segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Olhai os lírios dos campos...

A reflexão da Igreja Católica, no último final de semana, foi a respeito da afirmativa: “não podeis servir a dois senhores; servir a Deus, ou ao dinheiro”. Fiquei pensando que esta afirmação poderia ser ampliada, pois, hoje, mais do que o dinheiro em moeda soante, se vê uma disputa acirrada por poder. E aí não escapa nenhum nível, partindo do mais comum, o da política, passando pelo esportivo, religioso e educacional.
O da política é o que, em tese, deveria estar mais claro. Isto se mostra na eleição em todos os níveis, onde os investimentos para se eleger não têm comparação com os salários que vão ganhar. O que resta, então, é a certeza de que, eleito, passa a controlar instâncias administrativas que também vão render, de alguma forma, nem sempre diretamente com dinheiro, mas indicação de pessoas próximas para cargos públicos, destinação de recursos para obras paroquiais ou tráfico de influência.
Mas, infelizmente, outros setores também não escapam. O que vemos, hoje, no esporte, especialmente nos grandes centros, é uma orgia de recursos em obras superfaturadas que impressionam e escandalizam. Em tempos de copa do mundo, o governo federal podou investimentos por ser público que o ministério dos esportes se transformou em fonte de lucro para especuladores nacionais e internacionais.
Em educação, uma professora disse sentir saudades dos tempos em que discutia o processo pedagógico. Hoje, a discussão é administrativa, sobre recursos que são destinados, ou, mesmo, como ocupar instâncias de poder – como as direções de escolas – por partidos ou facções. Além, da sempre presente discussão sobre as perdas salariais.
Nem as igrejas escapam. A luta, que nem sempre é explícita, é por formas de controlar áreas estratégicas, num processo que torna conservador e engessada uma caminhada que deveria ser diferente. Talvez a solução esteja no mesmo Evangelho: “Olhai os lírios do campo....” Trocar o olhar e um pouco de poesia ajuda a vermos, como dizem os mais antigos, “que não levamos nada desta vida”, mas o que deixamos são as marcas de carinho e de bondade que somos capazes de viver e repartir.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Possivelmente

Possivelmente, não vejas sentido no que te digo.

Minhas palavras fazem o ciclo do vento.

Então, quando achares que falo demais,
Apenas sorri.

Vou estar tão encantado com os detalhes de teu rosto
Que um suspiro selará meus lábios.

Verás, então, que meus olhos
Gritam de desejo.

Em cada um de meus músculos
Que pedem apenas um pouco de carinho.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O jeito das palavras

Não uso as palavras
Somente por seu feitio.
Elas dançam em minha mente,
Movendo-se na ânsia por seu sentido.

Não vejo o rosto das
Palavras,
Vejo a sua capacidade
De busca, de desejo,
De alçar seus tentáculos
Para encontrar o
Seu jeito de ser.

Elas me alcançam,
A cada dia,
Com uma nova forma
De sedução.

Brincam em meus
Lábios,
Murmuram em meu ouvido,
E cumprem uma missão:
Tornam-se mais próximas,
Mais capazes de seduzir para o amor.
Ou para alcançar o ódio mais profundo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O discurso do rei

O Charles e o Ricardo Echer me propuseram, ontem (quarta), uma viagem a Porto Alegre, com direito de ficar aguardando por eles num shopping e poder assistir a umm belo filme: o discurso do rei.
O príncipe, que, durante a segunda guerra mundial (39 a 45) vai ser rei, é gago. Discursar, para ele é uma tragédia, que está presente em praticamente todos os dias de sua vida.
Então é preciso encontrar uma solução, que vem através de um terapeuta pouco convencional, mas que se mostra ser mais: é também psicólogo e se torna amigo daquela figura da dinastia que cresceu em berço de ouro, mas sem nenhum contato pessoal de amizade.
O terapeuta pouco ortodoxo estabelece que, no lugar em que trabalha, não há diferença entre as pessoas e são comoventes os momentos em que o futuro rei vai se dando conta de que precisa daquele plebeu para poder governar o povo que diz desconhecer.
Para quem trabalha ou gosta de comunicação, um filme simples, mas pontual sobre o quanto se pode vencer para estabelecer laços. A linguagem é uma forma de estabelecer laços, que, se truncada, perde o seu sentido.
A gagueira é um limitador, que o cérebro pode nos impor, assim como a timidez. Mas as duas podem ser superadas e, na base, está alguém que quer vencer e alguém que acredita naquele que quer vencer.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um bom ano

