Artigo da semana:
Minha mãe aprendeu a tricotar quando viemos do Interior de Canguçu para Pelotas. Não creio que tenha sido apenas para ter um passatempo com amigas e vizinhas. Era a necessidade de vestir os filhos. Além das lides da casa e cuidar das crianças, ajudava o pai a atender a clientela do armazém em que se estabeleceram. Esperando pelos fregueses, tinha tempo para trabalhar com as linhas de lã, as agulhas e os pontos que iam produzindo mantas, meias, blusões e casacos.
Tinha (e hoje tenho ainda mais) orgulho das roupas que ela fazia. Quando meu pai conseguiu comprar uma máquina de costura Singer, passamos a nos vestir “sob medida”. Embora, de um ano para o outro, diziam que havíamos tomado chá de bambu. Eu e meus irmãos íamos crescendo e conhecíamos a arte de economizar: a roupa do inverno passado era desmanchada e refeita, ganhando um aumento na cintura e nos braços para caber por mais um tempo.Lembrei das minhas histórias quando assisti matéria sobre um grupo de senhoras que se reúne exatamente para doar um pouco do seu tempo e produzir roupas quentinhas. A melhor imagem acabou sendo o olhar de um bebê de poucos meses, com uma blusinha nova, vestido pela mãe, que reconhecia não ter recursos para enfrentar o inverno. O trabalho voluntário, em conjunto com o serviço social do município, fazia a liga perfeita para amenizar as agruras do tempo.
Durante alguns anos, companheiras do Rotary Centenário, como a Olga e a Vera, mobilizaram conhecidos e o clube para arrecadar novelos de lã. A mãe, já idosa, tricotava os parzinhos de meias que faziam parte dos enxovais distribuídos no início da estação do frio. Um trabalho de parceria, um trabalho de formiguinha, que não resolve o problema da pobreza, mas mitiga muitos sofrimentos de pessoas que nem sabem porque se encontram onde estão.
João Chagas Leite dizia: “Se os senhores da guerra mateassem ao pé do fogo, deixando o ódio pra trás, antes de lavar a erva, o mundo estaria em paz!” Quando se olha para as disputas políticas, se percebe o quanto nossos “representantes” se afastaram da realidade vivida pela população. As discussões do que entendem como macro política são a desculpa perfeita para não se sentirem responsáveis por crianças que precisam do básico: alimentação, saúde, moradia, educação, segurança e, quem sabe, um par de meias para enfrentar o inverno… (Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/56RnAstU8bU)
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