segunda-feira, 29 de junho de 2009

O fundo do poço

O repórter fazia a entrevista e mostrou-se decepcionado quando o médico que trabalhava com a recuperação de jovens dependentes químicos afirmou que cerca de dez por cento dos que usam drogas são plenamente recuperados: “tão poucos!?” E, da serenidade de quem aprende lições com a vida, vivendo cada dia, recebeu a resposta: “Valeria a pena se apenas um deles pudesse nos dizer que estava a um longo tempo limpo”.
Pois tive esta mesma impressão quando, recentemente, um pai me contou o quanto haviam precisado de cada reserva de suas energias para fazer com que, ao longo de dois penosos anos, vencessem a dependência do filho. Tudo iniciou quando o jovem começou a ter medo de perder o emprego, pois não se julgava preparado para enfrentar os novos desafios que se apresentavam. Depois, foi a vez de se julgar inseguro também na escola; tinha medo de que, sem uma preparação adequada, também não pudesse enfrentar o seu grande desafio: o vestibular. E a saga ficou completa quando recebeu a notícia de que a namorada estava grávida.
A partir dali, tudo desandou. Do álcool passou às drogas leves e destas àquelas mais pesadas. O fundo do poço acabou sendo numa ocasião em que, completamente chapado, conseguiu passar uma mensagem por celular dizendo que estava numa praia e que não tinha condições de retornar para casa. Descreveu-me como “um olhar vazio, num corpo já quase sem vida”. Levaram-no para casa, com muito carinho, sem falar absolutamente nada. E procuraram ajuda. Foram instruídos a tentar ajudá-lo a enfrentar seus traumas, revertendo cada um de seus medos. Sempre com mais ação e menos conselhos, mas com testemunhos de que, em qualquer circunstância, eles estariam ao seu lado.
Foi o que aconteceu: o jovem, amparado pelos pais, irmãos e amigos, procurou a desintoxicação e depois orientação. Mas, em qualquer etapa, mesmo as mais difíceis, aprendeu que, em momento algum, estava sozinho, e que nunca havia sido sufocado. Creio que foi exatamente o que aconteceu com estes dez por cento que entraram em recuperação: mais do que técnicas para uma recuperação, tiveram o amparo, o carinho e o ombro amigo de quem nunca os quis abandonar, nem deixá-los à mercê de seus medos.
Fiquei emocionado ao saber tudo por que tinham passado. Tive que perguntar de onde haviam tirado tanta força para tornarem o filho um vitorioso e recebi um sorriso: “faria isto quantas vezes fosse necessário. Ele é meu filho!”. Nem precisaria ter feito a pergunta. O motivo era bem maior do que a causa.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um diploma cidadão

Surpresa. E revolta. Não poderia ser outro o sentimento, ao receber o veredito do Supremo Tribunal Federal, por oito votos a um, de que a profissão de jornalista não precisa mais ser exercida apenas por aqueles que alcançaram diploma de curso superior.
Com uma argumentação que beirou o deboche, os ministros liberaram a ponta do iceberg, pois abrem as condições para que outras profissões na área de humanas e sociais, também sejam liberadas de formação superior, ou qualquer tipo de formação.
Já argumentei, anteriormente, que posso atuar na área da psicologia ou do direito. Mas não é só, por conhecimentos adquiridos, também posso lecionar na área da sociologia, filosofia, história, geografia...
É pena que a sociedade não tenha se dado conta de que, mesmo que a formação não seja a melhor que almejamos, ainda adequa mais o profissional à sua atuação em Jornalismo. Podemos questionar, alimentar a discussão e fazer mudanças em currículos, mas entregar à sanha de empresários a definição de quem é competente é muito perigoso.
Ao que tudo indica, exatamente por sua formação, o Jornalismo passou a ser perigoso para o Poder Judiciário, pois resolveu escancarar as suas entranhas. Passando pelo fato de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo já vinham sendo denunciados, restou uma mesquinha vingança contra o chamado "quarto poder".
Perdeu o processo democrático. Os homens públicos que fizeram isto esqueceram que são pagos pelo povo para defender os valores dos cidadãos e não os próprios. Abriu-se uma porteira que dificilmente será fechada e que lançou o caos à regulamentação da maior parte das profissões. Por todas as situações de risco que encara, pelos perigos constantes e pela capacidade de denunciar os "cadáveres insepultos", o diploma do jornalista é, com certeza, um diploma cidadão.

