terça-feira, 26 de abril de 2022

Educação: o lugar onde se concretizam sonhos

As recentes denúncias de que “pastores” intermediavam verbas do Ministério da Educação com prefeituras, mediante propina, deveria ser chamada de “ponta do iceberg” para tornar transparente (republicana) a forma como se faz política (e politicagem) no Brasil. Nos últimos anos se viu uma promiscuidade entre o setor público e lideranças religiosas – tradicionais ou não - que se deixaram seduzir pelo apelo do dinheiro e do poder. Podem até ser “bem-intencionados”, mas não se pode esquecer que, no ditado popular, se diz: “de bem-intencionados, até o inferno está cheio!”

Homens e mulheres ditos “consagrados” – sem importar o tamanho de sua igreja - não podem priorizar atividades administrativas e financeiras. As religiões cristãs tradicionais demonstram que não conseguiram formar adequadamente novas lideranças, mesmo com escolas e universidades confessionais. Com isto, funções elementares de controle foram assumidas por seus líderes. A proliferação de igrejas neopentecostais, com menos quadros ainda, expôs as fragilidades de uma atividade centralizadora, sem o compromisso de prestar e tornar as contas transparentes.

Infelizmente, não existem políticas reais de preparação de lideranças. O que leva, em alguns casos, a buscar, no mercado, profissionais que respondam pelo processo administrativo e financeiro. Eles têm os vícios e as manhas de origem, consequentemente, até podem ser cristãos, mas não têm visão cristã de responsabilidade social. Alguns podem até ter, mas é exceção, não a regra. No caso das igrejas tradicionais, o fato de que os líderes ocupem tal função significa que não confiam na competência dos leigos, por um lado, e que não foram capazes de formar lideranças, por outro.

Passando pela discussão ética e moral, para além da religiosa, estão sendo expostas as entranhas de negócios sujos que possuem a bênção de alguns mercenários da fé. O mais difícil, nesta hora, é vestir a túnica da humildade. Talvez a veste mais “apertada” (questionadora) de se colocar sobre o corpo, já que é comum que mais próximos os coloquem em patamares onde se julgam sabedores de todos os assuntos e capazes de dirigir qualquer atividade. Hoje, não é assim. Lideranças mais antigas sentem-se perdidas num tempo em que são ouvidas de menos e atendidas menos ainda.

O aparelhamento do Ministério da Educação e Cultura por supostos religiosos é danoso ao país e às religiões, em todos os sentidos. Infelizmente, os gastos com o setor público têm se mostrado bem maior do que os investimentos que efetivamente retornam aos alunos e às escolas. Gasta-se com a máquina – mal ou bem – aquilo que não se gasta com o cidadão. O país já vinha de mal a pior antes da pandemia e o fechamento das escolas por mais de 200 dias transformou-se num recorde da incompetência e do descaso, longe de alcançar uma média de qualidade sofrível.

Homens e mulheres que se dizem “crentes” deveriam se preocupar com as previsões negativas da educação, que deve ser leiga, a serviço de toda e qualquer pessoa, com ou sem religião. Aumentou em 60% o número de crianças não alfabetizadas e as mais velhas, em Português e Matemática, voltam dez anos atrás. Quem deveria testemunhar a palavra de Deus, como instrumento de denúncia e transformação, torna-se algoz da sua própria gente. Solapam um ministério que deveria ser o lugar onde se concretizam sonhos. Hoje, torna-se, dolorosamente, o lugar onde morrem as esperanças…

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