quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tolerância zero

A expressão não é nova, caracterizou um período dos mais difíceis em Nova Iorque, quando seu governo decidiu que era hora de dar um basta à bandidagem que tomava conta das suas ruas: tolerância zero. Significava: nem os pequenos erros - muito menos os grandes - eram tolerados, sem ter a sua consequência.
Recentemente, ouvi um comentarista falando a respeito da questão de álcool e direção, na Espanha, onde qualquer transgressão é punida com cadeia. Quando a ficha caiu, os motoristas viram-se obrigados a se conscientizar e não misturar as duas coisas, baixando, impressionantemente, o número de autuações.
Pois esta semana, a Justiça Esportiva julgou o jogador Bolivar, do Internacional, e resolveu, além da pena convencional, ainda mantê-lo suspenso de jogar enquanto o jogador do Bahia que foi atingido em uma jogada intempestiva, não voltar a jogar.
Alguém chegou a comparar com a Lei de Talião, isto é, "olho por olho, dente por dente". A comparação, embora tenha sido feita de forma depreciativa, tem um quê de verdade. O que assistimos, em muitos casos, não são atitudes esportivas, mas autênticos atos de bandidagem, seguidos pelo erguer de braços, como se dissesse: "não tive nada com isto".
Muitos vão dizer que é exagero, mas se não for criada uma cultura do respeito pela integridade física do outro, muitas desculpas esfarrapadas serão dadas para aqueles que terão suas atividades profissionais suspensas por um ato impensado.
A tolerância zero tem que valer para a área política, esportiva e, mesmo, familiar: achar que um jovem pode fazer tudo o que quer porque está em fase de experimentação, está plantando um caminho quase irreversível. Então, que ao menos se tenha claro as regras, que, se forem afrontadas, reste pagar pelo que foi feito, independente do seu salário, posição social, ou proximidade familiar.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Emergir da solidão

Desculpa se não ouvi tua voz.
Estava mergulhado em meus pensamentos,
afundado em minha dor.
Fizeste-me emergir da solidão
buscando um novo sentido em tua companhia.

Não me deixes.
Posso voltar ao meu silêncio,
mas agora sei que não estarei mais sozinho,
tenho sempre, na tua voz, a esperança de um norte
que me faça voltar para ti.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Traçando o próprio destino


A imagem era patética e, com certeza, não iria dar em boa coisa: primeiro os adolescentes encontraram um sulco na pedra onde colocaram gasolina e fogo, passando de skate por cima. Cansaram e resolveram encharcar também as pernas de um deles com combustível e acender fogo sobre a pedra. Não deu outra, o fogo subiu pelas calças e embora o garoto tentasse de tudo e gritasse “meu Deus, meu Deus”, somente quando caiu e os outros destroçaram a calça foi que conseguiu se safar, com as pernas queimadas.
As igrejas cristãs não acreditam em destino, ao menos não neste que se lêem nas cartas ou se anuncia em horóscopos ou mapas astrais. Acreditam que o próprio homem faz o seu destino, com uma série de fatores que poderiam ser elencados desde a busca por qualidade de vida – alimentação, exercícios físicos e mentais, bons relacionamentos, mas também de encaminhamento da vida, pois o que plantamos em nossa juventude e como adultos, vamos colher em nossa velhice.
Claro que, muitas vezes, temos consciência que estamos plantando o pior – especialmente nos vícios socialmente aceitos, como álcool e fumo – mas há uma dificuldade grande em reverter este caminho. Então, olhamos para o destino que traçamos com a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, acabaremos pagando um preço.
O garoto que procurava adrenalina colocando combustível no chão e nas próprias calças sabia que o acidente era possível. Correu o risco e perdeu. Tomara que a ardência de alguns dias e as marcas que possivelmente ficarão para toda a vida sirvam ao menos de lição. Sempre acreditei que para se aprender não basta ouvir conselhos, em uma ou outra ocasião é preciso bater com a própria cabeça para aprender. Certamente isto também dói na gente quando acompanhamos o processo, porque também aprendemos da forma mais difícil. Este garoto não está apenas aprendendo que não se chama por Deus irresponsavelmente, mas, de alguma forma, está traçando o próprio destino.

domingo, 27 de novembro de 2011

É possível cansar de Deus?

