segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Educação: começar pelo início

Em muitas discussões, ouço como um mantra: "toda a mudança começa pela educação!" Respeitosamente, discordo. A mudança inicia por uma repactuação das relações políticas, no seu sentido mais amplo, aquele que organiza as relações para o bem comum, do qual a educação é parte. A velha discussão: quem veio antes, o ovo ou a galinha. Mas não é assim. Deixamos se deteriorar as relações políticas - em todos os níveis e em toda a sua extensão - resultando no que temos hoje: vícios que degradam até mesmo o respeito do educando pelo educador.
O processo de educação já teve tempos melhores, onde agiam as famílias, as religiões e as escolas. A última fechando um ciclo, mais com a preocupação com o ensino formal. Infelizmente, hoje, as três áreas estão com problemas.
Não se pode generalizar e aí está a solução: encontrar pais que não se omitam, religiosos que não abram mão do seu ofício e educadores que assumam com ética o papel de formadores, de professores. Qual é o diferencial? as experiências mostram que são motivadores e transformam o tempo em sala de aula em preparação profissional e para a vida.
Numa discussão, alguém dizia que precisavam chamar os pais à responsabilidade. Outro, mais experiente, questionou: "e quem vai chamar os pais dos pais?" Nosso problema é de gerações e não vai se resolver de uma hora para a outra. No entanto, os protagonistas do processo precisam assumir suas responsabilidades pelo óbvio: pais são pais, pelas cobranças que fazem e pelo exemplo que dão. Já a mudança da educação inicia pela redefinição pessoal de cada um dos profissionais, agindo num meio que pode até ser hostil, mas onde brotam aqueles que estão sedentos para fazer o seu próprio processo.
Quando se demonizam velhas práticas, fico com um pé atrás: decorar textos enriqueceu meu vocabulário; o mesmo com a tabuada, que tornou mais ágil o meu raciocínio matemático. Então, não era tão ruim assim. Estas práticas foram suprimidas e não se ofertou alternativas que ocupassem seu lugar.
Precisamos, sim, discutir salários dos profissionais de educação; precisamos discutir seus espaços de trabalho; precisamos discutir a sua formação e a sua interação para que se tenha uma visão e atuação de conjunto. Nesta máquina pública já quase parando, hoje, é ponto chave valorizar o ensino básico e o profissional. O superior vai ser consequência. Quando o dinheiro é curto, é melhor começar pelo início, onde se definem princípios, ou as carências que deixam marcas por toda uma vida.

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