terça-feira, 18 de março de 2025

“Um terço para Francisco”

Recentemente, a jornalista Andressa Xavier escreveu artigo para o jornal Zero Hora contando uma história familiar titulada “Um terço para Francisco”. Seus tios, Isabel e Jorge, foram pela primeira vez à Europa em 2019, quando a tia completava 60 anos. A data caiu na quarta-feira em que o papa desce ao encontro dos fiéis na praça São Pedro. Os pais da Andressa já conheciam a Itália e serviram de cicerones. Deram um jeito de ficar posicionados próximos aos gradis. A espera valeu a pena. Quando o papa desceu do papamóvel, seu pai gritou: “La signora fa il compleanno oggi”. Diz ela: "Pois ele parou e andou em direção a eles."

Seu tio faz terços (um círculo de contas que serve para a oração do Rosário) e confidenciou que havia feito um com a intenção de entregar ao papa. "Era branco, vermelho e azul, as cores do time de Francisco, o San Lorenzo, da Argentina. Mostrou aquelas contas coloridas com uma alegria e uma ingenuidade que eu não tive coragem de desapontá-lo e dizer que não conseguiria entregar, ou que seria muito difícil. Pensei, mas não disse nada, só encorajei a levar e elogiei o tercinho, que era mesmo bem bonito".

A felicidade ficou completa quando compartilharam a foto no grupo de WhatsApp da família com o papa bem pertinho deles. "Mais do que isso, a ligação em vídeo horas depois foi linda demais. Minha tia, no dia do aniversário, ganhou um terço das mãos do papa. Ela foi surpreendida pelo gesto do Santo Padre, que colocou a mão no bolso e tirou um rosário perolado, numa caixinha".

O mais bonito do texto da Andressa vem a seguir: "Francisco é assim. Um Papa próximo, humano, carismático e fraterno. Transparece isso. Derrubou muros de uma igreja distante e fechada, se aproximando do seu povo. Beija os pés de presidiários e dos pobres na quinta-feira Santa, como fez Jesus na Última Ceia. Recebe fiéis, abraça as pessoas, sem distinção."

Num tempo em que a maioria absoluta das pessoas torce por Francisco (com uma minoria de mal amados vomitando seu mau-humor em torcida pela sua morte) eu queria ter escrito o que ela disse ao concluir:

"Quando a nossa fé eventualmente esmorece, ter um papa como ele traz renovação, inspiração e exemplo. Um dos dias mais emocionantes da minha vida foi um domingo de agosto de 2017, quando vi, de longe, o papa Francisco pela janela no Vaticano. A simples presença dele me encheu os olhos d'água. Ele deu vida nova e esperança de um mundo melhor aos católicos, mas me atrevo a dizer que ao mundo, a pessoas de todas as crenças."

Francisco é assim: um símbolo da presença de Deus. Presentes como o terço são o sinal do carinho de uma população que anseia por referências. Com a emoção de quem o ouve como quem escuta alguém que nos é muito precioso, capaz de dizer as coisas mais simples brotando do coração. Porque transpira pelo rosto, pelos olhos, pelas mãos, pelo abraço, uma alma humilde, em que a fé é espelho da sua empatia e amor ao próximo, a vocação de um autêntico homem de Deus.


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