domingo, 31 de agosto de 2025

Uma moldura para o cair da tarde

Simplesmente assim:

Desenho teu rosto nas nuvens.

Uso as cores da paleta da imaginação,

Para definir contornos,

Experimentar traços,

Buscar a profundidade do olhar

E o mistério dos teus lábios.

A felicidade é simples, completa em

Deixar que os sonhos pontilhem a brisa,

Transfigurando imagens,

Com um toque de pura emoção.

 

Sem a preocupação com o tempo,

Semicerro os olhos,

Deixando que a dolência realize

O sonho de uma tarde de primavera.

Sol, céu infinitamente azul,

Dormência dos sentidos.

A moldura perfeita para o cair da tarde.

A doce paz, o encantamento

Em que o desenho da finitude

Tem o gosto do tempo em que se sorve

Uma ampulheta de infinitudes!


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/sqFVa9OwLgI)

sábado, 30 de agosto de 2025

O Caçador de Pipas

Leituras e lembranças:

O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, explora temas como amizade, traição, redenção e a busca pelo perdão. A história, ambientada no Afeganistão e nos Estados Unidos, se desenrola a partir da perspectiva de Amir, o protagonista. Começa na década de 1970, em Cabul, Afeganistão. Amir é um garoto de classe alta que vive com seu pai, o Baba, uma figura imponente e respeitada. Seu melhor amigo e, ao mesmo tempo, servo, é Hassan, filho de Ali, o empregado da família. Amir e Hassan são inseparáveis e dividem a paixão pela competição anual de pipas. 

Hassan, leal e corajoso, é um talentoso "caçador de pipas", enquanto Amir, mais reservado e inseguro, busca desesperadamente a aprovação de seu pai. Num torneio de pipas, Amir consegue a vitória e o reconhecimento de seu pai. Mas, a alegria é ofuscada por uma tragédia. Enquanto Hassan sai para "caçar" a pipa vencedora, ele é atacado e estuprado por Assef, um valentão local. 

Amir testemunha a cena, mas o medo e a covardia o impedem de intervir. A partir desse momento, a culpa e a vergonha passam a corroer sua alma, e ele, por ciúmes e por não conseguir conviver com a nobreza de Hassan, o trai mais uma vez ao incriminá-lo. Hassan e Ali partem, e a amizade é rompida. A invasão soviética do Afeganistão força Amir e seu pai a fugirem do país e a se mudarem para os Estados Unidos. 

Décadas depois, ao voltar ao Afeganistão, Amir descobre que Hassan teve um filho, Sohrab, e que tanto ele quanto sua esposa foram mortos pelos talibãs. O garoto está em um orfanato sob o controle do cruel e adulto Assef, que se juntou ao Talibã. Amir decide que sua de redenção é resgatar Sohrab e trazê-lo para um lugar seguro. Sua jornada o leva a confrontar seus fantasmas do passado. Enfrenta Assef e, mesmo sendo agredido, sente-se aliviado por finalmente pagar por sua traição a Hassan, ainda que de forma simbólica.

Resgata Sohrab, mas a criança, traumatizada, se fecha em si e tenta o suicídio. Amir, com o amor e a paciência de sua esposa Soraya, consegue restabelecer uma conexão com o menino, e a história termina com ele "caçando" uma pipa para Sohrab, um gesto que simboliza a tentativa de refazer sua vida e o ciclo da amizade e da lealdade.

O Caçador de Pipas vai além de uma simples história de amizade. O autor utiliza a jornada de Amir para explorar a complexidade da culpa e a dificuldade da redenção. É um estudo sobre o caráter humano, mostrando como as decisões tomadas na infância podem moldar a vida de uma pessoa e a urgência de se reconciliar com o passado. A amizade entre Amir e Hassan é o coração do livro, mas é a sua complexidade que a torna real: ela é marcada por amor e lealdade, mas também por inveja e traição.

