terça-feira, 29 de março de 2011

Saudades da Vila Silveira

Moro há 52 anos na rua João Jacob Bainy, antigamente conhecida como Vila Silveira. Pois o desenvolvimento urbano trouxe para o nosso lado um conjunto de três condomínios, teoricamente planejados para abrigar cerca de duas mil casas, com mais ou menos oito mil pessoas.
Infelizmente, se o planejamento chegou aos condomínios não ocorreu com nossa vila. Um planejamento adequado deveria começar pela rede de esgotos e de água, enterrados nos próprios condomínios. Mas não foi isto o que aconteceu. Infelizmente, preferiram desmanchar o calçamento de uma rua num processo que, qualquer um está vendo, foi mal feito pois os serviços são feitos e refeitos praticamente todos os dias.
Resultado, desde que começaram a movimentar as cargas de terra até a colocação das redes de esgoto, a população local perdeu completamente a qualidade de vida, pois passou a conviver com a poeira, o alto tráfego de carros, motos, caminhões e ônibus. Costume antigo, sentar à frente da casa, no verão, passou a se tornar impossível, pois têm que se manter todas as aberturas fechadas.
A coisa beira a tragicomédia. Algumas coisas são hilárias, mas outras altamente preocupantes. Para cobrir o buraco feito, brita, ao invés de asfato. Resultado, as chuvas levaram a brita para sobre o asfalto, resultando em diversos acidentes.
Um secretário municipal teve a audácia de dizer que não há previsão de conserto. O que demonstra que uma iniciativa privada pode - ao que tudo indica, com a anuência da prefeitura - fazer o que bem entender numa área pública, sem que ambos se preocupem em informar e tornar o período de mal-estar o mais curto possível.
Ninguém é contra o progresso, mas a forma como as coisas são feitas: sem informação, sem respeito pelos moradores já existentes. No frigir dos ovos, nós moradores da Vila Silveira estamos nos dando conta de que somente nós podemos apressar este processo. Sem contar com a prefeitura, o jeito é botar a boca no trombone e denunciar.Que saudades da minha Vila Silveira!

domingo, 27 de março de 2011

Deixe que voem os sonhos


Os pássaros voltaram
a migrar.

Passam, marcando a tarde,
em vôos majestosos,
bem longe,
despertando lembranças.

Se não houvesse
mais nada para lembrar,
teus olhos,
quando a tarde adormece,
guardando a doçura do
encanto,
seriam cinzéis
a delinearem imagens
em minha lembrança.

Os pássaros voltaram novamente.
Tu não voltastes.
E, da minha sacada,
contemplo perderem-se
no horizonte.
Talvez indo ao teu
encontro,
onde quer que estejas.

sábado, 26 de março de 2011

Brincar com a Eternidade


Eu já não tenho o tempo que imaginava.
Não tenho o tempo do sol,
Falta-me o tempo do vento,
Desapareceu o tempo da presença.

E como faz falta o tempo da presença!

O tempo em que já não se pensa no tempo,
Porque é o momento em que se partilha
Da eternidade.
Dividir o tempo é como se o Divino
Brincasse com o efeito multiplicador:
Sempre falta tempo.

É quando se mede o tempo por carícias;
Não são estabelecidos padrões para os beijos
E deixar olhar no olhar é, apenas,
Viver o tempo presente.

Eu já não tenho o tempo que imaginava.

Mas chega o tempo da eternidade.
Muito tempo. Pouco tempo.
Com que medida se mede este tempo?

quarta-feira, 23 de março de 2011

A vida surpreende

Impressiona como, praticamente todos os dias, a vida nos surpreende. São coisas, muitas vezes banais, mas que nos chegam cheias de carinho: um sorriso de agradecimento de uma pessoa doente; a mãozinha carinhosa da criança que desenha nossos rostos; uma nova vida que chega, no deslumbramento de quem já não acredita que isto possa acontecer.
Brinquei, alguns dias atrás, que, hoje, matamos um tigre a cada dia. Isto é, não estamos lançando grandes perspectivas, mas procurando viver bem o dia de hoje. Um amigo disse que isto pode levar a que nos acomodemos na rotina. Não creio. Parece que a vida faz as suas pequenas liturgias, das quais sentimos falta quando nos afastamos. E que torna tão bom aquele momento de despertar, higiene, café da manhã, olhar os jornais....
A nova vida que ainda descobre o mundo tem seus altos e baixos. A mesma mão que acalenta pode se tornar violenta. Mas é uma questão de descobrimento, ela também não sabe ainda a diferença entre ferir e acarinhar. Vai descobrir pela reação das pessoas.


