terça-feira, 17 de setembro de 2024

O fiasco da polarização do “7 de Setembro”

Garanto que muitos de vocês têm alguma boa lembrança das comemorações do “7 de Setembro”, com os desfiles militares e a Parada da Juventude. Independente das narrativas que partidarizaram o evento, era o momento em que as pessoas mais simples se emocionavam (e ainda se emocionam) vendo esposa, marido, namorado, namorada, filho, filha, amigo, desfilarem pelas principais ruas e avenidas da cidade. Isto se chamava (e se chama) de civismo. Uma autêntica festa da democracia. O momento de celebrar a pátria.

A Parada da Juventude levava crianças em idade colegial às ruas em seus uniformes, bicicletas enfeitadas e bandeiras escolares. O orgulho do dia em que a cidade se esmerava para acolher seus jovens na avenida Bento Gonçalves, em que bancas de lanches e bebidas eram espaços à parte. Onde havia grupos de jovens fazendo um pé de meia para investir em atividades sociais e passeios. Nas beiras das calçadas, pessoas de todas as idades carregavam suas cadeiras e bandeiras e crianças de colo se identificavam com as cores nacionais.

De algum tempo para cá, grupos sociais encerravam as atividades cívico-militares apresentando seus problemas e reivindicações, inclusive com a motivação das igrejas cristãs. Pacíficos, ordeiros, com foco no que interessava à população. Diferente do que, hoje, se transformou num fiasco da polarização em Brasília e em São Paulo. Em ambos, a manipulação de um marketing duvidoso a serviço de uma direita e de uma esquerda fundamentalistas, mostrou-se pífio em arregimentar incautos numa campanha eleitoral disfarçada.

Sou saudosista, sim. Por favor, não venham com a velha cantilena de que “desfiles militares” são coisas do tempo da ditadura. Ela utilizou destes eventos para se fortalecer, mas sua essência nunca esteve longe da população que gostaria de ver nos jovens que prestam serviço militar, nas forças armadas e nos serviços de policiamento uma bengala que arrima a segurança do cidadão brasileiro. Exatamente num “país” que se chama Brasil e é o motivo de não se desistir da esperança de um dia viver a plenitude democrática.

Hoje existe uma maioria silenciosa da população brasileira que não é direitista e sequer esquerdista. Sabe que ambas têm praticamente as mesmas culpas em cartório. Gostaria que, se não ajudassem, também não atrapalhassem a reverência à pátria de todos nós. O lugar para se construir uma nação, que os políticos de praticamente todos os partidos boicotam. Já que uma população educada seria uma população consciente socialmente, percebendo seus desmandos e podendo colocá-los na mira das próximas eleições…

domingo, 15 de setembro de 2024

Um grito jogado ao mar

Quando as ondas do mar batem na praia,

Ouve-se o grito desesperado

De alguém que procura afugentar a agonia.

O desabafo em que a voz 

Se sobrepõe à rebentação.

Transpira tristezas.

Embebedando os sentidos,

Brada um nome, uma vontade, um desejo…


O derradeiro lugar de um náufrago,

Quando a vida escorre pelas

Poças que atrasam o refluxo na areia. 

Abandona a esperança que flutua nas ondas

E alquebra as certezas de encontro à rocha,

Clamando por um lugar que já não existe mais.


No sopé da montanha,

Onde o mar ruge junto à encosta,

Os sons se misturam com 

Um grito jogado ao mar.

Ali, onde o oceano não precisa de raízes 

Para guardar memórias,

No coração das águas em que 

Se abrigam segredos e confidências…


O mar não conta as vezes que ouviu

Um soluço ou um desabafo.

As lágrimas que borbulham nas ondas

Têm o gosto salgado da solidão e do abandono.

O tempo passado rouba 

o murmúrio do quebrar das águas,

Deixando em seu lugar o desafio da imensidão.


Tempo de aceitar a solidão,

quando o mar desgrenha o cabelo e

Libera o brado sufocado no peito.

A orla das ondas faz-se refúgio e

Um lugar sagrado.

Desnudados e aspergidos pela maré,

Liberta-se das garras do quotidiano,

O casulo que impede de desabrochar.