Da série "arquivo", aos domingos apresento textos já publicados. Este é de 10 de dezembro de 2003. Bem oportuno:
Durante muito tempo, tive dificuldade de ouvir, confesso, sem bocejar, uma das mais belas canções: Noite Feliz. Como um burocrata do Senhor, fui ouvindo, repetidamente, a música e a letra. O sentido e o sentimento foram se perdendo, até restar, apenas, um tema de um determinado período do ano, incluído na liturgia.
Ouvir a interpretação do Coral da UFPel, na Catedral do Redentor, foi um sinal de que precisava retomar certos valores, não apenas por eles mesmos, mas por todo o sentido que têm, no envolvimento com as pessoas e a própria comunidade.
Minha desculpa sempre foi no sentido de que o Natal é por demais comercializado e que, da lembrança do Menino, muito pouco, ou quase nada, restou. E ficava apenas um momento triste, uma espécie de deserto espiritual. Era preciso fazer alguma coisa.
Lembrei-me, então, do seu Chico Silva, da antiga Loja A Principal, que perdeu um filho e ia para o trabalho passando as contas de seu terço. E quando não conseguia rezar o pai-nosso, as ave-marias e o glória ao Pai, porque as lágrimas eram mais fortes, conseguia cantarolar uma música: “segura na mão de Deus e vai...”
Este não é o tempo mais fácil. Embora todas as luzes e festas, muitos são aqueles que se deixam vencer pela depressão, o medo de se lançar em uma nova jornada, a frustração por ainda não ter conseguido tudo o que projetou. E, então, é possível cansar de Deus.
Fácil se torna culpá-lo, por tudo o que não conseguimos fazer. “É, Deus bem que poderia ter dado uma força. Não deu. Então paciência”. A fadiga de Deus. Do deus que fizemos à nossa imagem e semelhança. Incapazes de reconhecer nossas limitações e de buscar nossa realização dentro do potencial que temos, não do que desejaríamos ter, ficamos frustrados com o que não veio, esquecendo do muito que a vida já nos deu. Nos dá. E, com certeza, nos dará.
Outros passam a ser os valores. “Negociamos com Deus”. Não deu certo. Hora de encontrarmos outros deuses. Este é um caminho perigoso. Cansados de Deus (ou de nós mesmos?), arrumamos qualquer desculpa para nos negarmos ao silêncio – a única forma de, mesmo num deserto espiritual, voltarmos a vislumbrar a luz.
Pois este é o momento em que se lembra o nascimento do Menino: feche os olhos e ouça seu primeiro choro; os primeiros balbucios, ainda nos braços de Maria. E veja que ele cresce, sob o olhar carinhoso dos pais, até estar preparado para a sua missão.
Você pode – e com razão – dizer que nada disso é com você. Então, você é um privilegiado. Porque uma fé é construída superando dúvidas, aceitando momentos em que as tormentas parecem ser o único horizonte. Superadas estas, ninguém garante que outras dúvidas e outras tempestades não existirão.
Faz parte da doce aventura humana. Nossa realização está em superarmos cada obstáculo: sensibilizados pela fé, Deus se torna novo a cada momento; provocado pelo outro, não há como ter uma visão burocrata da vida, somos desacomodados pelo sentido do existir; e o deserto volta a florir, quando uma chuva de vida passa pelos olhos daqueles que abraçamos neste tempo e que oferecem amor, amizade, parceria. Mas também pedem conforto, solidariedade, carinho.
Feliz Dia do Nascimento do Menino. Esta é a maior bênção deste tempo. Deus lutando para que nos despojemos de tudo, abertos apenas para Ele. Já que, conseqüentemente, também abertos para o mundo. Cansado, é possível. Mas não de Deus.

sábado, 26 de novembro de 2011

O pão com torresmo


Da série "Crônica de uma saudade":
A senhora mostrou dificuldade de continuar andando. O menino percebeu que havia parado e dirigiu-se a ela, boné na mão, jeito sem jeito de falar com um adulto:
- A senhora quer ajuda?
Olhar desconfiado, frio e inseguro:
- Não precisa, minha casa é na outra quadra.
Distância segura, mesmo jeito de quem apenas quer ajudar:
- Deixe que eu a ajude.
- Não vais querer me ajudar, não tenho dinheiro pra te dar.
O olhar foi de sorrateiro a brejeiro:
- Não tem importância.
Andaram juntos por uma quadra, ele carregando a bolsa com as duas mãos. Na porta, a mulher olhou para o menino já com um jeito diferente.
- Realmente, não tenho dinheiro, mas espera aqui.
Depois de algum tempo, voltou para a calçada e entregou algo embrulhado num papel toalha. Foi a vez do garoto olhar desconfiado:
- O que é isto?
Um sorriso aberto iluminando cada uma das dobras de um rosto marcado pelo tempo:
- Pão, pão com torresminho. Fiz hoje pela manhã, tá fresquinho.
O garoto agradeceu e foi em direção da praça. Ali sentou e descobriu um dos lados do pacote, deixando aparecer uma beirada de pão com uma casquinha torrada e um miolo absolutamente tenro.
Mordeu com o respeito de quem pratica um ritual religioso. Olhou em direção à casa da idosa, que, da porta, sorriu e acenou em retribuição. Fizera o que sua mãe sempre lhe dissera que fizesse – ajudar aos outros – e ainda ganhara aquela maravilha! Fechou os olhos e suspirou satisfeito.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O arrogante discurso da simplicidade