O livro levanta questões como a responsabilidade de um indivíduo por suas ações e a possibilidade de perdão, não apenas dos outros, mas de si. A busca de Amir por redenção, embora difícil, mostra que o caminho para se tornar uma pessoa melhor é possível, mas exige sacrifício e a coragem de confrontar a própria história. A obra carrega uma mensagem de esperança. Lembra que, mesmo em meio às maiores atrocidades e traições, o amor e a amizade podem servir como catalisadores para a cura e um recomeço. Leitura recomendada para quem aprecia histórias sobre a condição humana em sua forma mais crua e sincera. (Imagens e pesquisa com a IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/9KA5wyuzYY0)

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Um par de meias

Artigo da semana:

Minha mãe aprendeu a tricotar quando viemos do Interior de Canguçu para Pelotas. Não creio que tenha sido apenas para ter um passatempo com amigas e vizinhas. Era a necessidade de vestir os filhos. Além das lides da casa e cuidar das crianças, ajudava o pai a atender a clientela do armazém em que se estabeleceram. Esperando pelos fregueses, tinha tempo para trabalhar com as linhas de lã, as agulhas e os pontos que iam produzindo mantas, meias, blusões e casacos.

Tinha (e hoje tenho ainda mais) orgulho das roupas que ela fazia. Quando meu pai conseguiu comprar uma máquina de costura Singer, passamos a nos vestir “sob medida”. Embora, de um ano para o outro, diziam que havíamos tomado chá de bambu. Eu e meus irmãos íamos crescendo e conhecíamos a arte de economizar: a roupa do inverno passado era desmanchada e refeita, ganhando um aumento na cintura e nos braços para caber por mais um tempo. 

Lembrei das minhas histórias quando assisti matéria sobre um grupo de senhoras que se reúne exatamente para doar um pouco do seu tempo e produzir roupas quentinhas. A melhor imagem acabou sendo o olhar de um bebê de poucos meses, com uma blusinha nova, vestido pela mãe, que reconhecia não ter recursos para enfrentar o inverno. O trabalho voluntário, em conjunto com o serviço social do município, fazia a liga perfeita para amenizar as agruras do tempo.

Durante alguns anos, companheiras do Rotary Centenário, como a Olga e a Vera, mobilizaram conhecidos e o clube para arrecadar novelos de lã. A mãe, já idosa, tricotava os parzinhos de meias que faziam parte dos enxovais distribuídos no início da estação do frio. Um trabalho de parceria, um trabalho de formiguinha, que não resolve o problema da pobreza, mas mitiga muitos sofrimentos de pessoas que nem sabem porque se encontram onde estão. 

João Chagas Leite dizia: “Se os senhores da guerra mateassem ao pé do fogo, deixando o ódio pra trás, antes de lavar a erva, o mundo estaria em paz!” Quando se olha para as disputas políticas, se percebe o quanto nossos “representantes” se afastaram da realidade vivida pela população. As discussões do que entendem como macro política são a desculpa perfeita para não se sentirem responsáveis por crianças que precisam do básico: alimentação, saúde, moradia, educação, segurança e, quem sabe, um par de meias para enfrentar o inverno… (Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/56RnAstU8bU)


domingo, 24 de agosto de 2025

Violão, realidade e sonho...

Simplesmente assim:


Uma batida, duas batidas…

Infinitas batidas na busca pelo tom perfeito.

As cordas estremecem na carícia da afinação,

Ressoam na caixa em que o som profundo

Ecoa e transtorna sentimentos.

Embala o ritmo, num corpo perfeito,

Onde a imagem se confunde com a musa,

Inspirado nas curvas sedutoras,

Delicadas e atraentes com sabor de sensualidade.

 

O violão acomoda-se ao colo de quem o trata bem.

Dedilhar sentimentos acompanha a canção, 

O solado que enche os olhos e desabrocha os sentidos

Faz a sinfonia de um único instrumento.

A suavidade do acorde perfeito em que

A partitura harmoniza as vibrações de um instante.

No encontro de olhares, onde as notas musicais

Escorregam pelas cinco linhas da pauta,

Em que o timbre transforma-se na perfeita

Interação entre a realidade e o sonho…


(Imagem gerada pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/jj_Db7bw5EE)

sábado, 23 de agosto de 2025

O Menino do Pijama Listrado

Leituras e lembranças:

O Menino do Pijama Listrado, do irlandês John Boyne, é uma ficção histórica lançada em 2006. Aborda o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, de uma perspectiva diferente: a de uma criança. A narrativa é contada a partir da visão de Bruno, garoto alemão de 9 anos, filho de um oficial nazista, cuja vida muda drasticamente quando a família se transfere de uma confortável casa em Berlim para um lugar isolado e triste que ele, por não saber pronunciar, chama de "Haja-Vista" (uma adaptação de Auschwitz).

