terça-feira, 12 de abril de 2022

O tempo do pão, da vida e da esperança

João ajudou nos preparativos para a última ceia do Senhor e pensou que teriam apenas mais uma refeição com os demais apóstolos e aqueles que os acompanhavam. Também esteve com Jesus na agonia que precedeu a prisão no Jardim das Oliveiras. Ainda não conseguia entender o que acontecera, inclusive quando Judas apareceu e tudo se tornou ainda mais confuso. Acompanhou a mãe do Senhor, Maria, com as demais mulheres que fizeram a peregrinação pelos lugares onde foi julgado, os caminhos por onde carregou a cruz, até a morte, retirada do madeiro e sepultamento.

Naquele sábado em que ainda não tinha certeza do que aconteceria, voltou a todos os lugares por onde passaram naquela última quinta-feira em que o Filho do Homem estivera vivo. Foi no Jardim das Oliveiras que ficou sozinho e pensando a respeito dos momentos especiais em que Jesus fazia com que parassem, não importava o que estivessem fazendo, para abençoar o alimento. De uma forma especial, o pão e o vinho, repetindo o que já se tornara comum, partindo e repartindo, como a primeira lição, sempre repetida, nos três anos de peregrinação pelas terras da Judeia e da Galileia.

Tinha o gosto das lembranças que vinham das histórias contadas por Maria. O pai, José, era de uma cidadezinha próxima de Jerusalém, Belém, conhecida por ser a “casa do pão”. Lembrava o nascimento de Jesus, porque era uma das memórias mais remotas do carpinteiro e confirmada durante o tempo em esperaram para fazer a apresentação do menino no Templo. No pequeno vilarejo, quando estavam nas primeiras horas do dia, o barulho das moendas de trigo antecediam a alvorada e, ao nascer do Sol, o aroma de pão invadia os cantos mais remotos da cidade de Davi.

Quando o conheceu, João era jovem, cheio de sonhos e ideais. Temperamento forte, dominado pela paixão, que lhe valeu o apelido, dado pelo mestre, de “filho do trovão”, junto com seu irmão, Tiago. Os apóstolos sabiam que se dispusessem de raios nas mãos, os demais estariam em dificuldade. Foi o jeito do Homem de Nazaré que o conquistou. As palavras revestiam-se de vida. Muitas vezes, não o conseguia entender, então, era suficiente segui-lo e fazer o que dizia. Especialmente quando, com muito carinho, entregava um pedaço do pão a cada um, olhando na profundidade dos seus olhos.

O primeiro milagre da multiplicação dos pães o deixara atrapalhado… Como era possível um homem fazer aquilo? Viu Jesus olhar entristecido para a multidão que o acompanhava, com sinais de fome e cansaço. Aconselharam a dispersá-la e fez uma pergunta absurda: “quantos pães e peixes tendes?” Como assim? Não se parecia com a reunião de amigos em que bastava passar no mercado em busca de pão. Eram milhares de pessoas… No entanto, pães e peixes de um menino, abençoados pelo Mestre, se multiplicaram e não davam conta de alcançar àqueles que se espalharam sobre a grama!

No dia seguinte, completavam três dias: o tempo em que prometera ressuscitar. Não compreendia tudo o que anunciara, mas se tornava necessário continuar o caminho com Pedro, Maria e os outros. Ver Seu corpo depositado na sepultura e fechado com uma pedra era a dor da ausência de quem somente fizera o bem. Não seria fácil. Ainda tinha vontade de ser o “filho do trovão”, mas, na última ceia, sobre o peito de Jesus, ouviu que, agora, era o “filho do amor e da esperança”.

Esperança tem gosto de amor. Esperança tem gosto de Deus. Esperança tem gosto de Ressurreição!

Páscoa, é tempo de esperançar. Feliz e abençoada Ressurreição!

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