Por sobre as águas serenas do amanhecer,

A espera que o breu da noite

Esteja grávido de uma nova alvorada…

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O tempo em que se volta para casa…

Tem um lugar em que se passa um longo tempo

Ansiando em partir em busca de novos rumos.

Depois, o sonho e a luta por uma volta quase impossível.

Ali, onde não se conceituam sentimentos,

Inclusive a felicidade,

Porém, se passa uma vida inteira lembrando:

A casa onde ficaram os rastros de uma família.


Num conjunto de imperfeições, 

Sem que se perceba, transforma-se em lar,

Ao guardar histórias de cada um de nós. 

Nas memórias, juntam-se

Desde as roupa que ficaram esquecidas na corda,

As vozes que se espalhavam pela casa

Ou ecos das lembranças reverberando pelos cantos,

A televisão ainda ligada na sala,

A comida na mesa com o tempero das lembranças...


Passam diante dos olhos 

O lugar ao sol no pátio,

Onde se inventavam desculpas para ficar juntos.

A espera pelo horário 

Em que cada um batia a porta e chegava em casa.

Aconchegar-se no sofá,

Buscando um espaço para ronronar,

Com o sentimento de que ali era o meu lugar. 


Quando as lágrimas apertam os olhos,

Entristece pensar 

Na falta das eternas brigas pelas portas abertas,

A roupa espalhada pelo chão, 

O som no quarto abafando os demais,

Os pratos na pia esperando por ser lavados...


A casa sempre foi o lugar do colo,

Em qualquer idade, em qualquer situação,

Onde se aprende a respeitar espaços.

Por motivos que, depois, pareceram bobos como

As brigas e os gritos exagerados e 

Os olhares arrependidos em busca de perdão. 


Os primeiros passos… para andar e para viver!

A sensação de que não importava definir sentimentos,

Pois todos eles se fundiam 

No cadinho que se chama lar.

Onde ficam os rastros de família,

Impregnados no gosto agridoce 

Que se prende ao céu da boca.

Sem permitir esquecer, 

Na impossibilidade de reviver.


A Eternidade é o tempo em que se volta para casa. 

Um suspiro e a necessidade de tocar a vida,

Com a sensação de que um cantinho da alma

Ficou pelo caminho.

Refém do que foi único

(Embora então não se soubesse),

Restando a contínua busca por revisitar 

O passado que guarda o gosto de saudade…

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Redes sociais: entre Zorro e dom Quixote

Os meios de comunicação tem apresentado a disputa entre Elon Musk (o homem mais rico do mundo e executivo da Tesla e da SpaceX) e o ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) como a culminância de uma série de atritos pessoais. Não é verdade. Musk representa um grupo de conglomerados que compra empresas, visando turbinar e depois revender. Não “prega prego sem estopa”. Sabe que, em seguida, terá multiplicado seu lucro. É o caso da rede social X (antigo Twitter), foco da questão.

Já o ministro Moraes é o relator, no STF, dos inquéritos das fake news, milícias digitais e dos atos golpistas de 8 de janeiro. As investigações resultaram no bloqueio de uma série de perfis em redes sociais de pessoas acusadas por atentar contra a democracia e atacar o processo eleitoral brasileiro. Motivo de o acusarem de censura e cerceamento da liberdade de expressão pelos canais da internet. O Supremo é a casa que deveria resguardar e fazer cumprir a Constituição Brasileira. Paradoxalmente, em especial, do mundo do direito…

Eis uma boa discussão. Necessária e oportuna, embora, como sempre, no Brasil, a polarização nos coloque em atraso com relação a outros países. A liberdade de se expressar não pode ser confundida com permissividade e desrespeito às leis e agir contra o ordenamento democrático. A omissão do Congresso e a leseira do executivo permitem a sanha de interesses sectários e investidores internacionais, transformando o Brasil numa terra sem lei ou, no dizer do ministro, “uma terra de ninguém”.