Na nova casa, Bruno observa um campo de concentração vizinho. Acredita ser uma fazenda e fica intrigado com as pessoas que vivem lá, todas vestindo "pijamas listrados". A solidão o leva a explorar a cerca que separa sua casa do campo. É nesse local que ele conhece Shmuel, um garoto judeu que tem a mesma idade que ele e está do outro lado da cerca. 

A partir desse encontro, uma amizade pura e incomum floresce. Bruno não compreende por que seu amigo é magro, triste e está sempre com medo. Também não entende por que estão separados. O livro segue a sua jornada, buscando entender o que é o campo e por que tudo aquilo. A inocência do protagonista confronta a crueldade do regime nazista, culminando em um final chocante e emocionante que destaca as terríveis consequências da guerra.

O livro é conhecido por seu impacto emocional. Toca o coração de leitores de todas as idades, mostrando a amizade pura em meio a um contexto de ódio extremo. A simplicidade da escrita torna a obra acessível a um público mais jovem, servindo como introdução ao tema do Holocausto. Mas gerou controvérsias, especialmente entre historiadores e educadores. A principal crítica é a falta de realismo histórico e verossimilhança.

A ficção não tem a obrigação de se ater à narrativa histórica, mas sim a liberdade de utilizar elementos da realidade e provocar o desejo de ampliar conhecimentos. Ou apenas a sensibilização para uma realidade. Continua sendo uma obra de ficção importante, que precisa ser lida e discutida com cautela, especialmente em um contexto educativo. Serve como um lembrete poderoso de que a inocência pode ser perigosa e que a indiferença ou a ignorância podem levar a consequências trágicas. (Pesquisa e imagens gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo em https://youtu.be/SzqoRUIDP8k)

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

“Deus te abençoe”

Artigo da semana:

Costumo terminar conversas, ou quando me despeço, utilizando a expressão “Deus te abençoe”. É, mais do que um hábito, a forma de compartilhar a energia que, na minha visão, se tornou rara atualmente. Por quê? Como peço em sala de aula ou em palestras que não tenham medo de “gastar o sinal da cruz”. Para mim, além de ser sinal potente de religiosidade, é um catalisador de forças positivas. As mesmas energias que se tornaram escassas em serem socializadas… 

A prepotência da secularização contribuiu com a polarização que se vive. Embora a definição de que “somos um animal social”, sempre houve propensão ao confronto. Instituições religiosas, na grande maioria, procuram contribuir para um convívio social em que a aceitação do diferente (político, racial, de gênero…) não seja empecilho para harmonizar discrepâncias. A diversidade sempre foi pregada como possibilidade de enriquecimento de um todo.

Questionam-me, seguidamente, sobre grupos fundamentalistas nas religiões que acirram confrontos. Defendo que as chamadas “guerras religiosas”, sempre serviram de desculpas em disputas financeiras, políticas ou mesmo de vaidades. Infelizmente, por serem comunidades humanas, agrupam muitos e diversos interesses que podem ficar, por um tempo, adormecidos. Quando se sentem fortalecidos, transformam ressentimentos em bandeiras de batalhas.

Mesmo os “homens de Deus” de todas as religiões, continuam sendo homens. Sujeitos a uma história familiar e social, traumas, dificuldades de relacionamentos, ambições, deformação de caráter. Perde sentido a religião que representam? Em princípio, não. Demonstra quão longo é o caminho de conversão, mesmo para quem está perto de ambientes considerados sagrados. Porém, continuam necessários para quebrar correntes colocadas nas portas do diálogo religioso e social.