domingo, 14 de junho de 2009

O vírus da violência

Nesta transição entre o calor do verão e o frio que já inicia no Outono, é comum a recomendação de que “todo o cuidado é pouco”. Vale utilizar bastante roupa, tomar algo quente para manter o calor do corpo, ou até fazer alguns exercícios. E há, também, a vacina, que ajuda o organismo, aumentando suas defesas e prevenindo das famosas gripes.
Mas já não se fazem mais gripes como antigamente e a mais recente a preocupar o Mundo ganhou um nome científico e popularmente ficou conhecida como “a gripe do porco”. Infelizmente, o porco foi apenas uma “incubadora” de vírus, que ali se instalaram, se misturaram e criaram novos, capazes de assustar não apenas o México, onde surgiu, mas causar mortes em diversos países, continentes a fora.
É interessante que tanto o vírus da gripe quanto o do porco podem, em estado avançado, causar a morte e, por este motivo, tomam-se as preocupações possíveis: autoridades sanitárias fiscalizam, cientistas buscam vacinas eficazes e todos ficam alerta para não se transformar na próxima vítima.
Pena é que ainda não se nomeou devidamente o maior de todos os “vírus” que já apareceu na humanidade: ele se faz presente especialmente nos finais de semana e ceifa a vida especialmente de jovens, a maioria do sexo masculino, contaminados pela violência. Esta já é uma pandemia brasileira, capaz de acabar com mais de 30 vidas num feriadão, entre acidentes de trânsito e uso de armas.
Autoridades e meios de comunicação tentam fazer campanhas para conscientizar motoristas que fazem de suas motos, carros, caminhões, armas que acabam com a esperança de pessoas que morrem ou que têm o futuro comprometido por ficarem com seqüelas. Mas a única campanha que mostrou resultado foi quando começaram a sentir que perderiam carteiras, veículos ou teriam que pagar multas pesadas. Mas estas blitz, infelizmente, não prosperaram.
Aqui no Estado, um grupo de comunicação desencadeou campanha contra o crack, mal que assola as cidades, desde crianças até pessoas adultas. Seguidamente, são mostrados criminosos presos por fornecer a droga, mas o que a polícia aponta como ação inibidora é apenas a ponta do iceberg, um nada comparado ao que circula em porta de colégios, festinhas badaladas e pontos de venda que todo mundo conhece, mas...
Infelizmente, impera a indiferença, que assusta, pois a facilidade em tirar uma vida ou de propiciar elementos para que a própria pessoa se destrua é um caminho difícil de ser revertido. Vivemos um tempo crucial: além de agir, é bom rezar para encontrarmos uma vacina que atue na mente e no coração do próprio homem.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Os zumbis do crack

Os números são estarrecedores. Não falo dos danos físicos e emocionais, classificados como um flagelo social, mas do “investimento” que um jovem faz ao consumir o crack: em torno de R$ 700,00, ao mês! Alguns podem pensar que é frieza iniciar a reflexão por este dado, quando há tanta coisa envolvida. Pois não é. O jovem que gasta este salário mínimo e meio não tem renda e não consegue com a família mesada que auxilie a sustentar seu vício. Então, começa a desgraça: dependentes e desesperados partem para o roubo, primeiro em casa, em dinheiro; depois em objetos que possam ser vendidos; e sairão às ruas em busca do recurso que permita continuar a consumir a droga maldita.
Estes números foram mostrados recentemente em reportagens denunciando as proporções que tomou a entrada do crack na noite e na periferia das cidades médias e grandes. Movimentam o comércio absurdo de uma droga que não permite a famosa “experiência”, mas torna dependente desde a primeira ocasião em que é consumida, inocentemente, muitas vezes como oferta de uma “bala” doce, na saída de um colégio ou de uma festa.
Eventos recentes, organizados por autoridades da área, mostraram casos desesperados de pais em busca de ajuda, pois não conseguem vencer, sozinhos, a desgraça que se abateu sobre seus lares. Crianças pedem socorro e vemos exemplos extremos de pais que acorrentam seus filhos, trancam portas, buscam mantê-los afastados das ruas. Ou, até, como caso recente, em que uma mãe, em desespero de causa, tirou a vida do próprio filho.
Esta é a situação em que o garoto não tem condições de tomar decisões e a responsabilidade é dos familiares, da sociedade e das autoridades. A simples internação não é a solução, mas parte dela. Depois de desintoxicado, é preciso mantê-lo afastado das ruas, precisando de políticas públicas de policiamento ostensivo inibindo a farra dos traficantes, que usam das táticas infames para abastecer o mercado.
Se você está contente porque seus filhos, sobrinhos, os filhos de seus amigos não estão utilizando a droga, pode ir se preocupando. Esta horda de desesperados está nas ruas, transformaram-se em zumbis que perderam o sentido da vida e, para consumir a droga, podem fazer de você a próxima vítima. Não é terrorismo, mas a necessidade um posicionamento diante deste flagelo, causador de estragos para o resto da vida em garotos que perderam qualquer perspectiva de uma vida sadia.