sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sexta-feira de todas as paixões...

Às vezes, me estranho com as palavras.

Confesso que em muitas ocasiões as usei

- e delas judiei – como quem tenta controlar a sua forma,

sem conseguir me apropriar da sua essência.


Foi um tempo em que dizer ou escrever demais era fútil

e as esparramava ao vento,

negando-lhes o direito de existirem livres e soltas.

Presas aos excessos de textos, registros, falas...

Lutando pela própria identidade,

pelo prazer de saborear o seu sentido.


Essência e sentido que estão naquilo que as precede:

o silêncio, grávido de todos os significados.

Não os significados dos dicionários que desnudam as palavras,

mas das humanidades que os revestem com a pureza da alma,

que ama saber o quanto elas precisam ser valorizadas -

quando são ditas ou silenciadas.


A sexta-feira de todas as paixões, é um tempo de escuta.

A “paixão” da velhice, que aumenta as minhas perdas;

a “paixão” da ausência, que lateja nos meus sentidos;

a “paixão” do corpo definhando,

que encontra arrimo nas minhas lembranças…


A alma não tem idade e a mente pode não envelhecer,

mesmo que o corpo dê sinais de que

é necessário se libertar da tirania da beleza,

aceitar que o tempo marcou nossas faces e saber

que as paixões já não serão arrebatadoras como na juventude.


Com o tempo, as palavras fazem um pacto com a solidão.

Relógio implacável mostrando que a natureza segue o seu curso.

No tic-tac das horas, resta um coração em busca de um afago,

mendigando o direito de compartilhar sonhos

que não permitam que a alma envelheça…

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