“Quem nunca pecou, atire a primeira pedra”. Readquirir confiança na interação e praticar a tolerância. Receita para um diálogo civilizado que permite ao diferente manifestar-se sem que se torne um antagonista. Para pessoas de fé, um “Deus te abençoe” não pode ser negado a quem foi feito “à imagem e semelhança de Deus”. E quando se sente que a energia se esvai, traçar o “sinal da Cruz” é a razão para se convencer de que a humanidade ainda merece uma nova chance…

(Imagem gerada pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/Nh211RaKy0Q)

domingo, 17 de agosto de 2025

No rodopiar do guarda-chuva…

 Bom-dia! 

De volta em áudio e vídeo. 


Simplesmente assim:

Meus sonhos se abrigam na proteção de um guarda-chuva.

Os primeiros pingos escorrem com a neblina e

Sozinho, caminho a esmo pelas ruas.

Sinto falta de compartilhar este momento,

Mesmo que um dos ombros fique encharcado.

As calçadas tornam-se diferentes,

Permitem bailar na coreografia dos ventos,

Que dobram nas esquinas dos edifícios,

Rodopiando na impossibilidade de se manter o passo certo,

Trôpegos no açoite do frio que escurece a alma…

 

Os pingos despertam lentamente,

Fazem a cortina que controla o tempo,

Esquecer a precisão das horas,

Transgredir as leis da física,

No desejo de andar ainda mais devagarinho,

Sem a preocupação com as convenções que

Tornam reféns as mentes e os comportamentos.

Quando o primeiro bailarino rodopia o guarda-chuva,

Passos chapinham poças d'água, espelhando

A cumplicidade do que é magia, 

No compasso do que é pura ternura…


Imagem gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo deste texto em https://youtu.be/MWhF6rT9v_U)



sábado, 16 de agosto de 2025

Dostoiévski e a leitura dos clássicos

Leituras e lembranças:

A leitura dos clássicos da literatura é uma experiência transformadora, um mergulho profundo na complexidade da alma humana. Já recomendados pelo papa Francisco, podem parecer autores "pesados", no entanto, seus livros oferecem uma riqueza que poucas outras obras conseguem igualar. É o caso do russo Dostoiévski, que faz uma jornada pela mente humana, na eterna batalha entre o bem e o mal, a razão e a fé, o louvável e o condenável que existe dentro de todos nós. Ao ler suas obras, você não apenas acompanha uma história, mas também é forçado a refletir sobre suas próprias motivações e dilemas.

​Suas obras são um retrato vívido da Rússia do século XIX, abordando temas como a pobreza, a injustiça social e as transformações políticas. No entanto, sua crítica vai além do contexto histórico. Dostoiévski questiona o racionalismo excessivo e o niilismo — a ideia de que a vida não tem sentido. Ele argumenta que o ser humano não é apenas uma "nota de piano", que pode ser controlada e manipulada pela lógica. Ao contrário, o homem tem livre-arbítrio e, muitas vezes, age de forma irracional para reafirmar sua liberdade, mesmo que isso o leve à autodestruição.

Um tema recorrente em suas obras é a ideia de que o sofrimento pode levar à redenção e à purificação da alma. Personagens como Raskólnikov, de "Crime e Castigo", e o Príncipe Míchkin, de "O Idiota", são exemplos de como a culpa, a humilhação e a dor podem ser caminhos para o autoconhecimento e a compaixão. Ele nos mostra que a busca por sentido em um mundo caótico é uma das maiores lutas da existência humana.

Porém, se achar que é um desafio pesado começar por​ alguns de seus romances mais famosos ("Crime e Castigo" ou "Os Irmãos Karamázov") prefira obras mais curtas, mas igualmente geniais: "Memórias do Subsolo": Um monólogo intenso de um narrador recluso, considerado um dos primeiros textos do existencialismo. ​"O Sonho de um Homem Ridículo": Um conto filosófico sobre a busca de sentido na vida após uma experiência de epifania. "Noites Brancas": Um romance sentimental e melancólico, ideal para quem quer se familiarizar com a prosa de Dostoiévski de uma maneira mais leve.