A revista Isto É desta semana traz a entrevista do acupunturista Gu Hanghu, que já tratou de diversas figuras da República, em Brasília, entre eles o ex-presidente Lula, assim como a presidente Dilma Rousseff. Simples, falou a respeito do que faz, do que não pode fazer e dos seus sonhos com a profissão que reverencia como se religião fosse.
Em diversos momentos, o entrevistador queria colocar um “pega ratão” (gíria para aquelas perguntas maliciosas que fogem ao assunto focado), mas, com toda a “finesse”, voltava ao tema para o qual tinha concedido a entrevista.
Um homem profundamente conhecedor do seu “metier”, que revelou não cobrar nada da presidente e do ex-presidente, inclusive se deslocando até o Palácio por conta própria, porque achava que era uma contribuição que dava ao país: se a sua liderança maior pudesse relaxar e atuar de forma menos estressada, também estaria contribuído, num tributo à cidadania.
Depois disto, fui até um centro que atende pessoas carentes. Fiquei preocupado com a forma de atuação de algumas pessoas: desatentas, mal informadas, sonegando informações, tratando as pessoas como se estivessem fazendo um imenso favor. Pena, embora falem de simplicidade nos seus discursos, não sabem atender aos simples com o direito que têm.
Confesso que me preocupa quando figuras religiosas se caracterizam como simples e humildes. Um marketing perigoso que, nem sempre, corresponde à realidade: o discurso é vazio e não diz aquilo que é a realidade.
A simplicidade não é uma espécie de vestimenta, mas um estilo de vida. Não significa maior ou menor gasto de dinheiro, mas um comportamento que esquece os primeiros lugares para estar com aqueles que são considerados marginalizados: não se faz diferente, vivendo com eles, mas sabe que este é um caminho a trilhar, com muitos tropeços, mas que exige, sempre, coerência. A não ser assim, esqueça de todo o resto, porque vai parecer que é, apenas, um arrogante discurso da simplicidade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A responsabilidade social de contestar

Os professores ligados ao Estado do Rio Grande do Sul resolveram em assembléia entrar em greve pelo piso salarial da categoria, com outras reivindicações em segundo plano. Contestar é um direito de qualquer categoria, mas também tem que se ver a forma de fazê-lo e, se peitando o "patrão", não acaba sobrando para a parte mais fraca que, neste caso, é o aluno.
Esta greve é uma greve política (óbvio, toda a atividade humana é política), tentando delimitar forças para futuras negociações, mesmo que o governo que hoje ocupa o Palácio Piratini seja o mais próximo possível do espectro ideológico da direção do Centro dos Professores.
Sei que toda a comparação é manca, mas a greve, neste momento, causando tanto prejuízos a todos, menos ao governo, parece com o caso da babá que pede aumento de salário, não consegue, e passa a descuidar da criança sobre a qual tem responsabilidade.
Porque não encontrar novas formas de contestação? Recentemente, duas categorias o fizeram. Os professores da rede privada fizeram uma "greve" no domingo! Queriam mostrar que a carga de trabalho fora da sala de aula é muito alta e que merece atenção. Também a brigada teve manifestações criminosas em que pneus foram queimados, bonecos foram espalhados e até artefatos explosivos estiveram em lugares próximos à sede do governo. Uma, criativa, a outra, de forma bandida, mas diferentes.
Somente no Brasil, dizemos que uma lei não pegou. Também, aqui, temos uma greve furada. Embora o ponto seja cortado para quem fez greve, o gosto de derrota fica para a sociedade que escuta discursos inflamados e "bem intencionados", mas acaba, literalmente, pagando a conta.

domingo, 20 de novembro de 2011

As pegadas de Nossa Senhora

Da série "arquivo", aos domingos vou apresentar textos já publicados. Este é de 12 de novembro de 2003.


Hoje já estamos a uma distância histórica bastante significativa. Em tese, permitiria fazer uma avaliação “mais científica” possível. Mas não é o que acontece na realidade. Cada vez que alguém relembra uma das aparições de Nossa Senhora deixa que seu coração ocupe o lugar da razão e que a emoção diga, não o que viu, mas muito mais o que sentiu naquele momento.

É o pensamento que tenho quando ouço do Túlio Oliver a lembrança do que sua avó contava, agraciando filhos e netos com suas histórias a respeito do que aconteceu em Fátima (Portugal), onde três pequenos pastores viram Nossa Senhora, que lhes contou segredos futuros e, até hoje, mexem com a fantasia e o imaginário das pessoas.