Pois hoje estamos iniciando as aulas de 2011 na Universidade Católica de Pelotas. Meus primeiros alunos serão em Jornalismo Gráfico e Redação em Jornalismo. Ambas com mudanças. Creio que vai ser um bom semestre, a perspectiva ao menos é muito boa.
Creio que no ano passado - que vá com Deus! - foi o ano mais difícil para lecionar. Não tanto pelos alunos, onde passei por um processo de ajuste com uma turma de Teoria da Comunicação, iniciada quase no meio do bimestre, mas que, entre feridos e mortos, salvaram-se todos.
Para mim foram problemas extra-sala de aula. Meus pais chegaram ao fundo do poço em nível de saúde e as coisas se complicaram. Acho que precisava amadurecer pra poder equilibrar as coisas. Contando com muitas ajudas - e até algumas não ajudas (que também ajudam a esclarecer quem é quem quando precisamos) - vencemos o ano, vencemos os problemas de saúde e, agora, é tentar superar as sequelas.
Mas, claro, um ano mal vivido é como se viver um processo de doença: alguma coisa que deu errado e, mesmo corrigido, sempre deixa aquela dorzinha que sentimos quando o tempo fica abafado; o receio de que tudo ressurja de novo e a sensação de que somos finitos e que, em algum momento, esta máquina vai parar.
Bem-vindo, 2011, rezo para que seja um ano de realizações pessoais e de grupos, especialmente nas grandes lutas que podem acontecer em nível de religião, sociais, políticas e esportivas, que ninguém é de ferro!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A reforma política

O troféu "Cara de Pau" do final de semana pode ser dado ao vice-residente da República, senhor Michel Temer, que propôs uma reforma política bem ao estilo do seu partido - o PMDB: pontual naquilo que o beneficia.
Embora até pouco tempo atrás se discutisse que nos Estados havia um outro "pmdb" ético, este foi sufocado pelas artimanhas e negociações em Brasília, que é onde realmente interessa a presença.
Pois Temer quer que se inicie a discussão da reforma política - necessária, mas de forma ampla e transparente - por pontos que lhe interessam. Tirando o foco da grande mmudança que o meio jurídico vem propondo - como o comportamento ético e moral dos senhores representantes em todos os níveis - a mudança cai na vala comum.
Não podemos esquecer que, hoje, o projeto da "ficha limpa" está tão seriamente deturpado por instâncias inclusive do Judiciário, que, se funcionar, corre o risco de ser um Frankstein.
É bom ficar antenado, pois a mobilização pública, especialmente pela internet, vem fazendo a grande diferença, em nível mundial. No Brasil, no ano passado, alguns projetos políticos foram sepultados por esta mobilização. Vamos "trocar figurinhas" e agir em todos os níveis possíveis: reforma política, com certeza; mas não com o engodo do PMDB e seus aasseclas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A magia da vida

Tenho medo do tempo.
Ele é implacável.
Não podemos deixar que passe,
porque sempre acaba nos atraiçoando.

O melhor é sorvê-lo como quem se delicia
com o melhor dos sabores.

Então, mesmo que ele brinque com nossa pele,
atrofie nossas juntas
e nos deixe com um sorriso mais triste,
ainda podemos dizer que, em nossos olhos,
repousa a serenidade do tempo,
a alegria de se viver bem
e a doçura do encantamento que sobrevive
na magia da vida.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A oração da própria vida

