domingo, 6 de julho de 2025

Saborear a vida

Simplesmente assim:


O tempo amadurece o sentimento de que nem tudo

Com o que a gente se importa, de fato, tem valor.

A busca por realização somente é saciada

Quando restam boas lembranças das pessoas

E dos lugares por onde se conviveu.

Viver é uma oportunidade e uma graça.

A chance de experimentar este dom precioso

Que somente se valoriza quando, andado um percurso,

Alcança-se o olhar ao Infinito, 

No encontro de um terno e derradeiro horizonte.


Benditas são as lágrimas que percorrem os sulcos da tua face.

Podem ser de dor, mas também a oportunidade

Para livrar-se dos sentimentos que se tornam desnecessários.

No instante em que a vida se transforma em canção

Ou quando se desafina o tom, sem desistir de cantarolar.

Momento em que não há mais voz para solfejar a letra,

Porém, a música continua assobiando pela memória.

No acalento da saudade, se transforma no desejo

De sorver os poucos segundos que ainda têm o gosto de destino…

(Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

sábado, 5 de julho de 2025

“O Natal de Poirot”, de Agatha Christie

Leituras e lembranças

"O Natal de Poirot" se passa na véspera de Natal, quando o tirânico e odiado patriarca Simeon Lee convida seus filhos e esposas para uma reunião familiar em sua luxuosa mansão. A atmosfera está longe de ser festiva, permeada por ressentimentos, segredos e intrigas. A tensão atinge o ápice quando, após o jantar, um barulho ensurdecedor de móveis sendo destruídos é ouvido, seguido por um grito agudo. Simeon Lee está morto em seu quarto, trancado por dentro, em uma poça de sangue, degolado...

O detetive Hercule Poirot está no vilarejo para passar o Natal e oferece ajuda na investigação. Ele se depara com uma família onde todos têm motivos para desejar a morte do milionário. Poirot precisa usar sua astúcia para desvendar as complexas dinâmicas familiares, expor mentiras e descobrir a verdade por trás do brutal assassinato. O mistério se aprofunda com a descoberta de que o crime foi planejado meticulosamente, com reviravoltas surpreendentes e um final chocante.

A ambientação natalina, com seu contraste entre a festividade da época e a brutalidade do crime, adiciona uma camada irônica e impactante à história. Poirot está em sua melhor forma, com sua meticulosidade e observações afiadas, desvendando os mistérios da família Lee. É um livro que diverte e desafia o raciocínio do leitor, sendo altamente recomendado tanto para fãs da autora quanto para quem deseja se aventurar no gênero policial. O final é, como de costume da autora, surpreendente e difícil de prever.

Juntamente com Miss Marple, o detetive Hercule Poirot preencheu o imaginário de muitos leitores, especialmente na segunda metade do século passado. A primeira, também conhecida como Jane Marple, aparece em 12 romances e em 20 contos policiais de Agatha Christie. Solteirona, vive no vilarejo fictício de St. Mary Mead, atuando como “detetive amadora”. O segundo é um personagem extravagante, belga, sem ser modesto e que se gaba da sua inteligência diferenciada…

"O Natal de Poirot" compartilha muitas características com outras obras clássicas da especialista em suspenses, destacando-se aquelas que envolvem o "mistério de quarto trancado" e a reunião de um grupo limitado de suspeitos em um local isolado. "O Natal de Poirot" é um exemplo do estilo e da maestria de Agatha Christie, combinando elementos clássicos de mistério com uma ambientação festiva que adiciona um toque único à trama. É um livro que solidificou sua reputação como a "Rainha do Crime". (Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Com pesquisa da IA Gemini)


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Mudanças e histórias ressignificadas

Artigo da semana:

Se não existia, criei a expressão “mudanças sempre causam lambanças”. Por temperamento, preciso de um tempo para amadurecer qualquer coisa que me tire da rotina. Ainda mais que a novidade se chamou deixar onde praticamente nasci (viemos de Canguçu para Pelotas em 1959) e lá fiquei por 64 anos, com idas e vindas, sempre onde deixei minhas referências. O lugar que acolheu a mim e a minha família como migrantes numa mistura de carinho e desafio.

Depois de todo este tempo, parti da casa velha onde exercitei minha capacidade de “imitador de arquiteto” com inúmeras construções do tipo “puxadinhos”, ao ponto de que meu padrinho Valdemar brincar comigo e com a Neli (sua esposa) “do que nós iríamos inventar de novidade”. Meu pai construiu o primeiro corpo da casa, depois foi tudo comigo. Com pouco dinheiro, ainda jovem, eu e meu irmão construímos dois quartos independentes na parte superior da casa.

