Pelotas parece estar fadada a que, ciclicamente, precise conviver com uma fatalidade que abale o emocional de boa parte da sua população. A mais recente acabou sendo a que vitimou nove integrantes do Projeto Remar, quando voltavam em uma van, numa estrada do Paraná, e perderam a vida. Treinavam no Centro Português, na atividade que tinha a iniciativa da Universidade Federal e o apoio da Prefeitura Municipal de Pelotas. Mais de 150 jovens já passaram pelo seu atendimento, nos últimos dez anos.
Pode-se imaginar o ambiente: mesmo cansados do retorno de uma competição nacional onde o esforço e a garra foram premiados com diversas medalhas, a adrenalina os fazia brincar. Típico da idade, com vozes alteradas, risos e zoações. A certeza de que suas conquistas eram mais um degrau para abrir perspectivas, certos do encontro com amigos(as), namorados(as) e parcerias. Os sonhos despertados por incentivadores, quando os prospectaram nas escolas, agora estariam no peito, o fruto de um grande e solidário esforço.
O projeto social é conhecido de quem é do remo. A primeira vez que ouvi a respeito foi pela Lyl Recuero, também da área, falando da paixão que encontrou às margens das águas do arroio Pelotas. Ao recordar, fica claro que as medalhas agora recebidas foram a marca de que o orgulho de tê-las no peito é a conquista de toda a sua curta vida. E não podem ser esquecidas. Infelizmente, uma lição que ficou incompleta. Mesmo que sejam referência para outros jovens que continuam em busca de uma perspectiva de vida.O envolvimento da universidade, da prefeitura e do clube nada mais é do que a corresponsabilidade social em que se possibilitam oportunidades. O conforto das famílias, neste momento, não é o discurso dos políticos e oportunistas. Realizaram e viveram um sonho bom que, de outra forma, não teriam conseguido, em busca, quem sabe, de uma bolsa atlética do governo federal. Os meninos e meninas precisaram morrer para que representantes públicos reconhecessem o quanto o grupo lutou por um lugar ao sol…
Tragédias brasileiras sempre guardam uma pitada de ironia. O que as autoridades gastaram para enterrá-los poderia ter salvo suas vidas. E nenhuma delas fez publicamente um “mea culpa”. Os remos ficaram à beira da lagoa, à espera de meninos e meninas que aceitem ser desafiados. Ali, onde chegam os barcos, também atracaram seus sonhos…. Porém, as medalhas que transcendem a vida já repousam na Eternidade. Ficou o sentimento de que fazem e farão falta para preencher o vazio que restou nas família e entre seus amigos…
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