segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Minhas férias

Olá, amigos. Estou entrando de férias. Como já sabem, este deve ser um momento especial para mim pois, ao encerrar minha participação na TV UCPel - UCPel Notícias - na próxima sexta, também estou encerrando minhas atividades acadêmicas na Universidade Católica.
Foram 18 anos de muitas experiências e de muitos aprendizados. Mas sigo para uma nova etapa, esperando encontrar em vocês que leram meus textos, comentaram, criticaram, sorriram, choraram, incentivo para novos aprendizados.
Sou grato a todos que demonstram carinho por meus textos, de tantas formas. Meus atentados literários estão longe de ser perfeitos, mas guardam a marca do humano! É o Manoel Jesus quem diz, quem se revela, quem se expõe. Como dizia um personagem, no fundo, no fundo, somos todos muito parecidos e quem tem coragem de apresentar a sua alma está expondo a alma da maioria das pessoas.
FELIZ NATAL, UM MARAVILHOSO ANO DE 2013!

Uma canção para ninar o Natal

O padre iniciou a Missa de Natal lembrando o Menino que se acomodara num banco na praça em frente à igreja. Jeito triste de uma criança que precisava ser ninada, especialmente nesta noite. Do outro lado da praça, o Menino parou abismado diante da vitrine: ali estava o mais belo Presépio que já vira! As figuras eram de tamanho natural: o pai, José, demonstrava serenidade; a mãe, Maria, a preocupação com o filho deitado no cocho de alimento dos animais; o menino, Jesus, com os braços e as perninhas erguidas. Perfeitos, pensou, quase poderia ouvi-los falar!
Voltou alguns anos atrás, quando nasceu seu último irmão. Ficou encantado com a pequena criatura que se movia sem coordenação. Lançava os braços e as perninhas em todas as direções e tinha os olhos ávidos por acompanhar quem estivesse por perto. Ao saíram de casa, se assustou. Seu pai o chamou à parte e foi taxativo:
- Tá na hora de tu cair no mundo.
Achou que não tinha entendido.
- Já tens 12 anos, podes te cuidar por ti mesmo. Aqui a gente já tem boca demais pra sustentar. Vai quietinho e pega as tuas coisas.
Pensou em procurar a mãe, em tentar convencer o pai, mas ficou mudo. Sabia dos problemas da família e ele era um fardo! Apenas pegou uma sacola com suas poucas coisas e saiu para a rua. De longe, olhou pela última vez a casa, desejando não mais esquecê-la. Fazia tanto tempo! Sentou-se na beira da janela, enquanto olhava a família sagrada e ouvia música. Ainda tinha lágrimas nos olhos quando se encostou à parede e foi resvalando para o sono. Não tinha pai, não tinha mãe, não tinha mais irmãos!
Sentiu, então, alguém levantá-lo e o abrigar em seus braços. Pensando se era realidade ou sonho deu-se conta de que era carregado pelo padre:
- Fazia dias que observava quando ficavas pela praça ou em frente à Igreja. Depois da Missa de Natal, procurei por ti, mas tinhas desaparecido! E estás aqui! Minha vocação sacerdotal não me permitiu ter filhos, quem sabe possa te dar outra vida e dignidade!
O padre olhou para o céu: o rastro de luz de uma estrela cadente marcou o firmamento. Não, não era apenas um meteoro que caia, era a sua Estrela de Belém! E, nos seus braços, tinha o menino Jesus! Sorriu para Deus e pensou que agora sim, podia dizer: também sou pai! Tinha sentido encontrar uma canção para ninar o Natal!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Não sei o que diria meu coração

Não sei o que diria meu coração: há momentos em que ele prefere ficar calado. Fica ensimesmado nas batidas compassadas dos momentos em que prefere a solidão e os horizontes da natureza.
Sem a preocupação de pensar em alguma coisa, apenas segue o destino que os passos alcançam, amparado pelo silêncio que não cobra declarações, defesas, juras, promessas, devaneios verbais...
Não sei o que diria meu coração: há momentos em que ele prefere ficar esquecido. Contenta-se em estar em plena rua, mas aconchegado ao próprio peito, dançando na música que os passantes não ouvem.
Se pega a observar que as pessoas carregam suas preocupações e não conseguem viver um momento de desapego, apenas silenciando. São reféns da própria vida, correndo atrás das promessas insensatas que o tempo lhes faz e que, o próprio tempo, cobra seus juros, com frases amaldiçoadas como: “mas já passou?”
Não sei o que diria meu coração: há momentos em que ele se descobre nos braços do Eterno! Então, a transcendência faz a dança do silêncio e ele percorre as nuvens, singra os céus, fica esquecido entre o mar e a terra.
Não há como trazê-lo de volta. Tem o jeito da insensatez e veste-se como a loucura. É o momento em que se sente realizado. Não precisa dar explicações, apenas sentir que superou o efêmero e vive a eternidade!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Pedi para sair da Católica

