domingo, 29 de novembro de 2009

Uma linguagem para a vida

O presidente eleito, mas não empossado – porque morreu antes – Tancredo Neves contava para os íntimos a seguinte história: um deputado chegou a ele e perguntou: “Presidente, tenho um segredo, que gostaria de contar para o senhor. O senhor sabe guardar segredos, não?” E Tancredo, bonachão, respondeu com toda a tranquilidade: “se o senhor que é dono do seu segredo, não sabe guardá-lo, porque é que eu iria fazê-lo?”
Conto isto para falar de linguagem, que, no dito popular “é uma fonte de mal entendidos”. Explica-se pela técnica de grupos em que se retira alguém da sala e conta-se uma história. Depois, a pessoa que ouviu vai passar adiante, quando a última conta para todos. O interessante é que a história chega completamente diferente do que foi contada originalmente.
A linguagem é fonte de aproximação, sedução, encantamento, mas também pode ferir, magoar, distorcer, atormentar. É a forma como é utilizada. Talvez, nem sempre, intencionalmente, mas quando se pensa em reforçar uma argumentação, usada de forma definitiva - mas equivocada - pode ser um “tiro no próprio pé”.
Embora se diga que “de bem intencionados, o inferno está cheio”, não consigo ver em pessoas que ouvem informações e passam adiante de forma distorcidas apenas má intenção. É um processo. Trabalhamos com pessoas. E gente é uma “coisa” difícil de lidar. Já ouvi muitas vezes: “mas não era isto o que eu queria dizer!”. Mas disse, e acontece como a história daquele padre que ouvindo as duas maiores fofoqueiras de sua paróquia, resolveu dar uma penitência: soltar as penas de um travesseiro do alto da torre da igreja e voltar. Ambas foram, muito felizes. Ao voltar, o complemento da penitência: sair pela cidade recolhendo todas as penas!
Medir as palavras e pensar para quem se vai falar. Esta é uma regra elementar e que, se bem colocada, é capaz de fazer a alegria de todos. A linguagem oral pode ser uma fonte de mal entendidos, mas pode ser complementada pela linguagem do coração, do olhar, do carinho. E aí não há como errar: a gente faz da vida uma linguagem completa do que existe de mais significativo para a Humanidade: a linguagem do amor.

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