domingo, 9 de outubro de 2016

Competência em multar, mas não em investir

Quem sobe a Serra Gaúcha em direção a Caxias do Sul, saindo de São Leopoldo, tem uma bela vista de pequenos aglomerados urbanos e áreas preservadas nas encostas dos montes. Com alívio deixamos para trás as grandes cidades e desfrutamos, durante algum tempo, o privilégio de mirar ao longe, por entre espaços onde o Sol brinca com a variedade de verdes, ou a névoa dá a ideia de que pairamos acima das nuvens.
Numa estrada de conservação precária, o bom mesmo é, além de algumas vezes fazer a contemplação com o canto do olho, seguir firme procurando manter-se sobre o asfalto, em espaços mal remendados, carentes de sinalização, em especial a que delimita a lateral e o centro das pistas.
Nos últimas meses, algumas vezes tenho feito este percurso. Embora todas as crises que o governo do Estado enfrenta, sempre fico pensando que, municiado de impostos e pedágios, bem que poderia ser mais competente e, ao menos, dar como retorno, se não uma estrada duplicada, a sinalização adequada para a que existe.
No dia 15 de julho, subi a Serra. Em São Sebastião do Caí deparei-me com uma série de controladores de velocidade que não controlam absolutamente nada, já que a maior parte dos motoristas sabe onde estão e diminui a velocidade apenas ao passar pelos locais dos aparelhos. Não foi o meu caso. Com uma eficiência inesperada, no dia 21 de julho, recebi a notificação de que havia sido flagrado por excesso de velocidade.
Pode-se discutir a forma como os controladores são distribuídos e também a eficácia para controlar imprudentes. Mas não se pode deixar de reconhecer que se há competência para ser tão ágil em apontar uma falha, porque também não há em prestar um serviço, numa tripla tributação, já que impostos são recolhidos, as cancelas dos pedágios funcionam implacavelmente e há o reforço das multas.
Há muito tempo se fala na indústria da multa, que funciona em prejuízo do bolso do cidadão e não com fins educacionais. Por ali circulam carros de passeio, ônibus, mas também veículos de grande e médio porte para o transporte de produtos. Estes já tem um mapa dos controladores e freiam abruptamente para não serem alcançados pelo leitor de velocidade.
Gosto do silêncio das estradas. Dirigir com tranquilidade é um bom momento de reflexão, arejar a cabeça e recarregar baterias. Dirijo pelo prazer da viagem ou por compromissos familiares. Ao darmos nossa "contribuição" forçada para a máquina pública esperamos que nos devolva em serviços e que não seja autofágica. Porém, o Estado arrecada mas não faz. Exigir ação do governo não é privilegiar quem usa as vias por prazer, mas buscar segurança e conforto para as legiões de trabalhadores que cortam o país sentindo na carne o descaso por nossas estradas.

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