terça-feira, 30 de agosto de 2011

Palavrinhas mágicas

Manhã de conversa com professoras na Creche São Francisco de Paula, onde são atendidas crianças pobres. Provocar o debate sobre o perdão, com duas palavrinhas mágicas que lhe são complementares: obrigado e desculpe.
Pelos olhares, o sentimento de que tocava em cada uma delas, especialmente quando a gente trabalha com crianças, onde a necessidade da tolerância é grande e ser capaz de reconhecer algo de bom - obrigado - é a tônica. Mas também a capacidade de entender o erro próprio - desculpe - acaba fazendo a grande diferença.
Amar não é aprisionar o ente amado - este é o maior erro da frase que se tornou clássica do filme Love Store "amar é nunca ter que pedir perdão" - mas a capacidade de que, mesmo protegido, também se sinta em liberdade para alçar o próprio vôo.
Amar é ter que pedir perdão quantas vezes for necessário, mesmo que não seja fácil, para que a vida continue, talvez com alguma marca (as feridas deixadas por nos sentirmos agredidos com maior ou menor intensidade - com a consequente marca em nossas almas: algumas tenras e que logo desaparecem, outras profundas e que, mesmo o tempo, depois de curá-las, não as faz desaparecer)
Sendo no seio da família, no lugar de trabalho, numa cama em recuperação, na carícia de uma mão infantil, no olhar de um idoso pedindo amparo, as palavras mágicas existem: obrigado (por cada segundo da existência), desculpe (poderia ter sido bem melhor e eu atrapalhei), mas no ato de compreender e perdoar está a presença divina que nos faz melhores, mais tolerantes, mais capazes de ser e repartir a felicidade.

sábado, 27 de agosto de 2011

Carta aberta para Renato Aragão

Creio que vale a pena a reflexão:


Querido Didi,
Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu nome para colar nas correspondências) ..........
Achei que as cartas não deveriam ser endereçadas a mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido às suas solicitações.
Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e escrever uma resposta.
Não foi por "algum motivo " que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você.
São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos).
Você diz, em sua última carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação!
Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Esse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas, mas, comigo, não.
Eu não sou ministra da educação. Não ordeno e nem priorizo as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula.
A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos de idade, quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da família.
Trabalhei muito e, te garanto, TRABALHO NÃO MATA NINGUEM! Muito pelo contrário, faz bem!
Estudei na escola da zona rural, fiz Supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro- empresária. 
Didi, talvez você não tenha noção do quanto o GOVERNO FEDERAL tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa.
Os impostos são muito altos! Sem falar dos Impostos embutidos em cada alimento e em cada produto ou serviço que preciso comprar para o sustento e sobrevivência da minha família. 
Eu pago pela educação duas vezes: pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, PORQUE SOMENTE A ESCOLA PÚBLICA NÃO ATENDE COM ENSINO DE QUALIDADE QUE, ACREDITO, MEUS DOIS FILHOS MERECEM!!!
Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir, pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais!
O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores dessa dinheirama toda não vêem a educação como prioridade! PARA ÊLES, A EDUCAÇÃO LHES RETIRA A SUBSERVIÊNCIA E ÊSSE FATO, POR SI SÓ, NÃO INTERESSA AOS POLÍTICOS QUE ESTÃO NO PODER. POR ISSO, O DINHEIRO ESTÁ SAINDO PELO RALO; ESTÃO JOGANDO FORA, OU APLICANDO MUITO MAL!!!
Para você ter uma idéia, na minha cidade cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 8,82 (oito reais e oitenta e dois centavos), enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos)!!! O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda? Você pode ajudar a mudar isso! Não acha?
Você diz em sua carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você! É por isso que sua carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria ser endereçada a Presidente da República!!! Ela é "a cara"!!! Ela é quem tem a chave do cofre e a vontade política para aplicar os recursos!
Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que eles façam o que for correto e necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas do país, sem nenhum tipo de distinção ou discriminação. MAS, NÃO É O QUE ACONTECE!!!
No último parágrafo da sua carta, você joga, mais uma vez, a responsabilidade para cima de mim, dizendo que as crianças precisam da "minha doação" e que a "minha doação" faz toda a diferença...
Lamento discordar de você, Didi!!! Com o valor da doação mínima de R$ 15,00(quinze reais) eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês, ou posso comprar pão para o café da manhã para 10 dias.....!!!
Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas, R$ 15,00 (quinze reais), eu não vou doar! Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho!!!
Isso significa que o governo leva mais de um terço de tudo que eu recebo e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família!
Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer NÃO para quase tudo que meus filhos querem ou precisam? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo? Acredito que não. Você é um homem de bom-senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.
Outra coisa Didi, MANDE UMA CARTA PARA A PRESIDENTE "DILMA" pedindo para ela selecionar melhor os ministros e também os professores das escolas públicas! Só escolher quem, de fato, tem vocação para ser ministro e para o ensino.
Melhorar os salários daqueles profissionais também funciona para que eles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação! Peça para Ela, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam, além de ler, escrever e fazer contas, possam desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso está sobrando sim! Diga para Ela priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.
Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do UNICEF para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando... Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari!!!
P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal-educada: vou rasgá-la antes de abrir.
PS2* Aos otários que doaram para o criança esperança, fiquem sabendo: AS ORGANIZAÇÕES GLOBO ENTREGAM TODO O DINHEIRO ARRECADADO À UNICEF E RECEBEM UM RECIBO DO VALOR PARA DEDUÇÃO DO SEU IMPOSTO DE RENDA!!! Para vocês a Rede Globo anuncia: essa doação não poderá ser deduzida do seu imposto de renda! POR QUE É ELA QUEM O FAZ!!!
PS3* E O DINHEIRO DA CPMF QUE PAGAMOS DURANTE ONZE ANOS? MELHOROU ALGUMA COISA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE DURANTE ESSES ANOS?
BRASILEIROS PATRIOTAS (e feitos de idiotas)!!! DIVULGUEM ESSA REVOLTA.... Isto deveria chegar a Brasília, não acham???
CARTA ABERTA DE ELIANE SINHASIQUE (jornalista e publicitária) PARA RENATO ARAGÃO (o Didi da REDE GLOBO DE TELEVISÃO) . . . . . !!!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O desenvolvimento de Rio Grande e Pelotas