Também é bonita a confidência de quem descobre que vai gerar uma nova vida. O encanto salta pelos olhos e se esparrama por uma barriga que vai ficando cada vez maior. Não existem palavras que descrevam a doçura de uma mãe que, mesmo sabendo das dores do parto, sabe que vai ter nos braços uma criatura frágil e absolutamente dependente por um longo tempo.
Mas como disse uma amiga: é preciso curtir cada um destes momentos, desde que são gerados até que batam asas. Porque fica, na memória afetiva, o que formos vivendo desde a primeira palavra, o primeiro tombo de bicicleta, a primeira lágrima por uma perda e a descoberta de que a vida, realmente, surpreende.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ponto para a Dilma

O Brasil já teve presidentes populistas. O primeiro foi Getúlio Vargas, que, mesmo sendo ditador durante a 2ª Guerra Mundial, depois de deposto, voltou ao cargo pelo voto direto. Outro nome populista foi Leonel Brizola, que conseguiu ser governador do Rio Grande do Sul e, depois de voltar do exílio, do Rio de Janeiro. O mais recente foi o presidente Lula, que marcou bobeira ao não comparecer ao almoço dos ex-presidentes com o presidente americano. Parece que ainda não se deu conta de que seu tempo como presidente já passou.
Mas, em contraste, está aí a presidente Dilma. Cumpriu todo o protocolo na visita de Obama, mas não deixou se seduzir pela tietagem. Sabe que visitas presidenciais, mesmo que o marketing carregue em algumas atividades sociais e culturais, são visitas de negócios. Especialmente com os Estados Unidos, muito dinheiro está ou estará envolvido.

Tenho que reconhecer que, embora já tenha afirmado que achava Dilma e Serra absolutamente insossos, o dia a dia tem mostrado uma mulher não somente competente, mas capaz de seguir a liturgia de um cargo que lhe coloca sobre os ombros imensas responsabilidades.
Ponto para Dilma. Poucos meses depois de empossada, recebe o presidente americano, com competência e elegância. Para o Brasil, é um bom sinal: depois de um Lula absolutamente atirado nos braços do povo, uma Dilma que demonstra estar no bom caminho, o que também se mostra na nossa economia e precisa dar reflexos na área social.

domingo, 20 de março de 2011

À espera de um abrigo


O calor tolda meus olhos.
No horizonte, uma fina
camada de neblina
brinca entre a vastidâo do campo
e o início do céu.

Definho na lassidäo da espera.
Sinto que o sol, causticante,
brinca em despertar sonhos
que há muito haviam ficado
apenas na lembraça.

Näo encontrei um oasis.
Nada que apaziguasse meu espírito.
Um tempo de entregar-me à terra.
Na espera da noite
que abriga e envolve meu corpo,
meus sonhos.
E minhas lembranças.

sábado, 19 de março de 2011

O escrito e o lembrado


Escrevo teu nome no chão
na certeza de que
o vento
e o tempo
haverão de varrer-te
para que sejas apenas lembrança.

E sei que também
terás passado por mim.
Como quem veio com o vento,
como quem se foi com o tempo.

E brincaremos com as lembranças.
Na incerteza do que foi escrito
e do que foi lembrado.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um fim anunciado


A manchete mais intrigante de hoje diz: radiação chegará à Europa em uma semana. Complemento: sem nenhum efeito nocivo. Ora, pois, creio que estão brincando com os meus neurônios. A radiação atômica gerada a partir da catástrofe no Japão pode não ter efeito agora, sobre as pessoas. Mas, com certeza, isto vai acontecer a médio e longo prazo, não apenas com os seres humanos, mas com todos os recursos naturais.
Na verdade, as autoridades deveriam respeitar mais a inteligência alheia. Preocupados em não criar o caos, nem em levar parcelas da população à histeria, dizem meias verdades como se verdades fossem.
O acidente causado pelo maremoto é, em muito, superior às bombas que encerraram a 2ª Guerra Mundial, sobre Hiroshima e Nagasaki. Consequentemente, se vier o pior, ainda não há como medir os problemas que acontecerão sobre boa parcela do Mundo, uma vez que o vento se encarrega de levar o esqueleto da morte para mais longe.
Ninguém quer a histeria coletiva. Mas, enganar, também já é demais. Os resultados sobre as duas cidades do Japão ainda são sentidos hoje. E muitos contam histórias assustadoras sobre vidas ceifadas ou mutilações que se seguiram.
Parece que o melhor exemplo é do próprio Japão: buscar ajuda, seguir com a vida, mas rever políticas energéticas que podem fazer aquilo que as máquinas de guerra não conseguiram fazer: encaminhar um fim para a própria humanidade.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Boa-noite, pai.

