sábado, 30 de maio de 2009

O sentido da própria vida

Ele, um amigo de longa data; ela, quase irmã de toda a vida. Ele, capaz de transmitir paz e tranquilidade em situações de trabalho, ou no convívio de família, mesmo em momentos conturbados; ela, a segurança e a certeza de braços amigos recebendo em situações difíceis, nos retornos e nas despedidas. Em ambos os casos, algo em comum: a luta pela vida, superar o que o corpo acabou aprontando como uma traição a muitas esperanças - o surgimento e o desenvolvimento de um câncer.
Quando os ouço falar a respeito do que estão enfrentando, tenho uma certeza: amam a vida, não temem a morte, mas não querem morrer! Com toda a tenacidade possível, querem dar outro sentido àquilo que entenderam como missão: deixam de lado o próprio sofrimento, porque sabem que existe algo maior no que fazem por suas famílias, na interação com os amigos ou mesmo no papel que ocupam na vivência em sociedade e na fé.
Ele, embora receoso do que pode lhe reservar o futuro, cuida dos filhos e levou a filha ao altar, com um olhar de esperança e de dignidade que parecia superar aquele momento fugaz para se tornar uma intenção de futuro. Ela, acompanha o filho com Síndrome de Down e tenta fazer com que ele não desanime e não tenha preocupações com a sua doença - acabou doando cada momento do seu dia a dia para dar sentido àquele que restou como sua companhia.
Fico olhando para as pessoas que reclamam de tudo aquilo que a vida lhes dá: porque perderam cabelos, porque tiveram alguém afastado, porque não receberam o que julgavam ser a devida atenção. Em suma, orbitam em torno do próprio umbigo. E vejo que meus amigos qualificam o tempo que têm de vida exatamente por este motivo: foram capazes de ver que a vida se constrói quando nos esquecemos de nós mesmos!
Esta não é a pretensão de uma homenagem. Eles não precisam. Esta é uma lição de que, em qualquer momento, em qualquer idade, a vida perde o sentido quando fica restrita a atender as nossas exigências e caprichos. Mesmo o sentido da fé está em deixarmos de pedir, para podermos agradecer; em deixar de rezar por si mesmo, para rezar pelo outro; em não querer um deus serviçal, para entender a beleza do Deus que nos alcança a sua própria graça!
Sou grato por meus amigos. Talvez não tenha com eles o convívio e o carinho que merecem, mas rezo para que eu também possa entender o sentido dado por Deus às suas próprias vidas, que supera o meu entendimento, mas que precisa ser entendido numa perspectiva de fé.

domingo, 24 de maio de 2009

O diploma de jornalista

O Poder Judiciário julgará a necessidade de diploma para o exercício do Jornalismo. Aqueles que são contra argumentam que, ao se limitar o direito apenas àqueles que obtêm curso superior, está se “restringindo a liberdade de expressão”. De tudo o que tenho ouvido, fica claro que existem interesses no mínimo escusos para tal defesa. A quem interessa o aviltamento de um setor tão importante na atualidade, capaz de fazer denúncias no quarto mundo (nosso caso), com os “castelos” e benefícios parlamentares, assim como no primeiro (Inglaterra), onde o jornalismo desnudou as entranhas do Parlamento?
Embora não possamos dizer que temos uma formação por excelência (mas que habilitação a tem?), sabemos que é melhor ter um profissional formado, do que alguém que pura e simplesmente faz um bico em jornalismo vindo das mais diferentes áreas, como o era antigamente, quando escritores, professores, advogados, das áreas de humanas ou sociais, completavam seus vencimentos escrevendo para os jornais.
Alerto que outras profissões poderão correr perigo: se advogados podem atuar como jornalistas, porque é eu não posso advogar? Tenho um bom raciocínio, sei formular claramente minha argumentação, saberia fazer uma boa defesa diante de um júri. Então, porque não posso advogar? Outra: Se tenho boa argumentação, sei dar bons conselhos, tenho sensibilidade para entender as mazelas e os sofrimentos da raça humana, porque não posso ser psicólogo? O raciocínio é o mesmo, assim como para diversas outras áreas.
Esta é uma questão séria, numa sociedade que está com pouco mais de vinte anos de democracia. E, na situação atual, com tantos desmandos e escândalos, com a população partindo para a indiferença, somente os meios de comunicação – dos grandes aos nanicos – conseguem balançar com as consciências. Sendo assim, argumentar que a profissão já é exercida livremente nos Estados Unidos e Europa é meia verdade. Lá, os conselhos e sindicatos são fortes o suficiente para impedir que pessoas desqualificadas ocupem postos jornalísticos.
Precisamos que o Poder Judiciário reconheça o direito de exercício de uma profissão que deseja manter a dignidade e exercer um papel fundamental na atualidade: em nome dos cidadãos, fiscalizar o estado e mostrar as suas entranhas, quando necessário. Talvez esteja exatamente aí o problema. Se for assim, é hora da sociedade se mobilizar, porque ela também corre perigo.

