terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Um brinde à imperfeição!

2024 chega ao fim. São muitas atividades em família, festejos no emprego ou nos ambientes educacionais que, praticamente, não permitem que se pare. E, possivelmente, este seja o maior problema destes tempos: embarca-se na roda alucinante do dia a dia e se dificulta uma parada de reflexão, a não ser as das representações sociais, com uma penca de "boas intenções" que, depois, se esquece. Passando, é mais fácil colocar a culpa nas relações familiares, no que os amigos deveriam fazer e, quem sabe, na religião.

 

Quem está mais próximo (no caso a família) se torna também a primeira vítima. É preciso aprender que não existem famílias perfeitas e, sim, o primeiro espaço (privilegiado) para se experimentar as relações sociais. Com o melhor e o pior que pode acontecer, sem o peso das cobranças que virão mais tarde. O lugar mais difícil de se viver as teorias que se prega na rua, por ser onde se desgastam os vínculos e se tem uma predisposição para destacar os defeitos, em detrimento das virtudes. Onde é mais difícil exercitar a tolerância e a caridade. 


Não existe a religião perfeita (não discuto a parte de Deus). A inspiração pode ser de Deus, mas a transpiração do dia a dia (quem a faz, na prática) é de homens e mulheres com seus valores e imperfeições. A cara de uma comunidade crente é o rosto de quem a compõe no que prega e, sobretudo, no que vive. Vale para a relação com públicos internos, especialmente os mais simples, e quem espreita à janela enquanto alguns teimam em arrombar portas em processos duvidosos de conversão (proselitismo).


Não existe amigo perfeito. Amizade é uma bênção que exige reciprocidade. O maior erro que se comete ao longo da vida é se cobrar e cobrar dos outros que sejam perfeitos. Para si, é um caminho quase certo ao fracasso. Na relação com um familiar, um amigo, é preciso reconhecer que é um ser especial composto de carne, ossos e sentimentos. Pensar que está sempre à disposição quando se precisa, supõe a reciprocidade. O nível de cobrança do outro deve ser o mesmo que se estabelece para si próprio.


Então, esperando o 2025, um brinde à imperfeição. Chega oportunizando aceitar (e não de se acomodar) que é intrínseco ao ser humano os momentos de insatisfação por aquilo que se é ou se tem. Todas as nossas boas intenções da virada do ano muitas vezes naufragam na rotina do quotidiano. A perfeição é sempre um sonho, uma utopia. Para quem tem a sua fé, a realização que se alcança quando se retorna aos braços de Deus!


Paro por aqui num período de descanso (aposentado também faz isto) e, se me permitirem, volto em fevereiro. Um feliz e abençoado 2025!


domingo, 29 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Desapegar-se

Pior do que boas intenções não cumpridas

É fixar-se às teias que nos tornam reféns do passado.

Somos vocacionados a viver livre, leve e solto, 

O desejo de que apenas existir seja o milagre

De todos os dias, como meta da felicidade.

Arejar a mente do que apenas complica, sem deixar 

Que a vida se resuma a gemidos e lamentações. 


Desapegar-se é acreditar que 

A existência é curta para remoer o passado

Ou toldar o futuro com pesos desnecessários.

Não importa se te julgam superficial 

Quando dás de ombro e apenas sorris.

Respira fundo, a vida continua sendo bela e 

O novo ano é um brado da alma por esperançar!


sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A infidelidade da imagem

Sem porto, a alma naufraga em mar aberto, 

Após vagar solitária, como um cometa errante.

Procura por abrigo, 

Nas andanças e desesperanças da vida.

Deseja a réstia de luz de uma estrela norteadora 

que ilumine os rumos do seu destino. 

A estrada é sua sina,

Onde se abrem as gavetas das recordações.


As estátuas que se fazem têm a pretensão 

de carregar um pouco de todas as vivências. 

Não é apenas homenagem

E, sim, o indicativo de um gesto marcante, 

Alertando e vislumbrando rumos.

Todo e qualquer monumento

É o sonho de aportar em algum lugar de 

onde se contemple a Eternidade. 


Mas é na carne que os sentimentos 

Manifestam a pretensão de ter o 

suficiente para não desperdiçar a vida. 

A pele formiga no desejo de que, 

Depois do descanso, ainda se possa vagar.

Quando o tempo pergunta se já se pode parar,

Possivelmente, até o corpo diga que sim,

No entanto, certamente, o espírito dirá que não. 


