sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A infidelidade da imagem

Sem porto, a alma naufraga em mar aberto, 

Após vagar solitária, como um cometa errante.

Procura por abrigo, 

Nas andanças e desesperanças da vida.

Deseja a réstia de luz de uma estrela norteadora 

que ilumine os rumos do seu destino. 

A estrada é sua sina,

Onde se abrem as gavetas das recordações.


As estátuas que se fazem têm a pretensão 

de carregar um pouco de todas as vivências. 

Não é apenas homenagem

E, sim, o indicativo de um gesto marcante, 

Alertando e vislumbrando rumos.

Todo e qualquer monumento

É o sonho de aportar em algum lugar de 

onde se contemple a Eternidade. 


Mas é na carne que os sentimentos 

Manifestam a pretensão de ter o 

suficiente para não desperdiçar a vida. 

A pele formiga no desejo de que, 

Depois do descanso, ainda se possa vagar.

Quando o tempo pergunta se já se pode parar,

Possivelmente, até o corpo diga que sim,

No entanto, certamente, o espírito dirá que não. 


Com o passar dos anos,

Rompem-se relações com espelhos e fotografias. 

Elas já não são fiéis ao que a alma idealiza.

Mesmo antes do derradeiro suspiro, se mira 

A porta, em busca do Sol,

Que aqueça a jornada definitiva. 

Na chegada ao portal da Eternidade, 

Encontra-se o sentido para não desistir de amar. 


É quando se alcança a liberdade do sonho pleno.

A infidelidade da imagem

É a mãe Natureza brincando com nossos corpos.

Sem que o espírito desista,

Dourar ou perder os cabelos é praticar

A arte de viver intensamente.

Morrer se morre em todas as idades.

Envelhecer é lutar para ainda ser feliz!


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