domingo, 31 de dezembro de 2023

Quando as palavras fogem de mim...

A crônica de uma tarde do último dia do ano é especial... Preparativos para agradecer e também pedir bênçãos para 2024. Domingo que se presta para dar uma boa olhada no que foi o ano de 2023. Confesso que me sinto feliz por ter me dedicado a manter meus espaços nos meios de comunicação e nas redes sociais. O que escrevo, meus áudios, os vídeos chegam a pessoas que, de outra forma, sequer pensaria na possibilidade. Além do artigo e da crônica, tem me encantado a repercussão do Sexta com gosto de poesia.

O Artigo da semana já entrou na minha rotina, com a publicação nos jornais Diário Popular e Tradição, além das redes sociais. Motivo de debates em aulas, reuniões e cultos. Nem sabem o quanto me deixam contente quando dizem que ouviram na escola, num fórum de discussão, numa formatura, num espaço religioso. Além das “queridas” e “queridos”, normalmente mais velhos, especialmente meu público feminino, que ouvem pelas emissoras de rádio a reprodução e dizem: “te ouvi no programa do Fulano”.

O Sexta com gosto de poesia tem sido a cereja na cobertura do bolo. Minhas poesias (que são crônicas poéticas) têm a espera de quem não cansa (e ainda bem) de dizer que as aguardam e que é o melhor dos meus textos. Puro carinho. Já disse que não quero ofender nem os poetas, muito menos os escritores. Tenho amigos que são garimpadores de palavras. Têm a capacidade de moldá-las de uma forma que a própria escrita suspira. Eu, apenas, as procuro, meio envergonhado, pedindo licença e que não fujam de mim...

Os textos reproduzidos no manoeljesus.blogspot.com tem sido outra surpresa. Agora pela repercussão que tem tomado. Já não é novidade que se encontram em países como os Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Alemanha, Reino Unido... e pelo Vaticano, quando se discute alguma temática da Igreja Católica. Não abri mão do blog quando amigos me alertaram (não foi, seu Lupi Scheer dos Santos?) do que já representa fora daqui: as possibilidades que se abrem de dizer o que se pensa, num universo maior.

De todas as experiências, outra mídia impulsionada nos últimos tempos foi a postagem no YouTube (@professormanoeljesus). Espero, nesta virada do ano, chegar aos 400 acompanhantes. Uma surpresa para mim que ainda não consigo entender bem como se dá esta repercussão, que leva alguns vídeos a alcançar mais de 500 visualizações. Tentei ser o mais fiel possível à identificação do meu espaço: “um canal de artigos, crônicas e poesias. Falando de política, economia, relações, costumes, religião e fé”.

Daniel Scola, articulista do jornal Zero Hora, dizia que escrever é a forma de “manter a voz ativa”. Nisto, um elemento fundamental és tu, leitor. Posso gostar de escrever, até me arriscar a fazê-lo, mas é inútil se, de algum forma, não receber o teu retorno. Então, te peço: durante este mês de janeiro, em que deixo de fazer postagens, acessa o meu blog e o YouTube. Depois, manda pequenas mensagens, em que eu possa sentir meu coração acarinhado pela tua companhia. Eu volto. A gente se reencontra em 2024.

Deus te abençoe. Estou junto de ti para te dar o meu grande e carinhoso abraço!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Na ânsia da minha incompletude

Deixei meus dedos

Navegarem pela palma da tua mão.

Sem qualquer pressa,

Fui sentindo os relevos,

Acariciei cada uma das linhas

Que desenharam teu destino.

Estavam ali os sulcos do tempo

Que juntaram a poeira dos anos.

 

Deixaram calos

E machucados que te desnudam,

Compartilhando

Um pouco da tua história.

Não resisti em

Querer protegê-las com as minhas,

Erguer até o meu rosto e cerrar os olho.

 

Em cada toque,

Sentir que repartes comigo

O teu riso e as tuas lágrimas.

A intensidade da pele

Que formiga cumplicidade.

Precisava delas para emergir da apatia.

Tornaram as palavras desnecessárias

Ao serem a bênção que regou a minha face.

 

Eram pincéis que percorriam reentrâncias

Fazendo as tintas harmonizarem

Com meus olhos e meus lábios.

Foram elas que me calaram

Quando teus dedos selaram minha boca

E deixaram meus lábios entreabertos.

Todos os sentidos

Ansiavam por se fazer presentes.

 

Subiram por meu rosto para ajeitar um

Cabelo que, travesso,

Teimava em descer pela testa.

Apenas a lembrança

É motivo de um sorriso sonhador. 

Eras a ânsia da minha incompletude.

Será pecado a simples recordação

De que fostes a mais pura expressão do Divino?

 

Com o tempo,

Mesmo a aspereza da tua pele

Exalava carinho.

Tornava presente cada filamento

De um sonho bom,

Do qual não queria mais acordar.

Eras meu Natal e meu ano bom,

O que mantinha meu coração em festa!

 

Fiz todas as viradas, os reencontros,

Voltei das vezes em que mergulhei na saudade.

Na concha das tuas mãos

Abrigaram-se meus sonhos,

Liberaram-se meus medos,

Alavancaram meus voos

Na esperança de que um dia

Me recebas no retorno ao teu abrigo!

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Senhor, dá paciência a Francisco!

Como se não bastassem os ataques constantes da direita dentro da Igreja Católica, agora o papa Francisco começa a ser cobrado pelo outro lado, a esquerda. Para imagem pública, o Vaticano não admite que existam tais alas, mas, na prática, o que se vê é um jogo político, de poder e prestígio, que encanta muitos prelados, especialmente quando se deslumbram com os holofotes da mídia. A direita encastelada em seus privilégios, enquanto a esquerda queria Francisco como o grande revolucionário dos nossos tempos.


Quem conhece a história sabe que isto não acontece do dia para a noite. Dez anos é pouco e, repito, serão necessários dois ou três “franciscos” para depurar e redirecioná-la. Embora se diga “universal” diminuiu o número de quem, hoje, se reconhece com alguma prática religiosa. Menos ainda, católica. Não é culpa de Francisco, mas dos pecados e omissões recentes da instituição. Não foram as pessoas que se afastaram. Foram afastadas por “religiosos” que se julgam e agem como porteiros dos Céus.