domingo, 17 de maio de 2009

A hemorragia da vida

No próximo domingo, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Comunicações. O papa Bento XVI publicou mensagem que deve repercutir por todas as dioceses, inclusive no Estado. Embora pareça uma preocupação técnica, questiona sua influência e capacidade de transformar a sociedade. Na verdade, a igreja começa – já não era sem tempo – a preocupar-se com um elemento que merece especial atenção, também com a forma como a mídia trata: a família.
Dias atrás, recebi a carta de um médico. Manifestava interesse por aquilo que eu havia falado sobre família, igreja e educação. Contava sua experiência com mães e crianças de periferia, onde a falta de conhecimento, estrutura e condições, tornavam tudo mais difícil, muitas vezes brutalizando o processo de gestação e do nascimento. Resultado: pais despreparados e incapazes de assumir responsabilidades e crianças iniciando a trajetória com a amargura de ter o Mundo como abrigo, mas nenhuma família.
No nascedouro da sociedade, já se traça um destino que, depois, fatalmente, será repetido, aprisionando a criança, o jovem, o adulto, nos grilhões que o fazem ser aquilo que talvez não quisesse, mas para o qual não teve alternativa. È neste momento que vejo, como obrigação, a Igreja Católica professar o valor da família. Embora pareça um “profeta que clama no deserto”, é preciso que ela seja um sinal para estes marginalizados sociais de que podem recuperar a sua dignidade. O problema é que recursos, muitas vezes, existem, mas são mal aplicados ou desviados. As instituições que têm o respaldo da sociedade precisam agir para abalar a indiferença de todos nós.
A banalização da pobreza mostra sua cara em cada esquina, hoje, e faz com que protejamos nossos bolsos e bolsas. Mas o acinte de uma sociedade que apresenta luxo e glamour por seus meios de comunicação está provocando uma massa que, se não consegue o seu lugar por direito, vai tentá-lo pela violência. Cobrar, acompanhar e atuar em áreas de risco humano para reverter esta situação é somente o início. Os problemas que temos, hoje, fizeram metástase por todo o organismo social e igualaram diferentes classes sociais – como é o caso das drogas.
É um processo hemorrágico que precisa ser estancado. Talvez até com o esforço para revertermos certos discursos de que a criança tem seus direitos e precisam ser respeitados. Ninguém duvida, somente que, no momento em que acontece o pior, muitas explicações são dadas, mas não recuperam o bem maior, que é a própria vida.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O papel da comunicação

