domingo, 15 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Perdição

 

Um sorriso tímido vesgueia teus lábios,

O olhar, resgatado da solidão,

A testa, franzida por desencontros,

A mão ao lado do rosto,

Quando te perdias ao longe...

 

Momentos de silêncio,

Palavras desnecessárias.

Exercitar a paciência e tentar entender

Que o tempo passando não cura a dor.

Mesmo sem ser aceita,

Simplesmente lhe dá sentido…


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A escuridão da tua ausência

Somos feitos de sonhos inacabados.

O material incorpóreo

Que reúne ânsias e expectativas.

Resistimos à concretude,

Tendo no horizonte o sentido do devaneio.

Mesmo com quem se ama,

Luta-se para aceitar a finitude,

A imperfeição que adoça cada reencontro...

 

Ficam nas memórias, lugares onde se habitou e

O som cristalino de vozes e risadas.

Ali, o sentimento de vazio e de dor,

Com o desejo de que ainda consigas ser feliz.

Ao teu rosto esmaecer nas minhas lembranças,

Meu sorriso se perde na escuridão da tua ausência.

Foste em busca de novos horizontes

E eu não podia impedir que perseguisses teus sonhos.

 

As nuances do tempo desmaiam as memórias.

Fugidias, recolhem-se

Aos recônditos onde esmaecem as recordações.

O frescor da juventude deixa

Rastros que marcam por toda a vida.

Como as digitais do teu abraço no meu peito.

O motivo para aceitar tua partida,

E ser honesto com o meu próprio coração.

 

Pude, então, imaginar o alcance dos teus sonhos, 

Onde se mesclavam possibilidades e anseios. 

Aquilo que nossos olhos contemplariam,

Se tivéssemos ficado juntos.

Seria o Paraíso, a realização de todas as utopias. 

Onde se cobraria, apenas e tão somente,

um sorriso como o preço para ser acolhido.


Os mesmos caminhos, os mesmos lugares.

Ali, onde tudo parecia ter sentido,

Menos no dia em que precisei entender a tua falta.

Com o tempo,

Rasgam-se as vendas que obstruíram os sentidos.

A sensação de que o pouco que 

ficou é suficiente para que não se 

Desista de sonhar com a felicidade…


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Redes sociais: maldades e frustrações

Nos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuiu-se a tarefa de debater a responsabilidade das redes sociais e remoção de perfis falsos. Ocuparia lugar do Congresso Nacional que enrolou e não saiu do lugar. Infelizmente, também o Supremo não foi adiante, mostrando a “zorra” que se vive nos três poderes que, se não forem interesses próprios, batem cabeça e procrastinam. Há um vácuo legal que permite a proliferação de conteúdos nocivos e a polarização, especialmente pelos discursos de ódio e fake news.

Discutir as redes sociais não é novidade. Muitos países estão regulamentando seu uso, com o exemplo mais recente vindo da Austrália, onde o acesso somente poderá ser feito por pessoas com mais de 16 anos. Lógico que a grita foi geral, especialmente daqueles que veem em tudo “uma ingerência indevida do setor público”. “Ora, direis…” que exatamente para isto é que se elegem o executivo e o legislativo e se propõe a funcionar o judiciário. Poderes que deveriam ter a preocupação com a segurança do já esquecido cidadão…

São diversas pontas que não estão soltas, mas têm um mesmo condutor. Como o uso do celular. Eletrônicos são instrumentos que precisam ser utilizados para expandir a capacidade humana de agir. Meios, não fins. Infelizmente, o que se faz é transformar no “parceiro (a)” ideal que compensa a angústia, frustrações, medos como algo que prescinde das relações humanos. É triste pensar que muitos filhos acreditam que os pais saberem usar as redes sociais compensa a sua ausência na casa deles ou nas residências geriátricas.

Decepciona pensar que homens e mulheres bem pagos, que têm o dever constitucional de fazer o papel de legislar e fiscalizar, se omitem. Precisam colocar em discussão a liberdade de expressão, a responsabilidade das plataformas, a privacidade e até (porque não?) o impacto econômico que a regularização pode trazer. Chamando a Brasília quadros técnicos e humanistas, contribuindo e somando na discussão. Profissionais de diferentes áreas se debruçam sobre este tema, em nível internacional, com uma riqueza de contribuições.

O judiciário decepcionou novamente. Com um legislativo a cabresto dos seus interesses, fica-se órfão de quem poderia (e deveria) melhorar este aspecto da vida social, responsável pela polarização política vivida, hoje, no Brasil. Com as facilidades da internet, pode-se percorrer o mundo e saber o que deu certo e o que deu errado. Não é preciso reinventar a roda. Basta pensar que crianças e idosos não precisam ficar indefesos diante de quem transforma as redes sociais em latrina, onde despejam maldades e frustrações.


domingo, 8 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Voos

 

Voar é o sonho que encanta a humanidade. 

