segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma esperança além da vida

A criança que perguntava: “é aqui que o papai está?”, no cemitério, fazia um questionamento de fé. Vendo a mãe chorosa e preocupada em limpar a lápide, arranjar as flores, acender velas e fazer orações, queria entender uma das mais elementares dúvidas da existência: a finitude e a conseqüente volta ao pó. Embora padres, pastores e líderes religiosos tentem, sistematicamente, argumentar com “lógica” de que, especialmente para as religiões cristãs, a morte é o grande momento de passagem, para as pessoas mais simples, isto não é tão fácil de entender. Fica a lógica da precaução: “tá certo, eu até acredito, mas na possibilidade de que reste um fiozinho de vida ali, vou tentar mantê-lo vivo”.
Como dizia um poeta: “hoje caminho meio manco, porque já são muitos aqueles que carrego no lado esquerdo (coração)”. E o passar dos anos e a proximidade da data possível do fim quase sempre tornam as pessoas mais propensas a algum tipo de espiritualidade e buscar o conforto da fé. Mas não é incomum que também busquem “adaptar” algumas coisas às suas crenças mais antigas. Quem freqüenta algum tipo de cerimônia religiosa sabe que cerca de vinte por cento tem plena compreensão daquilo que está fazendo; mais vinte devem andar próximas; mas a grande maioria busca o sentido “mágico” de uma celebração, onde quer a bênção, o pedido, o agradecimento, colocar alguém nas mãos de Deus. Na Missa católica há uma oração chamada de “coleta”, antes do anúncio da Palavra, quando o padre recolhe todas as intenções dos presentes. Questionada uma pessoa sobre o que significava não teve dúvidas: “deve ser a preparação para depois apresentarmos a oferta em dinheiro”.
Embora muitos credos busquem explicações da fé na própria ciência, por exemplo, acho difícil que isto ajude para a maior parte da população. A fé, em primeiro lugar, é uma atitude pessoal, que depois vai buscar uma religião para se expressar socialmente. Todos os processos de “conversão” só fazem sentido se já houver uma predisposição. Por isso, pode-se dizer que é uma ação, mas também uma graça, melhorando a existência e lançando uma perspectiva de esperança para além da própria vida.

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