Pela manhã, rumo: Santa Casa, ala São Francisco, quarto 207. Missão: acompanhar meu pai. Depois de um câncer que lhe retirou de circulação um pulmão, quase sempre há uma possibilidade de uma infecção, ou de uma insuficiência respiratória.
Brincamos muito durante o período em que fez radioterapia, pois havia muita medicação, em diversos horários. Uma delas: eu controlava os horários. Então, cada vez que eu abria a porta da minha casa, na parte de cima, ele abria a boca na casa deles na parte de baixo!
Mesmo com crises na madrugada, sempre mantém um bom astral, que faz os médicos, enfermeiros e atendentes se surpreenderem: uma brincadeira, elogiar alguém, uma observação espirituosa, ouvir suas músicas na rádio Alegria, ou apenas aquela sensação de que não tem contas a acertar e tem a tranquilidade de quem viveu bem seus 85 anos.
Não sei se viverei 85 anos, mas levo como exemplo aqueles que acompanho, pois gostaria de ter a serenidade de quem viveu dias dificeis, mas que compensou no convívio possível com aqueles que se ama.
Tomar este rumo não é nenhum sacrifício. Mas é matar um tigre todos os dias. Buscando viver com intensidade na luta pela qualidade de vida e pelo direito de hoje, apenas, ganhar mais um beijo de bom-dia ou de boa-noite.

terça-feira, 8 de março de 2011

Dirigir na estrava: viver ou deixar saudade

Às segundas e sextas-feiras faço um comentário pela rádio Tupanci - http://www.radiotupanci.com.br - os mais variados possíveis e imagináveis. Nesta última segunda, ouvindo rádio, um pouco antes de entrar, em torno das 11h15min, ouvi uma matéria em que uma autoridade policial "adiantava" que todas as evidências levavam a crer que o acidente entre um caminhão de Pelotas e um ônibus de excursão entre Santa Catarina e o Paraná tinha indícios de responsabilidade do caminhoneiro.
Comentei a respeito, achando muita pressa em encontrar um culpado e pouco cuidado da autoridade em fazer uma manifestação, no mínimo, temerosa.
Pois à noite, fui surpreendido por meu sobrinho que contou ter chegado numa mecânica onde os funcionários estavam parados escutando meu comentário. Conversa vai, conversa vem e eles queriam me passar algumas informações que eu havia esquecido.
È comum, na estrada, responsabilizar-se caminhoneiros por imprudências. Mas não é bem assim. Uma generalização perigosa: claro que existem caminhoneiros irresponsáveis, assim como em qualquer outra profissão. Mas pela experiência de estrada, eles demonstram uma solidariedade necessária na hora da desgraça.
Tem mais, em época de festejos - Natal, Ano Novo, Carnaval - em certos horários, as estradas são proibidas para certos caminhões, impedindo esta categoria de um direito elementar: trabalhar. Serviço acumulado, a cobrança é dobrada e, muitas vezes, o corpo não aguenta.
Pena que exista a imprudência que leva à morte. Muitas vezes são poucos segundos para respeitar o sinal amarelo. Em outros casos, também poucos instantes para respeitar o cruzamento de uma rótula. E poucos segundos podem fazer a diferença - em qualquer categoria de motorista - entre viver ou deixar saudades.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Trabalhando a perda

Diante de tantas perdas neste período de Carnaval, lembrei de um texto que fiz em
homenagem ao presbítero Cláudio Neutzling

