segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O desafio de ser cristão

A primeira disciplina do meu curso foi Introdução à Teologia. Como resultado de uma das conversas precisávamos produzir um texto respondendo a questão: “porque ser cristão?” Muitas coisas me vieram à cabeça. Mas, claramente, que ser cristão é uma bênção e um desafio.
Uma bênção porque a maior parte de nós traz consigo das raízes – fator cultural - por onde também andaram nossos pais. Nas manhãs se aprendia a pedir a bênção - assim como à tardinha – e decorar, mesmo que fosse na entrada do sono, as orações que nossas mães repetiam e que balbuciávamos. Assim foi com o Sinal da Cruz, o Santo Anjo, a Ave Maria, o Pai Nosso...
Na maior parte das vezes havia um grupo próximo: da família, amigos, vizinhos, que também viviam a mesma fé e buscavam a mesma prática religiosa.
Desafio, porque na idade escolar o Mundo mostrava que a nossa religião não era a única. Dependia do quanto nossa personalidade havia se sedimento em bases firmes para não abandonarmos o barco, ou mesmo buscar outros mares para navegar. A falta de uma formação mais sólida tem tudo a ver com uma sociedade que, brincando, não pode ser chamada de ateia, mas, se for agnóstica, está mais para “à toa”!
Passamos a adolescência, a juventude e entramos na maturidade precisando encontrar a própria identidade religiosa. O desafio é amadurecer ou manter uma religiosidade infantil. O que nossos pais nos repassaram já não é suficiente e novos tempos pedem novas atitudes.
Ser cristão, hoje, é um estilo de vida. Muitos são aqueles que se dizem pessoas de fé. Mas poucos admitem uma prática religiosa. Os números das estatísticas ainda são maquiados por um comportamento de pessoas que seguem padrões culturais e se dizem cristãos por inércia.
O sonho das religiões predominantes sempre foi exatamente isto...um sonho! As massas fazem parte de eventos pontuais. O desejo de ter uma mídia engajada é ainda mais distante. E mesmo sem tudo isto, estamos bem mais próximos de voltar ao cristianismo de origem onde o conhecer se refletia no testemunhar.
Quem sabe ainda mereçamos ouvir o ressoar do passado, em que aqueles que convivem em sociedade nos vejam marcados por uma mesma postura: a busca de viver o Evangelho.
O papa Bento XVI, quando falou de um dos padres do início do Cristianismo, Irineu de Lyon, lembrou que para reavivar a fé e a prática religiosa é preciso ter consciência de que: "o Evangelho pregado é simples... não é o que foi inventado por intelectuais... é onde está a verdadeira revelação de Deus".

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Aluno de Teologia

Quando as aulas do curso de Teologia do Instituto Paulo VI (Seminário - Pelotas) iniciarem nesta terça (21) serei um dos alunos do primeiro ano. Ainda lecionava na Escola de Comunicação da UCPel e já falava a respeito com outros professores que manifestavam igual interesse: chegaria o momento, depois de cumprida a etapa da Universidade, de alçar novos voos.
O sonho sempre ficou entre aquilo que se diz como vontade e o dia a dia em que se jogam perspectivas para um distante tempo, muitas vezes, do apenas idealizado e nunca concretizado. No meu caso, um aprendizado que passou pela aposentadoria, zerar um câncer, deixar de lado o álcool, aprender a conviver com as perdas, cuidar de idosos e, mesmo assim, deixar o estresse como parte do passado.
Pensei ser um caminho natural para quem trabalha com formadores de opinião, especialmente com o pensamento cristão/católico. Este ano, especialmente, participo de atividades de comunicação pessoal, interpessoal, de grupo e meios, com ministros e diáconos da Igreja Católica, grupos de idosos, lideranças comunitárias, estudantes do Propedêutico do Seminário Menor, e continuo a ser professor de Comunicação e Pastoral no mesmo curso do qual, agora, vou ser aluno.
A primeira pergunta quando digo o curso que vou fazer: "vais ser padre?" Não é uma opção descartada. Ao contrário, vai depender de como as coisas evoluem, pois sempre deixei claro que meu primeiro "sacerdócio", hoje, é cuidar da minha mãe (dona França, 92 anos em junho). Não há obstáculo nenhum da minha parte. Este é um tempo de discernimento e de ver se a própria Igreja precisa do que posso oferecer.
Há muitas formas de servir à comunidade. É exatamente este o meu objetivo: trabalhar com a comunicação, hoje, é alimentar o comunicador, fazer com que os agentes que estão diretamente ligados ao povo saibam que precisam ser melhores mensageiros. Ainda estamos longe disto. Durante muito tempo, as Igrejas compraram meios de comunicação e não prepararem aqueles que deveriam atuar nestes meios.
Paga-se um alto preço. Qualquer jovem, hoje, sabe melhor do que eu utilizar os recursos de Internet e eletrônicos. Porém, para trabalhar melhor, precisa-se de gente que provoque, além de uma postura ética, a transformação dos meios em espaços verdadeiramente cristãos (não confundir com "igrejeiros").
O professor Silon, num encontro com alunos de Teologia disse: "os cristãos têm uma bela mensagem. Mas são péssimos mensageiros". Minha volta aos estudos é uma tentativa de me fazer um melhor mensageiro. E desafiar os diversos grupos a se saciarem deste belo conteúdo, capacitando-os a serem os anunciadores que a mensagem merece.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Jovens "formados demais"