O caso, agora, ao pedir a padres e bispos que usem de misericórdia e abençoem casais do mesmo sexo. Ou quando solicitou aos bispos que ousassem nas propostas (Sínodo da Amazônia e Assembleia, em Roma), não tendo prometido que seriam realizadas para já. Mas que o fato de estarem à mesa motiva outros a que despertem para a possibilidade da “igreja em saída” (que virou ”igreja em espera”). Pedido público desde as primeiras pregações e que não cansa de repetir na busca da conversão dos seus públicos internos.

O que, infelizmente, na prática, pouco ou nada se viu por parte de bispos, arcebispos, cardeais e, especialmente, padres e religiosos. Ali, onde a Igreja já foi a artéria que, partindo do coração (o lugar da espiritualidade), irrigou com o sangue da esperança a capilaridade social. “Sujar” as mãos na realidade, em especial pelos leigos. Este sangue carregado das necessidades do povo que precisa voltar ao lugar privilegiado de encontro e de bênçãos tão necessárias para reverter a letargia que se vive hoje.

Francisco é condenado se toma medidas mais enérgicas e da mesma forma quando tem um pouco mais de paciência com alguns “pecadores”, inclusive dos seus quadros. O que está acontecendo quando corta privilégios e mordomias é o mesmo acinte que nossos políticos e administradores públicos usam como desculpas esfarrapadas para justificar suas benesses. Dinheiro usado para suntuosidade de paramentos, por exemplo, e outras representações de vaidades é passar longe da pobreza da manjedoura de Jesus Cristo.

Senhor, dá paciência a Francisco! Não vou discutir a respeito. Sou 100% Francisco. Levei uma vida inteira para ver na prática o que o Jesus fez e Francisco também: usar de misericórdia, a expressão máxima da caridade. Me possibilita testemunhar coisas na Igreja que já não tinha esperança de ver. Até quando perde a paciência com alguns, vê-se no semblante que é o pastor, cansado, com a saúde debilitada, no entanto, o mesmo olhar de carinho... Sem abrir mão de compartilhar as dores da humanidade!

domingo, 24 de dezembro de 2023

Uma noite grávida de esperança e ternura

A crônica de uma tarde de domingo é um texto de espera. A maior parte das coisas está feita – compras, assados preparados, convites, visitas, quem sabe telefonemas à noitinha? - Aguardar quem chega e o momento de cumprimentar, especialmente as pessoas mais próximas. De fato, Natal tem gosto de intimidade. A gente não deveria se sentir com obrigações sociais, mas o sentimento de carinho que pisca nas luzes de uma árvore, sem importar seu tamanho, com a perspectiva de abraços, sorrisos e presentes.


Não sou muito bom para estas coisas. Nunca me julguei alguém de paciência. Sou de rotinas, portanto, não me agradam refeições tardias ou ajuntamento de pessoas com as quais não convivo. Sempre dei como desculpa o cuidado dos meus pais e liberar os demais familiares para que pudessem fazer aquilo que gostam. Porém, é uma festa que, embora lembranças possam ser difíceis, pelas ausências, o que importa são as novas gerações que precisam experimentar algo semelhante ao que se viveu em outros tempos.

O mais adequado aos mais velhos, que ainda convivem em família, é “fazer o Natal” como atividade que ultrapassa gostos para se transformar no resultado de uma vida. Lembrar o menino Jesus é pensar em tudo o que se aprendeu sobre cuidar de quem nos foi confiado. Isto não se dá em teorias. Como contei, minha escola foi a necessidade de despir-me de preconceitos e atender dois idosos no básico - higiene, cuidados médicos, alimentação – perdendo manias e superando tabus com o próprio corpo.

Quando pensei que, enfim, “sabia tudo”, necessitei rever conceitos com a presença em minha vida de um autista, o Miguel, sobrinho neto. No início, desconfiado comigo, precisei de um bom tempo para entender o que podia e não podia fazer. Valeu a pena. Em cima da minha mesa de trabalho tem um jacaré. A parte debaixo de uma estande de livros foi transformada em garagem. Andou por aqui um dinossauro e uma bola/bicho que não sei o nome. Sem falar de enfeites de Natal que perambulam pela casa.

Da rejeição quase total à aproximação, foi um longo percurso por coisas simples como ajuda a levar e buscar na escola. Ou quando acompanha ao buscar comida e dou a mão para que faça suas aventuras por muros baixos, pular beiras de calçadas ou buracos de bueiros. O Pequeno Príncipe falaria em “cativar”. Verdade: é uma aproximação e não se pode ter medo do tempo gasto e das vezes que se erra em busca de zelar por alguém. Até quando se cai, se pode ficar um pouco mais no chão para poder levantar juntos...

Tem pessoas na família ou nas relações de amizade que fazem valer a pena pensar e viver o Natal. O motivo não é algo dado, mas como entram e se fazem necessárias nas nossas histórias. Algumas partem deixando o gosto e o perfume das lembranças de bons e maus momentos. As que nos acompanham dão a oportunidade de ressignificar a vida todos os dias. Afinal, é uma questão de coração: é uma noite que está grávida da vida, esperando o Sol para nascer, oferecendo a oportunidade de se fazer o Natal ser mais do que uma festa. Momento de recuperar a esperança e renovar a ternura!

Deus te abençoe! Deus nos abençoe!

Que o Espírito do Natal continue vivo no olhar de quem amas... 

E no teu coração!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Devolve o gosto de viver o Natal...

Natal e Ano Novo tem jeito de

Sussurros que invadem lembranças.

Um tempo para remexer em saudades.

Palavras que anseiam por dizer

Aquilo que habita sentimentos.

Quando se adormece o sentido,

Não deixam de existir,

Espiam na letargia das nossas memórias.

 


Ao perderem a magia e o encantamento,

Vulgariza-se a essência das palavras.

Mais difícil de entender,

Porque a preocupação já não é com o dito,

Mas a forma como alguém diz.

Na maior parte das vezes,

Tornam-se rotinas desabitadas de intensidade,

Num tempo de palavras perigosamente vazias.

 

Temperá-las

Exatamente ali onde guardam sabores.

Amargas. Ferinas, cortantes.

Ou, doces. Encantadoras, um bálsamo.

Como perseguir a luz do sol,

Mesmo com nuvens espessas.