Com o passar dos anos,

Rompem-se relações com espelhos e fotografias. 

Elas já não são fiéis ao que a alma idealiza.

Mesmo antes do derradeiro suspiro, se mira 

A porta, em busca do Sol,

Que aqueça a jornada definitiva. 

Na chegada ao portal da Eternidade, 

Encontra-se o sentido para não desistir de amar. 


É quando se alcança a liberdade do sonho pleno.

A infidelidade da imagem

É a mãe Natureza brincando com nossos corpos.

Sem que o espírito desista,

Dourar ou perder os cabelos é praticar

A arte de viver intensamente.

Morrer se morre em todas as idades.

Envelhecer é lutar para ainda ser feliz!


terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Tenhas as marcas do Natal

A rede de supermercados Zaffari há muito tempo se destaca nesta época pela sensibilidade com que conduz suas mensagens de Natal. O institucional do grupo não poderia ser diferente, este ano. Destacando duas frases que podem ser os bordões que se deseja ouvir e provocam: “O Natal nos faz melhores” e “Que o Natal continue em você.” Na primeira cena, papai Noel retira de um baú seu tradicional chapéu vermelho, transportando-se para o menino que desperta e marca no calendário a proximidade do dia tão esperado.

Brincando, sozinho ou com amigos imaginários, como um toque de magia, produz seu próprio universo, onde o que parece material descartável é suficiente para criar “presentes”, dando vida aos “seres” com os quais se cerca. Pequenos objetos, detalhes e muita imaginação. Com as “companhias”, resta esperar o dia em que os moradores fazem os preparativos para que o encanto aconteça no espaço compartilhado por crianças e adultos. A espera da aldeia é quebrada pelos sinos anunciando o tempo de puxar seu carrinho.

Em meio à festa, aguardar. O relógio passa de forma diferente, no mundo dos adultos e no das crianças. O que pareciam “sobras”, transformou-se nos pequenos objetos entalhados em madeira, que distribui para a meninada. Mas faltou um… Que caiu do saco de carga, num solavanco, durante o percurso. Aquele menino não receberia seu mimo. Enquanto lágrimas corriam no rosto do desafortunado, o pequeno “Noel” percebe que está com o seu bonequinho preferido, companheiro de todas as horas e de todos os lugares.

Entrega seu “parceiro” com pesar, sabendo que é o certo. Num abraço terno de duas crianças, as lágrimas fundem-se na cumplicidade e demonstração de carinho. Os adultos dirão que é assim que se amadurece. A criança apenas pensou em fazer o que era preciso. É quando “Noel” recebe seu primeiro gorro vermelho, por ser “um bom menino”. Enquanto a neve cai sobre a praça, casas e bosques, a cena fecha no idoso papai Noel que estava lembrando dos seus primeiros tempos, fazendo feliz a quem o fazia igualmente feliz...

“Natalizar-se” é redescobrir sensibilidades: o sorriso do bebê que brinca no colo da mãe; o olhar terno da criança que te aborda na mesa de um bar; a história que se ouve e se mareja uma lágrima; lembrança de quem poderia ter estado mais um Natal em nossa companhia… As marcas da festa do Menino Deus se fazem presentes na família que acompanha, amigos que inspiram momentos de felicidade, em todos que, por um instante, deixam de lado a correria do ano inteiro, acreditando que: “o Natal nos faz melhores”.

Então, que o Natal permaneça contigo! Deus abençoe a ti e à tua família. Meu grande e carinhoso abraço!


domingo, 22 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Colo

Coloca a fé no altar do teu coração.

Envolve-te no silêncio de Deus,

A religião de quem busca a crença em comum.

A intimidade com o Eterno serena o espírito e

Permite que estejas em paz contigo mesmo. 





Natal e Ano Novo são tempos de se energizar.

Recarregar as carências da fé:

Aceitar que o zelo de Deus alcança 

O que parece impossível.

O colo do Eterno é abrigo, abraço e carinho…


sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A estrela da esperança e da paz

Aplaude o Sol 

Que te acena, por sobre o mar.

Encanta-te com a palheta mágica pintando 

O horizonte de cores surpreendentes.

Silencia ao ver as estrelas 

Começarem a espocar nos céus.

Mas ainda falta alguma coisa.

Não desgruda o olhar do firmamento…


Quando aparecer a Estrela Guia,

 Se estiveres cansado do dia a dia, 

Conforta-te sabendo que ela corisca nos céus,

E repousa nos olhos de quem se ama.