​Muitas destas obras encontram-se disponíveis em novas publicações. Como os pockets. Digitalmente, em sites que compartilham livros que já estão em domínio público, podendo ser encontrados em PDF ou e-books. Ler Dostoiévski é uma oportunidade de confrontar as grandes questões da vida, da moralidade, da liberdade e da natureza humana. É uma leitura que desafia, provoca e, acima de tudo, enriquece a sua visão de mundo. (Pesquisa e imagem gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Velhas histórias, novos protagonistas

Artigo da semana:

O escritor precisa ser, antes de mais nada, um contador de histórias. Uma marca que atravessa os tempos, desde que os homens (e as mulheres, com certeza) sentaram no entorno de uma fogueira, procurando passar conhecimentos ou, simplesmente,  no entretenimento que ocupava o tempo e instigava a imaginação. Dos primórdios, passando pelos menestréis, aos tropeiros dos nossos tempos mais próximos, alguém que saiba atrair o interesse de uma roda de conversa.

Conheci e admirei muitas pessoas que tinham este dom. Encantei-me quando entendi que


as chamadas parábolas do Jovem Galileu eram parte do seu método pedagógico de intensificar uma imagem com a vivacidade de uma narrativa onde os personagens e a própria trama tinham por objetivo sedimentar uma mensagem. De tal forma que pudesse teorizar com seus aprendizes, porém,  para os demais, ficava a lição de uma boa história.

Uma boa história não precisa ser um poço de ética ou de moral. Sequer personagens absolutamente certinhos que exalam santidade. Ao contrário, as melhores tiram do barro do homem comum um comportamento que não se preocupa em ser certo ou errado, mas de quem sabe que sua vida é partilha de convívios, onde o importante é vencer obstáculos, de preferência não deixando ninguém para trás. O personagem comum, muitas vezes, não tem nome, porque ressignifica a universalidade.

Para ouvir boas histórias, é necessário “perder” tempo com alguém que já não tem pressa em fazer uma narrativa. Dificilmente elas se repetem, porque se fazem novas em cada momento em que se mira o olhar de quem escuta e apazigua o coração com o que ressoa pelo tempo e faz eco na própria alma. Quem corre muito, não consegue fazer parte desta experiência. Passa uma vida dando a desculpa de que ouvir os mais velhos é desperdício de tempo e dinheiro.

O tempo escoa, muitas vezes o dinheiro não chega e os contadores de histórias já partiram… Percebe-se tarde demais que ficou um hiato a ser preenchido.  De tudo o que se correu atrás restou a saudade do que não se viveu e se valorizou. Numa das festas familiares, como o recente dia dos Pais, quem já viveu um pouco mais percebe o quanto é precioso conviver em torno de uma mesa, partilhar uma refeição,  rir um pouco e, com certeza, lembrar de velhas histórias, com novos protagonistas… (Imagem gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)


domingo, 10 de agosto de 2025

Flores na janela

Simplesmente assim:

Andar pela rua, bem junto às casas, 

Era desvendar intimidades.

Compartilhar o mistério de quem mora 

E os segredos por trás de uma porta. 

O detalhe que alcança significado único:

A cor diferenciada que transborda sentimentos, 

A cortina protegendo a privacidade das janelas.

Um canteiro de arbustos e flores,

O traçado da calçada, que resguarda a grama,

E mantém à distância o passante.

A delicadeza da hera serpenteando as paredes.


Foi-se o tempo em que moças e senhoras

Debruçavam-se no parapeito de madeira envelhecido, 

Emolduradas pelas cores e delicadeza da efemeridade 

Do que existe apenas para alegrar os olhos.

As ruas de agora se fazem uniformes com edifícios espigados.

Resguardam-se nas memórias a preciosidade de um tempo

Em que se espiava pela fresta de uma folha.

À espera de quem trocasse o carinho de um olhar 

Pela cumplicidade de um flerte.

Em que o andante contemplava as flores na janela.

Ficava suspenso no tempo,

O olhar encantado no doce sabor das lembranças…


(Imagem gerada pela IA Gemini)

sábado, 9 de agosto de 2025

Código Da Vinci, de Dan Brown.

Leituras e lembranças:

Você pode ser a favor ou contra a obra de Dan Brown, mas se a ler, não conseguirá ficar indiferente. O livro "O Código Da Vinci" começa com o assassinato de Jacques Saunière, o curador do Museu do Louvre, em Paris. O professor de simbologia de Harvard, Robert Langdon, que está em Paris para uma palestra, é chamado pela polícia francesa para ajudar a decifrar as pistas encontradas. Com a ajuda da criptógrafa da polícia, Sophie Neveu, que descobre ser neta de Saunière, e percebe que as pistas são mensagens diretas para ela.