Mas, sabendo que apenas os três pastores viram Maria aparecer sobre os arbustos, então, o que atraiu uma multidão para aquele lugar?

Um detalhe simples e emocionante: embora as pessoas não pudessem ver o que Lúcia, Francisco e Jacinta viam, quando anunciavam: “Ela está chegando!”, um silêncio absoluto tomava conta das milhares de almas que haviam acorrido em busca de uma bênção, de algum consolo por parte da Mãe do Senhor. E, no silêncio, podiam ver que os arbustos afundavam no lugar em que deveriam estar os pés encantados da Senhora.

Esta imagem, de que os arbustos cediam ficou para sempre no coração daquela avó, que desejou passar – e emocionar – netos e filhos com a certeza de que, de Deus, nem tudo é para ser visto. Muito é para ser sentido. É o sentimento que se tem quando, num abraço de despedida, as palavras faltam e um aperto maior diz o não dito: “estou aqui, ao teu lado”. Mulher que silenciosamente acompanhou o filho até vê-lo suspenso na cruz, entre o céu e a terra, numa muda oração.

É algo parecido com o que vemos, hoje, acontecer com o papa João Paulo II. O polonês que mostrou ao mundo disposição para fazer a Igreja reencontrar com seu povo. Tornou-se grande motivador para um novo ânimo, especialmente através do seu exemplo, já que incansável na defesa dos mais pobres e das grandes causas da humanidade.

Tendo cumprido sua missão, marcando a terra como o Papa da Paz, sente-se como alguém que, tendo “lutado o bom combate”, encontra-se na hora de ter a graça de ver o que viram os três pastores. E seguir as pegadas de Nossa Senhora.

sábado, 19 de novembro de 2011

Uma nova aventura

Da série, "Crônica de uma saudade", que pretendo apresentar todos os sábados:


Era apenas uma bicicleta velha encostada num poste, em frente a uma ferragem, deixada por um senhor moreno, já idoso. O garoto, calças curtas, boné jogado de lado, mãos nos bolsos, aproximou-se furtivamente. Espiou para todos os lados possíveis e, não vendo ninguém, tirou-a do lugar, montou e saiu.

Tive vontade de gritar: “ladrão”, mas um sexto sentido me disse para não fazê-lo. Olhar feliz, rosto empinado para o sol, jeito matreiro e realizado, meio atrapalhado pelo peso, custou a se acostumar. Mas, depois, foi só correr para o abraço.

Da minha janela, pude vê-lo circular em torno da praça, em alguns momentos com os braços jogados para o céu, puro prazer e satisfação. Completou duas voltas, sem que ninguém o percebesse. Então, voltou ao lugar de partida e, no mesmo poste, deixou a parceira de alguns minutos.

Saiu andando pela rua, novamente com as mãos nos bolsos, mas agora não estava mais tenso como quando chegou. Havia uma aura de felicidade e um jeito de menino realizado, capaz de concretizar um sonho e de alimentar a esperança de que, amanhã, de novo, a bicicleta estivesse no mesmo lugar, para uma nova aventura.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Jasmim por meus olhos

Um botão de Jasmim está se abrindo.
Por enquanto, é apenas promessa.
Faz-se de rogado e vai estufando o peito,
como quem diz: "me espera"!
Eu só posso contemplá-lo, todos os dias,
e sonhar com o momento em que seu perfume
Vai inebriar o pátio, invadir a casa
e se instalar nos meus sentidos.
Enquanto um se abre, outros acabam se formando,
e a vida segue o ritual da Primavera:
se renova, se refaz, se pronuncia.
Não basta dizer que é uma nova estação,
é preciso sentir que a vida pulsa,
que existem novos cheiros no ar,
que há um sentido diferente inebriando o meu olhar.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lula e Marisa

