domingo, 14 de agosto de 2011

Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil

Para quem quer entender este documento da CNBB, aqui vai um resumo comentado:


O documento 94 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - “Diretrizes gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015” - inicia com uma provocação: “escutar os sinais dos tempos e os desafios que neles se manifestam”. Pontual e correto. A população espera de instituições como a Igreja Católica, uma resposta aos “desafios que emergem em nosso tempo de transformações radicais na totalidade da existência, que, às vezes, geram perplexidade, ameaçam a vida em suas diversas formas e levam o ser humano a se afastar dos valores do Reino de Deus.”
Foi organizado de tal forma que, no capítulo 1, a reflexão gira em torno de Jesus Cristo, o grande iluminador da caminhada. No capítulo 2, procura colocar os pés no chão, uma espécie de “choque de realidade”. Esta realidade tem urgências, que são detectadas no capítulo 3. Com o seu enfrentamento, no capítulo 4. Indicando as urgências que devem ser priorizadas, especialmente nas Igrejas particulares, no capítulo 5.
São cinco as urgências apontadas: Igreja em estado permanente de missão; Igreja: casa da iniciação cristã; Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; Igreja: comunidade de comunidades; Igreja a serviço da vida plena para todos. O que permite que sejam respeitadas duas características da Igreja: a unidade e a diversidade.
Neste momento, o documento toca num ponto que é sensível para os homens e mulheres de Igreja, repetindo o papa Paulo VI: “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres; ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”. É preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo. “Na alvorada do terceiro milênio, não só existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa Nova, mas há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamente a força do Evangelho”.
Dois pontos preocupantes: precisamos de mais testemunho efetivo e afetivo. Tanto entre os leigos, quanto entre os sacerdotes ou consagrados, há o desafio de vivenciar o ser cristão na realidade do dia a dia. E onde encontrar este rumo? A Igreja tem consciência de que “particularmente as novas gerações têm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a comunidade eclesial”.
No atual período da história, marcado pela mudança de época, a missão assume um rosto próprio, com, pelo menos, três características: urgência, amplitude, inclusão. Um tempo que deve levar a uma forte comoção missionária. Mas alerta: “em virtude do enfraquecimento das instituições e das tradições, cresce a responsabilidade pessoal”.
Chega a hora de dar passos concretos. Iniciamos pela pastoral da visitação, precisando de maior organicidade e eficácia para este serviço. Passamos pelos jovens: a oferta de um itinerário para a organização de seu projeto pessoal de vida contribuirá com a vida plena desta parcela tão significativa de nossa Igreja e da sociedade. Enfrentamos um desafio que é muito teorizado e pouco praticado: “O encontro fraterno e respeitoso com os seguidores de religiões não cristãs e com todas as pessoas empenhadas na busca da justiça e na construção da fraternidade universal”. Não deixando de reconhecer e recolher as muitas manifestações da piedade popular católica que “precisam ser valorizadas e estimuladas e, onde for necessário, purificadas. Tais práticas têm grande significado para a preservação e a transmissão da fé e para a iniciação à vida cristã.”
O desafio do homem do século XXI: “as pessoas não buscam em primeiro lugar as doutrinas, mas o encontro pessoal, o relacionamento solidário e fraterno, a acolhida, vivência implícita do próprio Evangelho.” Revitaliza-se a urgência de conhecer as Sagradas Escrituras. Mas que não basta possuí-las, é necessário que a pessoa seja ajudada a ler corretamente. Neste sentido, o cuidado com as comunidades, para que não sejam pequenas paróquias locais, com estruturas pouco utilizadas.
Não perder de vista, igualmente, a missão fundamental de leigos e leigas como presença e testemunho na sociedade e na profissão; o carisma da vida consagrada - em suas dimensões apostólica e contemplativa - presente em fronteiras missionárias; inserida junto aos pobres; atuante no mundo da educação, da saúde, da ação social; orante em mosteiros e carmelos, comprometida a evangelizar por sua vida e missão; podendo questionar o grande número de instituições que surgiram amparadas pela Igreja e que hoje se tornaram leigas, ou até contrárias à própria Igreja. Não esquecendo que a Igreja é a presença mais capilar de uma organização social, no Brasil.
Diretrizes indicam rumos, abordam aspectos prioritários da ação evangelizadora, princípios norteadores e urgências irrenunciáveis. Não há como executar planejamento pastoral sem antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo. O discípulo missionário é chamado a, profeticamente, questionar, através de suas escolhas e atitudes, um mundo que se constrói a partir da mentalidade do lucro e do mercado, não esquecendo que tais atitudes geram violência, vingança, guerra e destruição.
Como o Filho de Deus assumiu a condição humana, exceto o pecado, nascendo e vivendo em determinado povo e realidade histórica (cf. Lc 2,1-2), nós, como discípulos missionários, anunciamos os valores do Evangelho do Reino na realidade que nos cerca, à luz da Pessoa, da Vida e da Palavra de Jesus Cristo, Senhor e Salvador. Infelizmente, criou-se um paradoxo: já não é mais a pessoa que se coloca na presença de Deus, como servo atento (cf. 1Sm 3,9-10), mas é a ilusão de que Deus pode estar a serviço das pessoas. Acaba se tornando uma espécie de culto de si mesmo.
Ao pensar nas perspectivas de ação, será útil lembrar que de 2012 a 2015, estaremos comemorando os 50 anos da realização do Concílio Vaticano II, com várias ações na Igreja no Brasil. O Concílio representa um acontecimento eclesial que marcou fortemente a caminhada da Igreja, promovendo a atualização de métodos e de linguagem, verdadeiro Pentecostes do século XX. Deu à Igreja instrumentos arrojados que, ainda hoje, precisam ser digeridos. Mais do que isto, lembrar da figura ímpar de João XXIII, um papa que deveria ser de transição, convocou o Concílio e, até hoje, é sinônimo de pastor, angustiado em buscar ovelhas perdidas.
O documento pede que não esqueçamos os novos areópagos: mundo universitário e uma ousada pastoral da comunicação. O terceiro areópago liga-se à presença pastoral junto aos empresários, aos políticos, aos formadores de opinião no mundo do trabalho, dirigentes sindicais e comunitários, disponibilizando e formando pessoas que se dediquem a ser presença significativa nestes meios. Cabe também incentivar a Pastoral da Cultura, viva e atuante, através de centros culturais católicos e de projetos que visem atingir os núcleos de criação e difusão cultural. Pois, ao ignorarmos a realidade, com certeza, não evangelizamos.
As boas respostas pastorais dependem de identificar as verdadeiras necessidades de evangelização. A pergunta é: o que nos diferencia dos demais credos religiosos? Exatamente aquilo que deixamos de fazer, especialmente quando abandonamos nosso carisma: o fascínio por Jesus Cristo e o compromisso pelo Reino de Deus e sua justiça. Elas representam forte apelo à unidade. Vale a pena lembrar a ousadia e o testemunho dos primeiros cristãos. Num mundo em transformação, as pessoas necessitam de referências de fé, vividas intensamente num dia a dia em que possam dizer: “vejam como eles se amam!”.

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