sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Poemas que escorrem pela areia

"As palavras se espalham ao vento..."

É assim que se diz?

Elas se perdem ao passar pelos lábios,

Ou quando se tenta o seu registro:

Fazer livros,

Escrever diários,

Anotações que dormitam

Em meio a cadernos e fundos de gavetas.

 


Eu, escrevo nomes e palavras na areia.

Me encanto quando posso percorrer

A praia da lagoa

E brincar onde as árvores vêm

Beber por suas raízes.

Depois, me defronto com o mar.

Ali já não é apenas deixar um rascunho,

Mas uma página inteira à espera de uma poesia.

 

Embalado pelo sussurro da lagoa

Ou pelo clamor das marés,

Usei mãos,

Depois alisei com os pés,

Ou, ainda, quase perdendo o equilíbrio,

Dancei sobre uma perna só e

Fiz com que todo o meu

O corpo fosse aterrado pela luz do mistério...

 

Com uma vara ou um graveto,

Desenhei formas,

Moldei letras com a pretensão de palavras

E, quem sabe, de sentidos...

Na ilusão de que, ali, no que se torna fugaz,

Passageiro em busca de um tempo,

Teria a Eternidade

Durando apenas aquele momento.

 

Muitas vezes,

Pensando estar sem rumo,

Me vi levado a um lugar de silêncio.

Onde a brisa da tarde

Acolhe sem a pretensão de

Perpetuar qualquer sentimento,

No que apenas o coração quer entender,

Sem medo e sem destino...

 

Como não perdoar

As águas que acariciam a praia

E aos poucos

Se apossam de cada linha que,

Antes de pousar sobre a areia,

Esperou guardada no peito de um sonhador,

Sedento de deixar marcas

No limiar entre as águas e as dunas.

 

No correr da criança,

No olhar que embala namorados,

No arrastar meditativo do idoso.

Fazem poemas que escorrem pela areia.

A vida com seus desenhos,

Rascunhando seus próprios escritos,

Dando sentido às esperas,

Justificando sonhos e devaneios...

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