sexta-feira, 18 de março de 2022

O sentido da derradeira esperança

Sexta com gosto de poesia:

Pela mesma rua, pela mesma calçada,

passam com as suas marcas, como um relógio do tempo…

A criança ainda arrasta os pés no andador.

O idoso precisa de arrimo para não desistir de andar…


Do seu jeito, os dois assinalam a existência:

um principia, o outro já sente que tem direito ao repouso.


A criança olha para a vida como uma grande avenida

por onde ainda vai andar e percebe

que tem muito o que descobrir.

No horizonte, estão sonhos, desejos, sentimento de que

pode fazer cada momento valer a pena…


O idoso já sente que tem pouco o que vislumbrar

e muito o que agradecer.

Já não importa se viveu mal, ou se viveu bem,

apenas que o cansaço da viagem é sinal de

que está próximo de aportar ao seu destino.


Um não sabe o que vai colocar na bagagem.

O mundo é uma imensa vitrine que coloca

aos seus pés todas as expectativas possíveis...

O outro está num tempo em que só precisa

das suas lembranças e da sensação

de que foi marcado pelo caminho.


O idoso sente que não é, apenas,

a projeção do futuro para quem inicia.

Gostaria de falar, mas já nem sabe se precisa,

o quanto a criança é parte do seu passado,

a segurança para o presente e, mesmo que já seja o seu ocaso,

um sentido para o tempo da sua ausência.


A vida é um belo e precioso intervalo entre nascer e morrer.

O desafio é encontrar e dar sentido

a cada ato, cada momento,

cada um que cruza com os nossos caminhos.

Até o fim, a possibilidade de que a última arfada de ar

não tire dos meus olhos o sentido da derradeira esperança!

Um comentário:

daviddutkievicz disse...

E seguimos com esperança e lutando por dias melhores. Lindo texto para encerrar uma semana tão puxada.