A perda é um dos sentimentos mais difíceis de serem trabalhados. E, no entanto, uma das poucas certezas absolutas que temos, enquanto raça humana. O sentimento de estar diante do tudo, ou do nada, é capaz de abalar até mesmo aqueles que se julgam devidamente preparados para enfrentar o que a vida lhes possa oferecer. E aí é que está a diferença: as pessoas são preparadas para viver. E não para morrer.
Nossa luta, até o último suspiro, é para que ainda se ganhe um tempo para, olhos no mundo, se possa contemplar seres que amamos, lugares que nos aconchegaram, sentimentos que o tempo faz com que se transformem num emaranhado de sentidos.
Mas porque um desesperado “diante do tudo, ou do nada”? É que somos céticos diante do muito que a vida nos apresenta. E, em última instância, ainda temos dúvidas se, do outro lado, estão os braços de Deus. Ou o nada.
Neste momento, tudo o que possa ser dito é inútil. E tudo o que não é dito precisa estar presente naquele abraço para quem fica. Uma sentida solidariedade que percebe a perda, mas que valoriza a presença.
Numa reunião, contaram-me, uma senhora utilizou boa parte do tempo – e da paciência daqueles que estavam presentes – para reclamar do filho, envolvido com drogas, e de Deus, que tinha permitido que as coisas chegassem ao que havia chegado. Coisas do tipo: “Deus não podia ter feito isto comigo”, ou “o que fiz para merecer este fardo”. Depois de algum tempo de ouvir solidária, outra senhora, com o rosto esculpido no palmilhar do tempo confessou: “Pois Deus ajudou muito no tratamento do meu filho”. E a outra: “Ajudou? Então ele está curado?”. Olhar atento a um coração que ainda tinha muito para aprender: “Não. Meu filho morreu. E agora eu já não posso fazer mais nada por ele. Sorte sua que seu filho ainda está vivo”.
Lapidar a sentença. Triste o ensinamento. Ao olhar para trás, é melhor valorizar as marcas que a vida foi nos deixando. Aprendendo com elas, por certo vamos ter outros olhos para quem está do nosso lado. Ainda está. Ainda estamos. É por estes pequenos motivos que devemos agradecer a Deus. Afinal, a vida de cada um – criança, adulto, idoso – tem a sua força e o seu porquê. Talvez não nos seja dado entender, agora. Mas, com certeza, esta também pode ser uma das grandes lições que separam a vida da morte.

domingo, 6 de março de 2011

Nostalgia do andar

Não brinque com o destino de uma rua.

Os homens que a percorrem,
Os pássaros que a sobrevoam,
As casas que lhe dão moldura
Têm sua razão quando alimentam
O sentimento do encontro.

Oferecem rumos,
Indicam possibilidades,
Desafiam para o desconhecido.

Mas perdem seu sentido
Se não forem percorridas.

Um sentimento de entrega
E cumplicidade:
Como se algo passado dissesse
Que já a percorremos um dia.
A doçura e o encanto de saber
Que voltamos a ver o vaso na sacada,
A criança que brinca na calçada,
A senhora que dormita na cadeira de balanço.

Em que tempo, em que estação, com quem?
Não importa.
Apenas que há uma árvore frondosa,
No outro lado da rua,
Que me atrai,
Dando sentido a que continue a andar.

sábado, 5 de março de 2011

A sombra de um Ingá

Deleito-me com tua acolhida.
Fecho meus olhos e estou envolto por ti.
Sussurras-me quando o vento desalinha meus cabelos
E embala-te ao sabor da brisa.

Eu desejo apenas ficar em teu silêncio,
Usufruir do teu frescor,
Deixar-me possuir por tua sombra protetora.

Não digo nada.
Quero apenas viver este momento fugaz/eterno.

Não quero partir.
Mas ficar não faz sentir a tua falta.
E partir é a razão para um dia voltar.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Uma ecologia feita em casa

