sexta-feira, 19 de julho de 2024

Antes que tudo desapareça…

21 de setembro: Dia Mundial pela Conscientização da Doença do Alzheimer.


Minhas memórias se esvaem lentamente.

Ao chegar o crepúsculo da minha existência,

Se já não conseguir permanecer na realidade,

Confundindo com a fantasia,

Ainda assim, tem paciência comigo.

Guarda um tempo para segurar a minha mão.

 

Se possível, passeia comigo pela rua.

Teu sorriso será o bálsamo a

Amenizar meus sentimentos confusos,

Num tempo em que minhas lembranças

Vão sendo apagadas ou se misturam.

Muitas vezes lembro do passado remoto,

Sem clareza do que acontece no presente.

 

Os nomes se atrapalham em minha mente;

Esqueço dos detalhes mais simples;

Confundo as atividades do dia a dia;

Quedo-me na espera por coisas que já passaram;

Pergunto por aquilo que já foi respondido.

O que sou é apenas uma sombra do que já fui.

 

Mesmo assim,

Minhas lembranças cabem no teu sorriso.

Tua voz, teu olhar

Tuas mãos que firmam as minhas são

O arrimo que resgata uma réstia de sanidade.

Meu coração inverna por lugares em

Que somente o calor da tua presença

Impede que desista e me recolha ao abandono…


Memórias são sempre oportunidades.

Vivencia-se o que não se deseja olvidar.

Produzir boas lembranças é tecer

Com os fios que amarram sentimentos,

Formam a tapeçaria que inspira

Os detalhes preciosos de uma vida.

O esquecimento não supera

O amor que alguém ainda pode dar e receber.


Envelhecer não é um mal.

Não tenho

A receita de como cheguei até aqui.

Ultrapassei barreiras e me sinto agraciado.

Porém, antes que tudo desapareça,

Vivo momentos em que necessito,

Apenas, que não me esqueças,

Não me abandones:

Me dá o direito de envelhecer

Sabendo que ainda sou amado…

terça-feira, 16 de julho de 2024

Eleições de outubro e o novo normal

As eleições de outubro deste ano são - para nós, simples mortais - as mais importantes no que se refere à vida do brasileiro comum. Embora os meandros jurídicos sejam complicados e tortuosos, exatamente para que o cidadão se canse e dispense sua compreensão, prazos eleitorais estão sendo fechados e entra-se na reta final para a escolha de prefeitos e vereadores. O pleito é para o preenchimento de cargo na casa onde se deveria trabalhar a responsabilidade pelas ações que propiciam o bem-estar do munícipe (a prefeitura).

Na outra instância, a câmara de vereadores, é o lugar, por excelência, onde se fazem as grandes discussões da sociedade, com as representações comunitárias e os fóruns profissionais capazes de alertar para as necessidades básicas, assim como fiscalizar a administração pública. Cuidar da educação, saúde, conservação dos bens comuns, por exemplo, deveria ser trivial. Mantendo os olhos abertos para o planejamento a médio e longo prazo, capaz de alertar para possíveis transtornos e preparar para tempos mais difíceis. 

Por exemplo, o caso das enchentes e da previsão de seca, ainda este ano. As mudanças climáticas e o aquecimento global mostraram-se piores do que o anunciado, criando o novo normal, que se repete sem que se possa tornar previsível. Pelotas é um dos casos e demonstrou toda a falta de planejamento. Correu-se atrás do prejuízo, aprendendo, da pior forma possível, o quanto a cidade, especialmente o bairro do Laranjal, está exposta e a proteção fragilizada. Pode acontecer de novo? Pode. Quando? Ninguém sabe…

Se de fato a dor ensina a gemer, é preciso revisar os zoneamentos e conhecer soluções em outras realidades para não apenas reconstruir, mas fazer uma área urbana, especialmente, melhor do que já se teve. Os especialistas dizem que é trabalho para 10, 20 anos. E que precisa de uma mudança de mentalidade, já que fomos acostumados à pobreza dos serviços públicos, pois, quando acontecem catástrofes, nos conformamos em ficar mais pobres, sem estímulo para focar nos desafios, que somente a conscientização pública cria.

As mudanças climáticas repetirão as catástrofes. Infelizmente, hoje, prevenir não significa evitar, mas criar mecanismos que salvaguardem vidas. Mesmo países desenvolvidos investem em proteção e informação. O que passa pela educação, em todos os sentidos. Um exemplo da atualidade é a Tailândia, para onde converge o “turismo político” para ouvir o elementar: é preciso preparar os educadores e pagar adequadamente quem ensina, formando um cidadão consciente, capaz de escolher bem a sua representação política.

domingo, 14 de julho de 2024

O anjo que habita em teus sonhos

Os olhos estão fechados.