Aguarda uma brecha que ilumine teu rosto,

A energia que pulsa teu corpo e faz emergir tua alma.

 

É singrar as águas do rio,

Martelar os remos na cadência do coração.

É possível que possas, apenas, ouvir estas batidas

Quando a neblina não deixar que vejas as margens.

É, então, que

Precisas diminuir o ritmo,

Espreitar possibilidades,

Redescobrir as tuas sensibilidades.

 

Navegas em busca do melhor que

As palavras significaram para ti.

Persegues seus rastros.

Marcas do

Que tem gosto de incompletude,  

Onde o silêncio das tuas lembranças

Desenha sombras que impedem

De viver plenamente o encanto do momento.

 

 

Se já não tiver jeito

E eu não conseguir recuperar o sentido da vida,

Quero ao menos, em algum momento,

Reacender a magia e o encanto de viver em festa.

Natal e Ano Novo serão sentidos

Recuperados na memória das palavras parceiras,

Aquelas que não escondem segredos,

Apenas esperam.

 

Se for assim, por favor,

Me devolve, ao menos,

O gosto e o sentido de viver o Natal...

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Natal, a grande festa da vida!

Agora já estavam bem mais próximos. Não podia reclamar, a viagem havia sido muito boa. Isabel conduzia o animal de carga que trazia suas bagagens e os presentes. Vinha a pé, com João, que corria de um lado para o outro da estrada perseguindo pequenos animais ou espantando algum passarinho que estivesse pousado nos arbustos mais baixos. Fazia três anos desde que Maria fora visitá-la, grávida de Jesus, para sua felicidade e do menino que ainda estava em seu seio. Ficaram juntas um bom tempo.

As crianças iriam se reencontrar. João era magro e já começava a se espichar. Seguidamente perguntava pela tia Maria e pelo primo Jesus, que moravam em Nazaré. Não tinha muito como explicar que a relação era somente em segundo grau. Desde que começara a combinar com Zacarias que fariam a viagem, indo ao encontro da prima, o garoto ficara muito faceiro, perguntando quanto tempo faltava, o que levariam e se o pai iria junto. Não, não iria, estava a serviço do Templo e não havia como se ausentar.

Isabel mandara um recado por viajantes e sabia que José não estaria em casa. Viajava com uma caravana que iria fazer compras no Líbano. Era ali que buscava madeiras para o seu trabalho de carpinteiro. Era exigente com o material com o qual fazia móveis para as casas, mas também as estruturas que suportavam telhados ou aberturas. Nos últimos dias, gastara muito do seu tempo tentando deixar uma lembrança: um presente para João, uma pombinha esculpida em madeira, com o nome do menino gravado na base.

Do que vivera, não esquecia, três anos atrás, o momento em que Maria a abraçara, ao saber do nascimento das crianças. Uma onda de felicidade percorreu seu corpo, com João se agitando mais do que o normal. Tão forte que, ainda hoje, guardava as palavras que a prima dissera. Pedia a Javé que protegesse seu filho e cuidasse do menino Jesus, que, em seguida, encontraria. Zacarias enviara uma toalha de oração judaica e um quipá, pois já estava chegando à idade em que os pais iriam iniciá-lo na educação da Torá.

Quando Isabel apontou a casa dos parentes, João saiu em desabalada carreira, quase perdendo o fôlego e gritando pela tia e por Jesus. A porta estava com uma parte aberta e, em seguida, a figura conhecida da prima saiu e abraçou o menino no colo. De longe, pode ver um garotinho que se escondia na quina da casa. Já grandinho, mais gordinho, cabelinho rebelde e jeito de quem não estava entendendo o que acontecia. Maria o chamou e, enquanto as primas se cumprimentavam, ficou escondido atrás da mãe.

Se soltaram aos poucos. No final da tarde, tudo era algazarra. Meio bêbados de sono comeram sopa, na entrada da noite. Depois de jantarem, era hora de colocá-los na cama. Quando, enfim, adormeceram, restou contemplar seus rostinho e o jeito de sorrir que mostrava já estarem entrando no mundo dos sonhos. Três aninhos, ainda haveriam muitos aniversários pela frente. A última pergunta: “Tia Isabel, a gente pode brincar mais amanhã?” Claro que sim. Era o início do Natal, o começo da grande festa da vida!

domingo, 17 de dezembro de 2023

Fofurices com gosto de Natal

Faltando uma semana para se viver a festa cristã do nascimento de Jesus Cristo, o Natal, tomo a liberdade sugerir que se permitam algumas fofurices. A própria palavra já é fofa e guarda o sentido de coisa leve e descontraída. Então, minha dica é de que, de alguma forma “sejas um fofo neste Natal”. Complicou? Sem problemas. Vamos pensar em fazer algo diferente do que sempre se fez, como uma forma de surpreender aqueles e aquelas que já tornaram rotina uma época que deveria ser de encantamento e magia.

Vou dizer o que penso que pode ser uma gentileza ou um ato de fofurice. Por exemplo, alguém que, pela simples presença e jeito de ser, faz sorrir e, muitas vezes, do nada, rir por lembranças boas e carinhosas. Receber beijos, abraços e amassos, daquela forma que somente quem também sente falta da presença de um familiar, um amigo ou amiga, uma pessoa amada, consegue dar e sentir. Alguém que diga ou murmure o teu nome carregando toda a intensidade de significados que apenas a cumplicidade conhece.


Até algo que pode parecer banal, quando se recorda ou ainda se é tratado por um apelido de infância ou o diminutivo do nome. Ouço muitas vezes, quando ando por minha rua, o tratamento de “Manoelzinho”. Não são apenas os mais idosos (que já não são muitos), mas também os seus filhos, com os quais convivi na primeira idade e faziam a diferenciação do nome de meu pai, o seu Manoel. O tratamento que nenhum dos outros títulos que recebi na vida carregam a intensidade da emoção e da saudade.

Quando, andando na rua, um olhar se eleva do chão e alguém que lhe parece conhecido dá um “bom-dia”, quem sabe apenas um “oi”, ou o sem graça: “e aí?” Mas significa que aquela pessoa não passou indiferente. De alguma forma, saiu do mundo por onde andava em divagações. Como quando a gente se encolhe no mau tempo e aparece um guarda-chuva salvador que convida a que se aconchegue a um ombro amigo, fugindo da umidade e do frio. E o mais importante: alguém que acolhe, dá abrigo e proteção.

