domingo, 1 de maio de 2022

A cidade, o lazer urbano e os “causos”

A Maria Fani enviou um postal com mensagem diária de motivação. Dizia: “No dia de hoje, plante memórias e colha histórias”. Agradeci comentando que o que se faz, consciente ou não, marca as pessoas e fica como registro para futuras lembranças. Fiz um gancho com a conversa de quarta à noite com os reitores de seminários, padre Hamilton e padre Fábio. Recordando formações daquelas casas, lembrei o de Pelotas que está sob as bênçãos de dom Joaquim, seu criador, na avenida que leva seu nome em frente e a própria estátua, no encontro com a avenida Fernando Osório.

A obra de Antônio Caringe foi homenagem prestada em 1942, inicialmente instalada na praça Júlio de Castilhos (hoje, parque Dom Antônio Zattera) e transferida para a revitalizada via que se tornou uma das principais na zona norte. No fim da década de 60 - devia estar com 14, 15 anos e ainda tenho fotografia com companheiros seminaristas - víamos, encantados, mas sem a devida compreensão, que se presenciava um fato histórico: a área quase rural (ainda havia pequenas chácaras), se urbanizava e chegaria a ser, hoje, o ponto geográfico central da área urbana de Pelotas.

Não lembro da estátua de dom Joaquim na “praça dos macacos”, como era chamada a Júlio de Castilhos. No início da mesma década, era lugar para passeios de domingo à tarde. Outro ponto de diversão era a praça Coronel Pedro Osório, onde, além de brincar junto ao chafariz ou nas sombras, havia um parquinho (bem conservado, então), algodão doce, amendoim e outras guloseimas. Uma vez por ano, quase sempre no próprio aniversário, a chance de fazer um “retrato” no cavalinho de madeira. Uma festa quando se tinha visitas do interior e se mostrava o quanto já éramos da cidade!

Ainda não se valorizava adequadamente o Laranjal. Eram poucas as moradias e, acreditem, mesmo a poucos quilômetros do centro da cidade, começavam a ser construídas casas que se juntavam às de moradores que viviam da pesca ou pequenos serviços rurais. Serviam para temporadas de férias de verão, quando a família inteira se transferia para a praia, ali permanecendo nos meses dezembro, janeiro e fevereiro. Fui conhecer, primeiro, o Barro Duro, em função dos festejos de Iemanjá, quando muitos moradores da vila aproveitavam para montar barracos e um merecido descanso.

Pelotas sempre foi pobre de áreas públicas de lazer. Não faz muitos anos, moradores da zona norte da cidade descobriram o parque horizontal que é a avenida Dom Joaquim. Primeiro, começaram a fazer intervenções plantando e conservando árvores. Depois, chamaram o poder público para conservar e instalar equipamentos. Jovens, atletas e pessoas que desejavam deixar o sedentarismo viram ali uma possibilidade de caminhadas e corridas. Como ninguém é de ferro, ao final do dia, um chimarrão ou, quem sabe, um “happy hour” num dos botecos que por ali se instalaram.

Hoje, bairros planejados, como o Quartier e o Una, privilegiam a convivência social para inquilinos e moradores do entorno. Cidades são seres pulsantes que devem se reinventar em benefício dos seus moradores. A “Donja” da década de 60, quando o Clayton Rocha fazia corridas de rua em calçamento de pedra, se modificou para ser das mais movimentadas. Convivendo com casas antigas, como o próprio Seminário, e complexos modernos, moradores contam “causos” de um passado não tão distante, do qual se precisa registrar a história, que não pode – e não deve – ser esquecida.

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