A imagem que se destaca nos jornais de hoje é a do ex-presidente Lula, em tratamento para combater um câncer, agora sem barba e sem cabelo. Para refrescar a memória, algumas fotos mostram Lula ainda em tempo de sindicalista, com cabelo e barba desgrenhados; já presidente, com um tratamento adequado para a liturgia do cargo; e, agora, a imagem da preocupação com a saúde, tentando vencer uma etapa difícil da vida.
Se para um comum mortal já é difícil superar a dificuldade de perder os cabelos, muito mais difícil para uma figura pública - mesmo que diga o contrário - pois faz parte da indumentária com a qual foi vendida uma imagem.
Uma queda sempre anunciada nesta fase do tratamento, acaba sendo difícil, quando não traumática, pois altera até mesmo aquilo que dá uma certa estabilidade ao olhar para o espelho: a própria imagem. Não é mais a mesma, embora se busque em perucas ou bones uma compensação para aquele figura que, em muitos casos, acaba ficando patética.
Muitos podem dizer que não têm estas vaidades. Têm, sim. Se não a vaidade em excesso, as pequenas vaidades de alguns fios de cabelo que escondem um defeito de orelhas; a tentativa de puxar outros fios sobre o nascedouro de uma careca; ou um corte de cabelo que disfarce as tão malfadadas entradas.
Uma imagem pode ser apenas uma imagem. Mas também pode fazer parte de um todo, onde um acompanhamento médico e afetivo podem fazer a grande diferença. Mais do que um Lula sem cabelos e barba, o que fica é o carinho de sua esposa, dona Marisa, que, neste momento difícil, não deixou que outros cumprissem esta tarefa tão espinhosa: unidos na vida e na morte, preferiu ela mesma fazer do corte de cabelo um belo gesto de amor à vida, que ela compartilha há tanto tempo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

De onde vem a República

Quarta-feira com cara de segunda, depois do feriado da Proclamação da República. Quem conhece a História e se aventura por ela sabe que, como sempre, no Brasil, as coisas nunca acontecem com princípio, meio e fim. Ao que tudo indica, embora os militares e a Maçonaria estivessem tramando a queda do império há muito tempo, havia uma certa estima por Dom Pedro II, um tipo interessante intelectualmente, simpático à população.
Nossa República começou a nascer em 1808, quando a família imperial foi corrida por Napoleão de Portugal e teve que vir para o Brasil. Só então, diferente dos demais países colonizados por espanhóis, tivemos a presença da cultura e de uma política que não fosse apenas estrativista.
Sempre tivemos uma certa tolerância aos desmandos de nossas autoridades, que não vêm de hoje, chegou com dom João VI, passando pelos dom Pedros e chegando ao Lula... Mas esta já é outra história. Para quem interessar possa, aconselho que leia 1808, de Laurentino Gomes. Uma leitura divertida, mesclada por curiosidades e fatos que os livros de História, de alguma forma, esqueceram.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vinícius

Dia de viver uma saudade. No mesmo dia em que minha mana Leonice completa aniversário, também marca o dia em que o Vinícius partiu. 14 anos, cheio de energia, deixou Pelotas para ir com a família para a Serra. Não chegou a Porto Alegre. Um acidente vitimou a ele e a seu irmão Cássio.
Cerca de 20 anos depois, ainda dá um sentimento de frustração, pois ele havia se desentendido com seu pai e disse que ficaria na minha casa. Na véspera me ligou para dizer que tudo estava bem e que iria junto. "Mas que voltaria, nem que fosse em minhas lembranças".
Foi o que nos restou. Nunca tive grandes problemas com a morte. Já convivi com ela quando partiram meus irmãos - Loci e Cláudio - assim como meu pai. Mas a partida do Vinícius deixou um vázio muito grande pelo jeito carinhoso como o adolescente me tratava, ouvindo e sendo ouvido, compartilhando cada coisa nova que a vida lhe oferecia. Era tanta coisa que se lhe apresentava que a vida era um turbilhão de emoções que... um dia ... teve fim prematuramente.
Muitos e muitos anos se passaram, mas a sensação é frustrante de um quase filho ter partido quando havia tanto ainda a ser compartilhado. Nas fotos, nos objetos, nas trocas de saudades com sua mãe, a Jânea, ficou a marca que não se apaga: seu sorriso fácil, seu riso sedutor, seu olhar envolvente não desapareceram, persistem em dizer que a vida continua e que ele fez, faz e sempre fará parte do nosso existir.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Marketing de segurança

