quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A criança invisível

Estatísticas sobre violência chegam às nossas casas pelos meios de comunicação todos os dias. A enxurrada de dados é tão grande que já não conseguimos processar e vamos nos tornando insensíveis àquilo que é um escândalo. A Rede Globo de Televisão fez o seu "Criança Esperança" e mesmo que se discuta todo o seu processo, não há como refutar os números apresentados. E um deles é estarrecedor: a cada 24 horas, no Brasil, uma "criança" na faixa dos 12 aos 19 anos morre vítima da violência!
Há muito tempo quem trabalha com educação sabe das discussões a este respeito. O que podemos fazer para reverter este quadro? Embora algumas respostas pontuais feitas por alguns educadores ou grupos sociais, o espectro geral é de um processo educacional que faliu, infelizmente causando prejuízo para um bom percentual de crianças e jovens e às futuras gerações. Esta geração já é fruto de descalabros cometidos anteriormente e já temos filhos de pais que foram negligenciados pelo sistema, tornando-se crianças invisíveis, somente aparecendo em estatísticas para solicitar verbas.
A Unicef distribuiu um vídeo em que uma criança está sozinha, na rua, bem vestida, bem penteada. Em seguida aparece mais do que uma pessoa interessada em saber onde está sua mãe ou seus pais, até buscando apoio. A mesma criança, em roupas simples, desgrenhada, não merece qualquer consideração por parte dos passantes. Atenção semelhante é dada quando a criança bem produzida chega a um restaurante e é rechaçada quando veste a pobreza. A própria criança se emocionou com o anonimato que teve quando mais precisava de ajuda.
Não é somente no Brasil que os números assustam: a organização Médicos Sem Fronteiras levantou dados das regiões em que atua e constatou que 13 milhões de crianças estão fora das escolas graças aos conflitos armados no Oriente Médio e Norte da África. Seus voluntários já propiciaram mais do que uma cena em que se percebe que nem tudo está perdido: toda a sua atividade, toda a relação com as populações carentes de atendimento médico passam por relações humanas.
Só poderia ser desta organização que orgulha tanto a gente como possibilidade de reverter o jeito como tratamos nossas crianças: "só quem pode salvar a vida de um ser humano é outro ser humano." Têm razão. Desistir é reconhecer que perdemos a única guerra que não poderíamos perder. E nos brutalizamos. Lutar pela educação de nossas crianças e jovens é humanizar relações, fazer valer o que mais nos aproxima do Divino!

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