A que se coloca por sobre a árvore de Natal

É sinal, posto no firmamento,

Depois de cruzar por sobre Belém,

Servindo como lembrança e advertência.


Em uma manjedoura, num estábulo,

Descobre-se que o brilho somente tem sentido

Ao aquecer os corações, como

Luz que transborda em cada gesto de carinho.

A consciência de carências e completudes

Da mãe que recebe seu primeiro filho,

Do amigo acolhido na tristeza,

Do ser amado, que se ancora num abraço.


A Estrela Guia está sempre lá.

Talvez não seja a de maior brilho,

No entanto, tem o atrativo do amor infinito,

Esperando que se abra os olhos,

Supere as luzes da cidade,

Vença o que impede de buscar o próprio rumo.

Não é caminho, é horizonte,

O sentido de não se perder o arrimo da fé.


O maior de todos os presentes,

Quando o Menino Deus

entrega aos homens uma razão para viver.

A Estrela Guia é sopro de vida no coração.

O Natal renova sonhos e esperanças,

Quando a doçura de todas as melodias

Harmoniza céus e terra,

Enchendo os corações de esperança e de paz!


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O difícil exercício da solidariedade

Existem palavras que, talvez, pela própria densidade do seu significado, tornem-se difíceis de se exercer na prática. É o caso de "empatia" e, por consequência, "solidariedade". Em ambos os casos, é mais fácil teorizar do que encontrar exemplos práticos de vivência. Vale para os articulistas (como eu) e todos os pregadores que deveriam se questionar, antes de qualquer conversa, qual foi a última vez em que exercitaram, exatamente, a empatia e a solidariedade. Um exame de consciência que pode assustar…

O caso da mãe que expôs a bancária que não quis ceder o lugar à janela no avião para uma criança. O primordial direito de quem comprou é ficar no seu lugar. Então, não querendo a troca, não havia o que discutir. A não ser por uma pessoa sem noção que se achou no direito de expor publicamente alguém que defendia seu direito. Saiu o tiro pela culatra. A maioria dos internautas deu razão à “vítima”, já que havia mais lugares à janela, mas o “pirralho” queria exatamente aquele lugar já ocupado.

O alarme foi acionado no sábado, 29, às 15 horas, como treinamento. Gostaria que esta interação do poder público com a sociedade fosse permanente, baseada em critérios técnicos e tendo o cidadão como preocupação. Infelizmente, ouvi pessoas dizerem que é um “inconveniente” e “invasão de privacidade” acessar um número privado para "incomodar ". Se acontecer algo - espero que não - estes mesmos “incomodados” vão estar angustiados pelo atendimento público, se estiverem em situação de risco.

A hipocrisia dos discursos que não batem com a realidade, especialmente quando se prioriza um “politicamente correto” que se repete até que vire uma “verdade”, transformando o rebanho em massa de manobra. Respeitar o direito de cada um é trabalhar pelo real bem-estar social. Passa, por exemplo, em ceder (não é, senhores juízes, que se manifestam contra que o teto salarial seja realmente “teto de salários”, sem exceções). Desprezando a população que luta por viver de um mísero salário mínimo. 

Petulância e achar que se é juiz e jurado, pelas redes sociais, no primeiro caso; cobrar do setor público o que não é sua obrigação, criticando quando atua, no segundo; distância existente entre a população e as elites político e administrativas do país. Em nenhum dos casos, funcionou, por pouco que seja, a empatia e a solidariedade. O difícil é conscientizarmo-nos de que estas ações são mais comuns do que se reconhece. Não somente nos casos que se tornam públicos, mas, no dia a dia, nos espaços da convivência de cada um dos cidadãos brasileiros…


domingo, 15 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Perdição

 

Um sorriso tímido vesgueia teus lábios,

O olhar, resgatado da solidão,

A testa, franzida por desencontros,

A mão ao lado do rosto,

Quando te perdias ao longe...

 

Momentos de silêncio,

Palavras desnecessárias.

Exercitar a paciência e tentar entender

Que o tempo passando não cura a dor.

Mesmo sem ser aceita,

Simplesmente lhe dá sentido…


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A escuridão da tua ausência

Somos feitos de sonhos inacabados.

O material incorpóreo

Que reúne ânsias e expectativas.

Resistimos à concretude,

Tendo no horizonte o sentido do devaneio.

