sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Uma criança na escada

O olhar de uma criança.
O olhar de uma criança que tenta subir uma escada.
O olhar de uma criança que tenta subir uma escada,
sorrindo e pedindo cumplicidade.

Não é apenas uma sorriso.
É um desafio:
Para quem acompanha: "quer ver como eu vou?"
Para si própria: "o degrau é maior do que eu mesma!"

Entre o colo, engatinhar, dar os primeiros passos,
há momentos que são únicos.
A inocência nas provocações,
As sonoras risadas,
A convulsão pelas cócegas,
A ternura da "tartaruguinha" que se arqueia
ao dormir.

Classificar? Porquê?
Apenas curtir e viver.
Depois, há muito tempo para lembrar.
E lembrar faz parte do tempo em que se vive
alimentado por cada minuto daquele tempo gasto
em apenas estar junto, acolher, amar e ser amado.
(Caro leitor, isto é poesia?)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Esperança sem fronteiras

Semana passada, alguém postou no Facebook a foto de uma criança negra. Seu olhar era tristonho e sem vida. De alguma forma, a sociedade – não importa se pais, vizinhos, comunidade, governo – roubou-lhe a alma, tirou a alegria que somente os olhos podem expressar.
Lembrei-me, de imediato, de um vídeo numa televisão a cabo – a Globo News – onde a organização Médicos Sem Fronteiras mostra o atendimento que faz a crianças em países pobres das Américas, África e Ásia. A luta é desigual. As forças do poder econômico que sugam a vida em seus elementos matérias – especialmente o extrativismo de recursos minerais - vão deixando para trás um contingente de famintos e rejeitados.
São mais de 28 mil voluntários que aguentam, no osso do peito, lidar com crianças que – mestiças, negras, asiáticas – olham para eles como se fossem o último fio de esperança que encontram entre os homens.
Algumas cenas são chocantes: os mutilados de guerra, os deprimidos pela fome, os que sofrem com a violência. Em alguns casos, o olhar dos médicos é carregado pela dor e sofrimento solidário. A dor própria que extravasam quando estão sozinhos. No entanto, de um lado ao outro do Mundo, há aqueles que transmitem mensagens e procuram dar ânimo e coragem com uma frase lapidar: “aguente firme”!


Confesso que, há muito tempo, não me emocionava com algo tão tocante: jovens vindos do primeiro Mundo imergem na realidade daquilo que seus países causaram ou, ao menos, não foram capazes de minimizar. Sentem que, entre seus grandes centros de tratamentos com todos os recursos e o que enfrentam, na precariedade e improviso, há um oceano de distanciamento.
Converso com jovens e falo das empresas que procuram pessoas já envolvidas em trabalhos voluntários, pois, enquanto houver jovens capazes de devolver a alegria ao olhar de uma criança, também se pode ter uma perspectiva positiva. Afinal, o que alimenta nossa esperança é que o sonho armazena uma semente de realidade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Terapia do elogio

Recebido da amiga Raquel Bierhals, tendo como autoria Arthur Nogueira - Psicólogo.

Renomados terapeutas que trabalham com famílias, divulgaram uma recente pesquisa onde se nota que os membros das famílias brasileiras estão cada vez mais frios: não existe mais carinho, não valorizam mais as qualidades, só se ouvem críticas.
As pessoas estão cada vez mais intolerantes e se desgastam valorizando os defeitos dos outros. Por isso, os relacionamentos de hoje não duram.
A ausência de elogio está cada vez mais presente nas famílias de média e alta renda.
Não vemos mais homens elogiando suas mulheres ou vice-versa, não vemos chefes elogiando o trabalho de seus subordinados... Não vemos mais pais e filhos se elogiando, amigos...etc.
Só vemos pessoas fúteis valorizando artistas, cantores... Pessoas que usam a imagem para ganhar dinheiro e que, por consequência, são pessoas que tem a obrigação de cuidar do corpo, do rosto.
Essa ausência de elogio tem afetado muito as famílias. A falta de diálogo em seus lares, o excesso de orgulho impede que as pessoas digam o que sentem e levam essa carência para dentro dos consultórios.
Vamos começar a valorizar nossas famílias, amigos, alunos, subordinados. Vamos elogiar o bom profissional, a boa atitude, a ética, a beleza de nossos parceiros ou nossas parceiras, o comportamento de nossos filhos.
Vamos observar o que as pessoas gostam. O bom profissional gosta de ser reconhecido, o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe gostam de ser reconhecidos, o bom amigo quer se sentir querido, a boa dona de casa valorizada, a mulher que se cuida, o homem que se cuida, enfim vivemos numa sociedade em que um precisa do outro.
É impossível um homem viver sozinho, e os elogios são a motivação na vida de qualquer pessoa. Quantas pessoas você poderá fazer felizes hoje elogiando de alguma forma?