Não morro de amores pelo sistema judiciário, especialmente sua mais alta corte. É a demonstração de como grupos se encastelaram no sistema, tornando-o refém de seus interesses. Como agora, quando se pretende o “direito da mais ampla defesa” para quem debocha da Constituição Brasileira. O magnata diz ter um dossiê contra o magistrado, demonstrando a pequenez da discussão: se há provas, deixar de as revelar também não é crime? Para o bem da democracia, tudo deve ser público até que, como na fábula, o rei fique nu…

Musk não é nenhum Zorro, defensor dos pobres e oprimidos. Nem são aventuras quixotescas. Ao contrário, o que foi passatempo nas redes sociais, hoje, é assunto sério, com vieses escabrosos. Em especial, no uso dos algoritmos que possibilita à rede X conhecer gostos, preferências e disseminar conflitos, de olho nas visualizações e aumento de seus lucros. Uma luta sem inocentes. Perdão, inocentes somos nós ao vermos apenas o que nos mostram e fazer uma “grenalização” até de uma coisa séria que deveria ser a política…

domingo, 8 de setembro de 2024

A magia em que transparece a realidade

Sonhar é o privilégio de abrir os olhos para

A magia que surpreende em uma imagem.

O sonho em que o despertar não é o fim,

apenas aceitar possibilidades.

Deparar-se com um rosto amigo,

Sorvendo a energia que transpira

Pelo silêncio do encantamento.

 

Sonhar é o mergulho na profundeza de um olhar,

Quando se flutua por universos de sentimentos,

Apropriando-se da luz que nasce de um sorriso.

Depois de passar despercebido por longo tempo,

Sentir um dia de sol na carícia

Que abraça o corpo inteiro,

Deslizando por cada fibra e aquecendo a pele...

 

O devaneio que emana

Do som da palavra que brota

Da boca da pessoa amada,

Sem se importar com o dito

Apenas compartilhar impressões.

O riso que parece sem sentido,

Onde toques e olhares

Reforçam a doçura de amar e ser feliz.

 

Passando pela névoa em que se perde

Na busca pelo conhecimento humano,

Desponta a magia do que é irrealizável…

Sôfregos, luta-se por se perder

Em pensamentos e devaneios, em que 

O sentido supera a fantasia e a imaginação.


A dança dos sonhos e da magia

Tem gosto de poesia.

Abrem o portal da mente, 

Se desnuda o inimaginável e

Liberta o coração das amarras do quotidiano.

A sensibilidade em que a alma respira,

Fugindo ao torvelinho

Que habita o mundo da fantasia.

Onde esperar é tão simplesmente 

A razão de divagar… e de sorrir! 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Me faça rir, me faça sorrir…

Não sei contar coisas engraçadas.

Nem fazer caretas que contagiam.

Sequer ser espirituoso.

Admiro quem é capaz de, 

Apenas comprimindo um olhar,

Fazer com que todo um ambiente se desanuvie.

Pessoas que fazem rir 

Dão razão para nos sentirmos amados…


O que é diferente em alguém

Que nos faz gostar ou não de uma pessoa?

Algo da graça de Deus as atinge.

Ficam marcadas pela capacidade

De tornar mais leve um estado de espírito.

Apenas são exatamente o que são...

O que é supérfluo, 

O que se percebe que não é delas,

Incomoda ao ponto de turvar nossa

Capacidade de as acolher.


Se não for possível rir, sorrir já me basta.

A disposição de compartilhar alegrias, contagiar.

Sentir-se bem em estar junto com alguém.

Aqueles que nos fazem felizes

Têm a melhor risada, que se torna única!


Me faça rir, me faça sorrir…

Meu dia preferido é aquele em que compartilho

Do teu riso e do teu sorriso.

Ficam marcados nas lembranças,

Aquecendo os momentos das tuas ausências.

Rir e sorrir é uma das garantias de existir...


É música que alimenta o espírito,

Uma bênção que entidades celestes

Compartilham com a humanidade. 

Etéreo, buscando nos sons

Os significados que transcendem a imaginação. 

Derramando-se pelos olhos, pelos lábios, 

Em cada marca de expressão do rosto.


Ali, onde se ausenta o riso e o sorriso, 

Restam rostos impassíveis,

Desprovidos de sensibilidade,

Carentes do próprio significado.  