Confesso que, ultimamente, as festividades de final de ano são passadas com pouca presença de familiares. Não é por causa deles, mas minha. A “síndrome do Ogro” me faz passar longe de grandes ou pequenos grupos. Com o tempo, a gente se acostuma a fazer companhia para si mesmo. Eu já não vejo como um problema. Sigo minha rotina normal, mas fico torcendo e rezando para que a minha gente sempre esteja disposta a demonstrar que Natal e Ano Novo são festas, por excelência, de reenergização.

Não sei o que pretendes fazer. Talvez nem queiras fazer alguma coisa. Que pena. A mensagem de um Deus criança é a maior fofurice da História. Como se o Salvador te encontrasse na rua, oferecesse uma flor, perguntasse se poderia dar um abraço e ainda fizesse um carinho na tua cabeça. Todas as dores, angústias, o negativo, se dissolveriam no simples fato de que serias acarinhado pelo Seu nome. O nome do Filho de Deus, o nome universal de quem sente que precisa continuar acreditando no Amor!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Me ensina o caminho dos sonhos

Deixei o marcador na página

Em que paramos de ler,

No momento em que partiste.

Quando fechei os olhos,

Senti tua ausência,

Ainda com as mãos acariciando

As letras e as palavras que

Lembravam a tua voz.

 


Era o suficiente para deixar a imaginação

Percorrer Mundos

Por onde tantas vezes andamos...

Me disseste que as estrelas

Esquecem a tristeza e a solidão

Quando percorrem os céus.

Ali, onde

O devaneio é o lugar de encontros.

 

Descobri que as coisas boas da vida

Iniciam por um sonho.

E que existir

Não precisa se tornar um pesadelo.

Basta

Não deixar que nos despertem quando se divaga,

Que se apossem dos sonhos,

Que tracem o destino da nossa imaginação.

 

A felicidade chega quando se aprende

A acarinhar a esperança,

Onde repousa a capacidade de sonhar.

Quando meus olhos estiverem cansados,

Espero que coloques

A tua mão sobre a minha.

Será a bússola

Mostrando o rumo certo ao meu coração.

 

Não estou em busca do impossível,

Estou em busca da partilha dos momentos

Que se fizeram inesquecíveis:

Na fotografia que guarda resíduos de sonhos,

Que talvez até já tenha mudado de cor,

Quem sabe, esmaecido,

Na delicadeza do tempo que brisa

Por sobre momentos felizes...

 

Neles, a marca das lembranças

Têm o gosto de reminiscências.

Quando perceberes que meus lábios

Cansados apagaram o sorriso

Que tantas vezes miraste,

Mergulha nos meus olhos e

Descobre que ali

Ainda habitam as minhas utopias.

 

Então,

Só precisarei dos teus sonhos.

É deles que necessito para redescobrir

O rumo dos meus!

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Conscientização ecológica inicia em casa

Os noticiários a respeito das enchentes no Rio Grande do Sul (mas não só), assim como secas prolongadas em diversas áreas do país, como na Amazônia, por exemplo, finalmente fazem com que o cidadão comum, ao menos, erga o olhar pensando: “opa, aí tem coisa”. Este mesmo cidadão mergulhado na sua letargia, justificada por argumentos do tipo: “isto é coisa para um futuro distante, depois dos meus netos e bisnetos...” Pois o futuro jogado para as traças já mostra que o equilíbrio climático está se deteriorando.


A Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Clima, que encerra nesta terça-feira (12) demonstra o fracasso da humanidade em cuidar da própria casa. Os noticiários dão conta de que lá, assim como nos centros abastados de discussões políticas pelo Mundo, o que menos importa é o benefício das populações que são vítimas dos fenômenos climáticos. Interessa o jogo de poder, as negociações financeiras e, até, as guerras de vaidades, que jogam holofotes sobre o marketing da ecologia.

A participação de delegações de diversos países demonstra o quanto o nosso dinheiro serve para o turismo de negócios ecológicos. O que vai resultar para as pessoas que fazem o serviço na base, recolhendo e tratando do lixo, por exemplo? Nada. Continuam sendo tratadas como pessoas do lixo e não da limpeza, enquanto nós, que de fato somos os responsáveis pelos resíduos mal acondicionados e mal destinados, nos pensamos cidadãos do bem que dão a sua contribuição quando catam um papel de bala no chão...

Da conferência anterior, se têm promessas que não foram cumpridas. Compromissos de mudanças de costumes nos países ricos, em especial, que não deram em praticamente nada pois se precisaria deixar mordomias com as quais se negociam, muitas vezes, espaços políticos e partidários. Assim como a manutenção de estruturas falidas (como a própria ONU), em que se consomem rios de dinheiro para “briga de crianças” com seus “pais”, onde as grandes potências fiscalizam até onde os emergentes esticam a borracha.

O que os “ecochatos” denunciaram, agora é notícia em variados espaços informativos. Mudou o clima, altera-se o comportamento dos oceanos, as geleiras se desfazem e Pelotas, por exemplo, que está sete metros acima do nível do mar precisa se preocupar. Mesmo que não seja a questão do mar, mas o fenômeno das chuvas do norte e oeste do estado, mostra que o escoamento das águas levanta o nível da Lagoa dos Patos e a região do Laranjal, assim como o vizinho município de Rio Grande, pode ser afetada.

Conscientização ecológica inicia em casa: economia de água e energia; descarte do lixo, em especial o reciclável; cuidar cursos de água e vegetações nativas (ruas cobertas de árvores e sangas desaparecem); utilize carro ou moto só quando necessário. É o passarinho apagando o incêndio da floresta com água no bico. A parte possível para o cidadão. Muda-se uma sociedade pela educação. Mais do que discurso é olhar de conversão sobre o que se usa, pretende usar e se quer deixa para as futuras gerações.

domingo, 10 de dezembro de 2023

A vida sempre acaba em romance...

Acabei de assistir na semana passada mais uma das novelinhas coreanas. Corrijo: mais uma, não, uma daquelas que eu classifico como das melhores, ao lado da clássica Pousando no amor e a adorável Desgraça ao seu dispor. Falo de Romance is a bonus book. O protagonista é Cha Eun-ho, autor de sucesso e editor sênior de uma editora de livros. O romance tem a determinada Kang Dan-i, que o salvou de um acidente, na infância, e, agora, precisa de uma mãozinha e de um coração para sobreviver.