Saunière era Grão-Mestre de uma sociedade secreta milenar, o Priorado de Sião que, ao longo dos séculos, protegeu um segredo monumental: o verdadeiro paradeiro do Santo Graal. A narrativa de Dan Brown subverte a lenda tradicional, revelando que o Graal não é um cálice, mas sim Maria Madalena, que teria sido esposa de Jesus e mãe de seus filhos, e o Santo Graal seria a linhagem de sangue real que ela carregava (o Sangreal).

Langdon e Sophie são perseguidos não apenas pela polícia, mas também por Silas, um monge albino e fanático da Opus Dei, uma prelazia da Igreja Católica. Silas é manipulado por uma figura misteriosa, conhecido como "O Mestre", que deseja encontrar o Graal para destruí-lo e manter o segredo da Igreja. A jornada os leva a desvendar enigmas ocultos em obras de Leonardo da Vinci, em catedrais góticas e até mesmo em Westminster Abbey. 

"O Código Da Vinci" redefiniu o gênero do suspense e da conspiração, misturando fatos históricos, arte e mitologia de maneira acessível e envolvente. O livro se lê como uma caçada ao tesouro, com um ritmo acelerado e capítulos curtos. A ideia central da linhagem de Jesus e Maria Madalena é intrigante e provocou debates acalorados sobre religião e história. A forma como o autor interliga obras famosas de Da Vinci, a história dos Templários e as lendas do Graal é um diferencial.

O livro gerou críticas significativas. A principal delas é a imprecisão histórica. Muitos dos "fatos" apresentados sobre a Opus Dei, o Priorado de Sião e a história de Maria Madalena são largamente considerados teorias de conspiração, sem base documental. Outra crítica comum é a caracterização dos personagens. Langdon e Sophie são vistos como veículos para a exposição das informações, em vez de indivíduos com profundidade psicológica. 

O sucesso de "O Código Da Vinci" é inegável. É, antes de tudo, thriller de entretenimento puro, que cumpre o seu papel de prender o leitor do início ao fim. Um dos seus legados foi como popularizou a história, a arte e a simbologia, fazendo com que milhares de pessoas se interessassem por esses temas. É uma leitura cativante que, se apreciada como ficção, oferece uma experiência de mistério e aventura muito bem construída.

(Pesquisa e imagem com apoio da IA Gemini)

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O difícil voo da solidão

Artigo da semana:

Jantávamos num domingo, à noite,  conversando sobre assuntos de igreja, quando veio à baila a temática que abordei no texto passado: pastoral e compaixão. Com a vontade de seguir esta pauta, tratando o que chamo de “pastoral da solidão”. O que seria? Atendimento a quem se isola (ou foi isolado) pela idade, doença ou carência afetiva. Pessoas que, por um período, sentem-se fragilizadas (depressão, ansiedade…), mas nem sempre querem - ou podem - demonstrar.

É preciso distinguir entre quem optou por restringir seus grupos, sociais ou familiares, de quem desenvolve um problema psicológico, tanto na dificuldade de manter relacionamentos, quanto nas situações em que evita o convívio social. Para quem fracassa em ser acolhedor, a dor começa na dificuldade de estender os braços (o abraço). Para quem evita a intimidade, é uma opção equivocada, diga-se de passagem, que, algum dia, vai cobrar um alto preço emocional. 

Ouvi experiências recentes, como a da Lyl que convidou ex-colega de curso para tomar um café da tarde e poderem conversar. Descobrindo os problemas de família que foram sendo expostos na descontração de quem até pode falar, mas sabe, também, ouvir. Padre Flávio contava dos dias que reserva para visitas. Buscando a intimidade das famílias, onde o diálogo se dá com mais facilidade, abrindo portas para conhecer melhor aqueles (aquelas) com os quais trabalha.