O deputado Sérgio Moraes (PTB) disse que estava “se lixando” para a opinião pública. Foi mais longe: afirmou não estar preocupado com o que a imprensa pudesse dizer a respeito de suas posições, pois os políticos, em muitos casos, eram “perseguidos” pelos meios de comunicação e acabavam se reelegendo. Como quem diz: a população não liga a mínima para o que vocês escrevem! A repercussão foi grande pelo fato em si, já que mostrou desprezo por aquele que é considerado o quarto poder, mas também pela indignação de quem está precisando – e com urgência – pensar o seu próprio papel no atual estágio da sociedade.
O cronista David Coimbra esteve em palestra na Universidade Católica e disse aquilo que depois repediu em jornal: “eu não formo a opinião de ninguém. No máximo, as pessoas dizem que eu disse aquilo que elas já tinham pensado”. Uma brincadeira que também irritou a muitos dos ouvintes, mas que tem um fundo de preocupação exatamente com isto: o papel da imprensa. Este dois fatos receberam o reforço de uma pesquisa feita por uma universidade e veiculada por meios de comunicação de que a nossa história e as nossas origens nos fizeram um povo acomodado e incapaz de indignação. Escancarou a realidade produzida especialmente pelos políticos, com seus escândalos e tentativas de usufruir ilegalmente, ou ao menos imoralmente, de recursos públicos.
Não creio que possamos nos omitir do fato de que formamos a opinião pública. Talvez não tanto quando alguns gostariam, mas há uma reação àquilo que é escrito, ou dito pelo rádio e pela televisão. No entanto, a reação é diferenciada, conforma o nível cultural e de interesse de cada pessoa. Há aqueles que entendem, mesmo, e até reproduzem o dito em seus ambientes; há aqueles que apenas ouvem, acham lógico e interessante, mas não são capazes de reproduzir; e há aqueles que passam batidos. Não era isto o que lhes interessava.
David Coimbra, perguntado por que, num programa de rádio que é ameno e humorístico ao meio-dia, não usava para dar “formação” às pessoas foi bem objetivo: naquele momento as pessoas queriam apenas “amenidades e humor” e não tratar de cosias mais sérias. Tem razão. A facilidade de acesso a emissoras de rádio e televisão, ou de selecionar conteúdos impressos, tornou seletivo aquele que ouve, assiste ou lê. Creio que os “mais sérios” precisam perseguir um objetivo: tornar interessante e oferecer reflexos na própria vida para os temas mais complexos e que permeiam a própria vida.

domingo, 3 de maio de 2009

O milagre e o santo

O professor Rubens Blanck tentou me iniciar na matemática e, consequentemente, na economia. Infelizmente, creio que não aprendi nem uma, nem outra. A primeira até que era razoavelmente inocente e entre fórmulas e sonhos com poesias mantinha-me atento graças à persistência e empenho do mestre. Já na segunda, com o passar dos anos, tive professores e amigos – como o Erli Massaú – que mostravam ser quase uma ciência exata, com um código de conduta capaz de tornar as coisas previsíveis. Sua capacidade de fazer arranjos internacionais sobreviveram e se firmaram como um arrimo do sistema capitalista, respaldando o processo democrático, com suas próprias regras e ditando normas tanto para o giro do capital, quanto para as relações sociais.
Pois foi um baque descobrir que o sistema financeiro internacional adoeceu e precisou abrir mão da sua independência, ficando refém de governos internacionais para sobreviver. Engraçado porque o senhor, como eu, que entende pouco de economia, ouviu dizer que o dinheiro havia sumido e se criara um vácuo por onde ele foi tragado. Desapareceu, como num passe de mágica! Acontece que não há mágica em economia e dinheiro não desaparece, fisicamente, do dia para a noite. O que os cérebros internacionais da economia estavam fazendo era uma “bolha” falsa de recursos que circulavam sem que houvesse respaldo em moeda, ou como se diz nos mercados internacionais – lastro, preferencialmente em ouro.
Isto tem um nome. E bem feio: especulação. Alguns apostaram que fariam fortunas jogando sem dinheiro nas bolsas e em investimentos e deram com a cara na parede. Bem, não é bem assim. Como não adiantava se queixarem ao bispo, foram se queixar aos presidentes, que ficaram com “peninha” por achar que se estes naufragassem na tempestade que se formou nos países do primeiro mundo, o resto da economia seria arrastada por eles. E, novamente, eles saíram ganhando. Passados raios e trovões, os analistas já dizem que os mesmos que negociaram a sua “salvação”, hoje, mostram que lucraram com a crise!
Quem, então, perdeu? Um tostão por seu pensamento. Nós, claro, pois acreditamos em pseudas autoridades financeiras e políticas, sisudas e lustosas, que mostraram ser necessário voltar às aulas do Rubens e do Massaú para não cair em mais um engodo. Se não há milagres em economia, infelizmente, também não há nenhum santo atuando em administração financeira ou especulando na bolsa de valores.