domingo, 24 de julho de 2022

Uma bala de menta

A visita do padre Michel a uma escola no interior de Canguçu rendeu histórias. Jovem, costuma de andar de batina preta e brinca com a criançada que é um “padre Batman”, personagem de filmes que, nas últimas produções, anda pelas sombras. O padrezinho precisa facilitar a vida dos meninos e meninas que desejam conhecer a fé cristã e encontra momentos de convívio, que devem ser engraçados, especialmente quando inventam, depois de um almoço, de subir numa bergamoteira, em busca de sobremesa.

Um dos causos que contou foi do aluno, depois das conversas e perguntas (não muitas, porque ficam encabulados), do qual granjeou simpatia e aceitação. Estavam no recreio, depois do almoço, em pleno inverno, satisfeitos em comer bergamotas, “lagarteando”, quando um “alemãozinho”, segundo ele, passou e ofereceu uma bala de menta, que foi parar no seu bolso e descoberta alguns dias depois. Confesso que não gosto de bala de menta, mas quando enviou a foto, tive que pensar no seu simbolismo.

Pensei que já estava distante o tempo em que padres costumavam ter bolsos cheios de balas e santinhos. Me fez voltar à minha infância, nos tempos de catequese, em que, na hora do recreio, tanto nas dependências da igreja de Santa Teresinha, quanto nas vezes em que éramos reunidos pelas catequistas para ir ao campo do Esporte Clube Silveira, aparecia o padre Roberto para jogar futebol. Eram 15 minutos felizes que encerravam com o surgimento, dos bolsos da batina, de um poço sem fundo de guloseimas...

Num tempo em que o respeito humano prescreve que não se deve falar ou testemunhar a própria fé para, supostamente, deixar que as crianças façam as suas escolhas mais tarde, uma falácia que se aplica a princípios religiosos, mas não serve para paixões do futebol, políticas e até sexuais. A meninada que estava reunida no colégio beira a adolescência e, num turbilhão de emoções e descobertas, já deveria ter vindo de família com a base necessária para não enfrentar, também na fé, as dificuldades e os percalços deste tempo.

O papa Francisco fala de uma “Igreja em saída”, conceito mais fácil de teorizar do que de praticar. Em um meio indiferente e hostil, o anúncio da religião é elemento que, muitas vezes, se presta à curiosidade e não auxilia na vida diária. “Uma bala de menta” é sinal de mão estendida quando religiosos têm coragem de sair de seus muros e se confrontar com o mundo. Tempos de crise são ocasião para, além de buscar bergamotas no pé, encontrar terreno sedento por testemunho e anúncio da Palavra de Deus!

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