Debate, ontem à noite, no auditório da Católica. Em discussão, o desenvolvimento conjunto da região Sul, capitaneado por Rio Grande e Pelotas. Exatamente nesta ordem, mais os municípios menores. Pelotas tem que se conscientizar de que passa a ser um coadjuvante de luxo, pois os aportes maiores virão para Rio Grande, mas que o desenvolvimento atingirá o conjunto dos municípios.
Muito grande a preocupação com a formação de mão de obra qualificada, mas também com o processo de humanização. Alguém disse que são equipamentos de ponta, mas que precisam de um homem ou uma mulher para acioná-los.
A discussão, provocada pela Rádio Gaúcha (Lasier Martins), vem buscar a repercussão do que já se discutiu há dois anos atrás. De lá para cá, o que mudou? Segundo os integrantes do debate, uma maior integração, especialmente no que se refere às principais reivindicações. Muitas cristas já baixaram (algumas ainda vão cair), pela força das circunstâncias. A indisposição entre Pelotas e Rio Grande é baseada em bobagens históricas de acusações sem fundamento.
Passando por cima e reivindicando em conjunto, ganham os dois municípios e ainda sobra para os demais. O grande destaque ficou por conta da necessidade de que se aproveite este momento para investir em educação. Nossas universidades precisam se atualizar, mas precisamos retomar uma formação técnica qualificada para o segundo grau.
O caminho está aberto. Um exemplo dado foi o de que pessoas que toda a vida trabalharam na pesca, hoje buscam formação técnica para trabalhar no polo naval. Possivelmente, também nossos jovens que hoje se formam e tem que botar o pé no Mundo, em seguida vão ter emprego aqui mesmo. Um sonho bom de ser sonhado: uma nova perspectiva para uma região que, até pouco tempo atrás, tinha o fantasma do atraso rondando em suas portas.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A noite e a droga


Duas matérias estiveram nas páginas de jornal da semana passada. A primeira: a Justiça afirma que vai marcar de cima bares e similares que venderem bebidas alcoólicas para menores de idade. A segunda: o drama vivido pelos pais de um jovem dependente químico para tentar interná-lo para desintoxicação e possível recuperação.
Em princípio, uma não tem nada a ver com a outra. Engano: o fato dos jovens (quase crianças) estarem nas ruas é sinal de que “ganharam” a disputa com os pais para terem “liberdade” cada vez mais cedo. Os pais se dizem impotentes, não conseguindo mantê-los em casa, não somente pela argumentação, mas também porque eles fogem. Culpar aos pais é uma forma fácil de tirar de nossas costas a responsabilidade social.
Na maior parte das vezes, esta liberdade conquistada sem um amadurecimento sadio é que vai resultar na segunda matéria: como não foram se acostumando com limites, a droga é um dos elementos oferecidos na rua para que a “liberdade” seja mais bem saboreada. Triste engano, pois embora digam que param quando quiserem, é um retorno difícil e penoso, muitas vezes impossível.
Palmas para setores da Justiça que fazem batidas e recolhem jovens para casas de passagem ou os levam de volta para suas casas. Palmas para pais que levam e buscam seus filhos, mesmo que na madrugada, até as festinhas, ou que organizam “mutirões” com outros pais, para um revezamento sadio e produtivo.
Nossa máquina pública, infelizmente - embora alguns exemplos como exceção - peca pela omissão: que bebidas não podem ser vendidas para menores, isto é o óbvio, que deveria ser respeitado ou os responsáveis serem penalizados. Mas também deveria haver marcação severa para que menores não perambulem pela noite.
Assim como programas de saúde para internação - com sua permissão ou não, de jovens dependentes. Infelizmente, num caso destes, existe a perda do discernimento, então é o caso da família ou mesmo do Estado efetivar providências. Medidas e discussões paliativas de “respeito por autonomia” pavimentam a estrada que leva ao fundo do poço.

