terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Incríveis pequenas conquistas

Quando se convive com uma pessoa idosa, são pequenos gestos que alimentam nossa esperança de dias melhores. Depois de algum tempo com muitas dificuldades físicas, juntando elementos emocionais, e tendo deixado de caminhar, pequenas vitórias alimentam nossas esperanças na recuperação de minha mãe, dona França, assim como algumas aprontadas.
Sempre tínhamos que auxiliá-la a sair da cama, passando pela mesinha de cabeceira e chegando até a cadeira da mamãe, praticamente com o uso da nossa força. Dia destes, enquanto terminava de arrumar seu almoço, ouvi barulho e, quando cheguei à porta, já tinha saído da cama e passado, sozinha, para a poltrona, com um sorriso maroto de vitória no rosto.
A alimentação tem sido muito pouca, às vezes, praticamente, nada. Quando acha que colocamos a mais, seleciona e come o que lhe agrada, junta o resto num cantinho e cobre com um lencinho de papel. Com certeza, escondido de tal forma, nem o mais competente detetive vai descobrir!
Embora as pernas não ajudem felizmente a mente continua afiada, tanto para as lembranças, que, muitas vezes, não vêm para nós, mais jovens, assim como o senso do deboche e de falar mal quando julga necessário.
Quando partilho destas experiências, vejo que o gênero humano é o mesmo, sempre. Com pequenas nuances, quem convive com idosos, sabe que eles farão algo muito parecido. Mas cada um tem as suas marcas, que acabam sensibilizando e nos convencendo de que vale a pena lutar enquanto existe ao menos um tênue resquício de vida.
Acabamos fazendo uma agenda não convencional: as aulas do dia a dia, as bancas de trabalhos de conclusão de curso, o trabalho em escolas, ainda são complementadas por atividades que tornam a rotina necessária e a capacidade de aprender contínua, em momentos de dor, em momentos de alegria, ou apenas em pequenas, mas incríveis pequenas conquistas.

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