Os pássaros que nos seduzem,

Nas asas que planam por sobre

Árvores ou águas serenas,

Carregando suspiros e encantamentos.


A imaginação desenha, na imensidão dos céus,

Por entre o enfado das nuvens,

Na transparência do azul infinito.

O olhar carrega devaneios

De que a ascensão e queda de Ícaro

É a sina de todos os mortais…


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Apenas um toque, apenas uma canção

A música dispensa as palavras.

Quando a gente se envolve, 

Resta apenas o dedilhar 

Das cordas de um violão; 

A mão que afaga e

Desliza por sobre o teclado;

O sopro que insufla a flauta,

Fluindo do espírito que alça voo.


Acordes são mapas da magia 

Que provocam alcançar a plenitude.

Revestidos de palavras,

Tentam fazer o que é improvável:

Encorpar as notas com significados,

Na essência do que

Se liberta da própria partitura. 

A trilha sonora que afina mentes e corações.


O âmago da canção bate

Diretamente na porta da alma. 

Quando a voz lhe faz companhia 

É o aconchego, o abraço do etéreo... 

A plenitude da música está em quem 

A conduz, superando o instrumento,

Interagindo com o espírito. 

Apenas um toque, apenas uma canção. 


O enlevo que afasta da realidade

Para percorrer os caminhos em que 

O silêncio é espaço privilegiado.

A parte da música que provoca o coração. 

Quem a cultiva

Rega a pauta com as notas de onde se

Depreende o suspiro do Universo.


A toada que supera a concretude

De um momento ou de uma dor.

O arranjo que brinca repetidamente nos lábios.

Memórias assobiadas no gosto 

Das lembranças que o tempo escondeu.

Bálsamo e perfume.

O sentido de não desistir 

E reger o próprio destino…


terça-feira, 3 de dezembro de 2024

“Embebedar-se” da própria sobriedade

Cerca de doze anos atrás, logo que me aposentei, precisei fazer uma cirurgia para a retirada de um câncer de próstata. Creio que vocês sabem da "valentia" dos homens para enfrentar esta situação. Exatamente eu que, quando a gripe está chegando na esquina, já estou embaixo das cobertas, pedindo atendimento hospitalar… Foi tudo bem, com a recuperação relativamente rápida. E os exames posteriores mostraram que não seria necessário rádio ou quimioterapia. 

Como efeito colateral, aproveitei a prescrição do uso de medicação incompatível com o álcool para deixar de vez a bebida. “A ocasião que faz o ladrão”. Foram muitos anos de consumo sistemático. Entre amigos e familiares, cunhei o mantra de que "nesta encarnação, já havia consumido todas" ou "de agora em diante, nem vinho de Missa". A consequência foi que passei a ser convidado para "motorista da rodada", aquele que dirige enquanto os demais bebem.

Não sou um pregador da abstinência do álcool. Até acho engraçado quando as pessoas dizem que podem parar e já estão aumentando e sistematizando as doses… Aprendi que deixar a bebida ou qualquer outra atitude que impacte a vida pessoal e social passa pelo autoconvencimento: “deu, já passei da conta”. Infelizmente, às vezes se chega a esta noção tardiamente. Quando já se transformou a vida num inferno, além de infernizar a vida dos outros, especialmente os mais próximos. 

O melhor é não se expor ao perigo (especialmente dos “amigos da onça” que dizem: “de vez em quando não faz mal!”, mas depois te abandonam), a consciência de que se é, para sempre, um dependente alcoólico. Precisando estar, como os escoteiros, “sempre alerta”. Buscando nas pequenas alegrias do convívio o sentido de se manter sóbrio. E o passar do tempo dá a justa medida do que se perdeu profissionalmente, nas relações sociais e especialmente nas relações familiares.

Um passeio à serra gaúcha colocou em teste a compulsão pelas bebidas alcoólicas. Fiquei contente em acompanhar a degustação de vinhos. Achei de bom tamanho experimentar o bom suco e o espumante sem álcool. Tão satisfeito quanto os que experimentaram os sabores da bebida com teor alcoólico. Quem justifica uma taça do produto da uva nas refeições, pode estar certo. Mas também quem se contenta em “embebedar-se” da própria sobriedade para, apenas, ser feliz… sem ressaca!



domingo, 1 de dezembro de 2024

Simplesmente assim: Singelezas

A flor que encanta os olhos

Sabe que sua sina é fenecer.

Na sofisticação de um arranjo,

Ou apenas uma gramínea passageira,

Tem seu auge certa de que vai murchar

E um dia planar nas asas do vento…


Singela - porém única -

Hipnotiza os sentidos, pasma o olhar,

No encanto corriqueiro

Do que define o próprio destino…