terça-feira, 28 de agosto de 2012

A síndrome da Avenca

Quem pôde passear pela encosta de um morro, por caminhos ou estradas de chão, em direção a uma sanga, sabe o quanto é prazeroso andar por sobre as pedras, ou com a água pelas canelas, sentar numa encosta e aproveitar o verde da mata e o canto de pássaros que se perdem na distância. Neste clima privilegiado pela luminosidade difusa e a umidade ideal desenvolvem-se samambaias e surgem, também, as Avencas.
Depois de viverem em paz na natureza, foram transformadas em plantas ornamentais, transferindo-se para jardins e interiores das casas. Certamente, uma das frases mais populares entre aqueles que lidam com este vegetal é: “frágil como uma Avenca”. Nem vento demais, nem ar de menos; nem sol demais, também nada de escuridão absoluta; nem excesso de água, ou a aridez do seu abandono.
No conhecimento popular, é uma espécie de “afastadora de maus olhados”. Dizem até, a boca pequena, é capaz de absorver energia negativa, podendo murchar se houver alguém invejoso na área. Pois é aí que inicia minha história: uma amiga contou que, ao ganhar uma muda, também recebeu a recomendação de que, se passasse por algum momento difícil, não se preocupasse com os transtornos que causaria à planta.
Descrente, plantou-a com todas as recomendações de jardinagem, mas esqueceu dos avisos. Algum tempo depois, quando passou por um processo de investigação de câncer, veio a comprovação: a planta passou a sofrer com ela. Primeiro, as folhas secaram. Ao recebeu a comprovação de que era benigno, sujeito a tratamento, começou a refazer sua própria vida, assim como a encontrar os novos brotos na Avenca!


Tenho duas mudas: ganhei uma e a outra nasceu num vaso de flor. Hoje, vejo-me na dúvida, pois uma está em seu apogeu, exalando vitalidade, com muitos brotos novos. A outra, no entanto, desfaleceu e está completamente podada. Um pouco é este tempo maluco em que tivemos uma Primavera antecipada em pleno Inverno. Se não for assim, vou ter que consultar um especialista em Avencas para saber como tratar dos seus e meus humores: quem sabe está nascendo aí a síndrome da Avenca.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

BR 116, novos caminhos, novos rumos

Esta segunda-feira - 20 de agosto - é um dia importante e há muito sonhado pela Região Sul do Estado: foi assinada a autorização para que seja iniciada a duplicação da BR 116 e o contorno de Pelotas. Pelotas é o entroncamento de cinco BRs: 116, vindo de Porto Alegre e Jaguarão; 392, vinda de Canguçu e Rio Grande; 293, vinda de Bagé.
A duplicação da 392 em direção a Rio Grande já não era nem mais um sonho, mas um pesadelo: o alto tráfego do que chegava de todas as regiões em direção ao Super Porto, formava um gargalo em Pelotas e, a partir daqui, era um Deus nos acuda.
Possivelmente pronta até o ano que vem, já minimiza os problemas enfrentados por caminhoneiros, prestadores de serviços ou aqueles que querem circular pela região. Acredita-se que as cruzes que marcam os inúmeros acidentes à beira da estrada diminuam.
A ligação com Porto Alegre começa a ajudar na solução de um problema que exige mais audácia das autoridades públicas: a utilização de ferrovias e hidrovias.
Na verdade, este é o momento para que a região se una. Puxar a brasa para o assado de cada município é pequenez de inteligência. Pelotas depende de Rio Grande e vice-versa, assim como os demais municípios dependem destes dois para se fortalecerem na produção industrial e prestação de serviços.
Bons ares, novos momentos. Agora, precisamos, também renovar nossos empresários e políticos para que tenham coragem de deixar a pobreza por uma mudança estrutural que somente poderá ser atrasada por mentalidades retrógradas e acomodadas.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Pai meu, que estás nos céus...