Mesmo com quem se ama,

Luta-se para aceitar a finitude,

A imperfeição que adoça cada reencontro...

 

Ficam nas memórias, lugares onde se habitou e

O som cristalino de vozes e risadas.

Ali, o sentimento de vazio e de dor,

Com o desejo de que ainda consigas ser feliz.

Ao teu rosto esmaecer nas minhas lembranças,

Meu sorriso se perde na escuridão da tua ausência.

Foste em busca de novos horizontes

E eu não podia impedir que perseguisses teus sonhos.

 

As nuances do tempo desmaiam as memórias.

Fugidias, recolhem-se

Aos recônditos onde esmaecem as recordações.

O frescor da juventude deixa

Rastros que marcam por toda a vida.

Como as digitais do teu abraço no meu peito.

O motivo para aceitar tua partida,

E ser honesto com o meu próprio coração.

 

Pude, então, imaginar o alcance dos teus sonhos, 

Onde se mesclavam possibilidades e anseios. 

Aquilo que nossos olhos contemplariam,

Se tivéssemos ficado juntos.

Seria o Paraíso, a realização de todas as utopias. 

Onde se cobraria, apenas e tão somente,

um sorriso como o preço para ser acolhido.


Os mesmos caminhos, os mesmos lugares.

Ali, onde tudo parecia ter sentido,

Menos no dia em que precisei entender a tua falta.

Com o tempo,

Rasgam-se as vendas que obstruíram os sentidos.

A sensação de que o pouco que 

ficou é suficiente para que não se 

Desista de sonhar com a felicidade…


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Redes sociais: maldades e frustrações

Nos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuiu-se a tarefa de debater a responsabilidade das redes sociais e remoção de perfis falsos. Ocuparia lugar do Congresso Nacional que enrolou e não saiu do lugar. Infelizmente, também o Supremo não foi adiante, mostrando a “zorra” que se vive nos três poderes que, se não forem interesses próprios, batem cabeça e procrastinam. Há um vácuo legal que permite a proliferação de conteúdos nocivos e a polarização, especialmente pelos discursos de ódio e fake news.

Discutir as redes sociais não é novidade. Muitos países estão regulamentando seu uso, com o exemplo mais recente vindo da Austrália, onde o acesso somente poderá ser feito por pessoas com mais de 16 anos. Lógico que a grita foi geral, especialmente daqueles que veem em tudo “uma ingerência indevida do setor público”. “Ora, direis…” que exatamente para isto é que se elegem o executivo e o legislativo e se propõe a funcionar o judiciário. Poderes que deveriam ter a preocupação com a segurança do já esquecido cidadão…

São diversas pontas que não estão soltas, mas têm um mesmo condutor. Como o uso do celular. Eletrônicos são instrumentos que precisam ser utilizados para expandir a capacidade humana de agir. Meios, não fins. Infelizmente, o que se faz é transformar no “parceiro (a)” ideal que compensa a angústia, frustrações, medos como algo que prescinde das relações humanos. É triste pensar que muitos filhos acreditam que os pais saberem usar as redes sociais compensa a sua ausência na casa deles ou nas residências geriátricas.

Decepciona pensar que homens e mulheres bem pagos, que têm o dever constitucional de fazer o papel de legislar e fiscalizar, se omitem. Precisam colocar em discussão a liberdade de expressão, a responsabilidade das plataformas, a privacidade e até (porque não?) o impacto econômico que a regularização pode trazer. Chamando a Brasília quadros técnicos e humanistas, contribuindo e somando na discussão. Profissionais de diferentes áreas se debruçam sobre este tema, em nível internacional, com uma riqueza de contribuições.

O judiciário decepcionou novamente. Com um legislativo a cabresto dos seus interesses, fica-se órfão de quem poderia (e deveria) melhorar este aspecto da vida social, responsável pela polarização política vivida, hoje, no Brasil. Com as facilidades da internet, pode-se percorrer o mundo e saber o que deu certo e o que deu errado. Não é preciso reinventar a roda. Basta pensar que crianças e idosos não precisam ficar indefesos diante de quem transforma as redes sociais em latrina, onde despejam maldades e frustrações.


domingo, 8 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Voos

 

Voar é o sonho que encanta a humanidade. 

Os pássaros que nos seduzem,

Nas asas que planam por sobre

Árvores ou águas serenas,

Carregando suspiros e encantamentos.


A imaginação desenha, na imensidão dos céus,

Por entre o enfado das nuvens,

Na transparência do azul infinito.