Um dos elementos mais nefastos da crise vivida no Brasil diz respeito à educação. Infelizmente, são tantos fatores pipocando em áreas como a política, economia, saúde, segurança... que deixamos de lado a preocupação com aquilo que já deveria fazer a diferença para construir o presente e, especialmente, a capacidade de mudar o futuro.
Todos os países que enfrentaram problemas semelhantes aos nossos somente encontraram um caminho diferente quando fizeram um pacto pela ética do cidadão, o que passa, obrigatoriamente, por colocar a educação num novo patamar.
O modelo atual mostrou-se inconsistente. Não atende àquilo que é necessário para iniciar a formação do cidadão, não consegue fazer produtiva a sua qualificação profissional e, muito menos, traçar um perfil adequado para uma formação acadêmica.
Um sobrinho apresentou currículo para vagas e foi desconsiderado. Lá pelas tantas conseguiu saber porquê: tinha muita formação (especialização) para vaga que exigia apenas conhecimento técnico (também cursara, com registro em carteira).
Dois outros casos contados por pessoas diferentes variavam um pouco na forma, mas mantinham a essência: procuraram emprego, apresentavam bons currículos, mas foram dispensados porque sabiam demais!
Como assim? Quem acompanha jovens em fase de preparação para o trabalho sabe o quanto é necessário motivar para que não desistam. Os familiares, especialmente, fazem das tripas coração para incentivar e fazê-los ver que, ali adiante, a boa formação pode fazer a diferença na hora de se candidatar a uma vaga.
As coisas se inverteram. Jovens formados que, por não conseguirem colocação melhor, buscam continuar no mercado ocupando vaga apenas técnica. Descobrem que, pelo discernimento de algumas área de recursos humanos, estão "formados demais"!
Confesso que pensei já ter visto tudo. Mas não vi. Não há nenhuma explicação plausível para que alguém com mais formação não possa ocupar uma vaga em que é necessário "colocar a mão na massa".
Se assim o fizer, quando aplicar o que aprendeu em sua especialização ou mestrado profissionalizante será com maior conhecimento de causa, valorizando quem ainda o faz. Alguns educadores brincam: "na prática a teoria é outra". E que o trabalho pode ser uma maldição, se for apenas um jeito de pagar as contas; mas uma bênção, se feito com prazer e parte da própria realização.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Preconceito e o direito à solidariedade

Recentemente, uma africana que chegou ao Brasil fez uma triste declaração: não tinha vivido tão intensamente o preconceito racial até que desembarcou no país. De diversas formas, em hotéis, restaurantes, locais públicos, sentiu que a cor da sua pele afetava - e muito - a forma como era tratada. E não era para melhor.
Conhecia sua manifestação porque muitos conterrâneos angolanos vieram tentar a vida deste lado do Atlântico. Mas, como sempre, somente quando sentiu na carne a discriminação deu-se conta do quanto era dolorosa.
Convivi com três padres angolanos - Quintino, Augusto e Martinho - e outro durante pouco tempo - José - quando tive a certeza de que precisava aprender com gente que saiu de uma guerra civil sem perder a espiritualidade e a alegria em ritos onde a fé é demonstrada por cores, gestualidade e vivências que apontam para a esperança e confiança no direito de viver.
Numa conversa, um senhor disse: "o preconceito é inerente ao ser humano". Não tive condições de concordar. Mas também não tive coragem de discordar. Lembrei de pessoa próxima que dizia: "não sou preconceituoso. Preconceito é coisa de negro!" Forma pouco gentil de brincar com algo sério e expressar o seu preconceito!
Desde que os amigos citados voltaram para Angola tenho um sonho: ir a algum dos países africanos de fala portuguesa. Num primeiro momento, pensei, ajudar a formar lideranças, especialmente, no que se refere à comunicação.
Hoje, penso diferente: quero ir para aprender. Conviver para entender o quanto ainda precisamos caminhar para derrubar as barreiras do preconceito. Desarmar espíritos não é somente aceitar seres com cores diferentes. As diferenças acontecem porque alguns se julgam melhores e no direito de impor o que pensam por guerras, economia, meios de comunicação ou religião.
Há aqueles que já estão entre nós há mais tempo e, sabemos, subsistem em condições difíceis. E aqueles que migram. Os que aculturamos precisam redescobrir sua identidade. Os que chegam, serem recebidos como membros da mesma raça - a humana - que nos faz iguais, independente de gênero, país de origem, cor ou religião.
O brilho nos olhos de quem valorizar a própria cor (e enquanto ser humano) ou de quem é acolhido faz pessoas melhores por saber que estão na trilha certa de realizar seus sonhos. De outro lado, o preconceito faz vítimas ao condenar à depravação mental e espiritual homens e mulheres que abrem mão do direito de serem solidários.