Depois, meu puxadinho chegou a um apartamento completo, onde passei mais de 30 anos. Para juntar as duas casas, um jardim de inverno. E como meu pai era agregador nato, a área gourmet, onde ele e meus cunhados, além de amigos, exercitaram a arte do churrasco. Habilidade que eu não tenho (sequer paciência) de esquentar a barriga na beira do fogo. O tempo levou aqueles com quem tive a alegria de conviver. E a casa foi se tornando grande demais para uma pessoa só.

Como sei que só pego de arranque, conversei com a Roberta, que já alugava a parte debaixo, onde funciona um salão de beleza há mais de cinco anos. Em outras ocasiões, havia manifestado interesse na casa inteira. Propus trocar pela moradia que a Roberta tinha no residencial Moradas Club, ainda na vila Silveira. Ajustamos os finalmente dos “pilas” e chegamos a um acordo. Adverti: o que tiver que ser feito, tem que ser para ontem. “Se eu pensar demais, desisto”.

Tive a ajuda de muitas mãos, inclusive da Roberta e sua irmã, a Renata. Objetivas, competentes, supriram minha total incompetência em organizar transporte e acomodação. Em certos momentos, senti-me tonto e, então, era seguir o fluxo. Hoje, já estou bem instalado, sentindo que a mudança não precisa ser ruim, mas alcançar novos patamares, até nas relações humanas. Não importando a idade e sim não perder a oportunidade de ressignificar a própria história.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Coreia do Sul e a Jornada da Juventude

Artigo da semana:

A morte do papa Francisco e a realização da Jornada Mundial da Juventude Católica, em 2027, em Seul, na Coreia do Sul, despertam a atenção sobre o catolicismo naquele país. Onde cerca de 5,8 milhões de pessoas, 11% da população, se diz católica. Naquela localidade, não foram os missionários que abriram caminhos, mas sim a disseminação de uma literatura religiosa, especialmente nos meios educacionais, já no século XVIII. A Igreja Católica seguiu os mesmos rumos que em outros lugares, especialmente, até a metade do século passado, contribuindo com a educação, o atendimento à saúde e o desenvolvimento social.

Recentemente, muitos textos e vídeos foram publicados a respeito. Num deles, destacava-se o fenômeno do sincretismo, em especial com o Confucionismo, o Budismo e outras práticas tradicionais coreanas. Semelhante ao Brasil, onde a justaposição de religiões e filosofias se dá com o Espiritismo e as de matrizes africanas. Na Coreia do Sul, ela tem se adaptado às tradições culturais do país, como a realização de rituais e festas religiosas em que se combinam elementos do catolicismo e do budismo, por exemplo. 

Sequer os k-dramas (as novelinhas coreanas) escapam da presença de elementos de fé. Em “Young Lady and Gentleman” o casal protagonista se reencontra diante de uma imagem de Nossa Senhora, num templo católico, onde consagram suas vidas. Já em “O sacerdote impetuoso”, um personagem formado como soldado de combate mortal vira padre e enfrenta uma máfia. Sendo um misto de comédia e drama, tem cenas bem violentas. No entanto, o trato com a figura do sacerdote é respeitoso, sem as apelações ocidentais de que, neste caso, sempre arrumam uma parceira para desencaminhá-lo do celibato…

O catolicismo, na Coreia, é uma fé minoritária. Seu crescimento se deve a uma forte presença leiga, antes mesmo que fosse feito o trabalho de missionários. Pesquisas apontaram a “simpatia” pela religião por sua forte presença nas causas sociais. O Budismo tem o maior percentual, seguido daqueles que se dizem protestantes. O fenômeno interessante é que o Budismo chega a 22% da população; cristãos (católicos e protestantes, somados) a quase 40% e as demais denominações fecham os outros 38%.

A cultura oriental tem suas próprias peculiaridades. Não se pode generalizar, com a antiga história de que são “todos com olhos puxadinhos…” Eventos como este, reunindo jovens de todos os continentes, alavancam o fervor religioso, mas também tem reflexo no turismo, economia e o dia a dia das pessoas. Foi assim no Rio de Janeiro, como em outras grandes metrópoles. Certamente, com a presença do papa Leão XIV, a oportunidade de se rezar pela paz e o tão necessário entendimento entre os povos.


domingo, 22 de junho de 2025

Simplesmente assim: O outro

"Bom-dia", "Boa-tarde", "tudo bem?"

Não são palavras que apenas acolhem. 

Mais ainda: anulam a invisibilidade.