Kang Dan-i é mãe e foi executiva de publicidade de sucesso. Cha Eun Ho a ajudou a se recuperar e eles se mantém amigos íntimos. Quando Kang Dan-i passa por mudanças de vida – desempregada, divorciada, quase quarenta anos e a filha morando fora do país - tenta entrar novamente no mercado profissional. É quando suas vidas se tornam ainda mais conectadas. Enfrentam desafios pessoais e profissionais à medida que começam a perceber seus verdadeiros sentimentos um pelo outro. Sabem bem onde isto vai acabar...


Já bastaria uma análise sobre o mundo dos livros na Coréia do Sul para ter uma discussão rica a respeito da questão editorial. Lugar onde novas gerações tentam aprender e dar a sua contribuição para um mercado em dificuldades. Um tempo em que diminuem os leitores e, muitas vezes, é preciso selecionar até entre aquilo que já é bom, o que se publicar. Interessante as conversas sobre poesia e serviços, que tem poucos leitores no momento, mas são daqueles livros que a validade persiste por gerações.

Cha Eun-ho, como um dos fundadores da empresa, e seu chefe, escondem um segredo: o desaparecimento de um escritor famoso que, misteriosamente, escafedeu-se. Solteiro e, ao que se sabe, sem deixar filhos. Declarado publicamente aposentado, cedeu seus direitos autorais à editora. No mundo das fofocas, desconfia-se que o sumiço foi um tipo de sequestro. Até surgir um filho, misterioso e bonito, fruto de uma relação passageira, que deseja encontrar o pai para que este possa ajudar a mãe doente.

A verdade é que Eun-ho acompanha a sua decadência, fruto do Alzheimer. A pedido do escritor, que não quer ser lembrado pelo fardo da doença, cuida dele em lugar afastado dos demais. A partir dali, ganha o cuidador que esteve ao lado até o fim. O encontramos ao sofrer algum tipo de acidente e está na cama, ferido e inconsciente. Dói na alma ver a admiração e o carinho com que o filho de coração é capaz de tratar do seu ídolo de toda uma vida. As feridas cuidadas fogem do corpo do idoso para sangrar no peito do rapaz.

A vida sempre acaba em romance... Prepare-se para rir, chorar, briga, querer despedaçar vilões, acolher e dar carinho aos protagonistas. Nas reminiscências, perambular por um parque, com um idoso desconfiado, esquecido do que viveu, e do garoto que não o deixa sozinho e sequer desiste de sorrir. A doença degrada o corpo e a mente e, no entanto, deixa intacta a alma. Cha Eun-ho carrega, sozinho, o fardo que muitos abandonam pelo caminho. Com o amigo, escritor e pai de coração andou pelo universo de sonhos dos livros. Com ele mergulhou no melhor... e no pior da existência!

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Poemas que escorrem pela areia

"As palavras se espalham ao vento..."

É assim que se diz?

Elas se perdem ao passar pelos lábios,

Ou quando se tenta o seu registro:

Fazer livros,

Escrever diários,

Anotações que dormitam

Em meio a cadernos e fundos de gavetas.

 


Eu, escrevo nomes e palavras na areia.

Me encanto quando posso percorrer

A praia da lagoa

E brincar onde as árvores vêm

Beber por suas raízes.

Depois, me defronto com o mar.

Ali já não é apenas deixar um rascunho,

Mas uma página inteira à espera de uma poesia.

 

Embalado pelo sussurro da lagoa

Ou pelo clamor das marés,

Usei mãos,

Depois alisei com os pés,

Ou, ainda, quase perdendo o equilíbrio,

Dancei sobre uma perna só e

Fiz com que todo o meu

O corpo fosse aterrado pela luz do mistério...

 

Com uma vara ou um graveto,

Desenhei formas,

Moldei letras com a pretensão de palavras

E, quem sabe, de sentidos...

Na ilusão de que, ali, no que se torna fugaz,

Passageiro em busca de um tempo,

Teria a Eternidade

Durando apenas aquele momento.

 

Muitas vezes,

Pensando estar sem rumo,

Me vi levado a um lugar de silêncio.

Onde a brisa da tarde

Acolhe sem a pretensão de

Perpetuar qualquer sentimento,

No que apenas o coração quer entender,

Sem medo e sem destino...

 

Como não perdoar

As águas que acariciam a praia

E aos poucos

Se apossam de cada linha que,

Antes de pousar sobre a areia,

Esperou guardada no peito de um sonhador,

Sedento de deixar marcas

No limiar entre as águas e as dunas.

 

No correr da criança,

No olhar que embala namorados,

No arrastar meditativo do idoso.

Fazem poemas que escorrem pela areia.

A vida com seus desenhos,

Rascunhando seus próprios escritos,

Dando sentido às esperas,

Justificando sonhos e devaneios...

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Dezembro Laranja: cuidando do câncer de pele

Dez anos atrás quando me submeti a uma cirurgia de próstata com o doutor Vanderlei Real, apoiado pelo cardiologista Michel Halal, não tinha noção do que iria acontecer. O estigma de que as células cancerígenas não estivessem restritas (sempre se acha que os médicos contam bem menos do que sabem) e iniciava uma via-crúcis, como outras que se esteve junto e acabaram em morte. Passei a acompanhar tudo o que era possível a respeito. Testemunhei que, numa década, a medicina fez significativos avanços.


Era o ocaso das intervenções invasivas, dando lugar ao laser e outras modalidades. O mesmo aconteceu com outros tipos de câncer. Embora ainda se alimente preconceitos, superou-se uma fase, que veio até o final do século passado, de que o diagnóstico da doença era o início do desmanche do organismo. Exagerando, como se o corpo estivesse apodrecendo. Um calvário percorrido por amigos e familiares, num tempo sem volta em que a esperança naufragava com a debilidade das pessoas que sempre se amou...

