segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Confissões de Ano Novo

Uma amiga contou que a mãe ficou espantada quando um padre disse na celebração de Natal que ficara preocupado com a pompa e demonstração de poder que a Missa do Galo, transmitida desde o Vaticano, oferecera ao Mundo. Tive impressão semelhante, pois acentuou uma das três crises que vivo: não preciso de uma religiosidade de príncipes e ostentação, mas de pastores dispostos a buscar ovelhas perdidas e dar a vida por elas (quantos fazem isto, hoje?); menos espaços grandiosos e relíquias históricas e mais lugares onde se compartilhe a fé.
Não preciso de uma educação onde autoridades têm facilidade em apontar defeitos, mas são incapazes de auxiliar na retomada de um caminho. Sei das minhas imperfeições enquanto professor, o quanto renderia mais se a discussão centralizasse em propostas pedagógicas e educacionais e menos de questões administrativas e profissionais.
Acompanhando duas pessoas com 85 anos – uma vencendo um câncer e suas consequências e a outra as mazelas típicas da idade – acabei centrado no meu mundo e ausentando-me do convívio com amigos. Preciso recuperar aqueles dos quais me afastei e fazer novos amigos. Nas minhas relações, quero falar de problemas, mas que seja de menos e que haja mais tempo para as pequenas conquistas, alegrias, sorrisos e abraços: os meus problemas são quase nada diante daquilo que outros enfrentam.
Preciso me reinventar em nível religioso, profissional e pessoal. Embora, aos 55 anos, já ache que mais do que falar ou escrever, deveria descascar batatas e ajudar na limpeza de alguma instituição, não posso me omitir de dizer coisas que auxiliem na reflexão pessoal ou de grupos de algumas pessoas.
Gostaria de ser um bom cristão, um bom professor, um bom amigo. Creio que ainda existe tempo de reinventar a minha caminhada. Quero uma chance de 2011, dos meus alunos, dos meus colegas de trabalho, daqueles com os quais já não convivo na minha igreja, e daqueles dos quais sinto falta porque sempre foram as mãos estendidas para levantar de todos os tropeços: os meus amigos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O ardor da paz e da esperança

Um filme de final de ano dos Estúdios Disney tinha por título “O Espírito Natalino”. Por uma série de motivos, ele estava desaparecendo e precisava de pessoas que nele acreditassem para sobreviver e ser fortificado. Mais ainda: corações puros, que se surpreendessem diante do encantamento e da magia que é a revelação de Natal.
Hoje, numa sociedade dita científica, a fé está em baixa, fazendo-se questão de que as crianças percam, o mais cedo possível, a ideia do transcendente, com o signo da razão. Não é à toa que, desta forma, a religião tenha problemas e lute, desesperadamente, contra a correnteza, tentando mostrar que, sem fé, a vida perde muito da sua razão.
O anúncio de que o menino Jesus chegava foi dado por anjos que entoavam: “paz na Terra aos homens de boa vontade”. Não nomearam nenhuma religião, mas que, em todas elas, “homens de boa vontade” poderiam fazer a grande diferença entre construir uma sociedade amarga – limitada a um período de vida - ou um tempo de esperança, baseado na mensagem daquele que centrou toda a sua pregação numa única frase: “amai-vos uns aos outros!”
A mãe que colocou apenas a imagem do Menino ao pé da árvore de Natal teve que explicar ao filho que este era o personagem maior e não o Papai Noel. Talvez estejamos precisando gastar tempo com as crianças, explicando-lhes o fundamento das nossas crenças, fazendo a diferença num período da História em que se cresce tangenciado pela desesperança.
Natal é ocasião de surpreender e encantar. Se for o caso, não fique envergonhado de fazer uma prece. Sendo cristão, olhe para o Deus menino e peça que ele aqueça o seu coração. Não o sendo, saiba que há uma força superior que olha por todos os “homens de boa vontade”.
Que sejas um deles e sintas o ardor da paz e da esperança invadindo o teu coração, olhando para o futuro como uma criança: serena e feliz porque segura a mão do pai ou da mãe e sente a energia de viver e fortificar o espírito natalino. Feliz Natal!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A transparência opaca

Periodicamente, um termo ganha a preferência nacional e passa a ser repetido como refrão de posicionamento politicamente correto. Até pouco tempo era “cidadania”, cantado em versos e prosa, tornou-se lugar comum para aqueles que não tinham nada a dizer, mas que viam na palavra a força simbólica de um discurso. Recentemente, a bola da vez passou a ser “transparência”, que rondou a campanha eleitoral e saiu chamuscada porque certos políticos de carreira são capazes de driblar as instâncias fiscalizadoras para manter suas regalias.
Tudo a ver com o pânico que tomou conta da política internacional quando um site - cablegate.wikileaks.org – resolveu tornar público o que por si só já deveria sê-lo: documentos das relações entre países. Políticos de primeiro escalação que apregoam a “transparência” viram-se nus diante da opinião pública, resmungaram discursos que não convenceram e, então, partiram para a censura explícita, tirando o site do ar, através dos servidores que o abrigavam nos Estados Unidos e na Europa.
Mas o estrago já estava feito: pudemos tomar conhecimento de artimanhas diplomáticas e atitudes não tão dignas assim de figuras brasileiras e internacionais, mostrando suas garras afiadas no momento de calar quem faz o que deveria ser natural na democracia: socializa o conhecimento da forma como é feita a administração pública. Muitos dos ditadores de plantão – ainda são muitos ao redor do Mundo – seguidamente denunciam que são acusados de crimes que os países ricos também cometem, mas que o fazem sob o lustro da “democracia”, muitas vezes sem que a população tome conhecimento.
Agora, o fundador do site Wikileaks, Julian Assange, é ameaçado de ser preso e está constantemente se deslocando em território europeu. Dizem que, na guerra, a primeira derrotada é sempre a verdade. Parece que nos interesses financeiros e políticos internacionais vale o mesmo: a verdade somente vale se confirma certos interesses. Pode ter certeza, não são os seus ou os meus, mas daqueles que já se julgam impunes, pois apregoam a sua “verdade”, uma transparência opaca.