A Igreja Católica volta, este ano, ao tema da ecologia, na sua já tradicional Campanha da Fraternidade. Aproveita o tema "Fraternidade e a vida no Planeta", motivada pelo slogan "A criação geme em dores de parto", em tempo de Quaresma (entre a Quarta-Feira de Cinzas e a Páscoa). O cartaz é muito forte, mas não sei se eficaz. Por experiência em outras campanhas - trânsito, consumo de drogas, por exemplo - estampar imagens chocantes não costuma produzir os efeitos esperados naquelas populações que não estão conscientes ou envolvidas diretamente com os problemas.
Mas é uma realidade em todos os níveis: as mudanças climáticas (acirramento do efeito estufa, por exemplo) como resultado da mão do homem sobre a Natureza, que soterrou córregos, banhados, sangas e valetas, impedindo que as águas tomassem seu curso natural, consequentemente, fazendo os estrados que estamos vendo. Ou mesmo pela falta da água em algumas regiões, historicamente sofrendo este mesmo problema, mas sem que um planejamento sério de médio e longo prazo resolva.
As soluções também não são de curto prazo. Mas é preciso começar, especialmente pelas crianças. É alentador observar escolas que fazem a coleta seletiva do lixo e pedem ajuda aos pais para que a teoria aprendida vire, na prática, uma realidade. O princípio continua sendo o mesmo: as crianças precisam de referências – pais, professores, lideranças religiosas – para incorporarem valores, como a preservação da vida, onde se inclui a ecologia.
As igrejas cristãs poderiam entrar de corpo e alma: excelente mostrar a teoria - nos púlpitos ou nos altares - do que está acontecendo com o nosso velho e já tão cansado Mundo. Mas mutirões de limpeza em bairros e vilas e mesmo orientação para seleção do lixo, capitaneados por nossas lideranças maiores - bispos, padres, pastores - mostraria que todos estão dispostos a por a mão na massa. Afinal, dizem que a pregação bem feita até comove, mas os exemplos, os bons exemplos, estes mais do que comover, arrastam.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Uma África para os africanos

Recentemente, três padres africanos de Angola passaram por Pelotas em intercâmbio educacional: Quintino, cursou Jornalismo; Martinho, Serviço Social e mestrado e doutorado em Educação; e está entre nós o Augusto, fazendo Jornalismo.
Quando falávamos em organização social, sempre me ficou presente a referência que fazem às tribos de onde são oriundos, que detêm um certo estilo de vida, com seus princípios e referências.
A organização de estado como nós entendemos foi colocada garganta a baixo pelos colonizadores europeus, que descartaram a sua organização social e obrigaram-nos a viver ao estilo ocidental. Típico do que fizemos com os negros no Brasil, com a religião, num sincretismo onde “revestiram” os Orixás com os santos da Igreja Católica.
No caso da Líbia, é algo parecido. Por detrás do movimento para destituir Kadhafi (que faz questão de dizer que pertence a uma das tribos de seu país), estão presentes valores sociais africanos, assim como de valores religiosos. De outro lado, a presença dos Estados Unidos não significa a virtuosidade de quem está defendendo direitos humanos ou sociais: apenas o desejo de que o fluxo de petróleo não seja interrompido e que não se torne ainda mais difícil os trâmites da economia em nível internacional.
"Gato escaldado tem medo de água fria", diz o ditado. Os americanos têm medo que as crises de identidade dos países africanos atrapalhem seus planos de consolidar as economias do primeiro mundo, depois que elas andaram beirando o fundo do poço.
O melhor seria que, primeiro, estudássemos as culturas e convivêssemos com quem pode falar com autoridade a respeito. O conhecimento enciclopédico não é suficiente. Até mesmo os meios de comunicação vão atrás da notícia - preferencialmente a mais espetacular - e tem incorrido em graves erros. A África vive um momento triste pela fome e pela peste de grande parte do continente. Ali está um povo que merece reconquistar a alegria, na sensualidade de suas danças, na capacidade de festa de suas tribos e no olhar de suas crianças que também tem direito a um futuro feliz.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Charles e o João de Barro

O meu amigo Charles tem uma outra versão para a história do João de Barro que fez o ninho na Nogueira, que expandiu seus galhos e folhas e o encobriu. Foi traído pela Natureza que deixa a Nogueira como uma das últimas árvores a nos dar sua sombra.
Pela tese do Charles, como também a Nogueira é uma das primeiras árvores a perder a folhagem no Outono, entrada do Inverno, também seria uma chance para, no período mais frio, o pássaro ter uma casa no quentinho do Sol.
Não entendo muito de pássaros ou de clima, mas o meu amigo catarinense e gaúcho por adoção também sabe que um e outro são para serem observados, admirados e nos dizerem que, como animais, devem ser respeitados e preservados.
No cantar dos pássaros a partir da madrugada ou ao longo do dia em nosso pátio, há vida, que se transforma conforme, agora, o calor vai diminuindo e eles também querem abrigo. O Bem-te-vi que durante o verão fazia seu rasante na piscina durante boa parte da tarde, agora apenas arrisca tomar água. Mas os ninhos continuam se multiplicando entre pombinhas e outros mais. Vida, vida e mais vida. Em qualquer estação do ano, com qualquer versão que tenhamos dela.