Aposentado, tive o apoio dos médicos, família e amigos. O mais importante: poderia ter muita vida pela frente, redirecionando meu rumo, inclusive no consumo de álcool. Fui à cata dos doutores “Google” e “YouTube” em busca de subsídios que me auxiliassem a refletir e possibilitar mais clareza para outros, como formador de opinião. “Outubro Rosa” (para as mulheres), “Novembro Azul” (para os homens) e, agora, o “Dezembro Laranja”, prevenindo o câncer de pele, que é o tumor de maior incidência no Brasil.

Maravilhosos trabalhos das áreas da saúde, assim como de voluntários, em busca de conscientização. Desde 2014, o Dezembro Laranja é a ação que faz parte da Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele. Um trabalho que já havia iniciado em 1999, com um mutirão anual de atendimento gratuito que beneficiou mais de 600 mil pessoas. Com mais de 90% de chance de cura, quando descoberto no início da doença. Num país predominantemente tropical, uma grande preocupação sempre foi a exposição ao Sol.

E não importa a cor da pele, mas cuidar para os principais sintomas: surgimento de manchas que coçam, descamam ou sangram. Sinais ou pintas que mudam de tamanho, forma ou cor. Ou ainda feridas que não cicatrizam em quatro semanas. Assim que se percebe qualquer destes sintomas ou sinais, é preciso ir em busca da unidade de Atenção Primária à Saúde (APS) mais próxima. Sem cair no outro extremo e achar que não se deve tomar Sol, pois a sua falta também afeta a saúde e o humor das pessoas.

Prevenção se faz com educação. Publicar informações, apenas, não significa que as pessoas entendam o que acontece. É necessário falar a respeito em casa, na escola, no trabalho, nos grupos de convívio... Não será surpresa se você disser algo a respeito e uma pessoa próxima reconhecer: “não sabia!” Conscientizar depende muito de quem fala. Precisa que, por detrás do discurso, esteja um exemplo. No caso, de alguém capaz sair da sua zona de conforto para vencer o estigma da doença e valorizar a própria vida!

domingo, 3 de dezembro de 2023

O Mestre e o Aprendiz: “O Ser Supremo precisa de uma mãe?”

Ao abrirem os portões, monges e aprendizes se surpreenderam com o visitante. Usava o que, passado algum tempo, souberam ser uma batina. Era um padre. Viera depois que cristãos se instalaram na Vila. Não eram muitos, mas se faziam presentes em toda as atividades da comunidade. O que agora visitava o Mosteiro era jovem. Soubera do trabalho dos monges com crianças órfãs ou abandonadas. Conversou um longo tempo com o Mestre, enquanto os demais acompanhavam pela janela ou pela porta.


Disse que o final de ano era uma das maiores festas cristãs, o Natal, comemorando o nascimento de Jesus, filho de Deus, e de uma mulher, Maria. Pediu permissão para que, no dia de descanso, os meninos pudessem ir até a paroquia. Fariam jogos, brincadeiras, músicas, com alguma comida, para receber os pequenos da Vila e esperavam contar com as crianças do Mosteiro. O Mestre não via nenhum problema. Seriam acompanhados por um monge mais novo. Estava curioso pela reação dos aprendizes...

Foi uma algazarra quando voltaram, trazendo saquinhos de guloseimas, alguns com marcas de doces pelos rostos, cabelos e roupas. Na hora do jantar, por incrível que pareça, ainda sem fome, contaram tudo o que havia acontecido. Encabulados, em princípio, logo se enturmaram com os demais, facilitados pelo Padre e por senhoras que se diziam “Irmãs”. O parque da Igreja Cristã, na beira do rio, se propiciou para que pudessem praticar muitas atividades e se encantarem com o que ouviram.

O Padre dissera que, dali há alguns dias, Seria o Natal e convidava os monges para uma bênção, mensagens e cânticos na praça da localidade. No final de uma tarde fria, os religiosos desceram acompanhados de todas as crianças e, pelo caminho, outros foram se juntando, até que, a impressão, é de que toda a população queria participar daquele momento. As crianças se reencontraram com as demais e, em meio à praça, foi colocada uma manjedoura, com figuras representando o nascimento do menino Jesus.

Com a colaboração dos moradores, montaram um pinheiro enfeitado e, embaixo, estavam presentes que foram distribuídos. Novamente, a volta para casa foi uma festa. Bem mais tarde, o Mestre postou-se no portal da sala e ficou olhando as estrelas e pensando no que o Ser Supremo estava reservando para aquela relação. Quando o Aprendiz ajoelhou e sentou sobre os pés, preparou-se para ouvir. “Mestre, de tudo o que ouvi lá, fiquei curioso em perguntar: o Ser Supremo precisa de uma mãe?”

Precisava ser honesto: “não sei, meu menino. Mas tem sentido, afinal, o Ser Supremo possivelmente não conseguisse entender a própria criação se não tivesse uma mãe”. Depois que o menino tomou o caminho do leito, uma estrela despencou no horizonte. Conhecendo as carências dos seus filhos de coração, resmungou: “se o Ser Supremo teve um filho, escolheu uma mãe para dar carinho e o Divino, a sua graça, o ecumenismo, como dizem os cristãos para se aproximar de outras crenças, será muito bom se os homens puderem se encontrar como filhos do mesmo Criador!”

Neste Natal, que o carinho de Maria, a mãe, e a graça de Deus, o eterno Pai, nos abençoe!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Uma nesga de luz na tormenta

Quando uma vela tremeluz,

Brincam nas paredes as sombras

Que imprecisam as formas.

Porém,

Aguçam os sentidos e a imaginação.

Desenhos que

Surgem ao se permitir

Que a alma ganhe a dimensão dos Céus

E vague por espaços de liberdade...

 


Ao me sentir sozinho,

Com o peito oprimido,

É o momento de pedir que, por favor,

Me apontes a direção do Sol.

A escuridão vai ficando para trás e

Pode-se ver o limiar em que

As sombras espreitam a luz.

É ali que as lágrimas vertem

O seu abandono no silêncio.

 

Mesmo que se tente abrir

Um caminho em meio a uma floresta,

Como num conto de fadas,

As luzes multicolorem e atapetam

A imensidão do horizonte,

Em que surge um arco-íris.

E se ainda a chuva cair, não precisas correr.

É o momento em que

As cores e a claridade se harmonizam,

Enquanto o Astro Rei

Escapa, brincando, por sob as nuvens.