Quando se aproxima o Dia dos Pais - próximo domingo - não há como esquecer do seu Manoel, meu pai - assim como da Leonice, do Cláudio e da Loci. Hoje, ele convive com o Cláudio e a Loci, que também já partiram. Deixou-nos saudades.
Durante o tempo em que viveu com um câncer, não perdia o bom humor e, mesmo que estivéssemos cansados - assim como ele - não perdia o momento para uma frase engraçada, uma brincadeira, ou um olhar carinhoso para a esposa, dona França, seus filhos e netos.
Completou a terceira série primária, mas tinha por missão que gostaria de "dar estudo" para os filhos. Entendia que o agricultor que veio do interior de Canguçu, praticamente corrido pela fome, e que se transformou em dono de armazém na periferia de Pelotas, não tinha como deixar bens ou grandes recursos para os filhos. Mas queria deixar algo que fosse maior ainda: uma formação profissional.
Hoje, quando ouço tantos pais que se omitem, ou outros que querem apenas ser "amigos" dos filhos, acho que faltam parâmetros, porque também isto é ser pai. Mas é preciso mais: um pai se transforma em educador, aquele que repassa valores, e uma referência, aquele que vive estes mesmos valores.
Claro que ninguém é perfeito e pode-se errar, até tentando acertar. Mas, o importante, é que se tenha um rumo, uma meta, um destino. Sabendo que se quer fazer do filho um ser humano capaz de sonhar, conviver em sociedade e buscar um mundo novo. Gostei da frase que partilhei no Facebook: "o mundo que deixaremos para nossos filhos, depende dos filhos que deixaremos para nesse mundo".

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Dia do pedestre

Um dia para lembrar de todos nós. Porque todos somos pedestres, antes, mesmo de sermos motoristas, por exemplo. Pena é que estejamos esquecendo disto. A preferência passou a ser pelos veículos de locomoção, transformando estradas intermunicipais e mesmo as ruas da malha urbana em autêntico caos.
Pelotas, por exemplo, é uma cidade plana. Esta fator deveria fazer com que se desse valor aos passeios públicos para pedestres e bicicletas. Não é o que acontece: o leito das ruas é alargado e, cada vez mais, pedestres e ciclistas tem que lutar pela própria sobrevivência.
Para quem acha que é exagero, tente atravessar uma das grandes avenidas, mesmo onde há faixa para pedestre, acreditando no respeito aos seus direitos. Possivelmente, não chegará ao outro lado, porque se uns param, outros ainda ficam incomodados pela "impertinência" de quem se atravessou em sua frente.
Dia destes, na rua General Osório, via um senhor que mostrava aos motoristas que, ali onde ele estava, havia uma faixa para pedestres. Nenhum parou.
Gosto muito da expressão "mobilidade urbana". Mas, creio, ela ficou restrita à máquina e não ao ser humano. No dia do pedestre, um alerta e a necessidade de conscientização: valorizar quem anda pelas ruas - ou pedala - é dar maior qualidade de vida à própria sociedade.

Manoel Jesus no Facebook

Estou compartilhando mensagens e postando textos no facebook. Acessem com "Manoel Jesus". Tem sido bem legal de fazer uma nova leitura desta rede social.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Reformatando os próprios pais