A Rosana Goi mandou-me uma mensagem em pps muito bonita. Em síntese: um padre visitou um doente idoso, a pedido da filha. Falando sobre oração, o idoso disse que durante muito tempo havia deixado de rezar, porque não entendia muito disto. Mas que um amigo lhe dissera que era simples: colocasse duas cadeiras, sentasse numa e pensasse que Jesus estava na outra. Foi o que fez e passou a contar para Jesus tudo o que lhe acontecia, numa conversa que, muitas vezes, levava uma, duas horas.
O padre, surpreso, disse que era assim mesmo. Que continuasse. Dois dias depois, soube pela filha que o idoso havia morrido. Perguntou se havia sido em paz. A resposta foi que sim, mas que havia uma coisa estranha: a filha saira para fazer compras, dera um beijo no pai e ouvira que a amava. Quando voltou, estava sentado numa das cadeiras e com a cabeça sobre a outra. Porque seria? O padre ficou emocionado, mas respondeu: ele descansou nos braços de um amigo!
Linda história, cheia de simplicidade que muitas vezes vamos desprezando ao longo da vida. Para uma criança, é tão fácil balbuciar uma oração, mas o dia a dia vai nos afastando desta necessidade que existe assim como precisamos de luz, água, ar, alimento: a oração.
Gastar um tempo com Deus é gastar um tempo conosco. Achar espaços de sanidade mental pode nos dar mais qualidade de vida.
Que bom que o sacerdote entendeu que fórmulas apenas, mutas vezes, não se transformam em ritos. Mas que uma boa conversa com um "Amigo", pode fazer a diferença em viver bem.
Não há burocracia no contato com Deus, pelo contrário, ele tem que ser o amigo que privilegiamos em nossas confidências e em quem depositamos nossa confiança. Depois disto, tudo o mais é apenas consequência, pois o que nossos lábios já não balbuciam, se manifesta na criança que sorri, na natureza que explode em vida, ou apenas naquele idoso que supera suas próprias deficiências ao tomar sua bengala e voltar a andar: a oração da própria vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Morreu Sérgio Jockymann

Um dos grandes escritores gaúchos morreu esta semana: Sérgio Jockymann. Tive a honra de ser seu aluno na virada dos anos 70, quando ele era para o jornalismo o que hoje é o Luís Fernando Veríssimo - um ícone, uma referência.
Colunistas de jornais do grupo Caldas Júnior (hoje, Record), além de escritor, poeta, autor dramático (novelas, teatro). Mas tinha um jeito bonachão de quem olha pra ti e diz: fala! E a gente podia falar, até que nos dávamos conta de que ganharíamos mais calando. E então éramos contemplados com um conhecimento lúcido, melodioso, quase que uma aula de jornalismo feito com poesia!
Na Internet, um texto seu é atribuído a Victor Hugo (francês que é uma referência mundial para a literatura). Ora tenham dó, eu fico com o nosso Sérgio Jockymann! Por diversos motivos, entre eles por ser um dos gaúchos que mostrou ao mundo que aqui também pode se escrever e escrever bem.
O primeiro jornal no qual encontrei seu texto foi na Folha da Tarde, que, como diz o nome, saia ao final da tarde no início da década de 70. Ia direto à sua coluna, cheia de bom humor, mas sem deixar de dizer verdades, mesmo que estivéssemos em meio a uma ditadura militar. Na segunda metade desta década, quando fiz Jornalismo, mantinha o Jockymann como referência. Era a minha bengala no mundo das letras. Ainda hoje, acho que, de vez enquando, quando penso que vou cair, existem "bengalas" que amparam meu texto.
Que vá em paz e que no firmamento das letras, haja uma nova estrela: com um sorriso largo, um jeito simples e meio encurvado de quem saiu para caminhar somente pelo prazer de cruzar por ruas da cidade, onde a vida acontece.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Madiba