Os bolsões de miséria que se tornaram reféns da bandidagem pelo Brasil não são tão incomuns quanto se idealiza imaginar. A retomada da Rochinha – no Rio – é um exemplo do que já poderia ter acontecido e não aconteceu, pela omissão das autoridades públicas. No entanto, o momento, preparatório a dois eventos de nível internacional – Copa do Mundo e Olimpíadas – desencadeou a união de diversas forças policiais para fazerem o que já poderiam e deveriam ter feito.
Em todas as grandes e médias cidades existem problemas semelhantes, com a restrição da entrada de policiamento em determinados horários. A ocupação, com a retomada da segurança, é um dever de quem faz – polícias em todas as instâncias – e um direito daqueles que vivem aos sobressaltos, por não saber se penam mais nas mãos dos bandidos ou da polícia. Imagens de congraçamento entre população e força militar podem ser interessantes para marketing, mas não correspondem à realidade: há um longo caminho a ser percorrido para recuperar um histórico de omissão, ausência e abuso de autoridade, onde vileiros e negros são considerados, em princípio, possíveis delinquentes, até que se prove em contrário.
Uma “autoridade” ouviu uma pesquisa de que mais de 90% da população se sentia sem segurança, contra menos de 10% que se afirmavam seguras. Resolveu dizer uma pérola: “segurança é uma sensação pessoal”. Impressionante! Toda uma quadra que coloca grades, sobrepostas de arame farpado e mais cerca eletrificada, está tendo uma sensação pessoal de segurança!? Os sociólogos têm sido muito claros em afirmar que não basta levar a segurança às diversas comunidades periféricas. Depois disto, é preciso que se confirme outros direitos: saúde, educação, lazer...
Ninguém é contra que se comece a fazer a preparação para eventos esportivos por um “marketing da segurança”. Mas quem sabe estes investimentos possam ser preparados de tal forma que os outros direitos também possam ser respeitado. Mais do que um discurso, a população possa usufruir das sobras destes investimentos tendo um mínimo necessário para retomar a sua dignidade.

domingo, 13 de novembro de 2011

Cúmplice de Deus

Nos últimos encontros com pessoas que me pedem palestra, tenho abordado o que chamou de "Evangelho da Mãe", o livro de São Lucas. Deixo minha imaginação voar e tento entender a forma como construiu um Evangelho tão bonito, com tantos detalhes que somente uma mãe poderia ter a respeito de um filho.
Se é verdade que Jesus passou três anos em pregação, também é verdade que Ele se preparou durante 30 anos! 30 anos bem vividos, junto de uma mãe que tinha na educação e na formação do caráter a sua maior preocupação. Fazendo uma leitura a partir de Augusto Cury, encanta olhar a figura histórica de Jesus, que deve ter passeado ao lado de Nossa Senhora, onde aprende a "olhar os lírios dos campos", ver como ceifavam o trigo, admirar as figueiras, entender como a Natureza dava condições de vida aos animais. Passeios longos, cheios de silêncios contemplativos, de perguntas respondidas, de cumplicidades que respingam por algumas páginas do Evangelho.
Maria era o sinal maior de que o Mistério havia acontecido em suas vidas e devia ensinar: se não fizeres uma experiência de fé diante do Mistério, você vai se frustrar e ser alguém frustrante. A fruta nunca cai muito longe do pé e se a mãe foi capaz de assumir sua missão histórica, o filho, que também era de natureza humana, também não podia frustrar a sua natureza divina.
Jesus somente frustrou àqueles que entendiam a História apenas pela metade. Aprendeu com aquilo que uma educadora do povo podia lhe dar de conhecimento, viveu num momento difícil para uma sociedade cansada pela opressão de Roma, morreu com a esperança de alimentar uma nova visão de Mundo, onde ao invés de Javé, um deus autoridade, passava a valer o Pai, o Deus da ternura e do perdão.
Maria já em idade avençada, deve ter sentado à sombra de uma árvore, com Lucas ao seu lado, em finais de tarde, e contado aquilo que seu coração guardou. Muitos momentos de silêncios, instantes de comoção e o sentimento de que partilhou de algo que nenhum outros ser humano partilhou: não escolheu o seu Deus, mas soube ser cúmplice dele, como ninguém o foi em nenhum outro momento da História.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Uma fezinha na vida

Os números sempre mexeram com as pessoas. Dificilmente encontramos alguém que não tenha um "número de sorte", ou ao menos, um número com o qual "simpatiza". Foi do que lembrei quando começaram a dizer que havia um cruzamento astral interessante pois hoje - 11/11/11 - também teria às 11h11min.
Claro que no próximo ano teremos 12/12/12 - com o horário das 12h12min. Mas é diferente. Os números ímpares são mais atrativos, têm algo de poderoso, quase mágico.
No meu caso, gosto muito dos números 3, 12 e 21. Três, por significar a comunidade perfeita - a Trindade; 12, o número escolhido para serem os acompanhantes de Jesus - 1+2: 3; e o 21 por ser uma espécie de comunidade que criei nos livros "Que seja em nome de Deus" e "Nos Braços do Eterno Descanso" - faltando ainda um para completar a trilogia que só ainda não foi concluído por... relaxamento! (2+1: 3).
Os números acompanham a história, inclusive no jogo do bicho. Quando era criança, meu pai se ofereceu para fazer um jogo para mim. Disse a relação dos bichos e eu escolhi o cachorro. No final da tarde, o bicheiro chegou com o dinheiro que eu tinha ganho, todo feliz, pensando que estaria fazendo uma criança feliz. Fiz a cara maior surpresa possível: eu não queria dinheiro, queria o meu cachorro!
Os números são como muitos dos fetiches que juntamos na vida. Em muitos casos, são que nem as pílulas de placebo (sem nenhum elemento químico a não ser farinha), mas nas quais acreditamos e surtem, de alguma forma, efeito. Se os números não são mágicos, que a vida o seja e faça valer a pena, até, fazer uma fezinha no jogo do bicho!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Voltarás a viver