O olhar carrega devaneios

De que a ascensão e queda de Ícaro

É a sina de todos os mortais…


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Apenas um toque, apenas uma canção

A música dispensa as palavras.

Quando a gente se envolve, 

Resta apenas o dedilhar 

Das cordas de um violão; 

A mão que afaga e

Desliza por sobre o teclado;

O sopro que insufla a flauta,

Fluindo do espírito que alça voo.


Acordes são mapas da magia 

Que provocam alcançar a plenitude.

Revestidos de palavras,

Tentam fazer o que é improvável:

Encorpar as notas com significados,

Na essência do que

Se liberta da própria partitura. 

A trilha sonora que afina mentes e corações.


O âmago da canção bate

Diretamente na porta da alma. 

Quando a voz lhe faz companhia 

É o aconchego, o abraço do etéreo... 

A plenitude da música está em quem 

A conduz, superando o instrumento,

Interagindo com o espírito. 

Apenas um toque, apenas uma canção. 


O enlevo que afasta da realidade

Para percorrer os caminhos em que 

O silêncio é espaço privilegiado.

A parte da música que provoca o coração. 

Quem a cultiva

Rega a pauta com as notas de onde se

Depreende o suspiro do Universo.


A toada que supera a concretude

De um momento ou de uma dor.

O arranjo que brinca repetidamente nos lábios.

Memórias assobiadas no gosto 

Das lembranças que o tempo escondeu.

Bálsamo e perfume.

O sentido de não desistir 

E reger o próprio destino…


terça-feira, 3 de dezembro de 2024

“Embebedar-se” da própria sobriedade

Cerca de doze anos atrás, logo que me aposentei, precisei fazer uma cirurgia para a retirada de um câncer de próstata. Creio que vocês sabem da "valentia" dos homens para enfrentar esta situação. Exatamente eu que, quando a gripe está chegando na esquina, já estou embaixo das cobertas, pedindo atendimento hospitalar… Foi tudo bem, com a recuperação relativamente rápida. E os exames posteriores mostraram que não seria necessário rádio ou quimioterapia. 

Como efeito colateral, aproveitei a prescrição do uso de medicação incompatível com o álcool para deixar de vez a bebida. “A ocasião que faz o ladrão”. Foram muitos anos de consumo sistemático. Entre amigos e familiares, cunhei o mantra de que "nesta encarnação, já havia consumido todas" ou "de agora em diante, nem vinho de Missa". A consequência foi que passei a ser convidado para "motorista da rodada", aquele que dirige enquanto os demais bebem.

Não sou um pregador da abstinência do álcool. Até acho engraçado quando as pessoas dizem que podem parar e já estão aumentando e sistematizando as doses… Aprendi que deixar a bebida ou qualquer outra atitude que impacte a vida pessoal e social passa pelo autoconvencimento: “deu, já passei da conta”. Infelizmente, às vezes se chega a esta noção tardiamente. Quando já se transformou a vida num inferno, além de infernizar a vida dos outros, especialmente os mais próximos. 

O melhor é não se expor ao perigo (especialmente dos “amigos da onça” que dizem: “de vez em quando não faz mal!”, mas depois te abandonam), a consciência de que se é, para sempre, um dependente alcoólico. Precisando estar, como os escoteiros, “sempre alerta”. Buscando nas pequenas alegrias do convívio o sentido de se manter sóbrio. E o passar do tempo dá a justa medida do que se perdeu profissionalmente, nas relações sociais e especialmente nas relações familiares.

Um passeio à serra gaúcha colocou em teste a compulsão pelas bebidas alcoólicas. Fiquei contente em acompanhar a degustação de vinhos. Achei de bom tamanho experimentar o bom suco e o espumante sem álcool. Tão satisfeito quanto os que experimentaram os sabores da bebida com teor alcoólico. Quem justifica uma taça do produto da uva nas refeições, pode estar certo. Mas também quem se contenta em “embebedar-se” da própria sobriedade para, apenas, ser feliz… sem ressaca!



domingo, 1 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Singelezas

A flor que encanta os olhos

Sabe que sua sina é fenecer.

Na sofisticação de um arranjo,

Ou apenas uma gramínea passageira,

Tem seu auge certa de que vai murchar

E um dia planar nas asas do vento…


Singela - porém única -

Hipnotiza os sentidos, pasma o olhar,

No encanto corriqueiro

Do que define o próprio destino…