As férias servem também para atualizar os filmes não vistos durante o ano. No início do ano passado, em Porto Alegre, assisti ao filme Invictus. Nelson Mandela (vivido por Morgan Freeman) foi eleito presidente da África do Sul (o primeiro negro) e precisa de um elemento agregador: o futebol, capitaneado pelo jogador Francois Pienaar (Matt Damon).
Precisando fazer diferente do que fizeram outros países da África, não acreditava que a ascenção dos negros devesse colocar em declínio a raça branca, mas encontrar formas de convivência e de superação das divergências.
Não é à toa que, durante a Copa do Mundo do ano passado, foi uma das figuras mais procuradas pelos jornalistas internacionais. Foi ele quem disse: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."
A população sul-africana, carinhosamente, o chama de "madiba" (algo como uma referência, em sua tribo, alguém importante nas relações do grupo). E verdadeiramente, o filme passa isto: o esforço para superar o racismo tem que vir de todos os lados.
Contava uma amiga que uma pessoa negra chegou numa oficina chamando todo o tempo o dono de alemão. Bastou o "alemão" chamar o outro de negrão e o baile fechou: "isto é racismo".
Como disse Mandela, racismo se ensina, assim como se ensina a respeitar. Basicamente, dependemos dos nossos valores e das nossas referências: para as crianças, é muito fácil conviver. Sempre é um adulto que começa a colocar em sua cabeça "valores" diferentes. O filme é uma semente. Mas o caminho ainda é muito longo, mas não impossível.
Quem sabe pedimos a bênção a "madiba" e consigamos entender que a cor está apenas na pele. A partir daí, até o coração, as razões são mais forte para lutarmos por coisas que são comuns: dignidade, realização e felicidade para brancos, negros, amarelos...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um "fenômeno" financeiro

O mundo dos esportes - para nós, brasileiros, em especial o futebol - tem a capacidade de espetacularizar momentos, especialmente com a emoção. Não poderia ser diferente no caso do "fenômeno" Ronaldo, ao se despedir dos gramados e passar a se dedicar à atividade empresarial (atividade financeira) e, claro, a uma fundação (descarga de consciência).
Como vivemos disparidades em todas as áreas, fica difícil entender que um homem, apenas, possa ganhar uma fortuna mensal, que um trabalhador não chegará nem perto, por toda uma vida. Esta é apenas uma ponta de uma área onde são denunciadas todos os dias as negociatas, desvios e mau gasto de dinheiro.
Ora, o Ronaldo chegou ao que chegou porque levou uma vida desregrada e não cuidou da coisa mais elementar para um jogador: a própria saúde. Portanto, parar aos 34 anos significa, hoje, parar cedo, pois muitos jogadores continuam atuando aos 40 anos.
O que me impressiona é que a imprensa, que faz o espetáculo e "se acha" quando critica, valoriza ou acha que noticia eventos, em raras ocasiões recebe - financeiramente - próximo daqueles que ajuda a criar e evidenciar.
Sei de caso em que um jogador atirou na cara de um repórter que para ganhar menos seria jornalistas!
O Ronaldo para milionário. Ele e sua família poderiam não fazer nada pelo resto da vida. Que vá em paz, pois nós, meros candangos, temos que continuar no batente, todos os dias, chegando ao final do mês com um salário que o próprio jogador consideraria "uns trocados".

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tu és um pouco de Deus

Talvez não saibas o quando teu sorriso me faz bem;
Talvez não saibas o quando teu abraço me acarinha;
Talvez não saibas o quanto a tua existência faz a diferença entre a luz e as trevas.

És um portador da Síndrome de Down.

Alguém que um Anjo poderia descrever assim:
Um ser especial e iluminado;
Uma parcela de vida em que esqueceram de por asas;
Um pedaço do infinito que roubou o sentido de existir,
Tu és um pouco de Deus.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um momento de silêncio

Tuas mãos descansam
sobre as pregas da roupa que alisastes até a pouco.

Já foram tão ágeis:
Embalaram filhos,
acalentaram sonhos,
indicaram caminhos.

Hoje dormitam
no prenúncio da Eternidade.
Não querem saber do tempo,
já tiveram todos os registros da vida
e contentam-se, apenas, em viver um momento de silêncio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A solidariedade na doação de medula

