domingo, 3 de julho de 2022

Pelas ondas do rádio

O Reinaldo é o faz tudo aqui em casa. Na última vez que organizou as bagunças que eu vou deixando, resolvemos arrumar um depósito/sumidouro que o pai enjambrou na garagem. Dali, literalmente, saiu de tudo, especialmente, lixo. Fiz seleção que incluiu um moedor (para triturar milho), um cepilho (aplainar madeira), um estojo de injeção, com o aparelho, onde se aquecia a água para esterilizar... Meu encanto foi para os rádios à pilha com mais de 50 anos, meus primeiros objetos de consumo, ainda no Seminário.

Depois que falei sobre as cercas dos vizinhos, em duas ocasiões, amigos comentaram a respeito da saudade que tinham das conversas sem barreiras, uma delas falando sobre as novelas de rádio, motivo de reunião de amigas para tomar um mate. Mas, também, o Sérgio Correa, com a sua preocupação com a sobrevivência deste meio de comunicação. Bastou se comentar na segunda, pela manhã, pelo programa Hora Marcada, para que também outras pessoas trouxessem suas lembranças das transmissões e programas.

Ganhei meu primeiro rádio aos 15 anos. Quando a seleção brasileira foi campeã de futebol e acompanhei as transmissões dos jogos pela rádio Guaíba. Éramos “guaibeiros” de plantão. Em 1970, outras emissoras de rádio, mesmo na capital, não tinham a força que, ainda por muitos anos, era a marca da Guaíba. Noticiários, transmissões esportivas, programas de entrevistas e um toque muito especial para uma rádio AM: “a boa música da Guaíba”, fechando a programação na madrugada e com espaços na tarde e na noite.

O rádio foi o precursor dos programas de entretenimento que, depois, migraram para a televisão. Radionovelas ocupavam bons espaços, com público, especialmente feminino, fiel. Já eram feitos eventos em auditório, com shows de calouros, os humorísticos e a presença de artistas consagrados. Tudo ao vivo, porque não havia o recurso da gravação. Então, quando chegava a hora do intervalo, os “artistas” contratados faziam os anúncios de produtos, seja utilizando a voz e fundos, com bandas musicais, ou mesmo cantando.

Recebi um dos rádios recuperado das tralhas do seu Manoel do padre Olavo numa das atividades que ele inventava para que concorrêssemos em gincanas. Ainda não se tinha o FM e, muito menos, o “streaming”, mas o radinho era metido, sintonizando emissoras de Porto Alegre, onde despontava a Guaíba; surgia a Gaúcha, naquele tempo investindo no tradicionalismo; assim como a Farroupilha, com maior apelo popular. Aparecia, também, a Rádio Difusora, hoje rádio Band, que pertencia aos religiosos Franciscanos.

Gosto de rádio. Exatamente pela possibilidade de se reinventar. A internet chegou não para acabar com os meios de comunicação antigos, mas afim de provocar mudanças. As redes sociais permitem a criatividade, com novas formas, e chegar às populações mais jovens. O rádio estende o olhar para além da nossa porta. Junto com novas mídias, instrumento que amplia horizontes. Uma janela para o Mundo, com direito a que idosos – assim como eu – sintam o privilégio de viver a riqueza destes tempos de mudanças.

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