domingo, 21 de abril de 2013

Arame farpado

Li, ainda no Seminário – e agora assisti a um especial – o “Diário de Anne Frank”, que, juntamente com os judeus, seu povo, foi perseguida, presa e morta já no final da Segunda Guerra Mundial. Nascida em Frankfut, na Alemanha, viveu a maior parte de seus dias em Amsterdã, na Holanda, e de seu espaço de confinamento, bradou ao Mundo, em busca de tolerância, seja na política, em religião, ou, mesmo, na discriminação racial, da qual foi vítima.
Seu pedido é tão universal que um livro que se tornou público em 1947, dois anos depois que a Guerra terminou, passou a ser referência quando se questiona a intolerância, com todas as suas faces e formas de manifestação. Na dita sociedade moderna, pode-se perceber claramente uma intolerância que é explícita, mas, também, aquela que é implícita e sorrateira: daqueles que fazem autêntica perseguição para “desvelar” intimidades. A imprensa, chamada de marrom – e mesmo aquela que não se reconhece como tal, faz muito disto: reconheceu ser homossexual? Vai, por toda a vida, ter que dar explicações que não são cobradas dos heterossexuais!
O ator Marcos Nanine disse que, depois de ter declarado sua opção sexual, passou a ter, em todas as entrevistas, que dar explicação sobre ser homossexual e a busca por seus parceiros e costumes íntimos! Por quê? Em que isto auxilia no “fazer a informação”, ou é apenas uma deturpação do despudorado desejo de ver escancarada a intimidade dos famosos?
O preconceito implícito, velado, é tão ruim, ou pior do que o declarado. Porque ele vem “travestido de boas intenções”! Mas, depois, se torna devastador, perseguidor e pleno de deboche!
Quando vejo jovens, próximos ou não, acharem que vão se realizar “saindo do armário”, fico com pena! As mesmas campanhas que dão glamour a que se explicitem as opções sexuais, não são capazes de mostrar os arames farpados (referência às cercas que impediam a saída dos prisioneiros dos campos de concentração) que “protegem” uma sociedade preconceituosa que penaliza quem é diferente.
Não temos uma sociedade tolerante. Bem pelo contrário, ainda abominamos o diferente, mesmo que de forma velada. Não gostaria de ver sofrer jovens que gostariam de viver em um meio social diferente, com religiões mais abertas e um espaço onde o importante seja o viver e deixar viver!
Anne Frank tinha razão: sempre é preciso ter esperança. Uma delas é de que se respeite a pessoa, sabendo que seu corpo é o espaço do ser individualizado, que, apenas, luta para se realizar e ser feliz.

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