Uma das principais chamadas do Diário Popular de Pelotas desta sexta diz respeito à luta desenvolvida por um menino para conseguir a doação de uma parte da medula óssea para sobreviver.
O processo de identificação é bem simples: apenas um exame de sangue, recolhido rapidamente e quase sem dor, coloca cada doador num banco internacional que vai identificar, quando preciso, a pessoa compatível em qualquer parte do Mundo.
É parecido com a doação de sangue, somente com um processo um pouco mais demorado para recuperação. Até o ano passado, eu ainda doava sangue, duas vezes ao ano. Com problemas com a pressão e a medicação prescrita tive que abrir mão de prestar este serviço. Mas tenho, sempre, incentivado aqueles que estão próximos, na minha família, entre amigos e com aqueles com os quais trabalho.
Ouço muita bobagem, preconceitos que vão desde ser um grande sofrimento (que não é verdade) até conceitos bem estranhos como: não vou precisar nunca, então pra que doar?
Doar é um ato de solidariedade, um gesto positivo que também traz benefícios. Desde algo simples, como doar sangue, até algo mais complexo, como a doação de parte da medula, envolve energia positiva para quem doa e para quem recebe. Quem se colca, egoisticamente, de fora, também está gerando uma energia, somente que negativa.
Meu argumento é simples: doe hoje para que, se precisar amanhã, tenha quem lute para conseguir para ti. Pode parecer algo muito personalista, mas é uma verdade, quem está praticando o bem, pode ter certeza de que vai receber o bem. Quem se omite, pode pagar o preço da sua omissão.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Respeito pela saúde

Que a saúde pública no Brasil passa por sérios problemas, ninguém duvida. Não são de hoje, mas chegaram a uma situação que beira ao desespero: praticamente todas as semanas, os telejornais passam matérias a respeito de hospitais e de pronto-atendimentos onde a população encontra-se em estado de choque diante de problemas físicos para os quais depende de soluções públicas que não são, ao menos, razoáveis.
Uma das soluções passa pela chamada medicina preventiva. Neste sentido, parece-me exemplar duas medidas tomadas pelo governo, mas ainda andando a passos de tartaruga: o programa de internação domiciliar e a distribuição de medicamentos básicos para o tratamento da hipertenção e do colesterol.
Acompanhei um dos casos de internação domiciliar aqui na minha rua e achei exemplar: os cuidados dos diversos profissionais no sentido de dar ao paciente todas as condições para seu tratamento em casa, favorecendo a família e impedindo que uma pessoa já debilitada possa ainda ser contaminada em ambientes hospitalares. Pena, como me disse uma das profissionais, que o número destas internações ainda é pequeno diante dos candidatos que aparecem.
O outro caso, anunciado pela presidente Dilma, é algo tão claro que não se entende como a burocracia levou tanto tempo para tomar uma medida: sendo verdade que a população de baixa renda gasta 12% em medicação, distribuir gratuitamente os remédios que tratam da pressão e do colesterol significa que vai haver uma população mais sadia, com menos índice de internação e também com melhores condições para investir em outras áreas, como a alimentação.
É sintomático que estas áreas sejam anunciadas como prioritárias em todos os níveis - federal, estadual e municipal. Não há como se ter solução em curto prazo, mas algumas medidas já desafogam e dão ao cidadão a impressão de que está sendo respeitado num dos seus direitos mais elementares: a preservação da própria saúde.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O engano do João de Barro

O João de Barro que fez sua casa na Nogueira do fundo do nosso terreno – podada no Outono (pela sabedoria popular, as árvores devem ser podadas nos meses sem “r” – maio, junho, julho e agosto) foi enganado pela natureza. Este pássaro tem predileção por lugares abertos e, no meio urbano, quase sempre opta por postes de luz. No entanto, não havia registro em seu sistema de que a Nogueira é uma das árvores que recupera a vegetação mais tarde, consequentemente, quando o João de Barro terminou o ninho, ganhos e folhas surgiram e o envolveram.
A expressão “a natureza é sábia” aqui não se aplicou. Mas quem diz que para todas as regras não há uma exceção? Embora possamos justificar esta “exceção” pela ação do homem que diminuiu a habitação natural deste pássaro, também haveremos de concordar que nem tudo é festa, quando se trata da ação na esfera animal e vegetal.
Somos privilegiados pelo fato de que nosso pátio é lugar procurado por diversos pássaros em tempo de reprodução. Muito porque a consciência de nossos pais no trato com a natureza serviu de referência para que filhos, netos e bisnetos tivessem aprendido de que o bom de cada um destes pequenos animais é poder observá-los procurando alimento ou brincando pelas árvores e não presos em gaiolas.
Mesmo que tenha havido um engano – corrigido com a construção de outro ninho – a grande lição do João de Barro é que ele não desiste. Na vida é assim, também: muitos são os tombos, muitas são as vezes em que batemos com a cara na parede, mas são estas as lições que nos ensinam. Da próxima vez, o João de Barro vai pensar duas vezes antes de construir sua casa numa Nogueira. Perdemos nós, perdeu a Nogueira.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um buffet de religião

