domingo, 25 de março de 2012

Usando as mãos


Relembrando: crônica do livro "Remendos e Arranjos".
Sempre tive fixação em escrever sobre as mãos. Elas me encantam por aquilo que fazem e pela autonomia que, às vezes, tomam a si, deixando-nos, verdadeiramente, desnorteados.
Gosto de descrevê-las saindo da sua atitude concreta e substituindo a visão. Especialmente, quando, percorrendo um corpo, por exemplo, tornam as sensações mais, literalmente, - desculpem a redundância - palpáveis.
É possível que, para os grandes da literatura, este seja um tema considerado pobre, ou menor. Tanto já se falou a respeito de mãos, seja da mãe, da amante, do trabalhador, do escultor, que fica difícil um novo ângulo para visualizá-las.
Mas tente, ao menos uma vez, fechar os olhos e deixar levar-se pelas mãos. E, aqui, não é no sentido literal. É físico, mesmo. Primeiro, feche os olhos. Respire fundo. Feche e abra as mãos, muitas vezes.
Bem, é o momento em que se abrem dois caminhos: ou você faz a experiência sozinho, ou estará acompanhado (óbvio, não é?).
Primeiro, afirmo que, em qualquer situação, não se arrependerá. As mãos, soltas no ar, são capazes de reger, chamar, xingar, dar adeus, conterem uma lágrima, esconder um rosto.
Mas tem o outro lado. Se, então, você tiver parceria, a experiência é ainda mais rica. Explorar um corpo é como redescobrir sensações.Você não vê, mas faz, quase, um processo místico, porque vai além. Tem um frenesi em cada linha que explora. Sente-se estimulado pelas emoções que são, gradativamente, despertadas.
E se suas mãos, ao percorrer um rosto, encontrarem duas lágrimas, despertarão em seu corpo frêmitos de um impulso indomável.
A necessidade, pura e simples, de se dar e receber transformará um momento em eternidade. E a eternidade não terá graça se não for composta de momentos em que se possam utilizar as mãos.

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