As imagens eram de uma escolinha para crianças da classe média baixa. Depois de atividades físicas e lúdicas, um tempo para o descanso e, na sequência, cada um pegava um cesto, recolhia seus brinquedos e objetos e guardava num armário. Feito com calma e alegria, era algo já assumido como parte de sua rotina, fazia parte da disciplina com que se acostumaram, pois a escola faz questão de salientar em seus objetivos a construção do caráter do indivíduo, assumindo, desde cedo, valores humanísticos.
O fato me lembrou um pai que dizia, num encontro, que escolhera a escola mais cara para o seu padrão “porque tinha um estudo mais puxado”, que não encontrara nas escolas públicas por onde seu filho tinha passado. Também recordei a ocasião em que um palestrante dizia que brincar era uma das coisas mais sérias que existia no universo da criança em formação, especialmente de valores e respeito pelo outro.
Antenei meus ouvidos e explicava que o responsável que acompanha brincadeiras infantis e permite que as regras do jogo sejam burladas, muitas vezes por impertinência ou teimosia, está “ensinando” que nas demais relações a criança também poderá fazer o mesmo e se sair bem. Literalmente, está desconstruindo a chance de um bom caráter.
Pelo Facebook recebi uma mensagem interessante: dois desenhos semelhantes. No primeiro, parecendo de 30 anos ou mais passados, a criança estava cabisbaixa, os pais em pé ao lado da mesa da professora sentada. Olhavam para a criança e diziam: “porque fizestes isto?”. A segunda, com os mesmos personagens, apenas que a criança com olhar matreiro e os pais olhando para a professora, diziam: “porque fizestes isto?”
Infelizmente, os papeis foram invertidos. Hoje, em muitos casos, os pais acham que a tarefa de educar não lhes pertence e pagam para alguém fazê-lo: babás, escolinhas, grupos de recreação etc. Esquecem que educação é formação de caráter, algo que se dá da gestação à morte. Mas que tem momento fundamental nos seus primeiros anos, ao lado dos pais. Repensar o ensino inicial são favas contadas para não perdermos as futuras gerações. Quem sabe não iniciamos “reformatando” os próprios pais?

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Câncer, quando se encontra razão para viver

Hoje recebi uma mensagem pelo facebook falando a respeito do aniversário de 11 anos de falecimento de um filho. Para marcar a data pediam que pessoas partilhassem de experiências vividas pela perda de um ente querido ou a superação de um câncer.
Minha família esteve envolvida nas duas: hoje, vencemos, quando resultados de exames mostraram que o material coletado de um ente querido era benigno. Em momentos difíceis como os que estamos vivendo agora com minha mãe - 87 anos, debilitada fisicamente - teríamos que passar por todo um calvário que enfrentamos durante quase um ano, até março do ano passado, quando meu pai faleceu.
Lembrando, agora, com algumas feridas cicatrizadas e outras ainda sendo tratadas, fica o sentimento de que, quando da partida, viramos quase zumbis: não sabíamos bem o que fazer, porque conviver com a doença e alcançar forças havia se tornado parte das nossas vidas. Ficamos reféns do câncer.
O impressionante é que mesmo que nos preparemos para envelhecer, o que é natural, porque isto começa a acontecer quando nascemos, não conseguimos nos preparar para a perda dos mais próximos: buscamos um olhar, um sorriso, uma palavra sussurrada ou apenas, no sono, o arfar de uma respiração.
O câncer hoje já começa a não assustar tanto. No entanto, há um longo caminho a ser percorrido. Nele, muitos ainda vão ficar para trás, e, nas salas de tratamento, encontramos crianças, jovens e idoso precisando de consolo e de afeto, marcando presença e, na própria debilidade, encontrando uma razão para viver.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Idoso e família

Com o título "O idoso e a família, a solução está no afeto", volto, nesta quinta (02), ao Serviço Social do Comércio - SESC - na Gonçalves Chaves, 914, a partir das 14h30min Trabalha com aspectos motivacionais, buscando fazer com que o idoso identifique e conquiste o seu espaço de convívio social.
Depois de ter passado por uma graduação em Comunicação, especialização em Educação e mestrados em Desenvolvimento Social e Letras, achei que meu processo de aprendizado havia acabado. Ledo engano. Os três últimos anos me fizeram especialista, mestre, doutor e pós-doutorado em.... envelhecimento!
Fui privilegiado, durante muito tempo, pois pude ser um "explorador da terceira idade". Me explico, além de conviver na casa com meus pais, também tinha o privilégio de conviver em momentos íntimos, como o chimarrão das 10 horas, as viagens, os encontros com a filha Leonice, netos e bisnetos.
Nos últimos anos, com a morte do pai, depois de quase um ano convivendo com um câncer, além de ter a mãe, com 87 anos, com altos e baixos, vive-se cada momento como se fosse único: em épocas de baixa, como agora, por uma caída no banho e minha ausência durante algum tempo, além de uma diarreia, pequenos gestos, como um sorriso, compensam.
O que aprendi é que as pessoas idosas passam a ser carentes, necessitando de presença daqueles com os quais se referenciam. No mais, é muito, mas muito mesmo, carinho: beijos, carícias, olhares, acrescentam tempo de vida preciosos, nos quais fazermos "poupanças" que nenhum dinheiro é capaz de pagar.