Independente das opções feitas por viver só ou que se tenha mergulhado na solidão, todos precisamos de alguém, em algum momento, para continuar o voo da vida. Na maior parte das vezes, não há uma explicação racional para a escolha, mas uma proximidade com quem ensina ser mais difícil voar sozinho e que o voo alheio é sempre inspiração que nos alça aos céus. O roteiro de voo não é o mesmo, mas favorece as condições de se “abastecer” do combustível mais puro que existe: uma boa e velha amizade.

Num dos textos mais lindos que já li, dois meninos se encontram. Um é cadeirante e o outro um piá folgado e disposto a qualquer travessura. O que parecia impossível, aconteceu: ficaram unha e carne! Invenções de fundo de quintal, com um carrinho que seria um avião pronto para qualquer voo. A pergunta feita pelo deficiente ao outro: “por que fazes tudo isto por mim?” Sem precisar pensar muito: “sei lá, quem sabe porque ninguém voa sozinho…” A solidão é o voo que se tenta fazer isolado, quando se redescobre que se precisa de alguém para não errar o destino… (Imagem gerada pela IA Gemini)

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Poemando

No poço habita o mistério, 

O abismo que não tem fundo.

Onde se perde o olhar,

Em que imagino um Mundo…

(Imagem gerada pela IA Gemini)



domingo, 3 de agosto de 2025

Vou sempre lembrar de ti

Simplesmente assim:

 


O Tempo passando tolda as memórias,

Sem permitir que se apaguem as lembranças,

Em especial dos rostos que se amou. 

Na penumbra das recordações, ficam gravadas,

Assim como as vozes que insistem em

Continuar ecoando nos silêncios da saudade.

Mesmo depois da partida, na jornada do fim,

Acompanham o mistério das presenças

Que já não são físicas, são resquícios de Eternidade...

 

Iluminam um sorriso que parece enviesado,

Desprovido de qualquer sentido,

A não ser que se encontre razão

naquilo que tem contornos de reminiscências.

Lembranças são sempre o arrimo de sentimentos,

Que deixam rastros com marcas que sulcam o corpo.

Apesar dos sinais que gravaram a minha identidade,

Meu coração nunca esteve de partida,

Apenas tenho as cicatrizes da minha própria história.

A certeza de que vou sempre lembrar de ti…


(Imagem gerada pela IA Gemini)


sábado, 2 de agosto de 2025

Harry Potter, de J.K. Rowling

Leituras e lembranças:

Durante todo o tempo em que lecionei redação no curso de Jornalismo, pedi aos alunos que lessem ao menos um livro por mês, que fosse de ficção.  Podia ser até mesmo na linha de ficção juvenil, como eram, então, O Senhor dos Anéis, Percy Jackson ou mesmo Harry Potter. Pela necessidade que tinham em adquirir vocabulário e criatividade mental. Eu li (e assisti) toda a obra do pequeno bruxo (Harry Potter), escrita por J.K. Rowling.

A série narra a vida de Harry Potter, um órfão que descobre ser um bruxo no seu décimo primeiro aniversário. Ele é convidado a estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde faz amigos para a vida toda, Rony Weasley e Hermione Granger, e aprende sobre o mundo bruxo. A trama central da saga gira em torno da luta de Harry contra o bruxo das trevas mais temido de todos os tempos, Lord Voldemort, que assassinou seus pais quando ele era um bebê e tentou matá-lo também, mas de alguma forma falhou, deixando apenas uma cicatriz em forma de raio na testa de Harry.

​Ao longo dos sete livros, acompanhamos o crescimento de Harry e seus amigos, suas aventuras em Hogwarts, os desafios que enfrentam, as aulas de magia que frequentam e, principalmente, a intensificação do confronto com Voldemort e seus seguidores, os Comensais da Morte. Cada livro explora uma fase diferente da vida escolar de Harry e aprofunda o mistério em torno de Voldemort, sua ascensão ao poder e a conexão entre ele e Harry. A saga culmina em uma guerra épica entre as forças do bem e do mal, onde Harry deve enfrentar Voldemort em um confronto final para restaurar a paz no mundo bruxo.