No início de fevereiro, passamos por duas das maiores festas populares do Brasil: Iemanjá (1º de fevereiro) e Nossa Senhora dos Navegantes (2 de fevereiro). Por um processo de sincretismo religioso, há muita confusão entre as duas e as "santinhas" chegam a ser confundidas pelas pessoas mais simples (e algumas nem tão simples assim).
Recentemente, ouvi uma matéria na televisão que contava a forma como este sincretismo foi se dando no Brasil, quando os negros tinham que "adaptar" seus Orixás aos santos da Igreja Católica para poderem manter sua fé. Um dos elementos que me chamou a atenção foi de que, em muitas igrejas antigas, quando é feita a restauração, é comum encontrar em meio à massa ou aos tijolos imagens destes Orixás.
A população branca sabe que é a grande responsável por um dos períodos mais vergonhsos da nossa História: quando os negros eram arrancados de suas terras, seus costumes, sua cultura e vinham movimentar a economia no Brasil. Nenhum segmento social passou impune por este momento, inclusive as Igrejas que, se não eram cúmplices, faziam muito pouco em oposição.
A cultura negra é milenar e, embora não tenha a tradição de registro escrito, mantém uma fantástica história transmitida oralmente por seus seguidores. Desfazer o sincretismo é problema para muitas décadas, mas o importante é que possamos nos respeitar e que cada um: católico, evangélico, umbandista, espírita, quando fizer a sua opção o faça com plena consciência e que seja um bom católico, um bom evangélico, um bom umbandista ou um bom espírita, sem fazer um buffet de religião.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Voltando

Olá, amigos, estou voltando depois das férias. Pretendo postar pequenas reflexões todos os dias, assim como poemas e pequenos contos. Peço comentários e críticas. Grande abraço.

Cuidar de um idoso

Três são, normalmente, os assuntos de que trato em meus artigos: educação, religião e idosos. Minhas recentes férias foram exatamente para acompanhar meus pais, já com 85 anos, que estão, agora, já não brigando com os medicamentos, mas com o calor excessivo que dificulta praticamente tudo. As conversas, obviamente, tratam de saúde, receitas, pacientes e, em extremo, daqueles que já partiram.
Histórias não faltam, a respeito de tratamentos, mas também dos que acompanham e, querendo ou não, enfrentam uma experiência que desnuda preconceitos e redireciona conceitos e convicções. Não se sai impune de um tratamento, pois, além do aprendizado das receitas e das malandragens dos pacientes, há momentos em que o melhor remédio é um olhar prolongado, uma palavra amiga, ou o carinho de um afago ou de um beijo.
São casos difíceis, mas me chamou a atenção o que contou uma amiga, segunda a qual todos os filhos trabalham e, um dia, quando voltou para casa, a mãe disse que gostaria de pagar um salário para que um dos filhos pudesse lhe fazer companhia! Doeu profundamente pensar que a mãe, para quem julgavam dar toda a atenção possível, se sentia sozinha e fragilizada, pois não tinha mais tempo com um dos filhos!
Não discuto a questão dos filhos que optam pelo tratamento em clínicas geriátricas. Mas não concordo. A única exceção é dos casos em que a demência atingiu um patamar irreversível e a pessoa não reconhece mais seus entes queridos. Nos demais, apenas atendemos aos chamados de uma sociedade do prazer, que nos diz que o idoso atrapalha e não nos permite deter todo o tempo que gostaríamos para nós mesmos.
Brinquei, em muitas palestras, que eu era um “explorador da terceira idade”, pois me aproveitava da convivência com meus pais. No entanto, a experiência dos últimos anos é que, embora tenha tido que abrir mão de muitas coisas, não trocaria pelo tempo que passei com eles! Não sou o filho perfeito, mas quero que, quando partirem, seja serenamente e que eu possa pensar: fizemos o possível! Meu tempo foi bem empregado e resta uma vida a ser vivida com o sentimento do dever cumprido.