domingo, 21 de agosto de 2011

Boneca de crochê

Uma conhecida me enviou. Espero que o marido não esteja a perigo:

Um homem e uma mulher estavam casados por mais de 60 anos.
Eles tinham compartilhado tudo um com o outro e conversado sobre tudo.
Não havia segredos entre eles, com exceção de uma caixa de sapato que a mulher guardava em cima de um armário e tinha avisado ao marido que nunca abrisse aquela caixa e nem perguntasse o que havia nela.
Por todos aqueles anos ele nunca nem pensou sobre o que estaria naquela caixa de sapato.
Um dia a velhinha ficou muito doente e o médico falou que ela não sobreviveria.
Sendo assim, o velhinho tirou a caixa de cima do armário e a levou pra perto da cama da mulher.
Ela concordou que era a hora dele saber o que havia naquela caixa.
Quando ele abriu a tal caixa, viu duas bonecas de crochê e um pacote de dinheiro que totalizava 95 mil dólares.
Ele perguntou a ela o que aquilo significava, ela explicou;
- Quando nós nos casamos minha avó me disse que o segredo de um casamento feliz é nunca argumentar/brigar por nada. E se alguma vez eu ficasse com raiva de você que eu ficasse quieta e fizesse uma boneca de crochê.
O velhinho ficou tão emocionado que teve que conter as lágrimas enquanto pensava 'Somente duas bonecas preciosas estavam na caixa. Ela ficou com raiva de mim somente duas vezes por todos esses anos de vida. Isto que é amor.' 
- Querida!!! - Você me explicou sobre as bonecas, mas e esse dinheiro todo de onde veio?
- Ah!!! - Esse é o dinheiro que eu fiz com a venda das bonecas, só sobraram duas.
ORAÇÃO  
Senhor, dai-me sabedoria para entender meu marido, amor para perdoá-lo e paciência para aturá-lo, porque se eu pedir força, eu bato nele até matar, pois EU NÃO SEI FAZER CROCHÊ... Amém!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sonhos que sonhei

Apenas restaram as brasas no fundo da lareira.
Já tivemos um fogo mais forte,
com labaredas ardentes e ofegantes.
Mas o tempo deixou o calor
e a certeza de que o remexer nas brasas
despertam chamas temporárias.
Passou a vida, o tempo deixa marcas
que não gostaríamos de carregar.
Cada um de nós dormita na serenidade
do fogo que se apaga
e do vento que bate na janela.
Como é que a história poderia ser diferente?
Carregamos nosso destino
certos de que nunca perdemos a esperança.
Caminhar para o fim ainda é uma busca,
somente anula o sentido quando perdemos
aqueles que arrimam nossos sonhos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entre a vida e o fundo do poço

Em Pelotas, uma segunda nublada, úmida, típica da chamada "segunda Londres". Em meio ao mau tempo, a procura por ânimo e disposição de enfrentar mais uma semana. Ouvindo o programa do professor Jorge Malhão, na Rádio Tupanci - onde também faço comentários às segundas e sextas - uma frase lapidar: "abrace a vida e não o fundo do poço".
Opa, que tiro certeiro. A gente passa por diversos momentos na vida onde, até se tem o direito, de chegar à beira do poço. Mas é preciso lutar para não "abraçá-lo", ou cair nele.
Tenho dito que, no meu momento atual, acompanhando uma pessoa idosa, as nossas forças vão sendo solapadas, mas que existem, ao menos, dois fundamentos que não deixam desistir: a espiritualidade e saber que esta mesma pessoa nos deu muitos e muitos anos de muitas alegrias.
Viver tem que ser exatamente isto: encontrar sentido em cada um de nossos momentos: aquele em que se passeia pelos caminhos e aqueles que se fica aprisionado a um leito; os sorrisos marotos e provocativos e as lágrimas furtivas pela espera do fim da vida; a mão que é estendida para uma brincadeira e aquela que pede forças para enfrentar a dor.
O telefonema para um amigo foi para dizer que não podia estar com ele todo o tempo que ele merecia - mas que estava com ele em minhas orações - mas que também o meu tempo era gasto acompanhando alguém que precisava dele.
Pode ser qualquer dia da semana, pode ser qualquer dia do mês, o que importa é que a caminhada continua: muitas vezes andamos meio mancos, mas o que nos empurra para o chão tem a contrapartida daqueles que nos sustentam com sua presença e orações.
Somos nós e nossas circunstâncias. A vida nos pede sacrifícios, mas nos oferece um dia de sol para os pais; a leitura de um poema por uma sobrinha, ou apenas um olhar de confiança de quem depende de nós para o ato mais sagrado da existência: viver.