Necessitam do rastilho

Que reinventa a própria sina:

Compartilhar um sentido

De que, no outro, está a razão de existir…

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Com o cheiro de sangue nas mãos…

A crise Israel/Palestina e as eleições na Venezuela têm algo em comum? Infelizmente, sim. Em ambos os casos, há interesses em jogo entre duas das potências mundiais (e nucleares): Estados Unidos e Rússia. Não é à toa que, lá e cá (Oriente Médio e América Latina), frotas navais deslocaram-se para atender interesses armamentistas. O Brasil já teve (e perdeu) a oportunidade de ser protagonista como força de equilíbrio geopolítico. Hoje, desfruta de um incômodo sentimento de não saber como sair de cima do muro…

Recentemente, a esquerda criticava os Estados Unidos por deslocar seus navios no mar Mediterrâneo, dando retaguarda a Israel, na sua luta contra o Hezbollah. Uma briga que a população israelita e sequer a palestina desejam. São atingidas como “efeitos colaterais”. No caso venezuelano, o resguardo russo é para manter um ditador que debocha com a sua população, assim como seus apoiadores internacionais, ao desacreditar o próprio processo democrático. Cobrado pela direita internacional.

Já falei sobre a relação Estados Unidos, Israel e o mundo árabe. Infelizmente, não se crê numa solução a curto prazo. Ali não é apenas uma questão de disputa étnica. Como já disse, as populações civis há muito tempo pedem por paz para poderem viver com dignidade. No entanto, vaidades, interesses financeiros e de poder (como a indústria armamentista) não se interessam por civis, depois que assumem os governos, o que se dá tanto em ditaduras travestidas de esquerda, assim como aquela que tem um verniz de direita.

O tabuleiro das relações internacionais deveria ser “jogado” por quem é preparado para entender de comércio, relações culturais, profissionais, entre outras. Criaram-se instâncias com alcance mundial para zelar pela correta relação, assim como, dirimir dúvidas e conflitos. Até ali. Quando interesses que não são públicos acabam “feridos” de alguma forma, estes organismos travam. Com mais competência, os governos americano e russo “convencem” aqueles que ouvem o canto da sereia a serem seus “porta-vozes”...

As frotas americana e russa na beira dos conflitos é sintomático. Farejam sangue. Sangue derramado nas mãos de dirigentes que titubeiam em condenar os vieses autoritários. A liberdade da qual estes povos foram privados e a violência que se abateu sobre eles é uma mancha na diplomacia brasileira e no próprio governo. Triste ver que, há muito tempo, as vozes mais sensatas deixaram de ser ouvidas. Hoje, os conflitos localizados têm potencial de se ampliarem, atingindo o planeta. Rezemos para que eu não tenha razão…

domingo, 1 de setembro de 2024

Os “estrangeiros” da minha rua

 

Minha rua guarda ecos de tempos perdidos.

Passaram-se os anos e testemunhei

Muitas partidas e outras tantas despedidas.

Poucos ficaram, muitos não voltaram.

No entanto, mesmo com tudo mudado,

Ali se definiram rumos,

Percursos com marcas nas lembranças.

 

Vivências fixadas nos meandros das memórias,

Voltando para não esquecer do passado.

Nas pedras e no asfalto,

Que substituíram a terra e as valas,

Há um resquício de risos, crianças brincando,

Gemidos de idosos,

O olhar esperançoso de jovens e adultos…

 

Para um passante desavisado,

Parece apenas um corredor de carros ou de 

Pessoas refugiando-se em seus pequenos mundos,

Transitando na ida ou na volta do trabalho.

Os lugares que eram esconderijos e

Campinhos de futebol ou de taco

Foram ocupados por condomínios.

Os novos moradores já não têm

As mesmas memórias.

Tristemente, perderam suas referências.


Os “estrangeiros” da minha rua

Veem na vila apenas um dormitório,

Não é local marcante nas suas histórias,

Onde se abrigam raízes.

Homens e mulheres que

Fazem das casas um refúgio da solidão,

O existir com pouco ou nenhum sentido…

Quem passa pela vila, 

Talvez o faça com indiferença.

Não compartilhou momentos

Com quem conviveu e luta para não esquecer.


O que dá sentido à minha rua é que,

Mesmo comparada com muitas outras,

Sua diferença está em ser nela que 

Turbinamos as mentes e os corações.

O tempo para enfrentar lugares e destinos diversos,

Onde apenas os sonhos conseguiram encantar

O que ansiávamos que se tornasse realidade…