Uma discussão sempre difícil diz respeito à doação de órgãos. Segui o exemplo do meu pai, que foi um dos primeiros a registrar na carteira de identidade que era doador. Infelizmente, pelo avançado da idade e da doença, não podia se aproveitar os seus órgãos. Também tenho em minha carteira o selo da ADOTE, uma organização de Pelotas para o Mundo em defesa de que não se perca a possibilidade da vida continuar numa outra pessoa.
Mas a conversa em um grupo era a respeito de um rapaz conhecido que sofreu um acidente de moto e que estava em morte cerebral. Se não seria o caso de se alertar para a possibilidade de doação. Uma pessoa, em seguida, disse que não queria ver seus órgãos doados. Mas, refletindo, afirmou que se fosse para auxiliar alguém próximo até que não se oporia, como tem acontecido de familiares doarem um rim e continuarem sua vida normal, também permitido a quem recebeu uma nova vida.
Creio que o mais difícil deste momento é exatamente isto: o momento. Embora todas as crenças e lendas, a maior parte da população já tem alguma consciência do bem que uma doação pode fazer. Acontece que o momento tem todo um significado emocional, difícil de ser superado. Ver um pai ou uma mãe enterrar um filho é contrário à natureza, portanto compreensível que estejam aturdidos, desorientados e incapazes de tomar uma decisão.
Creio que, mais do que os técnicos da área médica, aí está o momento dos familiares e amigos assumirem a dura missão de convencer da doação. Assistindo às matérias que tentam motivar para que isto ocorra, a impressão que fica é de que aquele que aguarda vive em constante agonia, somente querendo o direito de viver a própria vida, desligado de máquinas ou de tratamentos mais prolongados. Quer ver, no horizonte, apenas a esperança de voltar à sua rotina de vida, com um órgão que, de outra forma, será desperdiçado e seguirá o princípio bíblico: "voltarás ao pó". Talvez a própria Bíblia reescrevesse este princípio, de um novo jeito e num novo tempo, defendendo a doação de órgãos: "voltarás a viver!"

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Brincando

Brincando com os dedos que percorrem a areia.
Brincando com o olhar que se distrai no horizonte.
Brincando com o suspiro que teima em sair de meu peito.

Brincando com a Primavera que traz novos cheiros.
Brincando com a terra que se revela em novos frutos.
Brincando com a Natureza que sacode o Inverno e se renova.

Brincando com a vida que se refaz e se entrega.
Brincando com Deus que acalenta tantas esperanças.
Brincando com quem está ao meu lado e dá sentido a cada um dos momentos que vivo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Que droga é a droga!

A manchete de Zero Hora da segunda-feira - 07 de novembro - era o número assustador de municípios aonde o Crack já chegou. Esta droga superou o consumo das demais e faz um rastro de estragos em todos os meios, não deixando escapar desde crianças - especialmente aquelas que estão em situação de risco - até pessoas idosas, com problemas financeiros ou afetivos.
Mas me impressionou um relato que ouvi numa roda de como tinha sido divertido terem dado, durante um almoço de final de semana, um copo de cerveja para uma criança de 9 anos. Havia ficado muito "engraçadinho". Não achei graça nenhuma na história. Infelizmente, muitos de nós já tem problemas no convívio com as chamadas drogas legais - álcool e cigarro, por exemplo - e não nos damos conta de que somos parâmetro e referência para as crianças e jovens. Embora sempre se ache que sabemos quando parar, o mesmo não acontece com a criança que começa cedo a ingerir bebida alcoólica ou a fumar.
Estamos em tempo de dar exemplo. Não adianta querer, depois, acabar com o mal. É muito mais difícil. O melhor, mesmo, é prevenir. Quanto mais distante deixarmos crianças e jovens desta possibilidade, mais chances terão de não ter problemas no futuro.
Afinal, não há expressão mais dolorosa no rosto de uma criança de rua, que fuma uma droga, do que um olhar que não tem esperança e que não vê futuro. Vamos cultivar, então, uma vida diferente para nossos filhos e, se não conseguimos nos afastar das drogas lícitas, ao menos que tenhamos o juízo de afastá-las deles.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Amigo é coisa pra se guardar...

História já conhecida. Mas as grandes verdades valem a pena serem repetidas. Enviada pela mana Leonice.
 Um filho pergunta à mãe:  - Mãe, posso ir ao hospital ver meu amigo? Ele está doente! - Claro, mas o que ele tem?
 
