Quando estava cuidando de meus pais, no seu envelhecimento, comecei a atentar a um problema que já chamava atenção dos meios acadêmicos e de quem devia orientar acompanhantes de idosos ou doentes. Uma pergunta que virou trabalho de conclusão de curso em mais do que uma instituição universitária: "quem cuida do cuidador?" Pois é comum a preocupação com o idoso ou o doente, mas se ignora quem é envolvido e precisa dedicar-se, muitas vezes de forma integral, a vida em “consagração” a uma pessoa.
Se o desgaste da idade, com as suas carências, assim como a restrição de atividades para alguém debilitado fisicamente, já é motivo de preocupação, imagine para quem se torna pai ou mãe de filhos atípicos (já chamados de especial, deficientes ou, ainda, “coitadinhos”, no popular). Da mesma forma, se atenta a quem possui alguma restrição física ou intelectual, em detrimento do cuidador. Poucos percebem que, possivelmente, esta pessoa, quase sempre a mãe, abre mão da sua existência pessoal, assumindo a invisibilidade, exercitando a resiliência…Especialmente, as mulheres mergulham num turbilhão de novas experiências e emoções que desafiam a encontrar uma nova conformação para as suas vidas (e isto não é uma figura de linguagem). É a luta pela inclusão social, com batalhas todos os dias diante de vizinhos, prestadores de serviços, educadores, autoridades… Não se tornam mulheres especiais porque aceitaram e trabalharam o que a Natureza lhes proporcionou. Tornam-se especiais pela capacidade de superação, de consagrar-se integralmente ao filho.
Tenho experiência com duas delas. Conheci-as antes e depois do nascimento dos filhos, com Síndrome de Down e Autista, respectivamente. Nunca imaginei que conseguissem o que conseguiram. Possivelmente, sequer tenham sonhado com a possibilidade de uma criança especial nas suas vidas. A surpresa do primeiro momento, não as fez se resignar ou desistir. Precisaram aprender um pouco de tudo. E o desafio as fez mais fortes, garimpando o direito dos filhos ao atendimento básico e ao lugar que merecem na sociedade.
Somos uma sociedade despreparada para conviver com o diferente. O preconceito é subjacente a um comportamento social que prega a inclusão, mas, individualmente, não faz nada para que se concretize. Especialmente quem tem filhos especiais merece um "colo" diferenciado por enfrentar rotinas, situações adversas, pessoas despreparadas ou de má vontade em atendimentos. A verdade é que, infelizmente, mães que cuidam de filhos atípicos são heroínas que nunca terão uma estátua em praça pública…
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