 

Antecipa-se à tempestade

Que se forma no Horizonte,

Onde raios coriscam, rasgando a noite,

Com sua luz fugidia;

Trovões ecoam

Ao longe no prenúncio do temporal.

E poderás te encantar com a magia

Com que a Natureza faz a moldura dos corpos.

Olhar o céu à espera das estrelas

Será a expectativa de folhear

O livro do Universo com

Os corpos celestes em constante movimento.

 

Não desiste do caminho que iniciaste:

És o motivo pelo qual cada gota

Que acaricia teu rosto sonha em

Colar tua roupa como uma outra pele.

Serás o farol que resiste à força do mau tempo,

Como uma nesga de luz na tormenta.

E quando houver a escuridão,

Apenas ama as estrelas que te espreitam.

A perfeita junção entre homem e natureza 

Que as tormentas do espírito insistem em confundir...

terça-feira, 28 de novembro de 2023

A magia de viver o espírito de Natal

A chegada de dezembro alerta que, ali adiante, está a celebração do Natal e rituais de mudança de ano. Para diferentes pessoas que se pergunte o que as festas significam vão se ouvir variadas respostas. Uma criança será pura expectativa, enquanto o adulto mais envelhecido dirá que já aconteceram festividades melhores, em especial quando pessoas que fazem falta estavam presentes. É Natal e Ano Novo, precisando ser a reenergização da fé (consequentemente, religiosa) e também no ânimo de enfrentar a própria vida.

Numa mensagem pelas redes sociais, li que pessoas que dizem não gostar mais destas festividades desperdiçam a oportunidade de fazerem a felicidade alheia. Em especial, quando se refere às crianças que aguardam os momentos que os adultos deveriam tornar mágicos. Quem lamenta o passado, fica preso nas (quem sabe, boas) lembranças e não se dá conta de que pode (e deve) fazer a mágica do aprendizado, com o condão de se abrir caminhos deslumbrantes para que outros aprendam e consigam se encantar.


Para além do consumismo, a infância é o lugar, por excelência, dos sonhos. Claro que a criança quer um brinquedo. Será impulsionador da magia. Mais do que ser caro, precisa atender àquele momento da sua vida e da sua fantasia. Este mundo encantado do qual os adultos precisam ser os guardiões, com a certeza de que se os tempos são diferentes e os brinquedos mais sofisticados, no entanto, o olhar de encantamento e a ternura querem galopar, planar, voar por dimensões que apenas a imaginação tem o poder de singrar.

Se espiar pela janela, verá que o Mundo não trata da mesma forma as crianças. Então, pode, sim, fazer campanhas em que se arrecadem alimentos, roupas, brinquedos, com a intenção de melhorar o Natal dos mais necessitados. Este ano, quando for participar da distribuição, faça diferente: leve seus filhos, sobrinhos, netos... Mostre a eles para onde estão indo os objetos que combinaram que fariam parte do “desapego” familiar. Se possível, deixe que entreguem, na partilha daquilo que, um dia, os fez mais felizes...

A pobreza e a miséria são as chagas mais tristes de uma sociedade que se diz “humanista” e “cristã”. Sair da zona de conforto dentro do próprio pátio ou do condomínio é imersão numa existência dura, mas real. Ir ao encontro nos bairros e periferias, ou onde pernoitam ao abrigo de uma marquise, é dizer que o pesadelo precisa ser tratado como tal e, dele, necessita emergir o homem/a mulher que dá sentido ao nascimento, vida, morte e ressurreição daquele Jesus que balbucia na manjedoura...

A magia de viver o espírito de Natal acontece ali onde uma criança sente (e não teoriza) a solidariedade: objeto que fez parte dos seus brinquedos incentiva a que outra ganhe o direito de também brincar. Se falhamos, enquanto adultos, em fazer uma sociedade mais justa, precisamos dar oportunidades, sem os nossos preconceitos, de que se encontrem nas suas diferenças, mas, especialmente, no que têm em comum: o condão mágico do encantamento. O sonho que ameniza o agora e dá sentido a não desistir da esperança!

domingo, 26 de novembro de 2023

Gratidão: “a memória do coração”

Gratidão. Foi o que senti quando deixei meus óculos ao lado de uma balança, numa farmácia, e, depois de algum tempo, ao dar-me conta, entrei na angústia da procura. A informação por telefone foi de que lá nada havia aparecido. Final de tarde, preferi ficar de óculos de sombra com grau e tomar providências em uma ótica na manhã seguinte. Antes, pensei passar no local da perda e falar com as atendentes. A primeira sorriu quando brinquei se “um par de óculos não procurou pelo dono”. Disse que sim.

Com um jeito feliz no rosto, passei por outros profissionais que, em seguida, colocaram o objeto perdido em minhas mãos. Estava preparado para enfrentar uma manhã em que deveria providenciar a receita recentemente conseguida, escolher armações e lentes, e aguardar... Por quantos dias? Com o inconveniente de ficar por algum tempo usando óculos de sombra durante o dia e à noite. Ninguém merece! Voltei para casa levinho. Podia pensar em outras coisas para fazer, sem preocupações e com um gasto a menos.


“Gratidão” foi para mim palavra que sempre soou açucarada... Repensei o conceito a partir destes momentos recentes, em que o “agradecer”, mesmo que sem palavras, tenha sido por um outro gesto, um olhar, quem sabe um sorriso. Foi necessário passar uma noite chateado por um pequeno inconveniente, que poderia ser sanado com facilidade, para perceber a intensidade de algo que não precisa ser explicado, mas sentido na pele. É um dos motivos que nos aproxima, é um dos elementos que nos humaniza.

Quem é relativamente bem resolvido é pessoa solidária e grata. Estudos mostram que o sentimento de gratidão está ligado à sensação de bem-estar no que se refere às próprias emoções. O que pode fazer com que se sinta tranquilo, vivendo momentos de felicidade, em paz consigo mesmo. São energias positivas que não se concentram por acaso. Precisam ser acumuladas e “distribuídas” na hora certa. Num tempo em que se tem mais desencontros do que encontros, vale a pena valorizar estas singelas oportunidades.