A pessoa na parada do ônibus por onde andas,

O jardineiro aguardando passares a fim de te proteger,

A catadora de lixo reciclável que todos os dias

Revira os latões em busca do sustento.

Quando levantam os olhos

Compartilham a angústia por estabelecer pontes.

 

Saudar alguém que já se conhece é costume.

Surpreender um passante na rua com um sorriso,

Uma palavra de carinho,

Revoluciona o estado de espírito

De quem dá e de quem recebe atenção.

Encolhidos e escondidos em nossos casulos

Perdemos o melhor no baile da vida:

Para seguir o compasso pelo salão é preciso

A coragem de tirar alguém para dançar…


sábado, 21 de junho de 2025

A cidadania é a meta, os livros são o caminho









Leituras e lembranças:

 Ainda não se inventou uma forma melhor de transmitir conhecimento e emoções do que o livro. Também, é uma das melhores maneiras de adquirir vocabulário e desenvolver raciocínio ágil. Desde que nossos antepassados começaram a gravar em pedra o que estavam pensando e sentindo, evoluindo para o uso do pergaminho e do papiro, até chegar ao formato que conhecemos hoje. Nestes tempos bicudos, já se vislumbra um futuro onde aparecem os livros eletrônicos e os audiolivros, por exemplo.

Vivemos uma fase de transição em que o impresso vai, gradativamente, sendo substituído pelo digital. Claro que ainda existem os "analógicos" (como eu), que preferem o "cheiro da tinta e a sensação de tocar o papel..." Mais ou menos como os velhinhos pré-Gutenberg que carregavam seus papiros e pergaminhos embaixo do braço e criticavam aquela novidade que era o livro impresso, afirmando, categoricamente, ser apenas modismo e que iria passar. Não passou, bem pelo contrário, decretou a agonia dos anteriores…

Num tempo em que se fala tanto em preservação dos recursos naturais, por uma questão ecológica, os eletrônicos possibilitam a diminuição do consumo de papel que, em períodos recentes, devastou matas e, quando replantado industrialmente, tira espaço de reflorestamento nativo. Uma das possibilidades é a utilização do papel reciclável. Conserva os recursos naturais, economiza água e energia, assim como reduz os resíduos. Seu desafio são os custos (é mais caro que o papel virgem), a qualidade e a aparência.

Em qualquer dos casos, o importante é estimular a leitura. A diminuição de obras publicadas na linha da ficção (especialmente romances) levou a exercitar a criatividade. A Coreia do Sul, por exemplo, publica histórias para serem lidas em celulares ou tablets, por assinatura. E se dissemina o uso dos audiolivros, especialmente para pessoas com deficiência visual, idosos e doentes.

Quem despreza livros eletrônicos, dizendo que ainda não se popularizou, pode falar o mesmo do impresso. Num país que apoia a leitura no discurso, mas não, na prática, tem-se a grande maioria de brasileiros que, privada do acesso aos livros, pelo custo ou uma educação deficiente, não é estimulada a ler. Típico de estados que não se importam com a educação política de seus cidadãos, convencidos de que precisam ter seus políticos de estimação. Infelizmente, hoje, brigar por “a” ou “b” tornou-se mais importante do que pensar num futuro em que a plena cidadania é a meta e os livros, com certeza, serão o caminho. (Ilustração geradas pela IA Gemini - este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Encontros possíveis

Sexta com gosto de poesia:

Um dia, tive que seguir o meu rumo.

Ausentar-me foi o tempo de espera pela volta.

Na despedida, as lágrimas contidas

Acabaram transbordando no olhar.

Regressar era a condição definitiva

De aceitar o quanto precisava de ti.

Quando te reencontrei, prometi que,

Desta vez, não haveria nova partida.

 

Mirar-te não era mais contemplar o viço

De quem está permanentemente energizado.

Somente em teus olhos reencontrei a fagulha

Que mantém a chama da existência.

E, mesmo assim, queria que fosse

Suficiente para aquecer o meu peito.

As marcas da história de uma vida

Cravejadas em teu rosto e em tuas mãos…

 

Teu abraço ainda tem o gosto

Das brasas mornas que não desistem do calor,

Que somente encontrei contra o teu peito,

Na doçura de um coração eternamente apaixonado.

Jurei que, quando nos faltarem as forças,

mesmo assim, vou pedir que não desistas de mim.

Rezo para que nunca estejas só e

que sempre sejas feliz.

O sentimento de quem alcança a plenitude

Ao ajudar alguém a realizar os seus sonhos.

Mesmo que a gente já não esteja mais neles…