terça-feira, 10 de junho de 2025

Os armazéns da minha vida

Artigo da semana:

Muitas das minhas recordações já se perdem na neblina das lembranças. Especialmente dos primeiros anos. Viemos para Pelotas, do interior de Canguçu, quando eu tinha 4 anos. Voltávamos ao menos duas vezes por ano, nas férias escolares, à região onde se criaram meus pais. Com quatro filhos, migraram para a periferia de uma cidade grande para fugir das dificuldades financeiras e encontrar educação continuada para os filhos.

Quando descíamos no lugar que era chamado de Três Porteiras, o paradouro era na venda do seu Antônio Mattos. Após passar por outro armazém, o do seu Diogo Fonseca e o cemitério. Sinal de que estava perto do desembarque do ônibus. De longe se viam os cinamomos. Às sombras, ficavam os cavalos amarrados e as carroças, esperando para mais uma etapa da viagem, agora por estradas que eram autênticas trilhas.

O ambiente de convivência foi reproduzido por meu pai ao instalar o bar e armazém Raulin, em Pelotas. Lugar de comércio, encontro e confraternização, onde o arroz e o feijão eram servidos e pesados a granel. E os baleiros faziam o encantamento e o desejo das crianças. Também o serviço do martelinho de cachaça, motivo de encontro dos vizinhos, no fim da tarde, após o trabalho e antes de se recolherem às casas.

Completando o comércio, no interior, sempre havia uma cancha de bocha para as disputas entre amigos, especialmente os mais velhos, nas tarde de sábado e domingo. Uma cancha reta de carreira para a disputa dos cavalos e seus cavaleiros completava o ambiente. A bocha era somente para homens e as disputas de cavalos reuniam as famílias e amigos, formando torcidas e discussões que se estendiam por muitos dias.

A RBS TV, num Jornal do Almoço, apresentou programa sobre os 150 anos da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Não faltou um armazém, presença nas rotas de abastecimento e retirada das safras: uma venda de "secos e molhados". Onde fantasmas trazem à memória quem estava à porta do boteco: parentes e conhecidos, para um aperto de mão, abraços e pedir a bênção aos mais velhos. O tempo que brinca com as memórias onde as presenças afetivas se misturam com as ausências, os cheiros e os sabores do passado…


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