Também se pode pensar em momentos intensos: a mão estendida para matar a fome; o ombro oferecido para mitigar a dor; o peito que atrai pelo simples fato de querer aliviar o fardo do outro... Ou apenas o jeito como uma criança te mira e acaricia teus dedos; o adolescentes que transparece no olhar um poço de incertezas; o idoso insistindo em mostrar que está vivo, ainda – e sempre – sedento por carinho! O balbucio das palavras em que transparece a gratidão: “muito obrigado”, “com licença”, “por favor”!

Porém, não é o dito que expressa gratidão e gentileza, mas as atitudes. Toda a forma de inter-relação que azeita uma perspectiva positiva de vida. Que se dá nas pequenas e grandes perdas, quando, de alguma forma, a vida se encarrega de dar mais uma lição... Um dos caminhos em que se pode encontrar a tal de felicidade.  Quem alimenta o espírito de gratidão é capaz de conviver, pois se preocupa em tornar a vida do outro mais leve. Como diria Jean-Jacques Rousseau, “a gratidão é a memória do coração”.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

O pão convertido em dignidade...

Vês um mendigo na rua?

Talvez o encontres na sinaleira,

Quem sabe

Passe por ti no caminho de todos os dias.

Não importa

Se é criança, jovem, adulto ou idoso.

Com certeza, já entorpeceu os sentidos.

No início,

Tem vergonha de falar, tocar ou olhar.

Alguém que, acreditas,

Deixou a "tua condição social".

Enxergas nele um caminho de tristezas,

Também a agonia das tuas possibilidades.

 

Ficas pensativo e deprimido,

Mas a criança que ainda mora em ti

Quer conversar, chamar para perto,

Fazer com que levante os olhos.

Entender suas carências,

Descobrir um mundo

Que se diferencia do teu dia a dia.

Encontrar o pobre é

Uma luta para ultrapassar fronteiras,

Ganhar atenção

E fazer com que tenha forças

Para emergir da apatia.

 

Tens a impressão de que sua alma

Está oculta num lugar onde

O Sol já não alcança.

Mendigar não é apenas ato de pedir,

Mendigar é despir-se do próprio orgulho.

Quem precisou rogar pelo

Pão para sobreviver por um dia,

Abriu mão de sonhos,

Escondeu-se no anonimato,

Peitou a barreira que impede as realizações.

Quem vê glamour no apagamento social,

Fecha portas, lacra janelas, sepulta esperanças...

 

Quando murmura

E pede um pedaço de pão,

Reages como quem quer se livrar de um fardo.

Estendes a mão com o alimento ou moedas.

Por um processo de conversão, um dia,

Vais desejar oferecer ainda

Um minuto do teu tempo,

Fazer com que te encare de igual para igual,

Deixe de mirar o chão e consiga

Desvendar um rumo para além dos teus ombros.

A mão estendida por trás de todas as barreiras,

Te possibilita a oportunidade do resgate,

Quem sabe em um abraço,

Em que enxergue o horizonte da Vida...

 

Não usa a dor alheia

Para justificar os teus acertos e os teus erros.

As carências existenciais antecedem

As carências físicas.

É um pouco de comida convertido

Em um pouco de respeito pelo outro.

Pelo alimento, pelo carinho ou pela atenção,

Somos, sim, eternos mendigos.

Para chegar à rua e pedir um pedaço de pão,

Significa que, há muito tempo,

Teve negado o básico:

O amor próprio e a própria dignidade humana...

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Ainda sobre a Inteligência Artificial

No início da década de 90, fui convidado pelo professor Cilon Rodrigues para lecionar disciplinas de redação em jornalismo e programação gráfica na Escola de Comunicação da Universidade Católica. Havia um motivo: montara uma empresa de informática para produção textual e diagramação, especialmente em jornais, com a segunda impressora à laser que chegou a Pelotas. Não tenho certeza, mas creio que os programas eram “página certa” (diagramação) e “carta certa” (edição de texto). Seguido do pagemaker.

Fiz palestras para estudantes de jornalismo e, consequentemente, estava “na hora certa, no lugar certo”. Montei o primeiro laboratório de informática da Escola. Parte dos alunos não tinha noção e se propiciavam histórias bizarras. Os editores de texto (que substituíram as máquinas de escrever, nos computadores) eram primários e se prestavam para que, grafando a palavra errada, na dúvida, reconhecessem como certa e anexassem. O próximo a errar não seria corrigido. Conseguiam emburrecer os computadores...

No entanto, era um grande avanço. Os alunos trabalhavam comigo nos três últimos semestres. Muitos já conseguindo lugar no mercado. A informática aplicada à produção e diagramação de jornais e outras publicações “facilitou” a vida de quem, muitas vezes, tem pouco tempo entre recolher as informações e fazer o texto que estará impresso, nas telas de televisão, programas de rádio ou espaços da internet. Hoje, em especial, quando profissionais mais atilados lidam com blocos de notas no celular e no tablet.

Quando conversei com uma amiga, a Delmira, me disse que ia procurar saber mais da Inteligência Artificial. Fiz uma comparação tosca: a IA é uma ferramenta que, primeiro, depende da alimentação do homem (e já se discute que se vive um tempo de “preguiça intelectual”, consequentemente, vai-se ter dificuldade em armazenar dados confiáveis). Supervisionada, consegue avançar o pensamento humano, exatamente por ser capaz de trabalhar dados objetivos, em áreas perigosas onde se envolve emoção e atenção.

Os exemplos são infindos, na área médica, produção intelectual e industrial, entre outros. Imaginem um profissional que se distraia num caso de vida ou morte. Vai ser ao contrário: a IA alerta para as possibilidades, inclusive os perigos. Propiciam-se interações lidando com mais coisas do que se imagina: recentemente, conhecida contou que consulta uma IA para revisar conteúdos do seu trabalho e recebeu um elogio. Morando e vivendo sozinha disse que se sentiu ridícula em quase ir às lágrimas...

Um exemplo batido: quem tem facas na cozinha corta pão, carne, legumes... Mas, num surto, pode matar. A culpa é da faca? Não, mas de quem a usou inadequadamente. A IA vai ser mal utilizada? Vai, como tudo o que o homem cria. Fica a sensação de que o problema não é a IA em si, mas da educação de quem a utiliza. Reforço o que finalizei o texto anterior: demonizar é desperdiçar um tempo precioso. No atual estágio, pensar ganhos sociais é bom parâmetro. Possibilita avanços que, hoje, parecem inimagináveis...