terça-feira, 5 de novembro de 2024

Medalhas no remo: entre o peito e a lápide…

Pelotas parece estar fadada a que, ciclicamente, precise conviver com uma fatalidade que abale o emocional de boa parte da sua população. A mais recente acabou sendo a que vitimou nove integrantes do Projeto Remar, quando voltavam em uma van, numa estrada do Paraná, e perderam a vida. Treinavam no Centro Português, na atividade que tinha a iniciativa da Universidade Federal e o apoio da Prefeitura Municipal de Pelotas. Mais de 150 jovens já passaram pelo seu atendimento, nos últimos dez anos.

Pode-se imaginar o ambiente: mesmo cansados do retorno de uma competição nacional onde o esforço e a garra foram premiados com diversas medalhas, a adrenalina os fazia brincar. Típico da idade, com vozes alteradas, risos e zoações. A certeza de que suas conquistas eram mais um degrau para abrir perspectivas, certos do encontro com amigos(as), namorados(as) e parcerias. Os sonhos despertados por incentivadores, quando os prospectaram nas escolas, agora estariam no peito, o fruto de um grande e solidário esforço.

O projeto social é conhecido de quem é do remo. A primeira vez que ouvi a respeito foi pela Lyl Recuero, também da área, falando da paixão que encontrou às margens das águas do arroio Pelotas. Ao recordar, fica claro que as medalhas agora recebidas foram a marca de que o orgulho de tê-las no peito é a conquista de toda a sua curta vida. E não podem ser esquecidas. Infelizmente, uma lição que ficou incompleta. Mesmo que sejam referência para outros jovens que continuam em busca de uma perspectiva de vida.

O envolvimento da universidade, da prefeitura e do clube nada mais é do que a corresponsabilidade social em que se possibilitam oportunidades. O conforto das famílias, neste momento, não é o discurso dos políticos e oportunistas. Realizaram e viveram um sonho bom que, de outra forma, não teriam conseguido, em busca, quem sabe, de uma bolsa atlética do governo federal. Os meninos e meninas precisaram morrer para que representantes públicos reconhecessem o quanto o grupo lutou por um lugar ao sol…

Tragédias brasileiras sempre guardam uma pitada de ironia. O que as autoridades gastaram para enterrá-los poderia ter salvo suas vidas. E nenhuma delas fez publicamente um “mea culpa”. Os remos ficaram à beira da lagoa, à espera de meninos e meninas que aceitem ser desafiados. Ali, onde chegam os barcos, também atracaram seus sonhos…. Porém, as medalhas que transcendem a vida já repousam na Eternidade. Ficou o sentimento de que fazem e farão falta para preencher o vazio que restou nas família e entre seus amigos…


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