Hoje fui à Universidade Católica de Pelotas, instituição onde sou professor, assinar o Programa de Demissão Voluntária. Foram 18 anos lecionando e, agora, pretendo tomar outros caminhos, que não a sala de aula. Infelizmente, o processo educacional, para mim, tornou-se bastante difícil e, na verdade, não quero prejudicar os alunos, que também estão tendo problemas, neste momento.
Gosto muito do convívio com os jovens, especialmente, hoje, quando atuo na televisão e vejo o pique que têm para buscar fazer o telejornal, mas também em inovar, avaliar (às vezes com críticas fora de hora, ou concentração de menos - mas, é assim, também já fui jovem!)
Hoje, infelizmente, discutimos muito questões administrativas e pouco as questões pedagógicas. Perdemos todos. Não sou administrador - embora tenha estado à frente da Escola durante três anos. Mas não foi uma boa experiência. Queria ter o interesse que os alunos tinham quando iniciei, a grande maior parte sedenta por aprimorar conhecimentos e buscando ser atendida tanto em sala de aula, quanto pelos corredores e pátios da escola. Os desinteressados acabavam motivados pelos demais. Hoje, são tablets, telefones, acessos que distraem e evitam um bom aprendizado.
Passo um tempo no aguardo de que somando minha idade, hoje 57 anos, mais o tempo de serviço, 36 anos, atinja o que possivelmente venha a ser a nova legislação previdenciária.
Enquanto isto, aceito convite para palestras, atividades pedagógicas, lavar pratos, limpar creches, descascar batata, ou apenas curtir pessoas que desejam dar e receber um pouco de carinho nesta imensidão de mundo que se chama solidariedade!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As mulheres da minha vida

Este foi um ano difícil para minha família: minha mãe em processo de desistência da vida, minha irmã tendo detectado um tumor e precisando tratá-lo e uma sobrinha grávida em situação de risco. Três mulheres que já me deram muitos bons exemplos, mas que se superaram ao fazer a vida valer a pena em cada um dos momentos que aproveitamos juntos, ou mesmo naqueles de angústia que vivemos à distância.
Quando a mãe chegou ao fundo do poço – sem qualquer movimento que não o facial ou das mãos e já sem pronunciar palavras inteligíveis – o mais certo era, apenas, aguardar o fim, procurando lhe dar dignidade e qualidade de vida. Mas as medicações foram se alinhando e voltou a se perceber a vontade de viver, inicialmente por mais tempo com os olhos abertos, sorrisos e pequenos carinhos pedidos e dados. Depois, o desejo de sair da cama, auxiliada pela cadeira de roda, sendo feliz no contato com as visitas de sempre, aonde o reconhecimento sempre vinha recoberto pelo calor dos olhos que pareciam querer abraçar cada um dos amigos!
Minha mana, Leonice, já está fazendo fisioterapia. Ainda tem um longo tempo de recuperação pela frente, mas, agora, estará em Pelotas, para que possamos acompanhá-la e ela possa estar conosco nesta etapa da vida da mãe.
A saga da Júlia somente vai acabar – quem sabe começar? - em meados de fevereiro. Será a minha mais nova sobrinha neta – bisneta da dona Francinha – fazendo valer cada momento difícil, que meus dois sobrinhos netos – Alessa e Murilo – enfrentam com bom humor e sendo parceiros da mãe, a Vânia (Vani, para os íntimos).
Ao olhar para a história destes seres de luz, vejo que talvez não tenham o crédito merecido, mas, na minha família, ao menos, três gerações fazem ver que as mulheres da minha vida têm a fibra e o cerne que nem as tempestades conseguem dobrar! Quando a vida lhes nega algo, sublimam suas possíveis derrotas e mostram que há sempre uma opção de sentir gosto em, apenas, viver um novo dia, compartilhando a simplicidade que é a esperança de viver!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O efeito dominó na educação

Vejo a surpresa nos olhos de meus sobrinhos quando falo que não fiz o “primeiro grau”, mas o “primário”. Depois disto, veio a “evolução” que desestruturou o nosso ensino básico, capitaneado por técnicos da educação que resolveram tornar mais elásticas as relações entre educador e educando e, até, a forma de cobrança do seu rendimento.
Infelizmente, isto levou a não ser surpresa que, hoje, se afirme que uma criança pode ser alfabetizada até a terceira série, defendida por quem não vê nenhum problema que se utilize três anos de educação para, praticamente, nada, pois a não alfabetização respinga na capacidade de aprendizado de todas as demais áreas.
Alguns acham exagero que, no meu tempo, a alfabetização se dava na primeira série, assim como o aprendizado básico de matemática. E se rodava, isto é, quando não se alcançava os índices necessários, repetia-se o ano. Por mais que se pense ao contrário, ninguém ficou traumatizado porque saiu de um primeiro ano reforçado, ou, se repetiu, criou bases suficientes para enfrentar a continuidade do aprendizado.
Recentemente, uma educadora infantil de Caxias do Sul, aposentada, expressou a minha indignação: disse que não conseguia entender como se flexibilizava algo que é básico e necessário, subtraindo uma base fundamental para que o processo de aprendizado possa se estruturar. Até então, pensei, mas não me posicionei. Agora, é hora de repormos no lugar as mazelas que estamos enfrentando porque, desestruturado o básico, nossos problemas vão se avolumando como naquela brincadeira com pedras de dominó que, ao derrubar uma, o efeito cascata faz uma sequência de quedas que não pode ser evitada!
Comecei a conversar a respeito e do baú das lembranças foram sendo resgatadas muitas formas de se solidificar o processo: meu pai nos cobrava a tabuada enquanto trabalhava em seu armazém e não tínhamos folga enquanto as continhas não estavam na ponta da língua; uma professora usava da disputa natural entre meninas e meninos para fazer gincanas ao final de cada aula, com recompensas que iam de pequenos presentes ao prazer de superar o sexo oposto! Hoje, ao invés de incentivarmos a criatividade dos professores em sala de aula temos “técnicos” com fórmulas indiscutivelmente bem traçadas e dignas de serem apresentadas em simpósios internacionais, mas com os resultados pífios que vemos para a educação.