domingo, 15 de maio de 2022

Eu vi James Bond morrer...

Não foi a primeira vez que James Bond, ou 007, morreu. O ator Daniel Craig acertou sua retirada da franquia e o filme “Sem tempo para morrer” apenas jogou a última pá de terra por sobre uma sepultura que os críticos diziam já ter sido aberta há muito tempo. Maldades à parte, não sou comentarista no assunto, apenas apreciador, especialmente do tipo que chama mais atenção aos efeitos (e defeitos) especiais, com ou sem a compreensão do público que apenas espera por duas horas de entretenimento. Não que o agente britânico vá solucionar todos os problemas do Mundo.

Será? Eu fico em dúvida… a impressão que se tem é que, mais do que entretenimento, os “007s” da vida transformaram-se em válvula de escape para sentimentos reprimidos (conversa de psicólogo), dando glamour a um tipo de violência que não está ao alcance do cidadão. Já que não se pode bater, outro bate… Já que não se pode explodir, outro explode… Já que é difícil trair, simpatiza-se com quem trai. O retrato de um tempo onde os problemas são tantos que não se consegue resolver e se chega à apatia. É bem mais fácil quedar-se passivo diante de uma tela de cinema ou de televisão.

Antes da sua morte, já se jogava com o politicamente correto e, ainda aposentado, foi substituído por outro agente de Sua Majestade, uma mulher negra. Dou razão aos que dizem que este tipo de filme é machista. Porém, não creio ser suficiente substituir atores masculinos por femininos e masculinizá-los. Na ação/comédia (vi recentemente pelo streaming o último Homens (e agora mulheres) de Preto, em que formam dupla. Não se perde absolutamente nada das duas maneiras de entretenimento desde que os atores desempenhem seus papéis sem perder a sua identidade.

Representar é uma arte. Exige 10% de inspiração e 90% de transpiração. Infelizmente, também no cinema, se veem canastrões e canastrãs (existe esta palavra? Pode ser canastroas?) que fazem algo semelhante a muitos jogadores de futebol: quando percebem que vão se dar mal, cavam faltas, representando muito mal e, embora tudo esteja gravado, culpam os demais por suas desventuras. Na arte das telas grandes, assim como em campos de futebol, são os coveiros que afastam os cinéfilos e torcedores descrentes de quem não respeita valores e princípios básicos das relações sociais.

Admiro pessoas que gostam de cinema para acompanhar filmes mais elaborados, antigamente chamados de “cabeças”. Hoje, 99,99% da população que assiste quer apenas um tempo de intervalo nas suas vidas opacas e sem graça. Saem das suas mazelas para se identificar com personagens que devolvem, nem que seja por um pouco de tempo, o direito de sonhar de que nem tudo está ferrado. Ir ao cinema é programa para arejar a cabeça, num passeio, acompanhado de amigos ou familiares, que, normalmente, inclui uma volta num shopping e um lanchinho, que ninguém é de ferro.

Gostaria de pensar que tudo isto pode ser diferente. No entanto, se volta a uma velha e conhecida história: a necessidade de aperfeiçoar o processo de educação. Que pode – e deve – incluir o cinema como espaço privilegiado de motivação e discussão sobre realidades sociais, políticas e econômicas. Sem deixar de lado a arte, que faz a soma com a poesia, a crônica, a narrativa, o estímulo a que, desde criança, até em programas de televisão, educadores tenham por foco estimular e desenvolver as sensibilidades, que auxiliam a vida a ficar mais leve e, com certeza, bem mais feliz.

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