sexta-feira, 12 de julho de 2024

A vila que ainda mora em mim

Tenho a vila no sangue.

As lembranças me acenam da

Rua de chão batido,

Com as valetas em frente das casas e

As cercas aproximando a vizinhança. 

Os gritos de meninos jogando taco,

Bolinha de gude ou em corridas de bicicleta.


Eu sou da vila.

As memórias viajam pelas

Peladas no campinho em que 

A grama era apenas uma lembrança.

Os times sem nomes:

Os com camisa contra os sem camisa.

A invasão da noite, 

Tendo como holofote o poste da esquina. 


Eu sou da vila.

Chamar cada morador pelo nome,

Na simplicidade das casas, de onde vinha

O cheiro da comida sendo preparada e

Onde se entrava pela porta da cozinha.

Descobrir que as mães

Faziam correntes de solidariedade, 

Num tempo em que sequer sabiam

O significado desta palavra.


Eu sou da vila.

Nas lembranças, 

Abrigar-se com a gurizada,

Encostados a um velho coqueiro,

Que no meio da rua era a derradeira despedida

Para quem ia à escola,

Ou, iniciando a vida adulta, 

Nas andanças pelo mundo.

E o carinho de todas as voltas para casa…


Nas valas, corriam as águas das chuvas, 

Deslizando os barcos que

A imaginação transbordou do cinema.

Foram se fazendo despedidas

E as moradas perderam

O nome de seus proprietários.

Desapareceram

O chão batido e os campinhos.


A vila que ainda mora em mim:

Já não se sabe o seu nome,

Embora se diga que 

O vileiro a tem guardada no próprio peito.

Ecos da infância e juventude,

O lugar de carinhosas lembranças,

O destino das muitas e sentidas saudades…

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