforos e se transformam aqueles que já estiverem próximos em desafetos. Precisamos de uma roda de conversa para se falar sobre política. Daquelas em que se contam casos, se repassa um mate e ainda se tem coragem de conversar olho no olho.

As desconfianças nos afastaram com feridas difíceis de sarar. Não somos uma sociedade politizada. Conversando com o professor Marasco sobre o primeiro mandato do prefeito Bernardo de Souza, lembramos: “fizemos a política da inocência”. Infelizmente, a inocência está perdida. Mas se pode reaprender o básico: democracia é a arte do diálogo e do consenso. Aceitando nos jogar uns contra os outros, por meias-verdades e mentiras travestidas, não é só o adversário que perde, mas todos nós que, um dia, sonhamos com uma sociedade onde os valores sejam a liberdade, a igualdade e a fraternidade...