O filho, com a cabeça baixa, diz:  - Tumor no cérebro.   

A mãe,  furiosa, diz: -E você  quer ir lá, para quê? Vê-lo morrer? 
O filho lhe dá as costas e vai...  
Horas depois ele volta vermelho de tanto chorar, dizendo:  
- Ai mãe, foi tão horrível, ele morreu na minha frente! 
A mãe, com raiva:  
- E agora?! Tá feliz?! Valeu a pena ter visto aquela cena?! 
Uma última lágrima cai de seus olhos e, acompanhado de um sorriso, ele diz: 
- Muito, pois cheguei a tempo de vê-lo sorrir e dizer: 
'- EU TINHA CERTEZA QUE VOCÊ VIRIA!'  
Moral da história: a amizade não se resume só em horas  boas, alegria e festa. Amigo é para todas as horas, boas ou ruins, tristes ou alegres. 
CONSERVEM SEUS AMIGOS(a)! PERDOE QUANDO PRECISAR, SEJA FELIZ AO LADO DELES PORQUE O VALOR QUE ELES TÊM NÃO TEM PREÇO...

sábado, 5 de novembro de 2011

Para esculpir um milagre


O titulo era para ser saboreado como se poesia fosse: “Pequena alma terna flutuante”. A história de um homem que colocou nas pedras o grande sentido da sua vida, reconhecendo que esta sua relação apaixonada com a natureza – “o rio salvou minha vida” – não permitiu que o menino que iniciou sua história o abandonasse.
O programa de um canal de televisão - Histórias curtas - trouxe a vida do escultor Bez Batti, 70 anos, que vive no interior de Bento Gonçalves (RS) e tem paixão por pedras de basalto. Lá pelas tantas, diz que a vida inteira correu contra a correnteza, pois o tempo passa muito rápido. Mas o que importa é que, em momento algum, perdeu a sensibilidade de menino, da criança que podia ver para além daquela forma que a natureza lhe deu, aquilo que a mão do homem poderia criar.
Lembrei do texto de Rubem Alves – Educar – em que ele diz: “Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “veja!” – e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente”. O educador fala em “encantar o olhar”, pois o olhar de aprendizado é o olhar de surpresa diante daquilo que se está desvelando. Quem retira uma forma de uma pedra, faz o mesmo de quem garimpa, diariamente, as condições do ensino. È preciso, todos os dias, apontar e fazer com que o mundo daqueles com os quais a gente convive se expanda.
O jeito de quem saiu do interior para mostrar suas pedras transformadas em arte nos principais museus do mundo, mas quer voltar sempre para a sua terra, é o mesmo jeito de quem é um andarilho do Mundo, na busca de realização pessoal. Também daqueles que apontam caminhos, mas que – sempre - querem voltar ao porto seguro da sua terra, do seu canto, onde o convívio, o fazer do dia a dia, servem de alimento para novas jornadas. Esculpir uma pedra - ou auxiliar alguém a esculpir a própria vida - faz parte daquele milagre especial que, todos os dias, encantam nossos olhos e nos surpreendem diante da beleza que é existir.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Uma comunicação para a Teologia

Semana passada com o pessoal da Teologia, em Pelotas, trabalhando a Comunicação, ênfase na Liturgia e nos documentos da Igreja Católica, a respeito. Participação pra lá de especial do professor Silon e da professora Kika, que deram um colorido especial, ao falarem a respeito das relações comunitárias e de uma atuação pautada por atitudes de relações públicas.
Uma marca especial do professor Silon foi ao dizer que "o mensageiro tem que se dar conta de que a mensagem é maior". Um questionamento imperdível num tempo em que muitos se acham acima do bem maior que é aquilo que se anuncia: a Palavra de Deus. Disse: "temos a verdade maior", impressionando seminaristas, religiosos e leigos que estavam ali e se sentiram provocados para olhar de um jeito novo o processo de comunicação.
A professor Kika provocou para ações que sejam pontuais e que marquem as relações entre a instituição - Igreja Católica - e a sociedade. Falou-se da necessidade de utilizar grandes momentos, marcando presença, como foi, este ano, a festa de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, em que a paróquia do mesmo nome, em Pelotas, fez uma semana de prevenção de acidentes.
Ficou a ideia de que precisamos, primeiro, preparar o primeiro instrumento de comunicação, que somos nós mesmos. Nesta preparação, o improviso é catastrófico, há a necessidade de estudo, observação da realidade e trabalhar muito nas relações humanas. O horizonte é promissor, o caminho está definido, agora, é caminhar. E caminhar juntos.