O semblante sereno e

Os lábios têm o sorriso

Do anjo que habita em teus sonhos.

Embora teu corpo repouse,

Vagas por um mundo de encantamentos...

 

O sonho é o lugar em que te refugias

Em busca da felicidade.

Onde o amor é razão para não desistir

E, mesmo que os desapontamentos aconteçam,

No cansaço daquilo que parece inalcançável,

Encontras uma razão para continuar.

 

Os devaneios são o refúgio

Quando se precisa escapar da realidade.

Ao final do sono,

Com ou sem lembranças,

É necessário acordar para o dia a dia,

Na dormência entre a imaginação e a realidade,

O limbo em que moram as promessas.

 

Se as decepções são inevitáveis,

Então, por que procurar pelo amor?

Nos sonhos, aprende-se que é um

Sentimento capaz de fazer alguém feliz.

Não são lugares que alegram o coração,

Mas a contínua busca por

Quem te ajuda a alcançar a paz.


Quando castelos ruírem, faltar o chão,

Sentir-se abandonado e chorar ausências,

Serena tua mente, acalma o coração.

No despertar, deixa que um sorriso bobo

Se estampe em teu rosto.

No nevoeiro das lembranças,

Os sonhos dão o gosto da vida que 

Sempre oferece a oportunidade de recomeçar…

sexta-feira, 12 de julho de 2024

A vila que ainda mora em mim

Tenho a vila no sangue.

As lembranças me acenam da

Rua de chão batido,

Com as valetas em frente das casas e

As cercas aproximando a vizinhança. 

Os gritos de meninos jogando taco,

Bolinha de gude ou em corridas de bicicleta.


Eu sou da vila.

As memórias viajam pelas

Peladas no campinho em que 

A grama era apenas uma lembrança.

Os times sem nomes:

Os com camisa contra os sem camisa.

A invasão da noite, 

Tendo como holofote o poste da esquina. 


Eu sou da vila.

Chamar cada morador pelo nome,

Na simplicidade das casas, de onde vinha

O cheiro da comida sendo preparada e

Onde se entrava pela porta da cozinha.

Descobrir que as mães

Faziam correntes de solidariedade, 

Num tempo em que sequer sabiam

O significado desta palavra.


Eu sou da vila.

Nas lembranças, 

Abrigar-se com a gurizada,

Encostados a um velho coqueiro,

Que no meio da rua era a derradeira despedida

Para quem ia à escola,

Ou, iniciando a vida adulta, 

Nas andanças pelo mundo.

E o carinho de todas as voltas para casa…


Nas valas, corriam as águas das chuvas, 

Deslizando os barcos que

A imaginação transbordou do cinema.

Foram se fazendo despedidas

E as moradas perderam

O nome de seus proprietários.

Desapareceram

O chão batido e os campinhos.


A vila que ainda mora em mim:

Já não se sabe o seu nome,

Embora se diga que 

O vileiro a tem guardada no próprio peito.

Ecos da infância e juventude,

O lugar de carinhosas lembranças,

O destino das muitas e sentidas saudades…

terça-feira, 9 de julho de 2024

O “sal” que dá gosto e sentido à vida do cidadão

Pode-se dizer que escrever é a arte da repetição. Não creio que alguém seja capaz de registrar algo absolutamente novo, mas, de alguma forma, o que formou nossa capacidade intelectual está enraizado na nossa própria história, especialmente com os exemplos recebidos. Já que “os discursos convencem, mas são os exemplos que arrastam”. Lembrei da expressão quando conversava a respeito de educação e voltava à mesma tecla: é construção conjunta da família, escola, poder público e a sociedade organizada.

Recentemente, li um texto de autor desconhecido: “ouvi minha mãe pedir sal aos vizinhos. Tínhamos sal em casa. Perguntei por que ela pedia. Respondeu: nossos vizinhos não têm dinheiro e muitas vezes pedem algo. Ocasionalmente, peço algo econômico, para sentirem que também precisamos deles. Dessa forma, estarão à vontade e será mais fácil continuar a pedir o que precisarem. Foi o que aprendi com a minha mãe: ensinava aos filhos empatia, humildade, solidariedade e valores que fazem falta no convívio social!”

Quando se critica a educação no Brasil, em todos os níveis, parece que se deseja algo utópico. No entanto, com a maior circulação de pessoas pelo Mundo, se conhece o que se passa na Espanha, por exemplo. Pode-se dizer que é sonho referenciar com um país do primeiro Mundo. É possível. Mas como já se paga impostos de primeiro Mundo (com autoridades, muitas vezes, com mentalidade de terceiro ou quarto) não custa cutucar de que o utópico não é o irrealizável, mas abafado pela incompetência e mal uso dos recursos.

