domingo, 19 de fevereiro de 2012

Almas desencontradas


Relembrando artigos já publicados. Em agosto de 2005, enquanto era apresentada pela Rede Globo a novela Almas Gêmeas
Não me admiro que os antigos defendam a ideia de que assuntos como religião, futebol, política e mulher (elas dirão: homem) não devem ser discutidos em grupos de amigos. É um bom motivo para o início de uma confusão. Mas não posso deixar de escrever sobre a novela que está no ar às 18 horas, tratando um dos aspectos ligados ao Espiritismo, que é a reencarnação.
Minha intenção não é falar a respeito deste tema especificamente, até porque, do que ouvi, os próprios espíritas não estariam lá muito contentes com este retalho do seu credo filosófico, feito mais para criar uma situação sentimental (sentimentalóide?) do que esclarecer seus princípios.
Minha questão é outra. O contraponto a esta pretensa pregação é a Igreja Católica, com elementos não de sua doutrina, mas do uso de seus espaços físicos, antro onde todas as ações do mal são articuladas. Vai haver uma negociata? É iniciada na igreja. Vai haver uma traição? Foi acertada na igreja. Vai se passar alguém para trás? É na igreja que se amarra a forma de fazê-lo.
Quando vejo as damas e cavalheiros ajoelhados em suas tramóias, fico pensando se os próprios santos não teriam vontade de descer de seus pedestais e esbofetear solenemente aqueles sacrílegos.
Creio que os autores e diretores têm todo o direito de tomar elementos da realidade – inclusive religiosa – para serem discutidos nas novelas. O que não têm direito é de fazer proselitismo de uma religião ou filosofia em demérito de outra.
Sei de todos os pecados que nós Católicos, Apostólicos, Romanos acumulamos ao longo da história. Mas daí a fazer uma leitura atravessada e mal intencionada vai uma grande diferença. Os espaços de manifestação religiosa – sejam templos, sinagogas, terreiros, salas de reuniões de determinadas filosofias – precisam ser respeitados e salvaguardados.
O imperativo no convívio das diferenças é, exatamente, o respeito. Este não se manifesta apenas quando o defendemos em tese, mas em situações em que, na prática, evitamos divulgar conceitos, insuflar pessoas. Especialmente as mais simples, que já vivem num mundo bem difícil para que coloquemos em dúvida o pouco arrimo que ainda têm: a própria fé.

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