A saga Harry Potter vai muito além de uma simples história de magia para crianças. Ela aborda temas complexos e universais que ressoam em leitores de todas as idades: como o ​Amor e Amizade. A amizade entre Harry, Rony e Hermione é o alicerce da história, mostrando como o apoio mútuo é essencial. Também o Bem contra o Mal: A luta constante entre a luz e a escuridão é o motor da trama. A ​Morte e Perda: A morte é um tema recorrente na saga, desde a perda dos pais de Harry até as inúmeras baixas durante a guerra bruxa. Os livros exploram o luto, a aceitação da mortalidade e a ideia de que o amor daqueles que se foram nunca realmente nos deixa.

​Preconceito e Discriminação: A ideia de "sangue puro" contra "nascidos trouxas" é uma metáfora clara para o preconceito e a discriminação presentes em nossa sociedade. Escolhas: A saga enfatiza que as escolhas que fazemos definem quem somos, mais do que nossas habilidades ou heranças. Por fim, Coragem e Sacrifício: Harry e muitos outros personagens demonstram imensa coragem ao enfrentar seus medos e fazer sacrifícios pessoais para proteger o que é certo. A disposição de se sacrificar pelo bem maior é um valor fundamental na série. 

A saga Harry Potter é uma obra-prima que transcende o gênero da fantasia, oferecendo lições valiosas sobre a natureza humana, o poder do amor e da amizade, e a eterna batalha entre o bem e o mal. Sua relevância e popularidade continuam firmes, solidificando seu lugar como um clássico moderno da literatura. (Pesquisa e imagem com a I.A. Gemini - Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com.)

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

“Pastoral” e “compaixão”, apenas utopia?

Artigo da semana:

Confesso que o tempo levou a que aproveitasse melhor o sabor das palavras. Não me envergonho em dizer que amadureci vendo certos termos revestirem-se de novos e mais profundos significados. Lembro de uma aula do primeiro ano de Teologia, com o padre Luiz Boari, quando me dei conta de estar enganado sobre a definição de  “pastoral”. Tão mal usada no jargão da Igreja Católica, que acabou virando sinônimo de burocracia, reuniões infindáveis, e não de quem se dispõe a cuidar do outro, “pastorear”, a tarefa do pastor.

Cheguei a usar a palavra “prostituir” para certos termos que perdem seu sentido inicial e que somente a vivência ajuda a depurar o seu “gosto”. Recentemente, li a obra escrita a quatro mãos pelo frei Betto e Heródoto Barbeiro “O Budista e o Cristão”. Lá pelas tantas, falam a respeito da palavra “compaixão”. Depuram o seu significado que, para mim, era exatamente o equivocado: ter pena de alguém. No Budismo, como no Cristianismo, seu significado é carregado de humanidade, pois significa “sofrer com alguém”. 

Intuía isso ao recomendar aos alunos de Teologia que, se quisessem um “exercício de solidariedade”, não apenas visitassem pessoas idosas ou doentes. Estes momentos, muitas vezes, são apenas descarregos de consciência. Sugeri, como tive que aprender cuidando dos meus pais, que gastassem tempo convivendo com pessoas em situação de dependência, durante um período, em tempo integral… Duvidava que qualquer outra experiência ou conhecimento teórico lhes desse a noção do quanto dói a fragilidade humana…

Admiro pessoas mais idosas que, vendo os mais jovens esforçarem-se por academizar sentimentos, preferem esperar amadurecerem para se calarem diante das palavras. No afã das discussões muitas vezes estéreis (e histéricas), perde-se tempo em enquadrá-las ao sabor dos conhecimentos ideologizados, por religião ou discurso político partidário. Ter a grandeza de sorrir diante da pressa que alguns têm de dizer apenas por dizer, corresponde à paciência de esperar por um dia, em que entendam o que reveste as palavras: não apenas a sonância do que faz o discurso vazio, mas os silêncios que lhe dão significado. 

“Compaixão” é palavra que se garimpa ao longo da vida, não apenas pelo seu sentido nos discursos. Rima com “pastoral”. Homens e mulheres de boa vontade introduzem este duplo significado: “cuidar do outro” e “sofrer com alguém”. Independente da identidade política ou religiosa, muitos são os cidadãos do universo que buscam os menos favorecidos. É trabalho que não ganha mídia, mas ensina o quanto responsabilidade social ainda é utopia, que não pode ser apagada nas vivências e convivências… (Imagem gerada pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)