domingo, 13 de novembro de 2011

Cúmplice de Deus

Nos últimos encontros com pessoas que me pedem palestra, tenho abordado o que chamou de "Evangelho da Mãe", o livro de São Lucas. Deixo minha imaginação voar e tento entender a forma como construiu um Evangelho tão bonito, com tantos detalhes que somente uma mãe poderia ter a respeito de um filho.
Se é verdade que Jesus passou três anos em pregação, também é verdade que Ele se preparou durante 30 anos! 30 anos bem vividos, junto de uma mãe que tinha na educação e na formação do caráter a sua maior preocupação. Fazendo uma leitura a partir de Augusto Cury, encanta olhar a figura histórica de Jesus, que deve ter passeado ao lado de Nossa Senhora, onde aprende a "olhar os lírios dos campos", ver como ceifavam o trigo, admirar as figueiras, entender como a Natureza dava condições de vida aos animais. Passeios longos, cheios de silêncios contemplativos, de perguntas respondidas, de cumplicidades que respingam por algumas páginas do Evangelho.
Maria era o sinal maior de que o Mistério havia acontecido em suas vidas e devia ensinar: se não fizeres uma experiência de fé diante do Mistério, você vai se frustrar e ser alguém frustrante. A fruta nunca cai muito longe do pé e se a mãe foi capaz de assumir sua missão histórica, o filho, que também era de natureza humana, também não podia frustrar a sua natureza divina.
Jesus somente frustrou àqueles que entendiam a História apenas pela metade. Aprendeu com aquilo que uma educadora do povo podia lhe dar de conhecimento, viveu num momento difícil para uma sociedade cansada pela opressão de Roma, morreu com a esperança de alimentar uma nova visão de Mundo, onde ao invés de Javé, um deus autoridade, passava a valer o Pai, o Deus da ternura e do perdão.
Maria já em idade avençada, deve ter sentado à sombra de uma árvore, com Lucas ao seu lado, em finais de tarde, e contado aquilo que seu coração guardou. Muitos momentos de silêncios, instantes de comoção e o sentimento de que partilhou de algo que nenhum outros ser humano partilhou: não escolheu o seu Deus, mas soube ser cúmplice dele, como ninguém o foi em nenhum outro momento da História.

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