Amigo que voltou daquele país ficou assustado com o baixo nível encontrado pela filha, já adaptada a um patamar de exigência maior. Na conversa, percebeu-se que o grau alcançado na alfabetização (numa outra língua) e conhecimentos iniciais (escrever, ler, funções básicas da matemática), eram semelhantes aos que já se teve, para quem frequentou a escola inicial na metade do século passado. Em tempos de discursos fáceis sobre educação, a verdade é que estão sucateando a possibilidade de futuro das nossas crianças...

As primícias da mãe da história: “empatia, humildade, solidariedade…” são valores referentes aos bons costumes na educação, na máxima de que “é de pequenino que se torce o pepino”. Educadores (inclui professores, profissionais da comunicação, políticos e funções que formam a opinião pública) não são apenas retransmissores de conteúdos, mas instigadores de padrões éticos. São aqueles que usam do “sal” e insistem, especialmente pelo exemplo, a se fazer o tempero ideal que dá gosto e sentido à vida do cidadão!

domingo, 7 de julho de 2024

Delicada como a flor da cerejeira

Parecia delicada como a flor da cerejeira,

Encantadora como o rebento do pessegueiro…

Um curto espaço de tempo entre desabrochar e fenecer, 

Contemplando, sofregamente, 

As poucas vezes em que veem o nascer do sol.

Ao surgirem, brilham os olhos

E suspira a imaginação.


Quando as pétalas deslizam no ar,

Trilhando os rumos da terra,

Esperam por enamorados 

Que interrompam seu destino,

Na crença de que cada uma delas

É garantia de permanência

Ao lado do primeiro amor.


Dolentemente, despertam sua forma,

Sublimando a beleza e o carinho.

Deixam mensagens de 

Felicidade e esperança

No pouco tempo de vida, desfrutam 

Das gotas de orvalho que mantém o seu viço.

 

Fica o encanto que habita em teus olhos,

No desejo de que

Ninguém barre teus sonhos.

Contemplam os céus 

Na espera por aves migratórias,

Testemunhas de cada uma das suas conquistas,

Desde o dormitar da semente no seio da terra,

Até fenecer nas mãos dos amantes

Ou atapetando ruas e prados.


Engravidar a terra é a espera por renascer, 

No desejo, nem que seja, de 

Viver apenas uma primavera.

A vida florescendo no silêncio:

Germina quando surgem 

Os primeiros raios de luz na manhã,  

Aguarda pelo tempo de romper o solo,

Desabrocha, plana nos céus e, finalmente,

Aconchega-se ao ventre da mãe Natureza…

sexta-feira, 5 de julho de 2024

No redemoinho de um sofrimento

Da tua jovialidade,

Restou um olhar perdido 

Em algum lugar inalcançável.

Descobriste que há momentos em que fica 

Difícil lidar com a dor,

Quanto mais ajudar a carregar a dor alheia.


Tinhas um desejo quase impossível de ser alcançado:

Deixa de amar alguém…

Amar é um rio poderoso 

Que traça seu percurso em silêncio,

Sabendo que nas profundezas

O sofrimento cabe num mundo de interrogações.

Ele se torna mais difícil, parecendo sem sentido,

Quando não se consegue 

Conviver com a sua existência.


Não se superam as ausências sentidas

Pelo mero esforço e desejo,

Porque se encravam 

No lado mais vulnerável do coração. 

Dói até quando se arfa ou se suspira.

Não desistir é abrir espaços onde 

Se acomodam ressentimentos e amarguras.

Nos solavancos da jornada podem contaminar

Os sentimentos mais puros que ainda restaram. 


É quando parece que 

Os sonhos existem não para serem realizados,

Quem sabe, para proteger de nós mesmos.

Pois, mesmo quando 

Somente resta uma labareda arrependida,

É possível rezar por uma chama de esperança. 


A dor impede que se encontre 

A felicidade na mudança.

O que prende à rotina são 

Os pesos que toldam a visão do horizonte.

Perde-se a capacidade de se surpreender 

Diante das possibilidades do que foram os sonhos.


No redemoinho de um sofrimento é 

Onde repousa o que restou da tua coragem.

Solidário, 

aconcheguei-me no teu abraço.

Mesmo que reste apenas um sorriso torto,

Ali encontro resquícios de um coração debilitado,

Que, mesmo assim, não foi vencido.

Alquebrado, mantém a altivez de quem

Não aceita apenas a resignação.


A dor não faz escola,

É um aprendizado que deixa marcas na pele.

Os sinais que não precisam se transformar em derrota,

Porém, tornam o corpo perfeito para entender que 

Cicatrizes curadas ainda podem causar a dor.

E, mesmo assim, capazes de

Auxiliar a superar os próprios medos!