sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O lugar em que a alma suspira

A música esgueira-se pelo ar.

Acarinha a lágrima que

Marca o rosto do passante desavisado.

Músicos de rua cantam

Um triste Aleluia…

São irmãos.

Ela, mais velha, o incentiva 

Com a proximidade do carinho.

Ele, adolescente, inseguro,

Arrima-se no corajoso olhar da irmã.

 

Enquanto música e voz flutuam,

No íntimo de cada um

Há uma saudade que atravessa o Infinito.

Não é mais a letra que extasia.

As dobras da existência se confundem

Com um lampejo de Eternidade.

Inalcançável para o ser humano,

Provocante o suficiente para

Deixar um gostinho de felicidade possível.

 

Fechar os olhos e

Partilhar do deslumbramento de

Seres Celestes que não resistem

Ao encantamento e ao êxtase.

Cohen não entendeu o efeito de sua canção.

Sua música surpreende ao fazer com que

As lágrimas cheguem devagarinho, 

Arrastando tristezas e arrependimentos.


A música de rua é uma hipnose coletiva.

Flutua pelos espaços possíveis

E faz esquecer o porquê se passou por ali,

Para onde se estava indo,

O que se pretendia fazer…

Envolvidos pela sonoridade,

Se esquece de tudo o que

Prende ao dia a dia,

No cotidiano que asfixia e amedronta.


No primeiro dedilhar de um instrumento,

A sensação de que se evocam espíritos,

Compartilhando o que não cabe na lógica.

O lugar em que a alma suspira, 

Se desvencilha da realidade e 

Alcança o portal dos sonhos. 

No arco-íris de cada acorde,

Cada entonação de voz,

O horizonte se faz esperança

Pois, logo, logo, 

o Sol vai reger o nascer de um novo dia,

Nas notas que se desenham por entre as nuvens…


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